Disputas de poder e o debate político-cultural brasileiro

Opinião|Proibições de Alexandre de Moraes fortalecem a fábula bolsonarista


A farsa da nossa atual democracia, de acordo com os defensores dessa tese, seria comprovada logo que o ministro do STF assinar uma almejada proibição das atividades do X no Brasil. Estão quase gritando: “proíba, Xandão”

Por Fabiano Lana

Num período de tantas restrições e melindres, o verdadeiro pulsar da sociedade hoje circula quase clandestinamente nas conversas de aplicativos como WhatsApp ou Telegram. Nesses ambientes, as pessoas deixam de lado as autocontenções e costumam se manifestar mais próximas de como o são, sem o escrutínio de um público mais amplo. Ultimamente, nos grupos com presença de bolsonaristas, mensagens com suas visões bastante peculiares sobre os acontecimentos políticos no Brasil costumam terminar com a seguinte mensagem: “apague este texto antes que Alexandre de Moraes mande proibir”.

Faz sentido. O efeito que os vetos do Judiciário provocam no rebanho bolsonarista é fortalecer a convicção de que são neste momento um grupo político perseguido por defender ideias, na visão deles, corretas, verdadeiras, porém perigosas se divulgadas, por ferirem interesses de poderosos. Seriam alertas no sentido de que as urnas são fraudadas, de que há uma quadrilha no poder com apoio do Judiciário e da mídia e por aí vai. Próximo ao delírio? Pode ser. Mas, para eles, a repressão serve como evidência de que não estão equivocados.

Ao longo da nossa longa trajetória nesse planeta, repressões muitas vezes fortalecem as grandes epopeias. Tome-se o caso dos cristãos perseguidos pelo império romano. Os judeus que se transformaram em um povo errante de tanto serem expulsos dos lugares em que viviam. Ou mesmo os palestinos que hoje não têm ainda o direito de constituírem seu Estado. Os perseguidos pela ditadura brasileira de 1964 se transformaram na elite política brasileira. Três deles foram eleitos presidente da República: Fernando Henrique Cardoso, Lula e Dilma Rousseff. O que hoje o bolsonarismo mais quer é ser perseguido.

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Elon Musk e Alexandre de Moraes Foto: Gonzalo Fuentes/Reuters e Pedro Kirilos/Estadão

O ministro do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes, talvez, precisaria perceber que proibições podem ter efeito contrário do que se pretende. Que fortalecem os abusadores. O caso das provocações de Elon Musk, que ameaça até tirar o “X” do Brasil por causa das supostas censuras e mesmo liberar as mensagens proibidas é um exemplo. Hoje, o excêntrico empresário sul-africano tornou-se um herói para setores da direita brasileira. “O homem que irá mostrar ao mundo que vivemos num regime de exceção controlado pelo judiciário”. A farsa da nossa atual democracia, de acordo com os defensores dessa tese, seria comprovada logo que Alexandre de Moraes assinar uma almejada proibição das atividades do “X”, o antigo Twitter, no Brasil. Estão quase gritando: “proíba, Xandão”.

A questão da liberdade de expressão deveria ser um valor caro a todos. Mas, assim como as camisas da seleção, estão sendo apropriadas pela extrema direita. E o fazem de forma a forçar seus limites. Querem ter liberdade para denunciarem urnas, desprezarem minorias, nessa trilha. É um dilema atual como lidar com isso. Mas muitas ideias que se tornariam apenas ridículas num processo de aberto discussão na sociedade apenas se fortalecem sob o manto da interdição. Porém, tem prevalecido no Brasil a ideia de que o Judiciário precisa tutelar o que a população pensa.

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Faz sentido proibir um influencer com os neurônios tomados por substâncias entorpecentes deixar de dizer o que pensa publicamente, mesmo que seja a possibilidade de o Brasil ter um partido nazista? Aquilo teve um tanto de patético e um quase nada de perigoso. Para que adiar a exibição de um documentário sobre a facada em Jair Bolsonaro? Fez sentido proibirem as associações de Lula com o regime da Nicarágua como se todos nós não soubéssemos que passar pano para ditaduras de esquerda ou antiamericanas é um calcanhar de Aquiles de Lula? São decisões que só servem para, utilizando-se uma expressão popular, dar ração ao gado. É como se, houvesse um paradoxo da intolerância – não tolerar certas ideias a fortalecem.

De fato, é mais complexo do que se pensa separar um ato criminoso do cometimento ou do planejamento do delito. Como passamos por uma quase tentativa de golpe de Estado, são decisões difíceis que o Judiciário brasileiro tem pelo frente. Tudo indica que o ex-presidente Jair Bolsonaro furou o sinal vermelho entre sonhar com um regime autoritário e planejar uma ditadura. Colocá-lo em um prisão em um processo justo e imparcial que não cinda a sociedade é um processo que exigirá que se evitem todos os exageros. Parece que não é o caso – voltamos a adorar proibições.

Caso os bolsonaristas vençam essa batalha, sobre o interpretar dos acontecimentos, a injustiça será enorme. Afinal, não procede que eles sejam defensores da liberdade e contra as perseguições. Ao contrário. Eles também possuem suas longas listas de proibições – no campo do comportamento, por exemplo. Também defendem suas ditaduras de estimação e, nas franjas, devaneiam com uma intervenção militar. A missão, portanto, é proteger a democracia sem apelar para ações que enfraqueçam a democracia. Nem sempre isso tem ocorrido. Tomara que os tios do zap não tenham chance de vociferar entre amigos e familiares que ele estão certos. Para isso ocorrer basta que o “X” sofra novas restrições.

Num período de tantas restrições e melindres, o verdadeiro pulsar da sociedade hoje circula quase clandestinamente nas conversas de aplicativos como WhatsApp ou Telegram. Nesses ambientes, as pessoas deixam de lado as autocontenções e costumam se manifestar mais próximas de como o são, sem o escrutínio de um público mais amplo. Ultimamente, nos grupos com presença de bolsonaristas, mensagens com suas visões bastante peculiares sobre os acontecimentos políticos no Brasil costumam terminar com a seguinte mensagem: “apague este texto antes que Alexandre de Moraes mande proibir”.

Faz sentido. O efeito que os vetos do Judiciário provocam no rebanho bolsonarista é fortalecer a convicção de que são neste momento um grupo político perseguido por defender ideias, na visão deles, corretas, verdadeiras, porém perigosas se divulgadas, por ferirem interesses de poderosos. Seriam alertas no sentido de que as urnas são fraudadas, de que há uma quadrilha no poder com apoio do Judiciário e da mídia e por aí vai. Próximo ao delírio? Pode ser. Mas, para eles, a repressão serve como evidência de que não estão equivocados.

Ao longo da nossa longa trajetória nesse planeta, repressões muitas vezes fortalecem as grandes epopeias. Tome-se o caso dos cristãos perseguidos pelo império romano. Os judeus que se transformaram em um povo errante de tanto serem expulsos dos lugares em que viviam. Ou mesmo os palestinos que hoje não têm ainda o direito de constituírem seu Estado. Os perseguidos pela ditadura brasileira de 1964 se transformaram na elite política brasileira. Três deles foram eleitos presidente da República: Fernando Henrique Cardoso, Lula e Dilma Rousseff. O que hoje o bolsonarismo mais quer é ser perseguido.

Elon Musk e Alexandre de Moraes Foto: Gonzalo Fuentes/Reuters e Pedro Kirilos/Estadão

O ministro do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes, talvez, precisaria perceber que proibições podem ter efeito contrário do que se pretende. Que fortalecem os abusadores. O caso das provocações de Elon Musk, que ameaça até tirar o “X” do Brasil por causa das supostas censuras e mesmo liberar as mensagens proibidas é um exemplo. Hoje, o excêntrico empresário sul-africano tornou-se um herói para setores da direita brasileira. “O homem que irá mostrar ao mundo que vivemos num regime de exceção controlado pelo judiciário”. A farsa da nossa atual democracia, de acordo com os defensores dessa tese, seria comprovada logo que Alexandre de Moraes assinar uma almejada proibição das atividades do “X”, o antigo Twitter, no Brasil. Estão quase gritando: “proíba, Xandão”.

A questão da liberdade de expressão deveria ser um valor caro a todos. Mas, assim como as camisas da seleção, estão sendo apropriadas pela extrema direita. E o fazem de forma a forçar seus limites. Querem ter liberdade para denunciarem urnas, desprezarem minorias, nessa trilha. É um dilema atual como lidar com isso. Mas muitas ideias que se tornariam apenas ridículas num processo de aberto discussão na sociedade apenas se fortalecem sob o manto da interdição. Porém, tem prevalecido no Brasil a ideia de que o Judiciário precisa tutelar o que a população pensa.

Faz sentido proibir um influencer com os neurônios tomados por substâncias entorpecentes deixar de dizer o que pensa publicamente, mesmo que seja a possibilidade de o Brasil ter um partido nazista? Aquilo teve um tanto de patético e um quase nada de perigoso. Para que adiar a exibição de um documentário sobre a facada em Jair Bolsonaro? Fez sentido proibirem as associações de Lula com o regime da Nicarágua como se todos nós não soubéssemos que passar pano para ditaduras de esquerda ou antiamericanas é um calcanhar de Aquiles de Lula? São decisões que só servem para, utilizando-se uma expressão popular, dar ração ao gado. É como se, houvesse um paradoxo da intolerância – não tolerar certas ideias a fortalecem.

De fato, é mais complexo do que se pensa separar um ato criminoso do cometimento ou do planejamento do delito. Como passamos por uma quase tentativa de golpe de Estado, são decisões difíceis que o Judiciário brasileiro tem pelo frente. Tudo indica que o ex-presidente Jair Bolsonaro furou o sinal vermelho entre sonhar com um regime autoritário e planejar uma ditadura. Colocá-lo em um prisão em um processo justo e imparcial que não cinda a sociedade é um processo que exigirá que se evitem todos os exageros. Parece que não é o caso – voltamos a adorar proibições.

Caso os bolsonaristas vençam essa batalha, sobre o interpretar dos acontecimentos, a injustiça será enorme. Afinal, não procede que eles sejam defensores da liberdade e contra as perseguições. Ao contrário. Eles também possuem suas longas listas de proibições – no campo do comportamento, por exemplo. Também defendem suas ditaduras de estimação e, nas franjas, devaneiam com uma intervenção militar. A missão, portanto, é proteger a democracia sem apelar para ações que enfraqueçam a democracia. Nem sempre isso tem ocorrido. Tomara que os tios do zap não tenham chance de vociferar entre amigos e familiares que ele estão certos. Para isso ocorrer basta que o “X” sofra novas restrições.

Num período de tantas restrições e melindres, o verdadeiro pulsar da sociedade hoje circula quase clandestinamente nas conversas de aplicativos como WhatsApp ou Telegram. Nesses ambientes, as pessoas deixam de lado as autocontenções e costumam se manifestar mais próximas de como o são, sem o escrutínio de um público mais amplo. Ultimamente, nos grupos com presença de bolsonaristas, mensagens com suas visões bastante peculiares sobre os acontecimentos políticos no Brasil costumam terminar com a seguinte mensagem: “apague este texto antes que Alexandre de Moraes mande proibir”.

Faz sentido. O efeito que os vetos do Judiciário provocam no rebanho bolsonarista é fortalecer a convicção de que são neste momento um grupo político perseguido por defender ideias, na visão deles, corretas, verdadeiras, porém perigosas se divulgadas, por ferirem interesses de poderosos. Seriam alertas no sentido de que as urnas são fraudadas, de que há uma quadrilha no poder com apoio do Judiciário e da mídia e por aí vai. Próximo ao delírio? Pode ser. Mas, para eles, a repressão serve como evidência de que não estão equivocados.

Ao longo da nossa longa trajetória nesse planeta, repressões muitas vezes fortalecem as grandes epopeias. Tome-se o caso dos cristãos perseguidos pelo império romano. Os judeus que se transformaram em um povo errante de tanto serem expulsos dos lugares em que viviam. Ou mesmo os palestinos que hoje não têm ainda o direito de constituírem seu Estado. Os perseguidos pela ditadura brasileira de 1964 se transformaram na elite política brasileira. Três deles foram eleitos presidente da República: Fernando Henrique Cardoso, Lula e Dilma Rousseff. O que hoje o bolsonarismo mais quer é ser perseguido.

Elon Musk e Alexandre de Moraes Foto: Gonzalo Fuentes/Reuters e Pedro Kirilos/Estadão

O ministro do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes, talvez, precisaria perceber que proibições podem ter efeito contrário do que se pretende. Que fortalecem os abusadores. O caso das provocações de Elon Musk, que ameaça até tirar o “X” do Brasil por causa das supostas censuras e mesmo liberar as mensagens proibidas é um exemplo. Hoje, o excêntrico empresário sul-africano tornou-se um herói para setores da direita brasileira. “O homem que irá mostrar ao mundo que vivemos num regime de exceção controlado pelo judiciário”. A farsa da nossa atual democracia, de acordo com os defensores dessa tese, seria comprovada logo que Alexandre de Moraes assinar uma almejada proibição das atividades do “X”, o antigo Twitter, no Brasil. Estão quase gritando: “proíba, Xandão”.

A questão da liberdade de expressão deveria ser um valor caro a todos. Mas, assim como as camisas da seleção, estão sendo apropriadas pela extrema direita. E o fazem de forma a forçar seus limites. Querem ter liberdade para denunciarem urnas, desprezarem minorias, nessa trilha. É um dilema atual como lidar com isso. Mas muitas ideias que se tornariam apenas ridículas num processo de aberto discussão na sociedade apenas se fortalecem sob o manto da interdição. Porém, tem prevalecido no Brasil a ideia de que o Judiciário precisa tutelar o que a população pensa.

Faz sentido proibir um influencer com os neurônios tomados por substâncias entorpecentes deixar de dizer o que pensa publicamente, mesmo que seja a possibilidade de o Brasil ter um partido nazista? Aquilo teve um tanto de patético e um quase nada de perigoso. Para que adiar a exibição de um documentário sobre a facada em Jair Bolsonaro? Fez sentido proibirem as associações de Lula com o regime da Nicarágua como se todos nós não soubéssemos que passar pano para ditaduras de esquerda ou antiamericanas é um calcanhar de Aquiles de Lula? São decisões que só servem para, utilizando-se uma expressão popular, dar ração ao gado. É como se, houvesse um paradoxo da intolerância – não tolerar certas ideias a fortalecem.

De fato, é mais complexo do que se pensa separar um ato criminoso do cometimento ou do planejamento do delito. Como passamos por uma quase tentativa de golpe de Estado, são decisões difíceis que o Judiciário brasileiro tem pelo frente. Tudo indica que o ex-presidente Jair Bolsonaro furou o sinal vermelho entre sonhar com um regime autoritário e planejar uma ditadura. Colocá-lo em um prisão em um processo justo e imparcial que não cinda a sociedade é um processo que exigirá que se evitem todos os exageros. Parece que não é o caso – voltamos a adorar proibições.

Caso os bolsonaristas vençam essa batalha, sobre o interpretar dos acontecimentos, a injustiça será enorme. Afinal, não procede que eles sejam defensores da liberdade e contra as perseguições. Ao contrário. Eles também possuem suas longas listas de proibições – no campo do comportamento, por exemplo. Também defendem suas ditaduras de estimação e, nas franjas, devaneiam com uma intervenção militar. A missão, portanto, é proteger a democracia sem apelar para ações que enfraqueçam a democracia. Nem sempre isso tem ocorrido. Tomara que os tios do zap não tenham chance de vociferar entre amigos e familiares que ele estão certos. Para isso ocorrer basta que o “X” sofra novas restrições.

Num período de tantas restrições e melindres, o verdadeiro pulsar da sociedade hoje circula quase clandestinamente nas conversas de aplicativos como WhatsApp ou Telegram. Nesses ambientes, as pessoas deixam de lado as autocontenções e costumam se manifestar mais próximas de como o são, sem o escrutínio de um público mais amplo. Ultimamente, nos grupos com presença de bolsonaristas, mensagens com suas visões bastante peculiares sobre os acontecimentos políticos no Brasil costumam terminar com a seguinte mensagem: “apague este texto antes que Alexandre de Moraes mande proibir”.

Faz sentido. O efeito que os vetos do Judiciário provocam no rebanho bolsonarista é fortalecer a convicção de que são neste momento um grupo político perseguido por defender ideias, na visão deles, corretas, verdadeiras, porém perigosas se divulgadas, por ferirem interesses de poderosos. Seriam alertas no sentido de que as urnas são fraudadas, de que há uma quadrilha no poder com apoio do Judiciário e da mídia e por aí vai. Próximo ao delírio? Pode ser. Mas, para eles, a repressão serve como evidência de que não estão equivocados.

Ao longo da nossa longa trajetória nesse planeta, repressões muitas vezes fortalecem as grandes epopeias. Tome-se o caso dos cristãos perseguidos pelo império romano. Os judeus que se transformaram em um povo errante de tanto serem expulsos dos lugares em que viviam. Ou mesmo os palestinos que hoje não têm ainda o direito de constituírem seu Estado. Os perseguidos pela ditadura brasileira de 1964 se transformaram na elite política brasileira. Três deles foram eleitos presidente da República: Fernando Henrique Cardoso, Lula e Dilma Rousseff. O que hoje o bolsonarismo mais quer é ser perseguido.

Elon Musk e Alexandre de Moraes Foto: Gonzalo Fuentes/Reuters e Pedro Kirilos/Estadão

O ministro do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes, talvez, precisaria perceber que proibições podem ter efeito contrário do que se pretende. Que fortalecem os abusadores. O caso das provocações de Elon Musk, que ameaça até tirar o “X” do Brasil por causa das supostas censuras e mesmo liberar as mensagens proibidas é um exemplo. Hoje, o excêntrico empresário sul-africano tornou-se um herói para setores da direita brasileira. “O homem que irá mostrar ao mundo que vivemos num regime de exceção controlado pelo judiciário”. A farsa da nossa atual democracia, de acordo com os defensores dessa tese, seria comprovada logo que Alexandre de Moraes assinar uma almejada proibição das atividades do “X”, o antigo Twitter, no Brasil. Estão quase gritando: “proíba, Xandão”.

A questão da liberdade de expressão deveria ser um valor caro a todos. Mas, assim como as camisas da seleção, estão sendo apropriadas pela extrema direita. E o fazem de forma a forçar seus limites. Querem ter liberdade para denunciarem urnas, desprezarem minorias, nessa trilha. É um dilema atual como lidar com isso. Mas muitas ideias que se tornariam apenas ridículas num processo de aberto discussão na sociedade apenas se fortalecem sob o manto da interdição. Porém, tem prevalecido no Brasil a ideia de que o Judiciário precisa tutelar o que a população pensa.

Faz sentido proibir um influencer com os neurônios tomados por substâncias entorpecentes deixar de dizer o que pensa publicamente, mesmo que seja a possibilidade de o Brasil ter um partido nazista? Aquilo teve um tanto de patético e um quase nada de perigoso. Para que adiar a exibição de um documentário sobre a facada em Jair Bolsonaro? Fez sentido proibirem as associações de Lula com o regime da Nicarágua como se todos nós não soubéssemos que passar pano para ditaduras de esquerda ou antiamericanas é um calcanhar de Aquiles de Lula? São decisões que só servem para, utilizando-se uma expressão popular, dar ração ao gado. É como se, houvesse um paradoxo da intolerância – não tolerar certas ideias a fortalecem.

De fato, é mais complexo do que se pensa separar um ato criminoso do cometimento ou do planejamento do delito. Como passamos por uma quase tentativa de golpe de Estado, são decisões difíceis que o Judiciário brasileiro tem pelo frente. Tudo indica que o ex-presidente Jair Bolsonaro furou o sinal vermelho entre sonhar com um regime autoritário e planejar uma ditadura. Colocá-lo em um prisão em um processo justo e imparcial que não cinda a sociedade é um processo que exigirá que se evitem todos os exageros. Parece que não é o caso – voltamos a adorar proibições.

Caso os bolsonaristas vençam essa batalha, sobre o interpretar dos acontecimentos, a injustiça será enorme. Afinal, não procede que eles sejam defensores da liberdade e contra as perseguições. Ao contrário. Eles também possuem suas longas listas de proibições – no campo do comportamento, por exemplo. Também defendem suas ditaduras de estimação e, nas franjas, devaneiam com uma intervenção militar. A missão, portanto, é proteger a democracia sem apelar para ações que enfraqueçam a democracia. Nem sempre isso tem ocorrido. Tomara que os tios do zap não tenham chance de vociferar entre amigos e familiares que ele estão certos. Para isso ocorrer basta que o “X” sofra novas restrições.

Opinião por Fabiano Lana

Fabiano Lana é formado em Comunicação Social pela UFMG e em Filosofia pela UnB, onde também tem mestrado na área. Foi repórter do Jornal do Brasil, entre outros veículos. Atua como consultor de comunicação. É autor do livro “Riobaldo agarra sua morte”, em que discute interseções entre jornalismo, política e ética.

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