Análises fora da bolha

Há sempre uma solução bolsonarista para cada problema lulista (e vice-versa)


Semana tem julgamento no TSE que tende a tornar Bolsonaro inelegível e o Senado deve dar aval à indicação de Zanin ao STF. É um momento emblemático do país das soluções simples e erradas.

Por Felipe Moura Brasil

“Há sempre uma solução bem conhecida para cada problema humano – simples, plausível e errada”, escreveu o jornalista americano Henry Louis Mencken, no segundo volume de sua coleção de ensaios “Preconceitos”, de 1920.

A frase que virou citação por mais de um século surgiu no capítulo “O sopro divino”, no qual Mencken trata da misteriosa faísca de inspiração e criatividade nas artes e letras, indicando que “explicações existiram desde sempre” para qualquer fenômeno, o que não quer dizer que estejam certas.

“Os antigos”, segundo ele, “colocaram a culpa nos deuses”, que “às vezes eram mal-humorados, às vezes gentis”. Na Idade Média, outros abordaram o tema “e assim se lê sobre obras de arte inspiradas por Nossa Senhora, pelos Santos Beatos, pelas almas dos mortos e até pelo demônio”.

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No Brasil atual, há sempre uma solução bolsonarista para cada problema lulista (e vice-versa) – simples, plausível e errada. A obra de Mauro Cid, inspirada pelo medo de cadeia de Jair Bolsonaro, é um exemplo.

O então presidente Jair Bolsonaro, em 2022, acompanhado pelo seu assistente pessoal, o coronel Mauro Cid (à direita) Foto: EVARISTO SÁ / AFP - 01/05/2022

No roteiro do golpe, encontrado no celular do ex-ajudante de ordens do ex-presidente, alega-se que, “nestas eleições, o ministro Alexandre de Moraes nunca poderia ter presidido o TSE, uma vez que ele e Geraldo Alckmin possuem vínculos de longa data”. No item 4.3, que lista medidas a serem tomadas após o reconhecimento das “inconstitucionalidades praticadas pelo Judiciário”, lê-se no tópico “g”: “tendo sido afastados ministros do TSE”, em consequência de “violação da prerrogativa de outros poderes, devem ser chamados a integrar a Corte os respectivos substitutos”: Kássio Nunes Marques, André Mendonça e Dias Toffoli.

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Os dois primeiros foram nomeados por Bolsonaro. O último foi blindado por ele e seus filhos contra a CPI da Lava Toga no Senado (que investigaria, inclusive, a abertura do inquérito das fake news), enquanto paralisava no STF investigações sobre Flávio. O bolsonarismo, em razão dos fantasmas de seu passado, sabotou uma solução constitucional contra eventuais desvios de ministros de tribunais superiores e, diante da derrota nas urnas, tentou apelar a soluções inconstitucionais, agora usadas por Lula como contraponto ideal em suas tentativas de canonização, blindagem e controle.

Nesta semana de início do julgamento no TSE que tende a tornar Bolsonaro inelegível, o Senado tende a avalizar a indicação ao Supremo do advogado do presidente, Cristiano Zanin. É um momento emblemático do país das soluções simples e erradas. O estado de sítio de Atibaia venceu o estado de sítio.

“Há sempre uma solução bem conhecida para cada problema humano – simples, plausível e errada”, escreveu o jornalista americano Henry Louis Mencken, no segundo volume de sua coleção de ensaios “Preconceitos”, de 1920.

A frase que virou citação por mais de um século surgiu no capítulo “O sopro divino”, no qual Mencken trata da misteriosa faísca de inspiração e criatividade nas artes e letras, indicando que “explicações existiram desde sempre” para qualquer fenômeno, o que não quer dizer que estejam certas.

“Os antigos”, segundo ele, “colocaram a culpa nos deuses”, que “às vezes eram mal-humorados, às vezes gentis”. Na Idade Média, outros abordaram o tema “e assim se lê sobre obras de arte inspiradas por Nossa Senhora, pelos Santos Beatos, pelas almas dos mortos e até pelo demônio”.

No Brasil atual, há sempre uma solução bolsonarista para cada problema lulista (e vice-versa) – simples, plausível e errada. A obra de Mauro Cid, inspirada pelo medo de cadeia de Jair Bolsonaro, é um exemplo.

O então presidente Jair Bolsonaro, em 2022, acompanhado pelo seu assistente pessoal, o coronel Mauro Cid (à direita) Foto: EVARISTO SÁ / AFP - 01/05/2022

No roteiro do golpe, encontrado no celular do ex-ajudante de ordens do ex-presidente, alega-se que, “nestas eleições, o ministro Alexandre de Moraes nunca poderia ter presidido o TSE, uma vez que ele e Geraldo Alckmin possuem vínculos de longa data”. No item 4.3, que lista medidas a serem tomadas após o reconhecimento das “inconstitucionalidades praticadas pelo Judiciário”, lê-se no tópico “g”: “tendo sido afastados ministros do TSE”, em consequência de “violação da prerrogativa de outros poderes, devem ser chamados a integrar a Corte os respectivos substitutos”: Kássio Nunes Marques, André Mendonça e Dias Toffoli.

Os dois primeiros foram nomeados por Bolsonaro. O último foi blindado por ele e seus filhos contra a CPI da Lava Toga no Senado (que investigaria, inclusive, a abertura do inquérito das fake news), enquanto paralisava no STF investigações sobre Flávio. O bolsonarismo, em razão dos fantasmas de seu passado, sabotou uma solução constitucional contra eventuais desvios de ministros de tribunais superiores e, diante da derrota nas urnas, tentou apelar a soluções inconstitucionais, agora usadas por Lula como contraponto ideal em suas tentativas de canonização, blindagem e controle.

Nesta semana de início do julgamento no TSE que tende a tornar Bolsonaro inelegível, o Senado tende a avalizar a indicação ao Supremo do advogado do presidente, Cristiano Zanin. É um momento emblemático do país das soluções simples e erradas. O estado de sítio de Atibaia venceu o estado de sítio.

“Há sempre uma solução bem conhecida para cada problema humano – simples, plausível e errada”, escreveu o jornalista americano Henry Louis Mencken, no segundo volume de sua coleção de ensaios “Preconceitos”, de 1920.

A frase que virou citação por mais de um século surgiu no capítulo “O sopro divino”, no qual Mencken trata da misteriosa faísca de inspiração e criatividade nas artes e letras, indicando que “explicações existiram desde sempre” para qualquer fenômeno, o que não quer dizer que estejam certas.

“Os antigos”, segundo ele, “colocaram a culpa nos deuses”, que “às vezes eram mal-humorados, às vezes gentis”. Na Idade Média, outros abordaram o tema “e assim se lê sobre obras de arte inspiradas por Nossa Senhora, pelos Santos Beatos, pelas almas dos mortos e até pelo demônio”.

No Brasil atual, há sempre uma solução bolsonarista para cada problema lulista (e vice-versa) – simples, plausível e errada. A obra de Mauro Cid, inspirada pelo medo de cadeia de Jair Bolsonaro, é um exemplo.

O então presidente Jair Bolsonaro, em 2022, acompanhado pelo seu assistente pessoal, o coronel Mauro Cid (à direita) Foto: EVARISTO SÁ / AFP - 01/05/2022

No roteiro do golpe, encontrado no celular do ex-ajudante de ordens do ex-presidente, alega-se que, “nestas eleições, o ministro Alexandre de Moraes nunca poderia ter presidido o TSE, uma vez que ele e Geraldo Alckmin possuem vínculos de longa data”. No item 4.3, que lista medidas a serem tomadas após o reconhecimento das “inconstitucionalidades praticadas pelo Judiciário”, lê-se no tópico “g”: “tendo sido afastados ministros do TSE”, em consequência de “violação da prerrogativa de outros poderes, devem ser chamados a integrar a Corte os respectivos substitutos”: Kássio Nunes Marques, André Mendonça e Dias Toffoli.

Os dois primeiros foram nomeados por Bolsonaro. O último foi blindado por ele e seus filhos contra a CPI da Lava Toga no Senado (que investigaria, inclusive, a abertura do inquérito das fake news), enquanto paralisava no STF investigações sobre Flávio. O bolsonarismo, em razão dos fantasmas de seu passado, sabotou uma solução constitucional contra eventuais desvios de ministros de tribunais superiores e, diante da derrota nas urnas, tentou apelar a soluções inconstitucionais, agora usadas por Lula como contraponto ideal em suas tentativas de canonização, blindagem e controle.

Nesta semana de início do julgamento no TSE que tende a tornar Bolsonaro inelegível, o Senado tende a avalizar a indicação ao Supremo do advogado do presidente, Cristiano Zanin. É um momento emblemático do país das soluções simples e erradas. O estado de sítio de Atibaia venceu o estado de sítio.

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