'Fugi para o mato com meus 6 filhos', recorda agricultor sobre massacre


Sobrevivente relembra o atentado de Eldorado dos Carajás, que completa 25 anos

Por Marcelo Godoy, Pablo Pereira e Pedro Venceslau

O agricultor Raimundo dos Santos Gouveia, de 66 anos, estava com a mulher e os seis filhos na marcha dos sem-terra para Marabá e viu os PMs chegarem na curva do S, no dia 17 de abril de 1996. Quase 1,5 mil pessoas bloqueavam a estrada quando os tiros começaram. Eram 16 horas. “Fugi para o mato com meus seis filhos e minha mulher e lá ficamos.” Quando os tiros cessaram, 19 sem-terra estavam mortos e dezenas, feridos.

Reunião de "acampamento virtual"do MST, em lembrança do massacre de Eldorado dos Carajás Foto: MST

Do outro lado da estrada estava Maria Zelzuíta Oliveira de Araújo, de 56 anos. Ela havia deixado o filho pequeno na casa de uma comadre para participar da marcha. De repetente, viu-se em meio aos tiros e correu para o mato, resgatando duas crianças que ficaram para trás. Hoje, tanto ela quanto Gouveia fazem parte do grupo de 690 famílias que receberam terras e estavam na marcha que terminou no massacre. Dos 155 policiais que participaram da ação, só os dois comandantes foram condenados em 2012 – o coronel Mário Pantoja morreu em 2020 em prisão domiciliar, onde cumpria a pena de 228 anos de prisão.

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Pantoja comandava a tropa enviada pela Secretaria da Segurança. O Pará era então governado por Almir Gabriel (PSDB). “O fato é que foi uma barbaridade que não pode ser esquecida. Foi um massacre, uma chacina. Almir me disse que não deu ordem nenhuma e foi surpreendido como todos”, conta o tucano Arthur Virgílio, que era o ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência e fez parte do comitê de crise criado pelo então presidente Fernando Henrique Cardoso.

No primeiro volume de seus Diários da Presidência, o ex-presidente diz: “Foi o pior dia desde que cheguei ao governo. O massacre me preocupou. (...) O Almir me deu explicações, coitado. Ele é todo de esquerda, e sua polícia é que foi matar dessa maneira selvagem.”

O caso trouxe o Movimento dos Sem Terra (MST) para o centro do noticiário. FHC, que estava em lua de mel com a opinião pública e começava a articular a reeleição, viu-se acuado e cobrado a ampliar os assentamentos. No auge da pressão, ele recebeu o líder do MST, João Pedro Stédile, em seu gabinete em uma reunião “tensa” que durou duas horas. “O Stédile pediu ao Fernando para estender a bandeira do MST na mesa dele antes de os fotógrafos entrarem para registrar o encontro, mas o presidente disse que na mesa dele só estendia a bandeira do Brasil”, conta Raul Jungmann, que assumiu o Ministério do Desenvolvimento Agrário.

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“O massacre foi um divisor de águas na luta pela terra no Brasil; em especial no crescimento, fortalecimento e amadurecimento do MST, que era muito jovem na época. E fez com que o governo reorganizasse sua pauta fundiária e agrária”, diz João Paulo Rodrigues, da coordenação do MST. Todo ano, o movimento organiza um acampamento na curva do S para lembrar os mortos. Neste ano, o acampamento foi virtual. Em 2018, Jair Bolsonaro, pré-candidato ao Planalto, foi ao local da chacina. Queria defender os policiais.

O agricultor Raimundo dos Santos Gouveia, de 66 anos, estava com a mulher e os seis filhos na marcha dos sem-terra para Marabá e viu os PMs chegarem na curva do S, no dia 17 de abril de 1996. Quase 1,5 mil pessoas bloqueavam a estrada quando os tiros começaram. Eram 16 horas. “Fugi para o mato com meus seis filhos e minha mulher e lá ficamos.” Quando os tiros cessaram, 19 sem-terra estavam mortos e dezenas, feridos.

Reunião de "acampamento virtual"do MST, em lembrança do massacre de Eldorado dos Carajás Foto: MST

Do outro lado da estrada estava Maria Zelzuíta Oliveira de Araújo, de 56 anos. Ela havia deixado o filho pequeno na casa de uma comadre para participar da marcha. De repetente, viu-se em meio aos tiros e correu para o mato, resgatando duas crianças que ficaram para trás. Hoje, tanto ela quanto Gouveia fazem parte do grupo de 690 famílias que receberam terras e estavam na marcha que terminou no massacre. Dos 155 policiais que participaram da ação, só os dois comandantes foram condenados em 2012 – o coronel Mário Pantoja morreu em 2020 em prisão domiciliar, onde cumpria a pena de 228 anos de prisão.

Pantoja comandava a tropa enviada pela Secretaria da Segurança. O Pará era então governado por Almir Gabriel (PSDB). “O fato é que foi uma barbaridade que não pode ser esquecida. Foi um massacre, uma chacina. Almir me disse que não deu ordem nenhuma e foi surpreendido como todos”, conta o tucano Arthur Virgílio, que era o ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência e fez parte do comitê de crise criado pelo então presidente Fernando Henrique Cardoso.

No primeiro volume de seus Diários da Presidência, o ex-presidente diz: “Foi o pior dia desde que cheguei ao governo. O massacre me preocupou. (...) O Almir me deu explicações, coitado. Ele é todo de esquerda, e sua polícia é que foi matar dessa maneira selvagem.”

O caso trouxe o Movimento dos Sem Terra (MST) para o centro do noticiário. FHC, que estava em lua de mel com a opinião pública e começava a articular a reeleição, viu-se acuado e cobrado a ampliar os assentamentos. No auge da pressão, ele recebeu o líder do MST, João Pedro Stédile, em seu gabinete em uma reunião “tensa” que durou duas horas. “O Stédile pediu ao Fernando para estender a bandeira do MST na mesa dele antes de os fotógrafos entrarem para registrar o encontro, mas o presidente disse que na mesa dele só estendia a bandeira do Brasil”, conta Raul Jungmann, que assumiu o Ministério do Desenvolvimento Agrário.

“O massacre foi um divisor de águas na luta pela terra no Brasil; em especial no crescimento, fortalecimento e amadurecimento do MST, que era muito jovem na época. E fez com que o governo reorganizasse sua pauta fundiária e agrária”, diz João Paulo Rodrigues, da coordenação do MST. Todo ano, o movimento organiza um acampamento na curva do S para lembrar os mortos. Neste ano, o acampamento foi virtual. Em 2018, Jair Bolsonaro, pré-candidato ao Planalto, foi ao local da chacina. Queria defender os policiais.

O agricultor Raimundo dos Santos Gouveia, de 66 anos, estava com a mulher e os seis filhos na marcha dos sem-terra para Marabá e viu os PMs chegarem na curva do S, no dia 17 de abril de 1996. Quase 1,5 mil pessoas bloqueavam a estrada quando os tiros começaram. Eram 16 horas. “Fugi para o mato com meus seis filhos e minha mulher e lá ficamos.” Quando os tiros cessaram, 19 sem-terra estavam mortos e dezenas, feridos.

Reunião de "acampamento virtual"do MST, em lembrança do massacre de Eldorado dos Carajás Foto: MST

Do outro lado da estrada estava Maria Zelzuíta Oliveira de Araújo, de 56 anos. Ela havia deixado o filho pequeno na casa de uma comadre para participar da marcha. De repetente, viu-se em meio aos tiros e correu para o mato, resgatando duas crianças que ficaram para trás. Hoje, tanto ela quanto Gouveia fazem parte do grupo de 690 famílias que receberam terras e estavam na marcha que terminou no massacre. Dos 155 policiais que participaram da ação, só os dois comandantes foram condenados em 2012 – o coronel Mário Pantoja morreu em 2020 em prisão domiciliar, onde cumpria a pena de 228 anos de prisão.

Pantoja comandava a tropa enviada pela Secretaria da Segurança. O Pará era então governado por Almir Gabriel (PSDB). “O fato é que foi uma barbaridade que não pode ser esquecida. Foi um massacre, uma chacina. Almir me disse que não deu ordem nenhuma e foi surpreendido como todos”, conta o tucano Arthur Virgílio, que era o ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência e fez parte do comitê de crise criado pelo então presidente Fernando Henrique Cardoso.

No primeiro volume de seus Diários da Presidência, o ex-presidente diz: “Foi o pior dia desde que cheguei ao governo. O massacre me preocupou. (...) O Almir me deu explicações, coitado. Ele é todo de esquerda, e sua polícia é que foi matar dessa maneira selvagem.”

O caso trouxe o Movimento dos Sem Terra (MST) para o centro do noticiário. FHC, que estava em lua de mel com a opinião pública e começava a articular a reeleição, viu-se acuado e cobrado a ampliar os assentamentos. No auge da pressão, ele recebeu o líder do MST, João Pedro Stédile, em seu gabinete em uma reunião “tensa” que durou duas horas. “O Stédile pediu ao Fernando para estender a bandeira do MST na mesa dele antes de os fotógrafos entrarem para registrar o encontro, mas o presidente disse que na mesa dele só estendia a bandeira do Brasil”, conta Raul Jungmann, que assumiu o Ministério do Desenvolvimento Agrário.

“O massacre foi um divisor de águas na luta pela terra no Brasil; em especial no crescimento, fortalecimento e amadurecimento do MST, que era muito jovem na época. E fez com que o governo reorganizasse sua pauta fundiária e agrária”, diz João Paulo Rodrigues, da coordenação do MST. Todo ano, o movimento organiza um acampamento na curva do S para lembrar os mortos. Neste ano, o acampamento foi virtual. Em 2018, Jair Bolsonaro, pré-candidato ao Planalto, foi ao local da chacina. Queria defender os policiais.

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