Trazer de volta um Estado grande e gastador, a filosofia que norteava os tempos de Dilma Rousseff, é o que está por trás da mudança no comando da Petrobras. O problema é o dia seguinte de inflação e recessão.
Não há dúvidas de que Lula sonha com a volta do milagre do crescimento econômico de 2010, quando o PIB brasileiro avançou 7,5% numa onda de otimismo que contagiou a população. Era um período de um Brasil revigorado, quando havia a ilusão de que as grandes obras, incluindo estradas, refinarias, plataformas, estariam em todo lugar trazendo prosperidade e vida eterna ao petismo.
Essa aspiração do “gasto é vida”, em frase atribuída à então ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, é o que está por trás da mudança de comando da Petrobras ou mesmo na pressão pela queda dos juros determinados pelo Banco Central. O que não se conta é a página seguinte dessa miragem: a recessão de 2015 e 2016 com uma queda acumulada de 7,8% do PIB. Crise da qual ainda não nos recuperamos.
O Brasil grande lulodilmista previa uma série de obras que seguem inacabadas ou nunca saíram do papel: as ferrovias Transnordestina e Fiol, a Refinaria Abreu e Lima (que hoje funciona parcialmente), as refinarias premium no Maranhão e no Ceará, o trem-bala entre Rio e São Paulo, e uma série de obras que viraram ruínas ou belos projetos engavetados. As que ficaram prontas ainda falta muito para o benefício que se pretendia: a transposição, por exemplo.
O período gastador resultou também em toda a corrupção que foi desnudada na operação Lava Jato, mas que a propaganda política atual tenta dizer que não ocorreu. Verdade que os abusos, ambições e vaidades dos integrantes da operação ajudaram para que qualquer ação de combate a crimes envolvendo o Estado hoje seja acusada de “fascismo”.
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O petismo, em seu DNA, não acredita na ação privada a partir de marcos jurídicos claros e bons ambientes de investimento. Prefere uma economia conduzida por um Estado forte a contratar obras de grandes empreiteiras. Um tipo de sociedade preconizada por economistas como John Maynard Keynes, com sua fé em obras públicas e juros baixos a reerguer uma nação. Curioso é que no Brasil, mesmo os empresários também se viciaram em proteções e benesses do Estado a ponto de nossos produtos manufaturados, atualmente, com as exceções conhecidas, tenham dificuldades de competir com o que chega de fora.
De fato, é preciso dar o crédito, as ideias de Keynes foram fundamentais para o planeta se recuperar da grande depressão de 1929, no pós-segunda guerra, e mesmo na crise de 2008. A questão é que Keynes prescreveu um remédio que funcionou razoavelmente em situações específicas, de crise e depressão, mas que se mal aplicado pode provocar uma crise inflacionária que prejudica sobretudo os mais pobres. A América Latina, em especial, padece desse mal.
Nesse sentido de keynesianismo mal interpretado, é resquício da era Dilma a pressão sobre o Banco Central. Até hoje paira a suspeita de que a instituição, naquele período, se curvou aos desejos da presidente e baixou os juros mais do que deveria. O objetivo seria a aceleração dos investimentos. Ocorreu que após cerca de duas décadas de relativa estabilidade (fora o pico da transição entre FHC e Lula), a alta de preço superou os dois dígitos, assim como o desemprego. A era Dilma fracassou, isso é um consenso.
Mas, na fábula petista, o dilmismo falhou não pelos seus equívocos econômicos. Mas pela falta de habilidade política de uma presidente sempre boicotada por raposas como Eduardo Cunha ou Aécio Neves. Enquanto isso, os promotores e o juiz da Lava Jato, Sergio Moro, cuidavam de paralisar o país. É uma história ótima para se contar para os convertidos. Para que não precisem lidar com o fracasso. O risco é acreditar nela e repetir o desastre.
Nessa nova vitória do desenvolvimentismo estatal, com a queda do presidente da Petrobras, a peça que não se encaixa é a do ministro da Fazenda, Fernando Haddad. Se Lula o escolheu para de fato equilibrar as contas é que por algum motivo não apostou todas as fichas no dilmismo revivido. Mas, de fato, a cada dia o ministro perde um pouco mais de seus instrumentos para entregar o que se comprometeu.