Sabe-se lá como chegamos ao segundo turno das eleições municipais. Para além de propaladas disputas ideológicas entre bolsonaristas e lulistas País afora, a disputa de 2024 entra para o anedotário brasileiro como o ano em que as entranhas da política ficaram expostas em praça pública.
Em uma ou outra parte do Brasil até que tentou-se reproduzir a rivalidade entre o atual e o ex-presidente da República. O eleitor, no entanto, pareceu mais preocupado com os problemas da sua esquina do que os futuros embates de 2026.
Veio na região Norte a eleição de um prefeito que há alguns anos fora preso e condenado por prostituição infantil. Mesmo após ser denunciado publicamente, ter seus crimes expostos na televisão, o político ganhou do eleitor o posto que ocupara antes de ser considerado culpado pela Justiça. O caso é daqueles que merecem virar estudo antropológico, já que do ponto de vista criminológico não fez muita diferença.
A principal atração de 2024 não é, no entanto, de nenhum rincão. É da maior cidade do País onde os eleitores neste domingo escolherão entre o atual prefeito Ricardo Nunes e o deputado federal Guilherme Boulos.
A campanha paulistana ultrapassou todos os limites. Expôs, ainda no primeiro turno, o pior da política. De cadeirada a troca de socos e tudo passando ao vivo na televisão.
Nessa reta final, precisando de votos para vencer a disputa, o candidato do PSOL foi se submeter a uma sabatina conduzida pelo ex-coach Pablo Marçal. Pode-se considerar que Boulos preferiu se esquecer do passado recente para agir com pragmatismo. Admitiu, então, levar a sério uma conversa com o mesmo Marçal que na véspera do primeiro turno divulgou um laudo falso acusando o psolista de ter sido internado sob efeito de drogas.
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Nunes preferiu ficar recolhido e não foi lá se meter com Marçal. Também pragmático, o prefeito tem a vantagem nas pesquisas e não precisava fingir-se de esquecido para ir prestar contas de sua gestão e campanha ao ex-coach.
A cena derradeira de Boulos e Marçal, sob olhares de 500 mil pessoas assistindo a live, pode servir como último gesto da campanha desmedida ocorrida em São Paulo. O problema será se o eleitor ver tudo aquilo como um palco em que candidatos explicitam que na arena política vale tudo, até mesmo mandar às favas seus princípios.