Disputas de poder e o debate político-cultural brasileiro

Opinião|Tragédia das enchentes no Rio Grande do Sul revela o pior e o melhor do ser humano


Homem pode ter sido o causador da catástrofe climática, mesmo que seja parcialmente, mas também tem se organizado em correntes de solidariedade notáveis

Por Fabiano Lana

Das inúmeras maneiras possíveis de interpretar o filme “Os Pássaros”, de Alfred Hitchcock, de 1963, uma delas é sobre o poder da natureza de destruir a humanidade abruptamente. De maneira implacável, sem explicações ou qualquer consideração moral, pois o ecossistema não é um ser consciente. Basta uma combinação de ataques dos animais domésticos, dos peçonhentos, dos selvagens, das próprias aves, com tempestades, inundações, tsunamis, furacões, erupções vulcânicas, incêndios e tudo se acabou sem qualquer resquício de sentido. Mesmo com suas armas letais que tanto preza, o humano, na sua arrogante e milenar dominação do território, pode ser derrotado a qualquer momento.

Em meio às enchentes no Rio Grande do Sul, uma corrente de solidariedade se formou no Brasil Foto: Carlos Macedo/AP

Muito pior se a sociedade tiver contribuído para essa trajetória. A mesma civilização que soube construir diques que alteram as extensões de seus países, que é capaz de derrubar cadeias de montanhas em prol da mineração, construir túneis sob o mar, produzir alimentos para bilhões de pessoas diariamente, por outro lado, pode também agir no sentido de se autodestruir se não houver correções de rumo. O conceito de prova é controverso mesmo na ciência, ainda se debate seriamente qual são as nossas responsabilidades, mas há bastantes evidências de que as alterações no clima podem ter sido causada por ações humanas.

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Por suas condições de relevo e hidrográficas específicas, o Rio Grande do Sul é a vítima da vez dessa revolta da natureza. Por mais que estejamos acostumados a ver esse tipo de calamidade ao logo das décadas, o que ocorre nesse Estado brasileiro parece ser uma comprovação de que atingimos algum tipo de limite. Que o momento do basta chegou. E o que fez todos se conscientizarem não foram exatamente os congressos, os colóquios, os documentos, mas sim o próprio ambiente natural em convulsão. Não se trata mais de uma questão teórica, mas auto evidente. Se pensarmos bem, os grandes acidentes, provocados ou não, que criam o sentido da história. Pensemos na revolução francesa, na Segunda Guerra Mundial, nos invernos rigorosos que provocaram a fome e fizeram os “bárbaros” invadirem a Europa, aniquilar o império romano, e dar início à idade média. O ano de 2023, de acordo com as medições, foi o mais quente já registrado, e as consequências estão em todo lugar. Uma nova era a caminho?

O planeta já se aqueceu e esfriou algumas vezes em sua trajetória de bilhões de anos. Por um desses aquecimentos, o humano passou a ter menos pelos no corpo. Por um esfriamento foi possível atravessar o estreito de Bering e colonizar a América e chegar de ilha a ilha até a Oceania, de acordo com algumas das hipóteses de colonização disponíveis. Mas, no caso especial da atualidade, parece ter a ver com a queima de gás carbônico via combustíveis fósseis e o consequente efeito estufa que tende aumentar o nível de calor na Terra. Nossa condição de vida atual, apesar de tudo a mais alta de todos os tempos, se deu sobre a destruição de ambientes naturais dentro do processo civilizatório. Se quisermos manter o que conquistamos, o caminho deve ser outro, em direção a uma maior conexão com o todo ao redor.

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O humano pode ter sido o causador da catástrofe no Rio Grande do Sul, mesmo que seja parcialmente – talvez ainda saibamos, ainda é apenas uma hipótese. Mas é o humano também que tem se organizado em correntes de solidariedade notáveis. Em todo o Brasil e mesmo em outros lugares do planeta. Existem também aqueles que comemoraram o infortúnio dos gaúchos por causa de seus posicionamentos eleitorais - os que nunca conseguem ir além da batalha política diária e se apequenam em momentos como o que vivemos agora. São sempre as pessoas, como costumam acontecer nos momentos mais dramáticos, a mostrar o seu melhor e o seu pior.

Em nossa trajetória conseguimos feitos notáveis, como ter todos os tesouros culturais a uma distância de um clique do celular ou do computador. Descobrir remédios e vacinas para doenças que devastaram milhares. Da perspectiva dos milhões de anos, espécies aparecem e desaparecem sobre a Terra. O Homo sapiens passou a se espalhar pelo mundo nos últimos 60 mil anos, enquanto muitos dos insetos que nos atormentam dentro de nossas casas ou apartamentos estão por aqui há 100 milhões de anos ou muito mais. Da perspectiva inconsciente desses bichos que invadem as nossas casas, que nos picam ou nos causam horror, ou dos movimentos violentos, os intrusos somos nós. Deveríamos respeitá-los.

Das inúmeras maneiras possíveis de interpretar o filme “Os Pássaros”, de Alfred Hitchcock, de 1963, uma delas é sobre o poder da natureza de destruir a humanidade abruptamente. De maneira implacável, sem explicações ou qualquer consideração moral, pois o ecossistema não é um ser consciente. Basta uma combinação de ataques dos animais domésticos, dos peçonhentos, dos selvagens, das próprias aves, com tempestades, inundações, tsunamis, furacões, erupções vulcânicas, incêndios e tudo se acabou sem qualquer resquício de sentido. Mesmo com suas armas letais que tanto preza, o humano, na sua arrogante e milenar dominação do território, pode ser derrotado a qualquer momento.

Em meio às enchentes no Rio Grande do Sul, uma corrente de solidariedade se formou no Brasil Foto: Carlos Macedo/AP

Muito pior se a sociedade tiver contribuído para essa trajetória. A mesma civilização que soube construir diques que alteram as extensões de seus países, que é capaz de derrubar cadeias de montanhas em prol da mineração, construir túneis sob o mar, produzir alimentos para bilhões de pessoas diariamente, por outro lado, pode também agir no sentido de se autodestruir se não houver correções de rumo. O conceito de prova é controverso mesmo na ciência, ainda se debate seriamente qual são as nossas responsabilidades, mas há bastantes evidências de que as alterações no clima podem ter sido causada por ações humanas.

Por suas condições de relevo e hidrográficas específicas, o Rio Grande do Sul é a vítima da vez dessa revolta da natureza. Por mais que estejamos acostumados a ver esse tipo de calamidade ao logo das décadas, o que ocorre nesse Estado brasileiro parece ser uma comprovação de que atingimos algum tipo de limite. Que o momento do basta chegou. E o que fez todos se conscientizarem não foram exatamente os congressos, os colóquios, os documentos, mas sim o próprio ambiente natural em convulsão. Não se trata mais de uma questão teórica, mas auto evidente. Se pensarmos bem, os grandes acidentes, provocados ou não, que criam o sentido da história. Pensemos na revolução francesa, na Segunda Guerra Mundial, nos invernos rigorosos que provocaram a fome e fizeram os “bárbaros” invadirem a Europa, aniquilar o império romano, e dar início à idade média. O ano de 2023, de acordo com as medições, foi o mais quente já registrado, e as consequências estão em todo lugar. Uma nova era a caminho?

O planeta já se aqueceu e esfriou algumas vezes em sua trajetória de bilhões de anos. Por um desses aquecimentos, o humano passou a ter menos pelos no corpo. Por um esfriamento foi possível atravessar o estreito de Bering e colonizar a América e chegar de ilha a ilha até a Oceania, de acordo com algumas das hipóteses de colonização disponíveis. Mas, no caso especial da atualidade, parece ter a ver com a queima de gás carbônico via combustíveis fósseis e o consequente efeito estufa que tende aumentar o nível de calor na Terra. Nossa condição de vida atual, apesar de tudo a mais alta de todos os tempos, se deu sobre a destruição de ambientes naturais dentro do processo civilizatório. Se quisermos manter o que conquistamos, o caminho deve ser outro, em direção a uma maior conexão com o todo ao redor.

O humano pode ter sido o causador da catástrofe no Rio Grande do Sul, mesmo que seja parcialmente – talvez ainda saibamos, ainda é apenas uma hipótese. Mas é o humano também que tem se organizado em correntes de solidariedade notáveis. Em todo o Brasil e mesmo em outros lugares do planeta. Existem também aqueles que comemoraram o infortúnio dos gaúchos por causa de seus posicionamentos eleitorais - os que nunca conseguem ir além da batalha política diária e se apequenam em momentos como o que vivemos agora. São sempre as pessoas, como costumam acontecer nos momentos mais dramáticos, a mostrar o seu melhor e o seu pior.

Em nossa trajetória conseguimos feitos notáveis, como ter todos os tesouros culturais a uma distância de um clique do celular ou do computador. Descobrir remédios e vacinas para doenças que devastaram milhares. Da perspectiva dos milhões de anos, espécies aparecem e desaparecem sobre a Terra. O Homo sapiens passou a se espalhar pelo mundo nos últimos 60 mil anos, enquanto muitos dos insetos que nos atormentam dentro de nossas casas ou apartamentos estão por aqui há 100 milhões de anos ou muito mais. Da perspectiva inconsciente desses bichos que invadem as nossas casas, que nos picam ou nos causam horror, ou dos movimentos violentos, os intrusos somos nós. Deveríamos respeitá-los.

Das inúmeras maneiras possíveis de interpretar o filme “Os Pássaros”, de Alfred Hitchcock, de 1963, uma delas é sobre o poder da natureza de destruir a humanidade abruptamente. De maneira implacável, sem explicações ou qualquer consideração moral, pois o ecossistema não é um ser consciente. Basta uma combinação de ataques dos animais domésticos, dos peçonhentos, dos selvagens, das próprias aves, com tempestades, inundações, tsunamis, furacões, erupções vulcânicas, incêndios e tudo se acabou sem qualquer resquício de sentido. Mesmo com suas armas letais que tanto preza, o humano, na sua arrogante e milenar dominação do território, pode ser derrotado a qualquer momento.

Em meio às enchentes no Rio Grande do Sul, uma corrente de solidariedade se formou no Brasil Foto: Carlos Macedo/AP

Muito pior se a sociedade tiver contribuído para essa trajetória. A mesma civilização que soube construir diques que alteram as extensões de seus países, que é capaz de derrubar cadeias de montanhas em prol da mineração, construir túneis sob o mar, produzir alimentos para bilhões de pessoas diariamente, por outro lado, pode também agir no sentido de se autodestruir se não houver correções de rumo. O conceito de prova é controverso mesmo na ciência, ainda se debate seriamente qual são as nossas responsabilidades, mas há bastantes evidências de que as alterações no clima podem ter sido causada por ações humanas.

Por suas condições de relevo e hidrográficas específicas, o Rio Grande do Sul é a vítima da vez dessa revolta da natureza. Por mais que estejamos acostumados a ver esse tipo de calamidade ao logo das décadas, o que ocorre nesse Estado brasileiro parece ser uma comprovação de que atingimos algum tipo de limite. Que o momento do basta chegou. E o que fez todos se conscientizarem não foram exatamente os congressos, os colóquios, os documentos, mas sim o próprio ambiente natural em convulsão. Não se trata mais de uma questão teórica, mas auto evidente. Se pensarmos bem, os grandes acidentes, provocados ou não, que criam o sentido da história. Pensemos na revolução francesa, na Segunda Guerra Mundial, nos invernos rigorosos que provocaram a fome e fizeram os “bárbaros” invadirem a Europa, aniquilar o império romano, e dar início à idade média. O ano de 2023, de acordo com as medições, foi o mais quente já registrado, e as consequências estão em todo lugar. Uma nova era a caminho?

O planeta já se aqueceu e esfriou algumas vezes em sua trajetória de bilhões de anos. Por um desses aquecimentos, o humano passou a ter menos pelos no corpo. Por um esfriamento foi possível atravessar o estreito de Bering e colonizar a América e chegar de ilha a ilha até a Oceania, de acordo com algumas das hipóteses de colonização disponíveis. Mas, no caso especial da atualidade, parece ter a ver com a queima de gás carbônico via combustíveis fósseis e o consequente efeito estufa que tende aumentar o nível de calor na Terra. Nossa condição de vida atual, apesar de tudo a mais alta de todos os tempos, se deu sobre a destruição de ambientes naturais dentro do processo civilizatório. Se quisermos manter o que conquistamos, o caminho deve ser outro, em direção a uma maior conexão com o todo ao redor.

O humano pode ter sido o causador da catástrofe no Rio Grande do Sul, mesmo que seja parcialmente – talvez ainda saibamos, ainda é apenas uma hipótese. Mas é o humano também que tem se organizado em correntes de solidariedade notáveis. Em todo o Brasil e mesmo em outros lugares do planeta. Existem também aqueles que comemoraram o infortúnio dos gaúchos por causa de seus posicionamentos eleitorais - os que nunca conseguem ir além da batalha política diária e se apequenam em momentos como o que vivemos agora. São sempre as pessoas, como costumam acontecer nos momentos mais dramáticos, a mostrar o seu melhor e o seu pior.

Em nossa trajetória conseguimos feitos notáveis, como ter todos os tesouros culturais a uma distância de um clique do celular ou do computador. Descobrir remédios e vacinas para doenças que devastaram milhares. Da perspectiva dos milhões de anos, espécies aparecem e desaparecem sobre a Terra. O Homo sapiens passou a se espalhar pelo mundo nos últimos 60 mil anos, enquanto muitos dos insetos que nos atormentam dentro de nossas casas ou apartamentos estão por aqui há 100 milhões de anos ou muito mais. Da perspectiva inconsciente desses bichos que invadem as nossas casas, que nos picam ou nos causam horror, ou dos movimentos violentos, os intrusos somos nós. Deveríamos respeitá-los.

Opinião por Fabiano Lana

Fabiano Lana é formado em Comunicação Social pela UFMG e em Filosofia pela UnB, onde também tem mestrado na área. Foi repórter do Jornal do Brasil, entre outros veículos. Atua como consultor de comunicação. É autor do livro “Riobaldo agarra sua morte”, em que discute interseções entre jornalismo, política e ética.

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