BRASÍLIA - Em depoimento nesta quinta-feira, 22, à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) dos Atos Antidemocráticos na Câmara Legislativa do Distrito Federal (CLDF), o ex-ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) general Gonçalves Dias se eximiu de culpa pela invasão do Palácio do Planalto por bolsonaristas no dia 8 de janeiro, mas admitiu que houve edição de um relatório enviado pelo setor de inteligência do governo ao Congresso Nacional.
A Comissão Mista de Controle das Atividades de Inteligência (CCAI) do Congresso cobrou da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) sobre a existência de alertas antes dos atos golpistas. A comissão acabou recebendo duas versões do mesmo documento. Uma citava que G Dias tinha sido alertado ao menos 11 vezes; outra, não. Ao depor na CPI, o general sustentou que a informação de que fora avisado previamente estava errada e por isso o documento foi corrigido. “A CCAI solicitou ao GSI o que a Abin tinha produzido de informação. Esse documento passou para a Abin. A Abin respondeu com um compilado de mensagens de aplicativos. Esse documento tinha lá, ministro do GSI, mas eu não participei de nenhum grupo de WhatsApp. Eu não sou o difusor daquele compilado de mensagens. Então o documento não condizia com a verdade. Esse era um documento. Ele foi acertado e enviado”, explicou.
O general G. Dias é ouvido na CPI em condição de testemunha. Ele foi exonerado do governo Lula em 19 de abril após a divulgação de imagens das câmeras de segurança internas do Palácio do Planalto durante os ataques golpistas do dia 8 de janeiro, em Brasília. O general e outros servidores do GSI são vistos indicando aos invasores a saída do prédio e, inclusive, dando água aos bolsonaristas.
Na CPI, G Dias explicou que ao chegar no Palácio do Planalto no dia 8 de janeiro se concentrou para retirar os vândalos do prédio o mais rápido possível. “A ordem dada foi que as prisões acontecessem no segundo andar, preservando o ser humano para que não houvesse nenhuma morte ou ferido”. E também disse ter mandado prender os invasores. “Só havia uma forma de fazer aquilo: de cima para baixo. Dei esta ordem aos oficiais que estavam no Palácio”, afirmou. “Restauramos o controle público e institucional da Ordem, sem nenhum confronto que tenha posto em risco vidas humanas – nem do nosso lado, nem do lado dos vândalos”, prosseguiu ele.
G Dias também negou ter sido alertado antecipadamente pela área de inteligência sobre os ataques antidemocráticos e afirmou que a Polícia Militar do Distrito Federal (PMDF) não realizou o bloqueio aos prédios como deveria ter sido feito. G. Dias, como é conhecido, também indicou que a CPI deveria ouvir o então secretário-executivo do GSI, o general Carlos José Assumpção Penteado, que é ligado ao ex-ministro-chefe do GSI Augusto Heleno e já disse que o Partido dos Trabalhadores tem um “cleptocrata disfarçado de político”. “Como estou aqui, ele [general Penteado] também poderia sentar aqui”, afirmou.
Assista a sessão da CPI:
Nesta quinta-feira, 22, o general repetiu que não recebeu alertas sobre risco de ataques e que fez tudo que estava ao seu alcance. Ele contou ainda que um subordinado, que já trabalhava no GSI com seu antecessor no governo Bolsonaro, o general Augusto Heleno, tinha garantido que estava tudo normal naquele dia 8 de janeiro. “O general [Carlos José Assumpção] Penteado me disse [por volta de 14h] que estava tudo normal, tudo tranquilo, mas ainda assim decidi ir ao Palácio”, afirmou.
Ele também disse que a antiga gestão não colaborou com a transição de governo. E negou que o GSI fora convidado para uma reunião, no dia 6 de janeiro, dois dias antes da atos golpistas. A reunião foi organizada pela Secretaria de Segurança Pública do Distrito Federal (SSPDF), então comandada pelo bolsonarista Anderson Torres, que viajara aos Estados Unidos nas vésperas dos atos.
Imagens
O general explicou também que as imagens das câmeras de segurança internas do Palácio do Planalto foram repassadas à Polícia Federal e outros órgãos, como a Secretaria de Comunicação (Secom) da Presidência da República, após os atos golpistas.
Após a divulgação das imangens pela CNN e a conseguinte exoneração de G Dias, contudo, o secretário de Comunicação da Presidência da República, Paulo Pimenta (PT), alegou que Lula não teve acesso às imagens que mostram G Dias indicando a saída do prédio aos invasores. “O presidente, inclusive, como conhece o Palácio, chegou a perguntar claramente sobre as imagens daquela câmera que fica voltada para a entrada da área do gabinete presidencial e essas imagens ele não conhecia. [Disseram] que essas imagens não existiam, que as que existiam eram as que foram fornecidas a ele”, disse Pimenta.
Oposição
Na CPI integrada por deputados distritais, o general Dias acabou submetido a ataques da oposição local ao governo petista. Joaquim Roriz Neto perguntou ao militar sobre comentários do presidente Lula e, de forma irônica, chegou a afirmar que as “tias do Zap” sabiam que Brasília seria invadida no dia 8 de janeiro e o ministro-chefe do GSI, não. “As imagens que eu vi parecia [que o senhor era] um mestre-de-obras, andando de forma descontraída, sem preocupações, fazendo análises, extremamente calmos sobre os acontecimentos”, provocou. G Dias se negou a comentar documentos de acesso restrito apresentados pela oposição. “Fica muito difícil fazer as perguntas pq o general não lembra de nada”, respondeu Roriz Neto.
Já o deputado distrital pastor Daniel de Castro (PP) quis saber o que o general G Dias achava até da política internacional de Lula. “A Venezuela é uma democracia?”, perguntou o parlamentar, ao ser interrompido pelo presidente da CPI, deputado Chico Vigilante (PT).