Convocado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), o ato na Avenida Paulista, marcado para o próximo domingo, 25, sofreu uma “desidratação” nas redes sociais nos últimos dias, aponta análise do especialista em monitoramento de redes Pedro Barciela. O motivo, segundo o levantamento, foi o bolsonarismo ter “voltado todas as suas armas” para as declarações de Lula sobre a guerra na Faixa de Gaza e o pedido de impeachment feito na Câmara por parlamentares bolsonaristas, capitaneado pela deputada federal Carla Zambelli (PL-SP).
“Isso acontece principalmente pelo fato de as convocações estarem extremamente limitadas ao bolsonarismo. Então, a partir do momento que eles param de convocar, para-se de falar sobre isso”, explica Barciela.
No último domingo, 18, Lula comparou a ação de Israel na Faixa de Gaza, com milhares de mortes de palestinos inocentes, com o extermínio de judeus promovido pela Alemanha nazista, o que gerou uma crise diplomática e, internamente, embasou o requerimento dos deputados oposicionistas.
Apesar da mudança de alvo ter impactado negativamente as menções sobre o ato, o levantamento aponta que nas últimas 24 horas o tema voltou a ganhar força nas redes sociais. Esta é a convocatória “com mais peso, maior volume e mais força” feita pelo núcleo duro do bolsonarismo nos últimos 13 meses, aponta Barciela.
O chamamento de Bolsonaro veio poucos dias após ele ser alvo da Operação Tempus Veritatis da Polícia Federal (PF), que o investiga por formar um suposto grupo criminoso com aliados e arquitetar um golpe de Estado.
Um dos organizadores do ato, o pastor evangélico Silas Malafaia é destacado no levantamento por aparecer em meio aos termos centrais do que tem circulado nas redes sobre o ato, junto com liberdade, Deus, família, pátria, e a defesa do Jair Bolsonaro. Malafaia está bancando parte dos gastos do evento, que terá dois trios elétricos e custo estimado entre R$ 90 mil e R$ 100 mil.
Apesar de Bolsonaro ter pedido para que os apoiadores “não compareçam com qualquer faixa e cartaz contra quem quer que seja”, se referindo às costumeiras críticas endossadas ao Supremo Tribunal Federal (STF) e ao ministro Alexandre de Moraes, para o coordenador do Laboratório de Humanidades Digitais da Universidade Federal da Bahia (UFBA), Leonardo Nascimento, as chances disso acontecer são altas.
“O STF e Moraes, no discurso deles, sempre foram os responsáveis por tudo: libertar Lula, perseguição, entre outros exemplos. Por mais que façam campanha ‘de paz’ para dia 25, dificilmente vão conseguir segurar todas as pessoas que vão aparecer”, analisa o professor.
O estudo produzido pelos pesquisadores do Laboratório monitorou 134 grupos e 167 canais de transmissão no Telegram, rede de troca de mensagens que voltou a ser usada por bolsonaristas.
Na análise, os campeões de menções são Bolsonaro e sua família, mencionados 825 vezes. Líderes religiosos e instituições são mencionadas 144 vezes, e o STF e seus ministros, 149 vezes.
Já o principal porta-voz do bolsonarismo na análise é o deputado Gustavo Gayer (PL-GO). Segundo Nascimento, as mensagens analisadas são tanto de líderes bolsonaristas como de seguidores. Porém, os “porta-vozes” são quem pautam e direcionam o debate nos grupos.
Outro tema explorado pelos bolsonaristas tem sido a informação falsa de que autoridades internacionais de extrema-direita, como o presidente da Argentina, Javier Milei, e o ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, estarão presentes no ato, citando suposto credenciamento de jornalistas internacionais para cobrir o evento. Não há credenciamento antecipado para o ato.
“As mensagens mais receosas apontam para a possibilidade de Bolsonaro ser preso durante o ato, ou ainda que a presença de torcidas organizadas e outros movimentos da esquerda possam interferir ou mesmo esvaziar o evento”, apontam as conclusões da pesquisa. Também são mencionados nas redes sociais setores que historicamente apoiaram o bolsonarismo, como o agronegócio, o dos caminhoneiros e dos motociclistas.