Nos quatro anos de governo, o então presidente Jair Bolsonaro (PL) disse ao menos 15 vezes em lives que não usava o cartão corporativo para despesas pessoais. Ele justificava que o benefício era reservado para bancar despesas de sua equipe em viagens e negava gastos supérfluos.
Em 12 de janeiro, no entanto, após ordem do Tribunal de Contas da União (TCU), a fatura revelou revelou um perfil diferente dos gastos. Dados obtidos pela agência Fiquem Sabendo e analisados pelo Estadão mostram despesas expressivas com hotéis de luxo, sorvetes e cosméticos, além de gastos em motociatas do presidente e até mesmo com viagens para parentes. Relembre:
Confira os gastos
Hotéis de luxo
- Os gastos com hotel foram os que mais consumiram recursos dentre os 59 tipos de despesas feitas com o cartão. Pelo menos R$ 13,6 milhões foram desembolsados em hospedagem; muitas vezes em estabelecimentos de luxo
- Na lista de endereços que receberam pagamentos com o cartão está o Ferraretto Hotel, em Guarujá (SP), onde o ex-presidente costumava descansar. Ao longo de quatro anos de governo, o hotel recebeu R$ 1,46 milhão
- As dez maiores notas fiscais de despesas no cartão corporativo são de hospedagem, variando de R$ 115 mil a R$ 312 mil
Restaurantes, padarias e itens diversos
- Os dados mostram gastos expressivos no restaurante Sabor de Casa, em Boa Vista. Há uma nota de R$ 109 mil no estabelecimento que fornece marmitas promocionais a R$ 20 e também faz entregas. A nota fiscal é de 26 de outubro de 2021, quando Bolsonaro estava na cidade para verificar a situação de refugiados da Venezuela. O mesmo restaurante já tinha recebido dois pagamentos – de R$ 28 mil e R$ 14 mil – em setembro do mesmo ano
- Por 20 vezes ao longo do mandato de Bolsonaro foram realizados gastos significativos em uma das filiais da padaria carioca Santa Marta. As notas fiscais variam de R$ 880 a R$ 55 mil, com média de R$ 18 mil. Ao todo, o estabelecimento recebeu R$ 362 mil do cartão corporativo da Presidência
- Em cinco sorveterias foram feitas 62 compras, que somaram R$ 8,6 mil. Em uma única vez foram gastos R$ 540. Não é ilegal comprar sorvete com o cartão corporativo, mas o recurso deve ser usado para ações fundamentais ao governo, principalmente em deslocamentos. Todas as sorveterias listadas no sistema são de Brasília
- As notas também mostram 11 despesas em lojas com cosméticos que somam R$ 1 mil, também localizadas em Brasília
- Em um mercado gourmet de Brasília, especializado em itens de alta gastronomia, foram realizadas 1,2 mil compras, somando R$ 678 mil
- Ao menos duas compras na filial da Havan do Distrito Federal foram feitas, totalizando R$ 460
- Para ver TV durante as férias de janeiro de 2022, em São Francisco do Sul (SC), gastou R$ 1,4 mil em serviço de antena parabólica – é o único gasto com assinaturas e periódicos que consta na fatura do cartão
Motociatas
- Na véspera de uma motociata realizada no Rio de Janeiro, em maio de 2021, foram gastos R$ 33 mil em uma unidade da panificadora Santa Marta
- Já entre os dias 9 e 10 de julho do mesmo ano, na Serra Gaúcha e em Porto Alegre – onde foi seguido de moto por apoiadores –, foram mais R$ 166 mil no cartão corporativo, em 46 despesas, concentradas em hospedagem, alimentação e combustível
- Em Ribeirão Preto (SP), no mês de maio de 2022, foi feito pagamento de R$ 16 mil em uma padaria
Viagens da família Bolsonaro
- Notas fiscais do cartão corporativo da Presidência da República revelam que o governo gastou R$ 16,2 mil para bancar a hospedagem de uma equipe de servidores que foi para Alagoas dar proteção a Michelle Bolsonaro, numa viagem de lazer
- Além de Alagoas, a mulher do então presidente foi a mais quatro cidades durante o mesmo mês de abril de 2021: Presidente Prudente, Araçatuba, São José do Rio Preto, em São Paulo, e por três dias em Caldas Novas (GO)
- Em abril de 2021, Jair Renan Bolsonaro foi para Resende (RJ). Os custos da equipe de segurança também foram pagos com o cartão corporativo
- O mesmo ocorreu com vereador Carlos Bolsonaro, quando viajou a Brasília e também foi acompanhado de seguranças