RIO – Citado na conversa entre o tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), e o coronel Jean Lawand Junior como um dos entusiastas de uma eventual tentativa de golpe de Estado, o oficial-general Edson Skora Rosty, de 58 anos, recebeu R$ 280 mil em verbas indenizatórias do Exército após ser transferido para a reserva no fim de março.
General de divisão do Exército, Rosty era subcomandante de Operações Terrestres à época em que as mensagens foram trocados entre Cid e Lawand. O coronel repassou a Mauro Cid uma mensagem na qual um “amigo do Quartel-General” dizia ter conversado com Rosty sobre o apoio do Exército em uma eventual intervenção militar.
No Portal da Transparência do Exército, não estão discriminadas as naturezas das verbas indenizatórias recebidas pelo general. Os pagamentos extras podem corresponder a valores pagos por auxílio natalidade, auxílio alimentação, auxílio bolsas de estudos, indenização de férias, auxílio transporte e auxílio fardamento, entre outros. São recursos que não são limitados pelo teto constitucional (R$ 41,6 mil) e em que não há qualquer desconto de imposto de renda.
As verbas indenizatórias são, por vezes, utilizadas para aumentar os rendimentos de servidores públicos, civis e militares. O general recebe R$ 32.349,39 por mês, além dos benefícios.
Os valores foram pagos ao general em abril, um mês após o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) assinar o decreto que transferiu o militar para a reserva, no dia 31 de março deste ano.
Procurado, o Ministério da Defesa informou que é de competência do Exército o detalhamento das remunerações dos militares. O Centro de Comunicação Social do Exército disse que o general Rosty, “por ter passado à inatividade, faz jus à ajuda de custo no valor de oito vezes a remuneração do último posto a que pertencia, paga em parcela única. Este Centro informa, também, que o procedimento em questão se ampara na Lei nº 13.954, de 16 de dezembro de 2019″.
O Estadão não conseguiu contato com o general Edson Rosty.
Críticas a Lula
Apesar de um perfil discreto nas redes sociais, Rosty curtiu um vídeo, pouco antes dos atos de 8 de janeiro, em que o petista é chamado de “malandro”, “ditador” e “apaixonado pela ditadura”.
Na publicação de 21 de dezembro do ano passado, um jornalista ligado a veículos que apoiam o ex-presidente Jair Bolsonaro diz ainda que as opções entre os opositores do presidente são entre “rendição ou luta”.
“As Forças Armadas deveriam acolher os manifestantes se eles forem ameaçados por qualquer perigo (...) O Lula tem que começar a ouvir o tempo todo o “fora Lula”. A opção é entre rendição e luta. E rendição é uma palavra que a gente não usa”, diz a publicação curtida pelo general.
Cargos no governo Bolsonaro
Rosty assumiu posições de destaque durante o governo Bolsonaro. Foi diretor de Ensino e diretor de Civis, Inativos, Pensionistas e Assistência Social do Ministério da Defesa e chefe do Estado-Maior do Comando Militar da Amazônia, em Manaus (AM).
Formado na turma de 1985 da Academia Militar das Agulhas Negras, Rosty foi subcomandante de Operações Terrestres do Exército de julho de 2022 a abril de 2023, quando foi transferido para a reserva pelo presidente Lula. Comandou a 16ª Brigada de Infantaria de Selva das Missões em Tefé, no Amazonas.
O general substituiu outro aliado de Bolsonaro no comando do da 12ª Região Militar. Recebeu do general Eduardo Pazuello, ex-ministro da Saúde, o cargo de Comandante da Região Mendonça Furtado.
Recebeu ainda de Bolsonaro, em maio de 2022, a Ordem do Mérito da Defesa no grau de Grande-Oficial.