A política sem segredos

Opinião|Até onde acreditar no hacker que se diz ‘garoto da esquerda’ e cúmplice de Bolsonaro


Walter Delgatti Neto, aquele que ajudou a desmoralizar a Lava Jato, virou o criminoso cortejado pelo PT de Lula e convidado a desfrutar um café com Bolsonaro no Alvorada

Por Francisco Leali

Walter Delgatti Neto virou uma figura notória ao desmoralizar publicamente a Lava Jato. Ele se apresenta como o hacker que invadiu celulares e flagrou combinações não-jurídicas entre o então procurador Deltan Dallagnol e o então juiz Sérgio Moro sobre a então apuração que levou o hoje presidente Luiz Inácio Lula da Silva à prisão.

Quando se apresentou nessa quinta-feira, 17, para depor na CPMI do 8 de Janeiro, o herói dos investigados pela turma de Curitiba carregava o peso de uma condenação criminal e o fato de estar preso. O que ele diz dá para endossar embaixo?

O hacker Walter Delgatti presta depoimento à Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) do dia 8 de Janeiro Foto: WILTON JUNIOR
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Para quem não se lembra, um homem acusado de mandar matar a própria mulher teve quer ser levado à sério pelo Congresso. Mas isso foi nos idos de 1993.

Preso sob a acusação de assassinato, o consultor do Senado José Carlos Alves do Santos denunciou a existência de uma máfia de deputados e senadores cobrando propina em troca de direcionamento de recursos públicos. Foi a época da CPI do Orçamento.

O consultor José Carlos Alves dos Santos, ex-chefe da Assessoria de Orçamento do Senado, depõe em CPI do Congresso Foto: André Duzek / Estadão
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O consultor foi condenado pela morte. Mas as acusações dele, robustecidas e comprovadas com documentos, resultaram na cassação de mandatos. Delgatti, pelo jeito, quer ser o José Carlos do século XXI.

O que relata, de ser forma, expõe até que ponto os escrúpulos, ou a falta deles, podem contaminar a conduta de um político em busca de votos.

Relembrando: em 2019, veio a público o conteúdo de conversas de Moro com Deltan e outros mais da Lava Jato. O grupo perdeu a unanimidade que detinha dentro e fora das Cortes e vários processos foram para lixeira, como os que tinham resultado na condenação de Lula. Delgatti foi, então, apresentado como o autor da façanha por meio de ato ilegal de invadir conteúdo de celular alheio.

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Três anos depois, o sujeito que foi denunciado pela conduta criminosa é recebido no horário do café da manhã no Palácio da Alvorada pelo então morador, o hoje ex-presidente Jair Bolsonaro. Na CPMI na última quinta-feira, Delgatti alardeou que Bolsonaro queria que ele: 1) tentasse fraudar as urnas; 2) simulasse uma urna falsa fraudada para usar como campanha eleitoral; 3) assumisse a autoridade de um suposto grampo ilegal nos telefones do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal.

“Tem fantasia aí”, reagiu o próprio Bolsonaro, numa entrevista. Mas confirmou o encontro regado a café e talvez algumas guloseimas palacianas. Ainda que possa parecer inacreditável, foi isso mesmo. O presidente da República convidou um criminoso confesso para trocar ideias.

Bolsonaro, por óbvio, não confirma ter feito os pedidos 1, 2 e 3 a Delgatti. A explicação do inusitado encontro foi: ajudar o governo a verificar “fragilidades” no sistema da urna eletrônica e contribuir com o trabalho do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

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Em agosto de 2022, Bolsonaro era candidato à reeleição. Tinha um adversário que ameaçava seus planos. Via ministros do TSE, Moraes em especial, como um obstáculo. Por diversas vezes esbravejou contra a Corte. Ainda assim apresenta, agora, essa versão do estadista colaborativo muito distante daquela imagem do presidente que leva embaixadores ao Alvorada para falar de fraudes nas urnas.

Considerando a conduta criminosa de Delgatti, suas revelações na CPMI ainda carecem de comprovação. O que ele disse que Bolsonaro disse pode entrar para a seara de testemunho que não vai além da fala. Mas o hacker citou datas e outras reuniões. É investigação ainda a ser feita.

Deputado bolsonarista levanta cartaz na CPMI para acusar hacker de ser petista Foto: Reprodução / Estadão
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Mas a lama já está pública. E os aliados de Bolsonaro correram para repetir: Delgatti é bandido, foi condenado e não merece crédito. O ex-deputado Deltan Dallagnol reforçou o coro levantando a pergunta: “quem pagou Walter Delgatti?”. Na CPMI, um deputado bolsonarista levantou o cartaz “hacker vota 13″.

É preciso demonizar e desacreditar o homem que já mereceu a deferência de um encontro matutino na residência oficial do presidente em 2022.

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O próprio Delgatti falou uma ou outra vez que, por conta do que fez contra a Lava Jato, foi considerado “garoto da esquerda”. Na CPMI, parlamentares governistas o trataram como testemunha crível. Receberam em troca respostas do depoente. Já os bolsonaristas nada arrancaram do hacker que reagia com “ficarei em silêncio” a cada questionamento da oposição.

Ainda que se possa considerar que as afirmações do senhor Delgatti devam ser objeto de apuração para verificar-se se crédito merecem, só dizer que ele já confessou crimes não é suficiente para anular tudo.

Walter Delgatti Neto virou uma figura notória ao desmoralizar publicamente a Lava Jato. Ele se apresenta como o hacker que invadiu celulares e flagrou combinações não-jurídicas entre o então procurador Deltan Dallagnol e o então juiz Sérgio Moro sobre a então apuração que levou o hoje presidente Luiz Inácio Lula da Silva à prisão.

Quando se apresentou nessa quinta-feira, 17, para depor na CPMI do 8 de Janeiro, o herói dos investigados pela turma de Curitiba carregava o peso de uma condenação criminal e o fato de estar preso. O que ele diz dá para endossar embaixo?

O hacker Walter Delgatti presta depoimento à Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) do dia 8 de Janeiro Foto: WILTON JUNIOR

Para quem não se lembra, um homem acusado de mandar matar a própria mulher teve quer ser levado à sério pelo Congresso. Mas isso foi nos idos de 1993.

Preso sob a acusação de assassinato, o consultor do Senado José Carlos Alves do Santos denunciou a existência de uma máfia de deputados e senadores cobrando propina em troca de direcionamento de recursos públicos. Foi a época da CPI do Orçamento.

O consultor José Carlos Alves dos Santos, ex-chefe da Assessoria de Orçamento do Senado, depõe em CPI do Congresso Foto: André Duzek / Estadão

O consultor foi condenado pela morte. Mas as acusações dele, robustecidas e comprovadas com documentos, resultaram na cassação de mandatos. Delgatti, pelo jeito, quer ser o José Carlos do século XXI.

O que relata, de ser forma, expõe até que ponto os escrúpulos, ou a falta deles, podem contaminar a conduta de um político em busca de votos.

Relembrando: em 2019, veio a público o conteúdo de conversas de Moro com Deltan e outros mais da Lava Jato. O grupo perdeu a unanimidade que detinha dentro e fora das Cortes e vários processos foram para lixeira, como os que tinham resultado na condenação de Lula. Delgatti foi, então, apresentado como o autor da façanha por meio de ato ilegal de invadir conteúdo de celular alheio.

Três anos depois, o sujeito que foi denunciado pela conduta criminosa é recebido no horário do café da manhã no Palácio da Alvorada pelo então morador, o hoje ex-presidente Jair Bolsonaro. Na CPMI na última quinta-feira, Delgatti alardeou que Bolsonaro queria que ele: 1) tentasse fraudar as urnas; 2) simulasse uma urna falsa fraudada para usar como campanha eleitoral; 3) assumisse a autoridade de um suposto grampo ilegal nos telefones do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal.

“Tem fantasia aí”, reagiu o próprio Bolsonaro, numa entrevista. Mas confirmou o encontro regado a café e talvez algumas guloseimas palacianas. Ainda que possa parecer inacreditável, foi isso mesmo. O presidente da República convidou um criminoso confesso para trocar ideias.

Bolsonaro, por óbvio, não confirma ter feito os pedidos 1, 2 e 3 a Delgatti. A explicação do inusitado encontro foi: ajudar o governo a verificar “fragilidades” no sistema da urna eletrônica e contribuir com o trabalho do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

Em agosto de 2022, Bolsonaro era candidato à reeleição. Tinha um adversário que ameaçava seus planos. Via ministros do TSE, Moraes em especial, como um obstáculo. Por diversas vezes esbravejou contra a Corte. Ainda assim apresenta, agora, essa versão do estadista colaborativo muito distante daquela imagem do presidente que leva embaixadores ao Alvorada para falar de fraudes nas urnas.

Considerando a conduta criminosa de Delgatti, suas revelações na CPMI ainda carecem de comprovação. O que ele disse que Bolsonaro disse pode entrar para a seara de testemunho que não vai além da fala. Mas o hacker citou datas e outras reuniões. É investigação ainda a ser feita.

Deputado bolsonarista levanta cartaz na CPMI para acusar hacker de ser petista Foto: Reprodução / Estadão

Mas a lama já está pública. E os aliados de Bolsonaro correram para repetir: Delgatti é bandido, foi condenado e não merece crédito. O ex-deputado Deltan Dallagnol reforçou o coro levantando a pergunta: “quem pagou Walter Delgatti?”. Na CPMI, um deputado bolsonarista levantou o cartaz “hacker vota 13″.

É preciso demonizar e desacreditar o homem que já mereceu a deferência de um encontro matutino na residência oficial do presidente em 2022.

O próprio Delgatti falou uma ou outra vez que, por conta do que fez contra a Lava Jato, foi considerado “garoto da esquerda”. Na CPMI, parlamentares governistas o trataram como testemunha crível. Receberam em troca respostas do depoente. Já os bolsonaristas nada arrancaram do hacker que reagia com “ficarei em silêncio” a cada questionamento da oposição.

Ainda que se possa considerar que as afirmações do senhor Delgatti devam ser objeto de apuração para verificar-se se crédito merecem, só dizer que ele já confessou crimes não é suficiente para anular tudo.

Walter Delgatti Neto virou uma figura notória ao desmoralizar publicamente a Lava Jato. Ele se apresenta como o hacker que invadiu celulares e flagrou combinações não-jurídicas entre o então procurador Deltan Dallagnol e o então juiz Sérgio Moro sobre a então apuração que levou o hoje presidente Luiz Inácio Lula da Silva à prisão.

Quando se apresentou nessa quinta-feira, 17, para depor na CPMI do 8 de Janeiro, o herói dos investigados pela turma de Curitiba carregava o peso de uma condenação criminal e o fato de estar preso. O que ele diz dá para endossar embaixo?

O hacker Walter Delgatti presta depoimento à Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) do dia 8 de Janeiro Foto: WILTON JUNIOR

Para quem não se lembra, um homem acusado de mandar matar a própria mulher teve quer ser levado à sério pelo Congresso. Mas isso foi nos idos de 1993.

Preso sob a acusação de assassinato, o consultor do Senado José Carlos Alves do Santos denunciou a existência de uma máfia de deputados e senadores cobrando propina em troca de direcionamento de recursos públicos. Foi a época da CPI do Orçamento.

O consultor José Carlos Alves dos Santos, ex-chefe da Assessoria de Orçamento do Senado, depõe em CPI do Congresso Foto: André Duzek / Estadão

O consultor foi condenado pela morte. Mas as acusações dele, robustecidas e comprovadas com documentos, resultaram na cassação de mandatos. Delgatti, pelo jeito, quer ser o José Carlos do século XXI.

O que relata, de ser forma, expõe até que ponto os escrúpulos, ou a falta deles, podem contaminar a conduta de um político em busca de votos.

Relembrando: em 2019, veio a público o conteúdo de conversas de Moro com Deltan e outros mais da Lava Jato. O grupo perdeu a unanimidade que detinha dentro e fora das Cortes e vários processos foram para lixeira, como os que tinham resultado na condenação de Lula. Delgatti foi, então, apresentado como o autor da façanha por meio de ato ilegal de invadir conteúdo de celular alheio.

Três anos depois, o sujeito que foi denunciado pela conduta criminosa é recebido no horário do café da manhã no Palácio da Alvorada pelo então morador, o hoje ex-presidente Jair Bolsonaro. Na CPMI na última quinta-feira, Delgatti alardeou que Bolsonaro queria que ele: 1) tentasse fraudar as urnas; 2) simulasse uma urna falsa fraudada para usar como campanha eleitoral; 3) assumisse a autoridade de um suposto grampo ilegal nos telefones do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal.

“Tem fantasia aí”, reagiu o próprio Bolsonaro, numa entrevista. Mas confirmou o encontro regado a café e talvez algumas guloseimas palacianas. Ainda que possa parecer inacreditável, foi isso mesmo. O presidente da República convidou um criminoso confesso para trocar ideias.

Bolsonaro, por óbvio, não confirma ter feito os pedidos 1, 2 e 3 a Delgatti. A explicação do inusitado encontro foi: ajudar o governo a verificar “fragilidades” no sistema da urna eletrônica e contribuir com o trabalho do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

Em agosto de 2022, Bolsonaro era candidato à reeleição. Tinha um adversário que ameaçava seus planos. Via ministros do TSE, Moraes em especial, como um obstáculo. Por diversas vezes esbravejou contra a Corte. Ainda assim apresenta, agora, essa versão do estadista colaborativo muito distante daquela imagem do presidente que leva embaixadores ao Alvorada para falar de fraudes nas urnas.

Considerando a conduta criminosa de Delgatti, suas revelações na CPMI ainda carecem de comprovação. O que ele disse que Bolsonaro disse pode entrar para a seara de testemunho que não vai além da fala. Mas o hacker citou datas e outras reuniões. É investigação ainda a ser feita.

Deputado bolsonarista levanta cartaz na CPMI para acusar hacker de ser petista Foto: Reprodução / Estadão

Mas a lama já está pública. E os aliados de Bolsonaro correram para repetir: Delgatti é bandido, foi condenado e não merece crédito. O ex-deputado Deltan Dallagnol reforçou o coro levantando a pergunta: “quem pagou Walter Delgatti?”. Na CPMI, um deputado bolsonarista levantou o cartaz “hacker vota 13″.

É preciso demonizar e desacreditar o homem que já mereceu a deferência de um encontro matutino na residência oficial do presidente em 2022.

O próprio Delgatti falou uma ou outra vez que, por conta do que fez contra a Lava Jato, foi considerado “garoto da esquerda”. Na CPMI, parlamentares governistas o trataram como testemunha crível. Receberam em troca respostas do depoente. Já os bolsonaristas nada arrancaram do hacker que reagia com “ficarei em silêncio” a cada questionamento da oposição.

Ainda que se possa considerar que as afirmações do senhor Delgatti devam ser objeto de apuração para verificar-se se crédito merecem, só dizer que ele já confessou crimes não é suficiente para anular tudo.

Walter Delgatti Neto virou uma figura notória ao desmoralizar publicamente a Lava Jato. Ele se apresenta como o hacker que invadiu celulares e flagrou combinações não-jurídicas entre o então procurador Deltan Dallagnol e o então juiz Sérgio Moro sobre a então apuração que levou o hoje presidente Luiz Inácio Lula da Silva à prisão.

Quando se apresentou nessa quinta-feira, 17, para depor na CPMI do 8 de Janeiro, o herói dos investigados pela turma de Curitiba carregava o peso de uma condenação criminal e o fato de estar preso. O que ele diz dá para endossar embaixo?

O hacker Walter Delgatti presta depoimento à Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) do dia 8 de Janeiro Foto: WILTON JUNIOR

Para quem não se lembra, um homem acusado de mandar matar a própria mulher teve quer ser levado à sério pelo Congresso. Mas isso foi nos idos de 1993.

Preso sob a acusação de assassinato, o consultor do Senado José Carlos Alves do Santos denunciou a existência de uma máfia de deputados e senadores cobrando propina em troca de direcionamento de recursos públicos. Foi a época da CPI do Orçamento.

O consultor José Carlos Alves dos Santos, ex-chefe da Assessoria de Orçamento do Senado, depõe em CPI do Congresso Foto: André Duzek / Estadão

O consultor foi condenado pela morte. Mas as acusações dele, robustecidas e comprovadas com documentos, resultaram na cassação de mandatos. Delgatti, pelo jeito, quer ser o José Carlos do século XXI.

O que relata, de ser forma, expõe até que ponto os escrúpulos, ou a falta deles, podem contaminar a conduta de um político em busca de votos.

Relembrando: em 2019, veio a público o conteúdo de conversas de Moro com Deltan e outros mais da Lava Jato. O grupo perdeu a unanimidade que detinha dentro e fora das Cortes e vários processos foram para lixeira, como os que tinham resultado na condenação de Lula. Delgatti foi, então, apresentado como o autor da façanha por meio de ato ilegal de invadir conteúdo de celular alheio.

Três anos depois, o sujeito que foi denunciado pela conduta criminosa é recebido no horário do café da manhã no Palácio da Alvorada pelo então morador, o hoje ex-presidente Jair Bolsonaro. Na CPMI na última quinta-feira, Delgatti alardeou que Bolsonaro queria que ele: 1) tentasse fraudar as urnas; 2) simulasse uma urna falsa fraudada para usar como campanha eleitoral; 3) assumisse a autoridade de um suposto grampo ilegal nos telefones do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal.

“Tem fantasia aí”, reagiu o próprio Bolsonaro, numa entrevista. Mas confirmou o encontro regado a café e talvez algumas guloseimas palacianas. Ainda que possa parecer inacreditável, foi isso mesmo. O presidente da República convidou um criminoso confesso para trocar ideias.

Bolsonaro, por óbvio, não confirma ter feito os pedidos 1, 2 e 3 a Delgatti. A explicação do inusitado encontro foi: ajudar o governo a verificar “fragilidades” no sistema da urna eletrônica e contribuir com o trabalho do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

Em agosto de 2022, Bolsonaro era candidato à reeleição. Tinha um adversário que ameaçava seus planos. Via ministros do TSE, Moraes em especial, como um obstáculo. Por diversas vezes esbravejou contra a Corte. Ainda assim apresenta, agora, essa versão do estadista colaborativo muito distante daquela imagem do presidente que leva embaixadores ao Alvorada para falar de fraudes nas urnas.

Considerando a conduta criminosa de Delgatti, suas revelações na CPMI ainda carecem de comprovação. O que ele disse que Bolsonaro disse pode entrar para a seara de testemunho que não vai além da fala. Mas o hacker citou datas e outras reuniões. É investigação ainda a ser feita.

Deputado bolsonarista levanta cartaz na CPMI para acusar hacker de ser petista Foto: Reprodução / Estadão

Mas a lama já está pública. E os aliados de Bolsonaro correram para repetir: Delgatti é bandido, foi condenado e não merece crédito. O ex-deputado Deltan Dallagnol reforçou o coro levantando a pergunta: “quem pagou Walter Delgatti?”. Na CPMI, um deputado bolsonarista levantou o cartaz “hacker vota 13″.

É preciso demonizar e desacreditar o homem que já mereceu a deferência de um encontro matutino na residência oficial do presidente em 2022.

O próprio Delgatti falou uma ou outra vez que, por conta do que fez contra a Lava Jato, foi considerado “garoto da esquerda”. Na CPMI, parlamentares governistas o trataram como testemunha crível. Receberam em troca respostas do depoente. Já os bolsonaristas nada arrancaram do hacker que reagia com “ficarei em silêncio” a cada questionamento da oposição.

Ainda que se possa considerar que as afirmações do senhor Delgatti devam ser objeto de apuração para verificar-se se crédito merecem, só dizer que ele já confessou crimes não é suficiente para anular tudo.

Walter Delgatti Neto virou uma figura notória ao desmoralizar publicamente a Lava Jato. Ele se apresenta como o hacker que invadiu celulares e flagrou combinações não-jurídicas entre o então procurador Deltan Dallagnol e o então juiz Sérgio Moro sobre a então apuração que levou o hoje presidente Luiz Inácio Lula da Silva à prisão.

Quando se apresentou nessa quinta-feira, 17, para depor na CPMI do 8 de Janeiro, o herói dos investigados pela turma de Curitiba carregava o peso de uma condenação criminal e o fato de estar preso. O que ele diz dá para endossar embaixo?

O hacker Walter Delgatti presta depoimento à Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) do dia 8 de Janeiro Foto: WILTON JUNIOR

Para quem não se lembra, um homem acusado de mandar matar a própria mulher teve quer ser levado à sério pelo Congresso. Mas isso foi nos idos de 1993.

Preso sob a acusação de assassinato, o consultor do Senado José Carlos Alves do Santos denunciou a existência de uma máfia de deputados e senadores cobrando propina em troca de direcionamento de recursos públicos. Foi a época da CPI do Orçamento.

O consultor José Carlos Alves dos Santos, ex-chefe da Assessoria de Orçamento do Senado, depõe em CPI do Congresso Foto: André Duzek / Estadão

O consultor foi condenado pela morte. Mas as acusações dele, robustecidas e comprovadas com documentos, resultaram na cassação de mandatos. Delgatti, pelo jeito, quer ser o José Carlos do século XXI.

O que relata, de ser forma, expõe até que ponto os escrúpulos, ou a falta deles, podem contaminar a conduta de um político em busca de votos.

Relembrando: em 2019, veio a público o conteúdo de conversas de Moro com Deltan e outros mais da Lava Jato. O grupo perdeu a unanimidade que detinha dentro e fora das Cortes e vários processos foram para lixeira, como os que tinham resultado na condenação de Lula. Delgatti foi, então, apresentado como o autor da façanha por meio de ato ilegal de invadir conteúdo de celular alheio.

Três anos depois, o sujeito que foi denunciado pela conduta criminosa é recebido no horário do café da manhã no Palácio da Alvorada pelo então morador, o hoje ex-presidente Jair Bolsonaro. Na CPMI na última quinta-feira, Delgatti alardeou que Bolsonaro queria que ele: 1) tentasse fraudar as urnas; 2) simulasse uma urna falsa fraudada para usar como campanha eleitoral; 3) assumisse a autoridade de um suposto grampo ilegal nos telefones do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal.

“Tem fantasia aí”, reagiu o próprio Bolsonaro, numa entrevista. Mas confirmou o encontro regado a café e talvez algumas guloseimas palacianas. Ainda que possa parecer inacreditável, foi isso mesmo. O presidente da República convidou um criminoso confesso para trocar ideias.

Bolsonaro, por óbvio, não confirma ter feito os pedidos 1, 2 e 3 a Delgatti. A explicação do inusitado encontro foi: ajudar o governo a verificar “fragilidades” no sistema da urna eletrônica e contribuir com o trabalho do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

Em agosto de 2022, Bolsonaro era candidato à reeleição. Tinha um adversário que ameaçava seus planos. Via ministros do TSE, Moraes em especial, como um obstáculo. Por diversas vezes esbravejou contra a Corte. Ainda assim apresenta, agora, essa versão do estadista colaborativo muito distante daquela imagem do presidente que leva embaixadores ao Alvorada para falar de fraudes nas urnas.

Considerando a conduta criminosa de Delgatti, suas revelações na CPMI ainda carecem de comprovação. O que ele disse que Bolsonaro disse pode entrar para a seara de testemunho que não vai além da fala. Mas o hacker citou datas e outras reuniões. É investigação ainda a ser feita.

Deputado bolsonarista levanta cartaz na CPMI para acusar hacker de ser petista Foto: Reprodução / Estadão

Mas a lama já está pública. E os aliados de Bolsonaro correram para repetir: Delgatti é bandido, foi condenado e não merece crédito. O ex-deputado Deltan Dallagnol reforçou o coro levantando a pergunta: “quem pagou Walter Delgatti?”. Na CPMI, um deputado bolsonarista levantou o cartaz “hacker vota 13″.

É preciso demonizar e desacreditar o homem que já mereceu a deferência de um encontro matutino na residência oficial do presidente em 2022.

O próprio Delgatti falou uma ou outra vez que, por conta do que fez contra a Lava Jato, foi considerado “garoto da esquerda”. Na CPMI, parlamentares governistas o trataram como testemunha crível. Receberam em troca respostas do depoente. Já os bolsonaristas nada arrancaram do hacker que reagia com “ficarei em silêncio” a cada questionamento da oposição.

Ainda que se possa considerar que as afirmações do senhor Delgatti devam ser objeto de apuração para verificar-se se crédito merecem, só dizer que ele já confessou crimes não é suficiente para anular tudo.

Opinião por Francisco Leali

Coordenador na Sucursal do Estadão em Brasília. Jornalista, Mestre em Comunicação e pesquisador especializado em transparência pública.

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