BRASÍLIA e SÃO PAULO – A convocação feita pelo presidente Jair Bolsonaro para as manifestações contra o Congresso gerou reações no mundo político e nas redes sociais. O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) usou o Twitter para criticar Bolsonaro. “A ser verdade, como parece, que o próprio Pr (presidente) tuitou convocando uma manifestação contra o Congresso (a democracia) estamos com uma crise institucional de consequências gravíssimas. Calar seria concordar. Melhor gritar enquanto se tem voz, mesmo no Carnaval, com poucos ouvindo”, escreveu Fernando Henrique.
O líder da oposição na Câmara, deputado Alessandro Molon (PSB-RJ), propôs uma reunião de emergência entre os presidentes da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), e líderes dos partidos para decidir o que fazer diante das manifestações do presidente Jair Bolsonaro contra o Congresso.
“Temos que parar Bolsonaro! Basta! As forças democráticas deste país têm que se unir agora. Já! É inadiável uma reunião de forças contra esse poder autoritário. Ou defendemos a democracia agora ou não teremos mais nada para defender em breve”, disse Molon. “Ao não encontrar soluções para o país, ao se sentir sozinho, isolado e frágil, Bolsonaro apela ao que todos temíamos: a um ato autoritário contra a própria democracia. Não dá mais. Esses absurdos, exageros e atropelos têm que parar agora.”
O líder a oposição no Senado, Randolfe Rodrigues (Rede-AP), seguiu a mesma linha em uma mensagem em sua conta oficial no Twitter. “Chega! As forças democráticas precisam repudiar este comportamento vil e impedir a escalada golpista”, escreveu Randolfe.
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) também pediu, nas redes, um posicionamento “urgente” do Congresso e da sociedade em defesa da democracia. “Bolsonaro e o general Heleno estão provocando manifestações contra a democracia, a constituição e as instituições, em mais um gesto autoritário de quem agride a liberdade e os direitos todos os dias”.
“O que o Brasil precisa é gerar empregos, tirar o povo da pobreza. Bolsonaro nunca combinou com democracia. É um falso patriota que entrega nossa soberania aos Estados Unidos e condena o povo à pobreza. Um falso moralista que acoberta o Queiroz e outros corruptos e criminosos”, escreveu.
Um dos primeiros a se manifestar, o presidente do Cidadania, Roberto Freire, escreveu nas redes sociais que o episódio é “de suma gravidade”. “Mais do que crime de responsabilidade, é claro atentado à democracia e à República o apoio do presidente Bolsonaro a uma convocação de manifestação nitidamente antidemocrática. Pregação de uma quartela para fechar o Congresso e o STF.”
O governador de São Paulo, João Doria (PSDB), repudiou o desrespeito a instituições democráticas e classificou como “lamentável” a atitude de Bolsonaro. “Devemos repudiar com veemência qualquer ato que desrespeite as instituições e os pilares democráticos do país. Lamentável o apoio do presidente Jair Bolsonaro a uma manifestação contra o Congresso Nacional”, escreveu Doria no Twitter. “O Brasil lutou muito para resgatar sua democracia”, ele lembrou.
O ex-ministro Ciro Gomes (PDT-CE), candidato derrotado à Presidência, cobrou uma reação dos eleitores ao vídeo disparado pelo presidente. “Se o próprio presidente da República convoca manifestações contra o Congresso e o STF, não resta dúvida de que todos aqueles que prezam pela democracia devem reagir”, escreveu Ciro, em mensagem postada no Twitter. “É criminoso excitar a população com mentiras contra as instituições democráticas e sem causa nenhuma, a não ser sua agenda anti-pobre, anti-produção e entreguista de nossas riquezas aos estrangeiros. Vamos lutar pela preservação da Constituição e pelo Brasil.”
O deputado Marco Feliciano (sem partido) saiu em defesa de Bolsonaro e disse que manifestações são normais na democracia. “Estamos numa democracia e manifestações são previstas na Constituição Federal desde que sejam pacíficas”, disse Feliciano ao Estado. O presidente do PSD, Gilberto Kassab, disse apenas que “é hora dos bombeiros aparecerem”.
O jurista Miguel Reale Junior, um dos autores do pedido de impeachment de Dilma Rousseff (PT), classificou o ato como “conspiração contra um dos Poderes da República”. “Não sei o que ele tomou nesse carnaval para tomar um ato de tamanha ousadia. É gravíssimo. Convocar a nação para desconstituir um Poder está entre os itens que justificam um impeachment.”
A presidente do PT, deputada Gleisi Hoffmann (PR), disse que “é inacreditável que o presidente atente contra as instituições e a democracia”. “A auto propaganda é mentirosa. Não é patriota, está entregando as riquezas do Brasil. Muito menos incorruptível, com (Fabrício) Queiroz, Adriano (Magalhães da Nóbrega) e as milícias que lhe cercam.”
O presidente do PSDB em São Paulo, Marco Vinholi, classificou o posicionamento do presidente como “preocupante”, e disse que o ato faz parte de um contexto autoritário. “A escalada da pauta autoritária apoiada pelo governo Bolsonaro é extremamente preocupante para a democracia, tendo mais um episódio inadequado incluindo o tema no ato do dia 15.”