Disputas de poder e o debate político-cultural brasileiro

Opinião|Saúde de Lula nunca mais sairá da pauta até as eleições


Após o calvário de Tancredo Neves, ocorrido há quatro décadas, se há algo que o brasileiro passou a desconfiar é de palavra de médicos que cuidam de autoridades

Por Fabiano Lana
Atualização:

O novo procedimento cirúrgico a ser submetido pelo presidente Lula, em menos de uma semana, é considerado simples pelos especialistas. Mas a verdade é que frente ao nosso histórico de apreensões com a saúde de políticos, e a tendência geral à paranoia e especulações inerente à política, até a realização da eleição de 2026 o assunto nunca mais irá sair de pauta. Cada gesto de Lula, cada passo, cada frase, será analisada do ponto de vista clínico e o Brasil se tornará uma pátria dos médicos palpiteiros sobre a saúde presidencial.

Após o calvário de Tancredo Neves, ocorrido há quatro décadas, se há algo que o brasileiro passou a desconfiar é de palavra de médicos que cuidam de autoridades. Nesse sentido, não foi nada alvissareiro avisarem de uma nova cirurgia apenas um dia após uma coletiva de imprensa em que já se anunciava sucesso absoluto da primeira intervenção no cérebro do presidente.

O presidente Lula será submetido a novo procedimento médico Foto: WILTON JUNIOR/Estadão
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Os desdobramentos, desde o anúncio da internação de Lula, foram imediatos e é interessante notar como tantas bolhas políticas brasileiras se comportaram. A primeira, ignóbil, ocorreu na “nem tanto deepweb assim”. Bolsonaristas de todos calibres e idades passaram a divulgar memes e vídeos que, verdade seja dita, comemoravam o martírio do presidente e desejavam algo ainda pior. Nada a ver com os algoritmos das redes, mas com os grupos de WhatsApp e tecnologias semelhantes. Para os menos radicais, comparações com Joe Biden, que desistiu de disputar a eleição no EUA por idade e saúde, foram tema das conversas reais e virtuais. A ultra-direita ficou feliz. Ponto.

Já o famigerado e indefinível mercado pode ter feito a seguinte pergunta: com qual presidente o Estado tem mais chances de apresentar superávit primário, Lula ou Geraldo Alckmin? Quem pensa que é a segunda hipótese, Geraldo, vai apostar a favor do Real e contra o dólar caso a hipótese do afastamento do petista prevaleça. Atenção, o mercado não faz juízo de valor, só quer saber quais serão os caminhos do lucro e do prejuízo e não há possibilidade de esse mecanismo agir de maneira diferente – já que fazer esse cálculo é sua razão de existir.

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Outra questão implacável será a sucessão propriamente dita. O petismo precisará, desde ontem, deixar preparado o plano B para o próximo pleito presidencial. Com certeza, de mentirinha para evitar implosões internas, irão manter o discurso de que o candidato é o Lula. Mas não há dúvidas de que o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, larga na frente. A Haddad cabe administrar um ajuste fiscal que traga ganhos eleitorais, o que é quase uma contradição em termos. Outros postulantes irão se mexer para se tornar uma alternativa possível? Quem?

Há também o fator povo. Qual seria o efeito de um Lula fora de combate? Mesmo quem execra o atual presidente terá que suar muito para negar que Lula já está na categoria dos mais importantes políticos da história brasileira, disputando o posto com gente como Getúlio Vargas ou Juscelino Kubitscheck. O tanto que sua figura atrai de amor e ódio é um indício de sua relevância. Um Lula martirizado, afastado, ou fora de combate, pode ser um ativo eleitoral? Também é preciso levar em consideração a falta que o presidente fará na articulação direta em Brasília. Nosso sistema presidencial coloca muita carga no inquilino mor do Palácio do Planalto.

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O presidente Lula já enfrentou um câncer e venceu. Era algo mais novo e estava fora da presidência. Agora, aos 79 anos e às voltas com uma duríssima carga de trabalho, as circunstâncias podem ser até mais desafiadoras. Ainda mais que está em jogo a sociedade escolher um presidente octogenário e com a saúde sob escrutínio. Os tempos das vacas gordas, do boom das commodities, das contas ajustadas e da base submissa não existem mais.

Do outro lado da trincheira política há a inelegibilidade de Bolsonaro e sua obsessão em se manter candidato prejudicando demais alternativas à direita. Há o dilema do governador Tarcísio de Freitas em deixar ou não o comando de São Paulo para uma aventura incerta. Contamos com uma série de governadores pré-candidatos de apelo até agora apenas regional. Nesse sentido, a esperança do petismo seria uma candidatura de Lula, mesmo com todos os riscos, em um ambiente de vitória por um certo W.O.

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Por mais simples que seja o procedimento de hoje, segundo as informações oficiais, que fique claro: o tabuleiro para 2026 já está bastante remexido. As nuvens atuais da política só revelam um panorama indecifrável de muita gente que se movimenta com estratégia diferente pelo poder.

O novo procedimento cirúrgico a ser submetido pelo presidente Lula, em menos de uma semana, é considerado simples pelos especialistas. Mas a verdade é que frente ao nosso histórico de apreensões com a saúde de políticos, e a tendência geral à paranoia e especulações inerente à política, até a realização da eleição de 2026 o assunto nunca mais irá sair de pauta. Cada gesto de Lula, cada passo, cada frase, será analisada do ponto de vista clínico e o Brasil se tornará uma pátria dos médicos palpiteiros sobre a saúde presidencial.

Após o calvário de Tancredo Neves, ocorrido há quatro décadas, se há algo que o brasileiro passou a desconfiar é de palavra de médicos que cuidam de autoridades. Nesse sentido, não foi nada alvissareiro avisarem de uma nova cirurgia apenas um dia após uma coletiva de imprensa em que já se anunciava sucesso absoluto da primeira intervenção no cérebro do presidente.

O presidente Lula será submetido a novo procedimento médico Foto: WILTON JUNIOR/Estadão

Os desdobramentos, desde o anúncio da internação de Lula, foram imediatos e é interessante notar como tantas bolhas políticas brasileiras se comportaram. A primeira, ignóbil, ocorreu na “nem tanto deepweb assim”. Bolsonaristas de todos calibres e idades passaram a divulgar memes e vídeos que, verdade seja dita, comemoravam o martírio do presidente e desejavam algo ainda pior. Nada a ver com os algoritmos das redes, mas com os grupos de WhatsApp e tecnologias semelhantes. Para os menos radicais, comparações com Joe Biden, que desistiu de disputar a eleição no EUA por idade e saúde, foram tema das conversas reais e virtuais. A ultra-direita ficou feliz. Ponto.

Já o famigerado e indefinível mercado pode ter feito a seguinte pergunta: com qual presidente o Estado tem mais chances de apresentar superávit primário, Lula ou Geraldo Alckmin? Quem pensa que é a segunda hipótese, Geraldo, vai apostar a favor do Real e contra o dólar caso a hipótese do afastamento do petista prevaleça. Atenção, o mercado não faz juízo de valor, só quer saber quais serão os caminhos do lucro e do prejuízo e não há possibilidade de esse mecanismo agir de maneira diferente – já que fazer esse cálculo é sua razão de existir.

Outra questão implacável será a sucessão propriamente dita. O petismo precisará, desde ontem, deixar preparado o plano B para o próximo pleito presidencial. Com certeza, de mentirinha para evitar implosões internas, irão manter o discurso de que o candidato é o Lula. Mas não há dúvidas de que o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, larga na frente. A Haddad cabe administrar um ajuste fiscal que traga ganhos eleitorais, o que é quase uma contradição em termos. Outros postulantes irão se mexer para se tornar uma alternativa possível? Quem?

Há também o fator povo. Qual seria o efeito de um Lula fora de combate? Mesmo quem execra o atual presidente terá que suar muito para negar que Lula já está na categoria dos mais importantes políticos da história brasileira, disputando o posto com gente como Getúlio Vargas ou Juscelino Kubitscheck. O tanto que sua figura atrai de amor e ódio é um indício de sua relevância. Um Lula martirizado, afastado, ou fora de combate, pode ser um ativo eleitoral? Também é preciso levar em consideração a falta que o presidente fará na articulação direta em Brasília. Nosso sistema presidencial coloca muita carga no inquilino mor do Palácio do Planalto.

O presidente Lula já enfrentou um câncer e venceu. Era algo mais novo e estava fora da presidência. Agora, aos 79 anos e às voltas com uma duríssima carga de trabalho, as circunstâncias podem ser até mais desafiadoras. Ainda mais que está em jogo a sociedade escolher um presidente octogenário e com a saúde sob escrutínio. Os tempos das vacas gordas, do boom das commodities, das contas ajustadas e da base submissa não existem mais.

Do outro lado da trincheira política há a inelegibilidade de Bolsonaro e sua obsessão em se manter candidato prejudicando demais alternativas à direita. Há o dilema do governador Tarcísio de Freitas em deixar ou não o comando de São Paulo para uma aventura incerta. Contamos com uma série de governadores pré-candidatos de apelo até agora apenas regional. Nesse sentido, a esperança do petismo seria uma candidatura de Lula, mesmo com todos os riscos, em um ambiente de vitória por um certo W.O.

Por mais simples que seja o procedimento de hoje, segundo as informações oficiais, que fique claro: o tabuleiro para 2026 já está bastante remexido. As nuvens atuais da política só revelam um panorama indecifrável de muita gente que se movimenta com estratégia diferente pelo poder.

O novo procedimento cirúrgico a ser submetido pelo presidente Lula, em menos de uma semana, é considerado simples pelos especialistas. Mas a verdade é que frente ao nosso histórico de apreensões com a saúde de políticos, e a tendência geral à paranoia e especulações inerente à política, até a realização da eleição de 2026 o assunto nunca mais irá sair de pauta. Cada gesto de Lula, cada passo, cada frase, será analisada do ponto de vista clínico e o Brasil se tornará uma pátria dos médicos palpiteiros sobre a saúde presidencial.

Após o calvário de Tancredo Neves, ocorrido há quatro décadas, se há algo que o brasileiro passou a desconfiar é de palavra de médicos que cuidam de autoridades. Nesse sentido, não foi nada alvissareiro avisarem de uma nova cirurgia apenas um dia após uma coletiva de imprensa em que já se anunciava sucesso absoluto da primeira intervenção no cérebro do presidente.

O presidente Lula será submetido a novo procedimento médico Foto: WILTON JUNIOR/Estadão

Os desdobramentos, desde o anúncio da internação de Lula, foram imediatos e é interessante notar como tantas bolhas políticas brasileiras se comportaram. A primeira, ignóbil, ocorreu na “nem tanto deepweb assim”. Bolsonaristas de todos calibres e idades passaram a divulgar memes e vídeos que, verdade seja dita, comemoravam o martírio do presidente e desejavam algo ainda pior. Nada a ver com os algoritmos das redes, mas com os grupos de WhatsApp e tecnologias semelhantes. Para os menos radicais, comparações com Joe Biden, que desistiu de disputar a eleição no EUA por idade e saúde, foram tema das conversas reais e virtuais. A ultra-direita ficou feliz. Ponto.

Já o famigerado e indefinível mercado pode ter feito a seguinte pergunta: com qual presidente o Estado tem mais chances de apresentar superávit primário, Lula ou Geraldo Alckmin? Quem pensa que é a segunda hipótese, Geraldo, vai apostar a favor do Real e contra o dólar caso a hipótese do afastamento do petista prevaleça. Atenção, o mercado não faz juízo de valor, só quer saber quais serão os caminhos do lucro e do prejuízo e não há possibilidade de esse mecanismo agir de maneira diferente – já que fazer esse cálculo é sua razão de existir.

Outra questão implacável será a sucessão propriamente dita. O petismo precisará, desde ontem, deixar preparado o plano B para o próximo pleito presidencial. Com certeza, de mentirinha para evitar implosões internas, irão manter o discurso de que o candidato é o Lula. Mas não há dúvidas de que o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, larga na frente. A Haddad cabe administrar um ajuste fiscal que traga ganhos eleitorais, o que é quase uma contradição em termos. Outros postulantes irão se mexer para se tornar uma alternativa possível? Quem?

Há também o fator povo. Qual seria o efeito de um Lula fora de combate? Mesmo quem execra o atual presidente terá que suar muito para negar que Lula já está na categoria dos mais importantes políticos da história brasileira, disputando o posto com gente como Getúlio Vargas ou Juscelino Kubitscheck. O tanto que sua figura atrai de amor e ódio é um indício de sua relevância. Um Lula martirizado, afastado, ou fora de combate, pode ser um ativo eleitoral? Também é preciso levar em consideração a falta que o presidente fará na articulação direta em Brasília. Nosso sistema presidencial coloca muita carga no inquilino mor do Palácio do Planalto.

O presidente Lula já enfrentou um câncer e venceu. Era algo mais novo e estava fora da presidência. Agora, aos 79 anos e às voltas com uma duríssima carga de trabalho, as circunstâncias podem ser até mais desafiadoras. Ainda mais que está em jogo a sociedade escolher um presidente octogenário e com a saúde sob escrutínio. Os tempos das vacas gordas, do boom das commodities, das contas ajustadas e da base submissa não existem mais.

Do outro lado da trincheira política há a inelegibilidade de Bolsonaro e sua obsessão em se manter candidato prejudicando demais alternativas à direita. Há o dilema do governador Tarcísio de Freitas em deixar ou não o comando de São Paulo para uma aventura incerta. Contamos com uma série de governadores pré-candidatos de apelo até agora apenas regional. Nesse sentido, a esperança do petismo seria uma candidatura de Lula, mesmo com todos os riscos, em um ambiente de vitória por um certo W.O.

Por mais simples que seja o procedimento de hoje, segundo as informações oficiais, que fique claro: o tabuleiro para 2026 já está bastante remexido. As nuvens atuais da política só revelam um panorama indecifrável de muita gente que se movimenta com estratégia diferente pelo poder.

Opinião por Fabiano Lana

Fabiano Lana é formado em Comunicação Social pela UFMG e em Filosofia pela UnB, onde também tem mestrado na área. Foi repórter do Jornal do Brasil, entre outros veículos. Atua como consultor de comunicação. É autor do livro “Riobaldo agarra sua morte”, em que discute interseções entre jornalismo, política e ética.

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