A política sem segredos

Opinião|Você conhece a rua onde mora seu candidato à Prefeitura de São Paulo? Ele prefere não te contar


Saiba qual é o receio dos “prefeitáveis” de São Paulo para não informar o endereço de sua residência

Por Francisco Leali
Atualização:

Estamos na antevéspera do período oficial da campanha eleitoral. Os nomes já estão postos. É só uma questão de tempo para, diariamente, os candidatos se apresentarem no rádio, na TV e por onde mais puderem chamar sua atenção. Em tempos de ódio como combustível da política e violência sem controle nas ruas, os pretendentes ao posto de prefeito preferem não expor detalhes de onde residem.

Esta semana foi solicitado às assessorias dos prefeitáveis da cidade de São Paulo, a maior metrópole do País, que indicassem o endereço da casa do político. Dos sete principais candidatos à Prefeitura paulistana, sete pediram para não divulgar publicamente o local preciso da residência. Motivo alegado por todos: preocupação com a segurança.

Ricardo Nunes, Guilherme Boulos, Tabata Amaral, Datena, Pablo Marçal, Marina Helena e Kim Kataguiri Foto: Werther Santana/Estadão Taba Benedicto/Estadão Alex Silva/Estadão PSDB Municipal SP/Divulgação Reprodução/Instagram via @pablomarcal1 Novo/Divulgação e Câmara dos Deputados
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A assessoria do candidato à reeleição, o prefeito Ricardo Nunes, informou que não poderia confirmar o nome da rua dele. O endereço da casa do prefeito, no entanto, é conhecido de alguns. Ele mora em Interlagos e já posou para revistas com a família reunida ao redor da piscina que fica no quintal.

A rua onde reside com mulher e filhos foi parar no noticiário em 2021. Dois assaltantes armados numa moto tentaram assaltar agentes de segurança que estavam na porta da casa do prefeito. A ação acabou repelida à bala e um dos assaltantes morreu.

Tentativa de assalto em frente à casa do prefeito Ricardo Nunes foi impedida por agentes de segurança em 2021. Na foto, uma policial dispara tiro na direção de um dos assaltantes Foto: Reprodução/TV Brasil
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Segundo dados do Radar da Criminalidade de SP desenvolvido pelo Estadão e que reúne dados coletados por mês, na rua de Nunes foram registrados um furto de celular e um furto de veículo em maio. Em junho, foram dois furtos de celular.

Neste 2024, temos os políticos que querem permanecer à frente do comando do Poder Executivo municipal da principal cidade do País com receio de contar onde moram. Ainda que durante a campanha a temperatura política se eleve e os ânimos também, um candidato que evita tornar público o nome da rua onde reside diz muito sobre a presente disputa eleitoral e mais ainda sobre o estado de coisas em São Paulo.

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Está difícil encontrar na cidade um recanto em que é possível andar despreocupado, celular na mão, sem temer ser vítima de algum tipo de violência. Por esse motivo, a preocupação com segurança pública aflige o eleitor. Ainda que o tema, legalmente, seja mais afeito à esfera do governo estadual, importa ao eleitor saber se o prefeito se importa com a segurança das ruas da cidade para garantir o livre ir e vir.

Em São Paulo, como é sabido, há territórios onde não se anda de carro ou mesmo de ônibus com a janela aberta. Não se circula em calçadas pelo risco inevitável e real de assalto. A violência que impõe limites aos paulistanos também está na esquina dos candidatos.

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O deputado federal Guilherme Boulos costumava não ter problemas em mostrar sua casa. Até bem recentemente, veiculou imagens em rede social recebendo na porta um carro de som que cantava feliz aniversário para ele. O candidato apoiado por Lula gostava de dizer também que dirigia seu próprio Celtinha. Agora, percorre a cidade em carro blindado.

Boulos mora em Campo Limpo. Sua assessoria confirmou o nome da rua, mas solicitou que o número da casa fosse preservado por razões de segurança. A rua onde reside aparece no Radar da Criminalidade, em maio, com dois furtos e sete roubos de celular; um furto e um roubo de veículo. Em junho foram dois furtos de celular, nove roubos do aparelho e dois furtos de veículo.

O jornalista e apresentador de TV José Luiz Datena, que já fez até transmissão ao vivo de sua casa, preferiu não informar o nome da rua, também por questões de segurança. Ele mora no Morumbi.

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O ex-coach Pablo Marçal já apareceu em rede social e sites mostrando sua casa em Alphaville. Num deles, gaba-se de a porta de entrada pesar 500 quilos. Segundo a assessoria do candidato, a mansão não é mais a residência do candidato. Seu endereço atual seria no Jardim Europa. Mas a rua não é revelada também por motivo de segurança.

A deputada Tabata Amaral é outra que não quer expor o endereço publicamente. Num processo judicial recente, seu endereço residencial é informando como sendo no Itaim Bibi. No logradouro indicado no processo, uma praça do bairro, o Radar da Criminalidade registra, em maio, 17 furtos de celular e 16 roubos do aparelho. No mês seguinte foram 17 casos de furto de celular e seis de roubo. Houve ainda um caso de furto de veículo. A assessoria de Tabata preferiu não confirmar o local como residência atual da deputada. “Por motivo de segurança, não informamos o endereço”, justificou a assessoria.

A assessoria do deputado Kim Kataguiri preferiu informar apenas o bairro, sem indicar a rua. Ele mora no Brooklin.

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A candidata Marina Helena reside numa casa no Jardim Paulistano e, também por motivo de segurança, preferiu não ter o endereço citado. Sua assessoria forneceu o nome da rua com compromisso de a localidade não ser identificada. O local registra três furtos de celular, segundo dados de maio do Radar da Criminalidade de maio. Em junho foram três casos de furto do aparelho. Recentemente, ocorreu o assassinato de um idoso por assaltantes numa rua próxima e casas vizinhas a de Marina também foram assaltadas.

Os indicadores do Radar são uma amostra dos índices de violência que afetam a capital do Estado. Por questões de proteção das vítimas, o Radar não incluiu casos em que os crimes ocorreram em residências. Assim, os números até mesmo nos logradouros dos candidatos podem ser ainda maiores.

Na cidade onde os candidatos a prefeito têm medo de dar o endereço de sua residência há algo de muito errado e muito a ser feito. O que eles dirão e prometerão aos eleitores sobre os problemas que afetam as esquinas de todos pode definir o nome de quem irá ao segundo turno e, quem sabe, também definir o ungido pelo voto para passar os próximos quatro anos no posto de prefeito de São Paulo.

Estamos na antevéspera do período oficial da campanha eleitoral. Os nomes já estão postos. É só uma questão de tempo para, diariamente, os candidatos se apresentarem no rádio, na TV e por onde mais puderem chamar sua atenção. Em tempos de ódio como combustível da política e violência sem controle nas ruas, os pretendentes ao posto de prefeito preferem não expor detalhes de onde residem.

Esta semana foi solicitado às assessorias dos prefeitáveis da cidade de São Paulo, a maior metrópole do País, que indicassem o endereço da casa do político. Dos sete principais candidatos à Prefeitura paulistana, sete pediram para não divulgar publicamente o local preciso da residência. Motivo alegado por todos: preocupação com a segurança.

Ricardo Nunes, Guilherme Boulos, Tabata Amaral, Datena, Pablo Marçal, Marina Helena e Kim Kataguiri Foto: Werther Santana/Estadão Taba Benedicto/Estadão Alex Silva/Estadão PSDB Municipal SP/Divulgação Reprodução/Instagram via @pablomarcal1 Novo/Divulgação e Câmara dos Deputados

A assessoria do candidato à reeleição, o prefeito Ricardo Nunes, informou que não poderia confirmar o nome da rua dele. O endereço da casa do prefeito, no entanto, é conhecido de alguns. Ele mora em Interlagos e já posou para revistas com a família reunida ao redor da piscina que fica no quintal.

A rua onde reside com mulher e filhos foi parar no noticiário em 2021. Dois assaltantes armados numa moto tentaram assaltar agentes de segurança que estavam na porta da casa do prefeito. A ação acabou repelida à bala e um dos assaltantes morreu.

Tentativa de assalto em frente à casa do prefeito Ricardo Nunes foi impedida por agentes de segurança em 2021. Na foto, uma policial dispara tiro na direção de um dos assaltantes Foto: Reprodução/TV Brasil

Segundo dados do Radar da Criminalidade de SP desenvolvido pelo Estadão e que reúne dados coletados por mês, na rua de Nunes foram registrados um furto de celular e um furto de veículo em maio. Em junho, foram dois furtos de celular.

Neste 2024, temos os políticos que querem permanecer à frente do comando do Poder Executivo municipal da principal cidade do País com receio de contar onde moram. Ainda que durante a campanha a temperatura política se eleve e os ânimos também, um candidato que evita tornar público o nome da rua onde reside diz muito sobre a presente disputa eleitoral e mais ainda sobre o estado de coisas em São Paulo.

Está difícil encontrar na cidade um recanto em que é possível andar despreocupado, celular na mão, sem temer ser vítima de algum tipo de violência. Por esse motivo, a preocupação com segurança pública aflige o eleitor. Ainda que o tema, legalmente, seja mais afeito à esfera do governo estadual, importa ao eleitor saber se o prefeito se importa com a segurança das ruas da cidade para garantir o livre ir e vir.

Em São Paulo, como é sabido, há territórios onde não se anda de carro ou mesmo de ônibus com a janela aberta. Não se circula em calçadas pelo risco inevitável e real de assalto. A violência que impõe limites aos paulistanos também está na esquina dos candidatos.

O deputado federal Guilherme Boulos costumava não ter problemas em mostrar sua casa. Até bem recentemente, veiculou imagens em rede social recebendo na porta um carro de som que cantava feliz aniversário para ele. O candidato apoiado por Lula gostava de dizer também que dirigia seu próprio Celtinha. Agora, percorre a cidade em carro blindado.

Boulos mora em Campo Limpo. Sua assessoria confirmou o nome da rua, mas solicitou que o número da casa fosse preservado por razões de segurança. A rua onde reside aparece no Radar da Criminalidade, em maio, com dois furtos e sete roubos de celular; um furto e um roubo de veículo. Em junho foram dois furtos de celular, nove roubos do aparelho e dois furtos de veículo.

O jornalista e apresentador de TV José Luiz Datena, que já fez até transmissão ao vivo de sua casa, preferiu não informar o nome da rua, também por questões de segurança. Ele mora no Morumbi.

O ex-coach Pablo Marçal já apareceu em rede social e sites mostrando sua casa em Alphaville. Num deles, gaba-se de a porta de entrada pesar 500 quilos. Segundo a assessoria do candidato, a mansão não é mais a residência do candidato. Seu endereço atual seria no Jardim Europa. Mas a rua não é revelada também por motivo de segurança.

A deputada Tabata Amaral é outra que não quer expor o endereço publicamente. Num processo judicial recente, seu endereço residencial é informando como sendo no Itaim Bibi. No logradouro indicado no processo, uma praça do bairro, o Radar da Criminalidade registra, em maio, 17 furtos de celular e 16 roubos do aparelho. No mês seguinte foram 17 casos de furto de celular e seis de roubo. Houve ainda um caso de furto de veículo. A assessoria de Tabata preferiu não confirmar o local como residência atual da deputada. “Por motivo de segurança, não informamos o endereço”, justificou a assessoria.

A assessoria do deputado Kim Kataguiri preferiu informar apenas o bairro, sem indicar a rua. Ele mora no Brooklin.

A candidata Marina Helena reside numa casa no Jardim Paulistano e, também por motivo de segurança, preferiu não ter o endereço citado. Sua assessoria forneceu o nome da rua com compromisso de a localidade não ser identificada. O local registra três furtos de celular, segundo dados de maio do Radar da Criminalidade de maio. Em junho foram três casos de furto do aparelho. Recentemente, ocorreu o assassinato de um idoso por assaltantes numa rua próxima e casas vizinhas a de Marina também foram assaltadas.

Os indicadores do Radar são uma amostra dos índices de violência que afetam a capital do Estado. Por questões de proteção das vítimas, o Radar não incluiu casos em que os crimes ocorreram em residências. Assim, os números até mesmo nos logradouros dos candidatos podem ser ainda maiores.

Na cidade onde os candidatos a prefeito têm medo de dar o endereço de sua residência há algo de muito errado e muito a ser feito. O que eles dirão e prometerão aos eleitores sobre os problemas que afetam as esquinas de todos pode definir o nome de quem irá ao segundo turno e, quem sabe, também definir o ungido pelo voto para passar os próximos quatro anos no posto de prefeito de São Paulo.

Estamos na antevéspera do período oficial da campanha eleitoral. Os nomes já estão postos. É só uma questão de tempo para, diariamente, os candidatos se apresentarem no rádio, na TV e por onde mais puderem chamar sua atenção. Em tempos de ódio como combustível da política e violência sem controle nas ruas, os pretendentes ao posto de prefeito preferem não expor detalhes de onde residem.

Esta semana foi solicitado às assessorias dos prefeitáveis da cidade de São Paulo, a maior metrópole do País, que indicassem o endereço da casa do político. Dos sete principais candidatos à Prefeitura paulistana, sete pediram para não divulgar publicamente o local preciso da residência. Motivo alegado por todos: preocupação com a segurança.

Ricardo Nunes, Guilherme Boulos, Tabata Amaral, Datena, Pablo Marçal, Marina Helena e Kim Kataguiri Foto: Werther Santana/Estadão Taba Benedicto/Estadão Alex Silva/Estadão PSDB Municipal SP/Divulgação Reprodução/Instagram via @pablomarcal1 Novo/Divulgação e Câmara dos Deputados

A assessoria do candidato à reeleição, o prefeito Ricardo Nunes, informou que não poderia confirmar o nome da rua dele. O endereço da casa do prefeito, no entanto, é conhecido de alguns. Ele mora em Interlagos e já posou para revistas com a família reunida ao redor da piscina que fica no quintal.

A rua onde reside com mulher e filhos foi parar no noticiário em 2021. Dois assaltantes armados numa moto tentaram assaltar agentes de segurança que estavam na porta da casa do prefeito. A ação acabou repelida à bala e um dos assaltantes morreu.

Tentativa de assalto em frente à casa do prefeito Ricardo Nunes foi impedida por agentes de segurança em 2021. Na foto, uma policial dispara tiro na direção de um dos assaltantes Foto: Reprodução/TV Brasil

Segundo dados do Radar da Criminalidade de SP desenvolvido pelo Estadão e que reúne dados coletados por mês, na rua de Nunes foram registrados um furto de celular e um furto de veículo em maio. Em junho, foram dois furtos de celular.

Neste 2024, temos os políticos que querem permanecer à frente do comando do Poder Executivo municipal da principal cidade do País com receio de contar onde moram. Ainda que durante a campanha a temperatura política se eleve e os ânimos também, um candidato que evita tornar público o nome da rua onde reside diz muito sobre a presente disputa eleitoral e mais ainda sobre o estado de coisas em São Paulo.

Está difícil encontrar na cidade um recanto em que é possível andar despreocupado, celular na mão, sem temer ser vítima de algum tipo de violência. Por esse motivo, a preocupação com segurança pública aflige o eleitor. Ainda que o tema, legalmente, seja mais afeito à esfera do governo estadual, importa ao eleitor saber se o prefeito se importa com a segurança das ruas da cidade para garantir o livre ir e vir.

Em São Paulo, como é sabido, há territórios onde não se anda de carro ou mesmo de ônibus com a janela aberta. Não se circula em calçadas pelo risco inevitável e real de assalto. A violência que impõe limites aos paulistanos também está na esquina dos candidatos.

O deputado federal Guilherme Boulos costumava não ter problemas em mostrar sua casa. Até bem recentemente, veiculou imagens em rede social recebendo na porta um carro de som que cantava feliz aniversário para ele. O candidato apoiado por Lula gostava de dizer também que dirigia seu próprio Celtinha. Agora, percorre a cidade em carro blindado.

Boulos mora em Campo Limpo. Sua assessoria confirmou o nome da rua, mas solicitou que o número da casa fosse preservado por razões de segurança. A rua onde reside aparece no Radar da Criminalidade, em maio, com dois furtos e sete roubos de celular; um furto e um roubo de veículo. Em junho foram dois furtos de celular, nove roubos do aparelho e dois furtos de veículo.

O jornalista e apresentador de TV José Luiz Datena, que já fez até transmissão ao vivo de sua casa, preferiu não informar o nome da rua, também por questões de segurança. Ele mora no Morumbi.

O ex-coach Pablo Marçal já apareceu em rede social e sites mostrando sua casa em Alphaville. Num deles, gaba-se de a porta de entrada pesar 500 quilos. Segundo a assessoria do candidato, a mansão não é mais a residência do candidato. Seu endereço atual seria no Jardim Europa. Mas a rua não é revelada também por motivo de segurança.

A deputada Tabata Amaral é outra que não quer expor o endereço publicamente. Num processo judicial recente, seu endereço residencial é informando como sendo no Itaim Bibi. No logradouro indicado no processo, uma praça do bairro, o Radar da Criminalidade registra, em maio, 17 furtos de celular e 16 roubos do aparelho. No mês seguinte foram 17 casos de furto de celular e seis de roubo. Houve ainda um caso de furto de veículo. A assessoria de Tabata preferiu não confirmar o local como residência atual da deputada. “Por motivo de segurança, não informamos o endereço”, justificou a assessoria.

A assessoria do deputado Kim Kataguiri preferiu informar apenas o bairro, sem indicar a rua. Ele mora no Brooklin.

A candidata Marina Helena reside numa casa no Jardim Paulistano e, também por motivo de segurança, preferiu não ter o endereço citado. Sua assessoria forneceu o nome da rua com compromisso de a localidade não ser identificada. O local registra três furtos de celular, segundo dados de maio do Radar da Criminalidade de maio. Em junho foram três casos de furto do aparelho. Recentemente, ocorreu o assassinato de um idoso por assaltantes numa rua próxima e casas vizinhas a de Marina também foram assaltadas.

Os indicadores do Radar são uma amostra dos índices de violência que afetam a capital do Estado. Por questões de proteção das vítimas, o Radar não incluiu casos em que os crimes ocorreram em residências. Assim, os números até mesmo nos logradouros dos candidatos podem ser ainda maiores.

Na cidade onde os candidatos a prefeito têm medo de dar o endereço de sua residência há algo de muito errado e muito a ser feito. O que eles dirão e prometerão aos eleitores sobre os problemas que afetam as esquinas de todos pode definir o nome de quem irá ao segundo turno e, quem sabe, também definir o ungido pelo voto para passar os próximos quatro anos no posto de prefeito de São Paulo.

Estamos na antevéspera do período oficial da campanha eleitoral. Os nomes já estão postos. É só uma questão de tempo para, diariamente, os candidatos se apresentarem no rádio, na TV e por onde mais puderem chamar sua atenção. Em tempos de ódio como combustível da política e violência sem controle nas ruas, os pretendentes ao posto de prefeito preferem não expor detalhes de onde residem.

Esta semana foi solicitado às assessorias dos prefeitáveis da cidade de São Paulo, a maior metrópole do País, que indicassem o endereço da casa do político. Dos sete principais candidatos à Prefeitura paulistana, sete pediram para não divulgar publicamente o local preciso da residência. Motivo alegado por todos: preocupação com a segurança.

Ricardo Nunes, Guilherme Boulos, Tabata Amaral, Datena, Pablo Marçal, Marina Helena e Kim Kataguiri Foto: Werther Santana/Estadão Taba Benedicto/Estadão Alex Silva/Estadão PSDB Municipal SP/Divulgação Reprodução/Instagram via @pablomarcal1 Novo/Divulgação e Câmara dos Deputados

A assessoria do candidato à reeleição, o prefeito Ricardo Nunes, informou que não poderia confirmar o nome da rua dele. O endereço da casa do prefeito, no entanto, é conhecido de alguns. Ele mora em Interlagos e já posou para revistas com a família reunida ao redor da piscina que fica no quintal.

A rua onde reside com mulher e filhos foi parar no noticiário em 2021. Dois assaltantes armados numa moto tentaram assaltar agentes de segurança que estavam na porta da casa do prefeito. A ação acabou repelida à bala e um dos assaltantes morreu.

Tentativa de assalto em frente à casa do prefeito Ricardo Nunes foi impedida por agentes de segurança em 2021. Na foto, uma policial dispara tiro na direção de um dos assaltantes Foto: Reprodução/TV Brasil

Segundo dados do Radar da Criminalidade de SP desenvolvido pelo Estadão e que reúne dados coletados por mês, na rua de Nunes foram registrados um furto de celular e um furto de veículo em maio. Em junho, foram dois furtos de celular.

Neste 2024, temos os políticos que querem permanecer à frente do comando do Poder Executivo municipal da principal cidade do País com receio de contar onde moram. Ainda que durante a campanha a temperatura política se eleve e os ânimos também, um candidato que evita tornar público o nome da rua onde reside diz muito sobre a presente disputa eleitoral e mais ainda sobre o estado de coisas em São Paulo.

Está difícil encontrar na cidade um recanto em que é possível andar despreocupado, celular na mão, sem temer ser vítima de algum tipo de violência. Por esse motivo, a preocupação com segurança pública aflige o eleitor. Ainda que o tema, legalmente, seja mais afeito à esfera do governo estadual, importa ao eleitor saber se o prefeito se importa com a segurança das ruas da cidade para garantir o livre ir e vir.

Em São Paulo, como é sabido, há territórios onde não se anda de carro ou mesmo de ônibus com a janela aberta. Não se circula em calçadas pelo risco inevitável e real de assalto. A violência que impõe limites aos paulistanos também está na esquina dos candidatos.

O deputado federal Guilherme Boulos costumava não ter problemas em mostrar sua casa. Até bem recentemente, veiculou imagens em rede social recebendo na porta um carro de som que cantava feliz aniversário para ele. O candidato apoiado por Lula gostava de dizer também que dirigia seu próprio Celtinha. Agora, percorre a cidade em carro blindado.

Boulos mora em Campo Limpo. Sua assessoria confirmou o nome da rua, mas solicitou que o número da casa fosse preservado por razões de segurança. A rua onde reside aparece no Radar da Criminalidade, em maio, com dois furtos e sete roubos de celular; um furto e um roubo de veículo. Em junho foram dois furtos de celular, nove roubos do aparelho e dois furtos de veículo.

O jornalista e apresentador de TV José Luiz Datena, que já fez até transmissão ao vivo de sua casa, preferiu não informar o nome da rua, também por questões de segurança. Ele mora no Morumbi.

O ex-coach Pablo Marçal já apareceu em rede social e sites mostrando sua casa em Alphaville. Num deles, gaba-se de a porta de entrada pesar 500 quilos. Segundo a assessoria do candidato, a mansão não é mais a residência do candidato. Seu endereço atual seria no Jardim Europa. Mas a rua não é revelada também por motivo de segurança.

A deputada Tabata Amaral é outra que não quer expor o endereço publicamente. Num processo judicial recente, seu endereço residencial é informando como sendo no Itaim Bibi. No logradouro indicado no processo, uma praça do bairro, o Radar da Criminalidade registra, em maio, 17 furtos de celular e 16 roubos do aparelho. No mês seguinte foram 17 casos de furto de celular e seis de roubo. Houve ainda um caso de furto de veículo. A assessoria de Tabata preferiu não confirmar o local como residência atual da deputada. “Por motivo de segurança, não informamos o endereço”, justificou a assessoria.

A assessoria do deputado Kim Kataguiri preferiu informar apenas o bairro, sem indicar a rua. Ele mora no Brooklin.

A candidata Marina Helena reside numa casa no Jardim Paulistano e, também por motivo de segurança, preferiu não ter o endereço citado. Sua assessoria forneceu o nome da rua com compromisso de a localidade não ser identificada. O local registra três furtos de celular, segundo dados de maio do Radar da Criminalidade de maio. Em junho foram três casos de furto do aparelho. Recentemente, ocorreu o assassinato de um idoso por assaltantes numa rua próxima e casas vizinhas a de Marina também foram assaltadas.

Os indicadores do Radar são uma amostra dos índices de violência que afetam a capital do Estado. Por questões de proteção das vítimas, o Radar não incluiu casos em que os crimes ocorreram em residências. Assim, os números até mesmo nos logradouros dos candidatos podem ser ainda maiores.

Na cidade onde os candidatos a prefeito têm medo de dar o endereço de sua residência há algo de muito errado e muito a ser feito. O que eles dirão e prometerão aos eleitores sobre os problemas que afetam as esquinas de todos pode definir o nome de quem irá ao segundo turno e, quem sabe, também definir o ungido pelo voto para passar os próximos quatro anos no posto de prefeito de São Paulo.

Opinião por Francisco Leali

Coordenador na Sucursal do Estadão em Brasília. Jornalista, Mestre em Comunicação e pesquisador especializado em transparência pública.

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