BRASÍLIA - O empresário Roberto Mantovani Filho, suspeito de ter hostilizado o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes, e agredido fisicamente o filho do magistrado não foi beneficiário do auxílio emergencial pago pelo governo de Jair Bolsonaro (PL) durante a pandemia de covid-19. A informação falsa tem circulado nas redes sociais com milhares de visualizações desde que o caso veio à tona.
Internautas passaram a compartilhar uma imagem do Portal da Transparência do governo federal, atribuindo ao empresário um pagamento feito a outra pessoa. O auxílio foi pago a José Roberto Mantovani Filho, cuja localidade foi registrada como sendo a cidade de São Paulo. O nome composto é diferente do empresário suspeito, que mora em Santa Bárbara D’Oeste.
A reportagem também comparou os CPFs dos dois homens para atestar que se tratam de pessoas diferentes. O Portal da Transparência indica que o beneficiário do auxílio tem como números centrais do Cadastro de Pessoa Física (CPF) os dígitos “515.298″. O empresário, por sua vez, tem os dígitos “560.968″ no CPF dele.
Roberto Mantovani Filho atua com administração de bens imobiliários, consulta empresarial e equipamentos hidráulicos e tem empresas registradas na Receita Federal. O Fisco mantém uma base de dados com um trecho do CPF de cada empresário brasileiro. Os números são diferentes dos que aparecem na imagem do Portal da Transparência que consta nas publicações falsas.
O auxílio emergencial era liberado para garantir uma renda mínima aos brasileiros em situação vulnerável. Alguma das publicações que circulam com a informação falsa têm mais de 200 mil visualizações.
“Como uma pessoa tão rica que vai para Roma, que anda de carrão tem coragem de pegar o dinheiro destinado às pessoas que estavam com dificuldade financeira na pandemia?”, diz o texto de um dos principais posts falsos.
Relembre o caso
A Polícia Federal investiga se um grupo de brasileiros hostilizou Alexandre de Moraes no aeroporto de Roma, na Itália, na sexta-feira, 14. Além de Roberto Mantovani Filho, outras pessoas da mesma família são suspeitas de terem proferido ofensas contra o ministro e agredido o filho dele. Mantovani teria dado um tapa no rosto do filho de Alexandre de Moraes durante a confusão no aeroporto de Roma.
Os outros dois identificados são o corretor Alex Zanatta Bignotto e Andréa Munarão, mulher de Mantovani. Em nota publicada neste domingo, 16, a família confirmou que houve um “desentendimento verbal” e uma “discussão acalorada” com dois integrantes da comitiva de Moraes. O Estadão apurou que seriam o filho do ministro e a namorada do rapaz.
Contudo, na versão da família, o trio foi confundido pela comitiva de Moraes com outros brasileiros que teriam de fato ofendido o ministro. Só por isso acabou envolvido. “Dessa confusão interpretativa nasceu desentendimento verbal entre ela (Andréa) e duas pessoas que acompanhavam o ministro”, informou a família, em nota divulgada neste domingo por Ralph Tórtima Filho, advogado dos suspeitos.
A nota diz ainda que a discussão ficou “acalorada” e Roberto Mantovani “precisou conter os ânimos” de um jovem que teria ofendido sua mulher. No episódio, o filho de Alexandre de Moraes, um advogado de 27 anos, teria sido agredido com um tapa no rosto por Mantovani. O texto da família pede “desculpas pelo mal entendido” e não cita expressamente a violência física.
“Roberto, que tem mais de 70 anos, precisou conter os ânimos do jovem ofensor. Em nenhum momento ocorreram ofensas, muito menos ameaças ao ministro Alexandre, que casualmente passou por eles nesse infeliz episódio. Mesmo assim, se desculpam pelo mal entendido havido, externando o veemente respeito que nutrem pelas autoridades públicas, extensivo aos seu familiares”, disse a família.
Procurado pelo Estadão, Roberto Mantovani não quis comentar a agressão atribuída a ele. “Na minha opinião não foi nada de tão extraordinário. Não gostaria de comentar nada para evitar, sabe, ódio, um revanchismo”, disse à reportagem, no sábado, 15.