A política sem segredos

Opinião|Governo Bolsonaro montou seu arremedo de Watergate, o Helenogate


Cinquenta anos depois do escândalo que derrubou Nixon nos EUA, governo de Jair Bolsonaro estava disposto a usar área de inteligência contra os adversários; provas estão em vídeo apreendido pela PF

Por Francisco Leali

É mais do que uma coincidência de datas. O modo de agir com uso da máquina estatal contra o adversário político na eleição vindoura e as trapalhadas do aparato de espionagem estatal colocam o ex-presidente Jair Bolsonaro como um arremedo de Richard Nixon.

Exatos 50 anos separam o escândalo Watergate da nossa versão brazuca do que poderia ser chamada de Helenogate, uma referência ao general da reserva Augusto Heleno que ocupou a chefia do Gabinete de Segurança Institucional (GSI).

General Augusto Heleno,chefe do GSI, declarou em reunião gravada no Planalto que colocaria agentes da Abin para espionar adversários políticos de Bolsonaro nas eleições Foto: Wilton Junior / Estadão
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Para lembrar: em 1972, dois jornalistas do Washington Post, Carl Bernstein e Bob Woodward, revelaram as ligações da Casa Branca com uma tentativa de espionar o partido Democrata, adversário do presidente Nixon.

O caso começa com a entrada, na calada da noite, de gente ligada à agência de inteligência do governo norteamericano, a CIA, no escritório dos democratas que ficava no edifício Watergate, em Washington. Os sujeitos foram presos pela polícia local como se fossem apenas ladrões.

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Os dois jornalistas contaram ao mundo que era outra coisa. A operação tinha partido da sala de Nixon. Gravações das conversas do presidente com auxiliares serviram, mais tarde, de prova ainda que alguns trechos tenham sido apagados e não foram entregues ao Congresso que instalara uma investigação. Encurralado, o presidente dos EUA renunciou em 1974.

Bob Woodward and Carl Bernstein na redação do Washington Post em 1973. Foto: Washington Post/Ken Feil 

Em 2022, cinco décadas mais tarde, o então presidente Jair Bolsonaro reúne a cúpula do governo do Palácio do Planalto. Manda gravar a reunião. O vídeo, apreendido pela Polícia Federal e tornado público esta semana, lá no finalzinho mostra o chefe do GSI, general da reserva Augusto Heleno, falando mais do que devia.

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Como os espiões atrapalhados lá do Watergate que se deixaram prender, Heleno primeiro diz que o tema não pode vazar. Depois revela que conversou com a direção da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), simulacro da CIA, para por agentes infiltrados junto aos candidatos adversários. Confissão de espionagem estatal com fins eleitoreiros bancada por dinheiro público.

“Já conversei ontem com o novo diretor da Abin. Nós vamos montar um sistema para acompanhar os dois lados do que estão fazendo. O problema todo disso é se vazar. Se houver qualquer invasão, infiltração...”, disse Heleno na reunião de julho de 2022. Foi rapidamente interrompido por Bolsonaro para não entregar publicamente o plano: “General, peço que o senhor não fale, por favor. Não prossiga mais na sua observação aqui. Eu peço ao senhor que não prossiga na tua observação. Se a gente começar a falar ‘não vazar’, já esquece, pode vazar. Então a gente conversa em particular lá na nossa sala, o que a Abin está fazendo”.

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O episódio poderia ser só mais uma das bravatas de Heleno. Mas o próprio Bolsonaro já percebeu que aquele trecho do vídeo lhe traz um novo problema. Até aqui investigado por tentar dar um golpe, também pode ser por usar a máquina estatal contra adversário eleitoral. Neste sábado de Carnaval, já se apressou para dizer que não tem nada a ver com o que Heleno fez ou deixou de fazer.

Outra frente de apuração sobre a criação de uma Abin paralela no governo Bolsonaro indica que a gestão do ex-presidente parecia adepta ao uso do aparato oficial para seguir os passos espionando adversários, sejam eles políticos ou magistrados.

As semelhanças entre Nixon e Bolsonaro se limitam aos atropelos da arapongagem. Porque lá na terra do Tio Sam, o ex-presidente republicano entrou para a história como aquele que renunciou e não pode mais ter protagonismo no mundo político. Por aqui, Bolsonaro segue popular para uma parcela dos eleitores. E, até onde se tem notícia, seus seguidores continuam fiéis, mesmo com a PF batendo à porta e expondo os indícios de crime presidencial a viva voz.

É mais do que uma coincidência de datas. O modo de agir com uso da máquina estatal contra o adversário político na eleição vindoura e as trapalhadas do aparato de espionagem estatal colocam o ex-presidente Jair Bolsonaro como um arremedo de Richard Nixon.

Exatos 50 anos separam o escândalo Watergate da nossa versão brazuca do que poderia ser chamada de Helenogate, uma referência ao general da reserva Augusto Heleno que ocupou a chefia do Gabinete de Segurança Institucional (GSI).

General Augusto Heleno,chefe do GSI, declarou em reunião gravada no Planalto que colocaria agentes da Abin para espionar adversários políticos de Bolsonaro nas eleições Foto: Wilton Junior / Estadão

Para lembrar: em 1972, dois jornalistas do Washington Post, Carl Bernstein e Bob Woodward, revelaram as ligações da Casa Branca com uma tentativa de espionar o partido Democrata, adversário do presidente Nixon.

O caso começa com a entrada, na calada da noite, de gente ligada à agência de inteligência do governo norteamericano, a CIA, no escritório dos democratas que ficava no edifício Watergate, em Washington. Os sujeitos foram presos pela polícia local como se fossem apenas ladrões.

Os dois jornalistas contaram ao mundo que era outra coisa. A operação tinha partido da sala de Nixon. Gravações das conversas do presidente com auxiliares serviram, mais tarde, de prova ainda que alguns trechos tenham sido apagados e não foram entregues ao Congresso que instalara uma investigação. Encurralado, o presidente dos EUA renunciou em 1974.

Bob Woodward and Carl Bernstein na redação do Washington Post em 1973. Foto: Washington Post/Ken Feil 

Em 2022, cinco décadas mais tarde, o então presidente Jair Bolsonaro reúne a cúpula do governo do Palácio do Planalto. Manda gravar a reunião. O vídeo, apreendido pela Polícia Federal e tornado público esta semana, lá no finalzinho mostra o chefe do GSI, general da reserva Augusto Heleno, falando mais do que devia.

Como os espiões atrapalhados lá do Watergate que se deixaram prender, Heleno primeiro diz que o tema não pode vazar. Depois revela que conversou com a direção da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), simulacro da CIA, para por agentes infiltrados junto aos candidatos adversários. Confissão de espionagem estatal com fins eleitoreiros bancada por dinheiro público.

“Já conversei ontem com o novo diretor da Abin. Nós vamos montar um sistema para acompanhar os dois lados do que estão fazendo. O problema todo disso é se vazar. Se houver qualquer invasão, infiltração...”, disse Heleno na reunião de julho de 2022. Foi rapidamente interrompido por Bolsonaro para não entregar publicamente o plano: “General, peço que o senhor não fale, por favor. Não prossiga mais na sua observação aqui. Eu peço ao senhor que não prossiga na tua observação. Se a gente começar a falar ‘não vazar’, já esquece, pode vazar. Então a gente conversa em particular lá na nossa sala, o que a Abin está fazendo”.

O episódio poderia ser só mais uma das bravatas de Heleno. Mas o próprio Bolsonaro já percebeu que aquele trecho do vídeo lhe traz um novo problema. Até aqui investigado por tentar dar um golpe, também pode ser por usar a máquina estatal contra adversário eleitoral. Neste sábado de Carnaval, já se apressou para dizer que não tem nada a ver com o que Heleno fez ou deixou de fazer.

Outra frente de apuração sobre a criação de uma Abin paralela no governo Bolsonaro indica que a gestão do ex-presidente parecia adepta ao uso do aparato oficial para seguir os passos espionando adversários, sejam eles políticos ou magistrados.

As semelhanças entre Nixon e Bolsonaro se limitam aos atropelos da arapongagem. Porque lá na terra do Tio Sam, o ex-presidente republicano entrou para a história como aquele que renunciou e não pode mais ter protagonismo no mundo político. Por aqui, Bolsonaro segue popular para uma parcela dos eleitores. E, até onde se tem notícia, seus seguidores continuam fiéis, mesmo com a PF batendo à porta e expondo os indícios de crime presidencial a viva voz.

É mais do que uma coincidência de datas. O modo de agir com uso da máquina estatal contra o adversário político na eleição vindoura e as trapalhadas do aparato de espionagem estatal colocam o ex-presidente Jair Bolsonaro como um arremedo de Richard Nixon.

Exatos 50 anos separam o escândalo Watergate da nossa versão brazuca do que poderia ser chamada de Helenogate, uma referência ao general da reserva Augusto Heleno que ocupou a chefia do Gabinete de Segurança Institucional (GSI).

General Augusto Heleno,chefe do GSI, declarou em reunião gravada no Planalto que colocaria agentes da Abin para espionar adversários políticos de Bolsonaro nas eleições Foto: Wilton Junior / Estadão

Para lembrar: em 1972, dois jornalistas do Washington Post, Carl Bernstein e Bob Woodward, revelaram as ligações da Casa Branca com uma tentativa de espionar o partido Democrata, adversário do presidente Nixon.

O caso começa com a entrada, na calada da noite, de gente ligada à agência de inteligência do governo norteamericano, a CIA, no escritório dos democratas que ficava no edifício Watergate, em Washington. Os sujeitos foram presos pela polícia local como se fossem apenas ladrões.

Os dois jornalistas contaram ao mundo que era outra coisa. A operação tinha partido da sala de Nixon. Gravações das conversas do presidente com auxiliares serviram, mais tarde, de prova ainda que alguns trechos tenham sido apagados e não foram entregues ao Congresso que instalara uma investigação. Encurralado, o presidente dos EUA renunciou em 1974.

Bob Woodward and Carl Bernstein na redação do Washington Post em 1973. Foto: Washington Post/Ken Feil 

Em 2022, cinco décadas mais tarde, o então presidente Jair Bolsonaro reúne a cúpula do governo do Palácio do Planalto. Manda gravar a reunião. O vídeo, apreendido pela Polícia Federal e tornado público esta semana, lá no finalzinho mostra o chefe do GSI, general da reserva Augusto Heleno, falando mais do que devia.

Como os espiões atrapalhados lá do Watergate que se deixaram prender, Heleno primeiro diz que o tema não pode vazar. Depois revela que conversou com a direção da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), simulacro da CIA, para por agentes infiltrados junto aos candidatos adversários. Confissão de espionagem estatal com fins eleitoreiros bancada por dinheiro público.

“Já conversei ontem com o novo diretor da Abin. Nós vamos montar um sistema para acompanhar os dois lados do que estão fazendo. O problema todo disso é se vazar. Se houver qualquer invasão, infiltração...”, disse Heleno na reunião de julho de 2022. Foi rapidamente interrompido por Bolsonaro para não entregar publicamente o plano: “General, peço que o senhor não fale, por favor. Não prossiga mais na sua observação aqui. Eu peço ao senhor que não prossiga na tua observação. Se a gente começar a falar ‘não vazar’, já esquece, pode vazar. Então a gente conversa em particular lá na nossa sala, o que a Abin está fazendo”.

O episódio poderia ser só mais uma das bravatas de Heleno. Mas o próprio Bolsonaro já percebeu que aquele trecho do vídeo lhe traz um novo problema. Até aqui investigado por tentar dar um golpe, também pode ser por usar a máquina estatal contra adversário eleitoral. Neste sábado de Carnaval, já se apressou para dizer que não tem nada a ver com o que Heleno fez ou deixou de fazer.

Outra frente de apuração sobre a criação de uma Abin paralela no governo Bolsonaro indica que a gestão do ex-presidente parecia adepta ao uso do aparato oficial para seguir os passos espionando adversários, sejam eles políticos ou magistrados.

As semelhanças entre Nixon e Bolsonaro se limitam aos atropelos da arapongagem. Porque lá na terra do Tio Sam, o ex-presidente republicano entrou para a história como aquele que renunciou e não pode mais ter protagonismo no mundo político. Por aqui, Bolsonaro segue popular para uma parcela dos eleitores. E, até onde se tem notícia, seus seguidores continuam fiéis, mesmo com a PF batendo à porta e expondo os indícios de crime presidencial a viva voz.

É mais do que uma coincidência de datas. O modo de agir com uso da máquina estatal contra o adversário político na eleição vindoura e as trapalhadas do aparato de espionagem estatal colocam o ex-presidente Jair Bolsonaro como um arremedo de Richard Nixon.

Exatos 50 anos separam o escândalo Watergate da nossa versão brazuca do que poderia ser chamada de Helenogate, uma referência ao general da reserva Augusto Heleno que ocupou a chefia do Gabinete de Segurança Institucional (GSI).

General Augusto Heleno,chefe do GSI, declarou em reunião gravada no Planalto que colocaria agentes da Abin para espionar adversários políticos de Bolsonaro nas eleições Foto: Wilton Junior / Estadão

Para lembrar: em 1972, dois jornalistas do Washington Post, Carl Bernstein e Bob Woodward, revelaram as ligações da Casa Branca com uma tentativa de espionar o partido Democrata, adversário do presidente Nixon.

O caso começa com a entrada, na calada da noite, de gente ligada à agência de inteligência do governo norteamericano, a CIA, no escritório dos democratas que ficava no edifício Watergate, em Washington. Os sujeitos foram presos pela polícia local como se fossem apenas ladrões.

Os dois jornalistas contaram ao mundo que era outra coisa. A operação tinha partido da sala de Nixon. Gravações das conversas do presidente com auxiliares serviram, mais tarde, de prova ainda que alguns trechos tenham sido apagados e não foram entregues ao Congresso que instalara uma investigação. Encurralado, o presidente dos EUA renunciou em 1974.

Bob Woodward and Carl Bernstein na redação do Washington Post em 1973. Foto: Washington Post/Ken Feil 

Em 2022, cinco décadas mais tarde, o então presidente Jair Bolsonaro reúne a cúpula do governo do Palácio do Planalto. Manda gravar a reunião. O vídeo, apreendido pela Polícia Federal e tornado público esta semana, lá no finalzinho mostra o chefe do GSI, general da reserva Augusto Heleno, falando mais do que devia.

Como os espiões atrapalhados lá do Watergate que se deixaram prender, Heleno primeiro diz que o tema não pode vazar. Depois revela que conversou com a direção da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), simulacro da CIA, para por agentes infiltrados junto aos candidatos adversários. Confissão de espionagem estatal com fins eleitoreiros bancada por dinheiro público.

“Já conversei ontem com o novo diretor da Abin. Nós vamos montar um sistema para acompanhar os dois lados do que estão fazendo. O problema todo disso é se vazar. Se houver qualquer invasão, infiltração...”, disse Heleno na reunião de julho de 2022. Foi rapidamente interrompido por Bolsonaro para não entregar publicamente o plano: “General, peço que o senhor não fale, por favor. Não prossiga mais na sua observação aqui. Eu peço ao senhor que não prossiga na tua observação. Se a gente começar a falar ‘não vazar’, já esquece, pode vazar. Então a gente conversa em particular lá na nossa sala, o que a Abin está fazendo”.

O episódio poderia ser só mais uma das bravatas de Heleno. Mas o próprio Bolsonaro já percebeu que aquele trecho do vídeo lhe traz um novo problema. Até aqui investigado por tentar dar um golpe, também pode ser por usar a máquina estatal contra adversário eleitoral. Neste sábado de Carnaval, já se apressou para dizer que não tem nada a ver com o que Heleno fez ou deixou de fazer.

Outra frente de apuração sobre a criação de uma Abin paralela no governo Bolsonaro indica que a gestão do ex-presidente parecia adepta ao uso do aparato oficial para seguir os passos espionando adversários, sejam eles políticos ou magistrados.

As semelhanças entre Nixon e Bolsonaro se limitam aos atropelos da arapongagem. Porque lá na terra do Tio Sam, o ex-presidente republicano entrou para a história como aquele que renunciou e não pode mais ter protagonismo no mundo político. Por aqui, Bolsonaro segue popular para uma parcela dos eleitores. E, até onde se tem notícia, seus seguidores continuam fiéis, mesmo com a PF batendo à porta e expondo os indícios de crime presidencial a viva voz.

É mais do que uma coincidência de datas. O modo de agir com uso da máquina estatal contra o adversário político na eleição vindoura e as trapalhadas do aparato de espionagem estatal colocam o ex-presidente Jair Bolsonaro como um arremedo de Richard Nixon.

Exatos 50 anos separam o escândalo Watergate da nossa versão brazuca do que poderia ser chamada de Helenogate, uma referência ao general da reserva Augusto Heleno que ocupou a chefia do Gabinete de Segurança Institucional (GSI).

General Augusto Heleno,chefe do GSI, declarou em reunião gravada no Planalto que colocaria agentes da Abin para espionar adversários políticos de Bolsonaro nas eleições Foto: Wilton Junior / Estadão

Para lembrar: em 1972, dois jornalistas do Washington Post, Carl Bernstein e Bob Woodward, revelaram as ligações da Casa Branca com uma tentativa de espionar o partido Democrata, adversário do presidente Nixon.

O caso começa com a entrada, na calada da noite, de gente ligada à agência de inteligência do governo norteamericano, a CIA, no escritório dos democratas que ficava no edifício Watergate, em Washington. Os sujeitos foram presos pela polícia local como se fossem apenas ladrões.

Os dois jornalistas contaram ao mundo que era outra coisa. A operação tinha partido da sala de Nixon. Gravações das conversas do presidente com auxiliares serviram, mais tarde, de prova ainda que alguns trechos tenham sido apagados e não foram entregues ao Congresso que instalara uma investigação. Encurralado, o presidente dos EUA renunciou em 1974.

Bob Woodward and Carl Bernstein na redação do Washington Post em 1973. Foto: Washington Post/Ken Feil 

Em 2022, cinco décadas mais tarde, o então presidente Jair Bolsonaro reúne a cúpula do governo do Palácio do Planalto. Manda gravar a reunião. O vídeo, apreendido pela Polícia Federal e tornado público esta semana, lá no finalzinho mostra o chefe do GSI, general da reserva Augusto Heleno, falando mais do que devia.

Como os espiões atrapalhados lá do Watergate que se deixaram prender, Heleno primeiro diz que o tema não pode vazar. Depois revela que conversou com a direção da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), simulacro da CIA, para por agentes infiltrados junto aos candidatos adversários. Confissão de espionagem estatal com fins eleitoreiros bancada por dinheiro público.

“Já conversei ontem com o novo diretor da Abin. Nós vamos montar um sistema para acompanhar os dois lados do que estão fazendo. O problema todo disso é se vazar. Se houver qualquer invasão, infiltração...”, disse Heleno na reunião de julho de 2022. Foi rapidamente interrompido por Bolsonaro para não entregar publicamente o plano: “General, peço que o senhor não fale, por favor. Não prossiga mais na sua observação aqui. Eu peço ao senhor que não prossiga na tua observação. Se a gente começar a falar ‘não vazar’, já esquece, pode vazar. Então a gente conversa em particular lá na nossa sala, o que a Abin está fazendo”.

O episódio poderia ser só mais uma das bravatas de Heleno. Mas o próprio Bolsonaro já percebeu que aquele trecho do vídeo lhe traz um novo problema. Até aqui investigado por tentar dar um golpe, também pode ser por usar a máquina estatal contra adversário eleitoral. Neste sábado de Carnaval, já se apressou para dizer que não tem nada a ver com o que Heleno fez ou deixou de fazer.

Outra frente de apuração sobre a criação de uma Abin paralela no governo Bolsonaro indica que a gestão do ex-presidente parecia adepta ao uso do aparato oficial para seguir os passos espionando adversários, sejam eles políticos ou magistrados.

As semelhanças entre Nixon e Bolsonaro se limitam aos atropelos da arapongagem. Porque lá na terra do Tio Sam, o ex-presidente republicano entrou para a história como aquele que renunciou e não pode mais ter protagonismo no mundo político. Por aqui, Bolsonaro segue popular para uma parcela dos eleitores. E, até onde se tem notícia, seus seguidores continuam fiéis, mesmo com a PF batendo à porta e expondo os indícios de crime presidencial a viva voz.

Opinião por Francisco Leali

Coordenador na Sucursal do Estadão em Brasília. Jornalista, Mestre em Comunicação e pesquisador especializado em transparência pública.

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