“Afinal vocês fecharam com o amigo do amigo de meu pai?” A frase foi escrita por Marcelo Odebrecht em e-mail enviado em 13 de julho de 2007 a Adriano Maia e Irineu Meireles.
Em 3 de abril de 2019, quando o empreiteiro era “colaborador da Justiça”, seus advogados apresentaram à PF um arquivo para “esclarecimento, com o detalhamento possível, dos assuntos lícitos e ilícitos tratados” nos e-mails, “assim como identificação de eventuais codinomes”.
“‘Amigo do amigo de meu pai’ se refere a José Antonio Dias Toffoli”, explicaram, citando o hoje ministro do STF e então advogado-geral da União no segundo mandato de Lula, o “amigo do meu pai”, Emílio Odebrecht.
A mensagem “refere-se a tratativas que Adriano Maia tinha com a AGU sobre temas envolvendo as hidrelétricas do Rio Madeira”. A Odebrecht, interessada em vencer a licitação para construção e operação da usina de Santo Antônio, buscava estreitar relações com Toffoli, amigo de Lula. O consórcio integrado pela empreiteira venceu a disputa cinco meses após aquele e-mail.
Em depoimento, Marcelo Odebrecht confirmou a relação com o AGU indicado ao STF por Lula em 2009: “Existia, sim, essa relação. A gente tentou a aproximação. Uma das razões que eu sempre dizia para o Adriano manter esse contato é porque eu achava que era uma pessoa que tinha um potencial, que seria importante de ter ele como um aliado futuro, como a gente tinha no Congresso. A gente não tinha, na verdade, muitos aliados ministros que a gente conhecesse. É sempre bom: se você tiver um ministro que foi ‘eleito’ e que você conhece ele há 20 anos, você vai tranquilo.”
Marcelo explicou que, antes da sabatina no Senado, indicados costumavam procurar empresários para virar voto de senadores: “E, nesse caso, eu mesmo perguntei a Adriano: ‘Ó, você não quer checar com Toffoli se ele quer isso?’ E, pelo retorno, ele pediu pra falar com um.”
O empreiteiro também disse que a Odebrecht apoiou a candidatura do irmão de Toffoli, José Ticiano, à prefeitura de Marília (SP). E resumiu o que esperava do ministro: “Você cria a expectativa de que, se você ajudou o cara de alguma maneira, lá na frente ele recebe você, ele vai te escutar, cria uma boa vontade. Isso é da natureza humana.”
A decisão de Toffoli de anular as provas da delação da Odebrecht, ignorando laudo da PF que atestou a integridade dos dados e sindicância da PGR que isentou a Lava Jato, mostram a boa vontade do ministro com Lula e a empreiteira.
Agora vai todo mundo tranquilo e fechado de novo.