BRASÍLIA - O ex-ministro-chefe do Gabinete de Segurança-Institucional (GSI) general Augusto Heleno afirmou nesta quinta-feira, 1º, em depoimento na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) dos Atos Antidemocráticos, que os acampamentos golpistas organizados por apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) eram “locais sadios”.
Manifestantes que estavam no acampamento do Quartel-General do Exército, em Brasília, no entanto, participaram dos ataques golpistas no dia 8 de janeiro, quando os prédios do Palácio do Planalto, do Supremo Tribunal Federal (STF) e do Congresso Nacional foram invadidos e depredados. Além disso, o mesmo local teria sido palco de um plano para explodir uma bomba próximo ao aeroporto de Brasília, nas vésperas da posse do atual presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
“Eu não estive nenhuma vez no acampamento. Conhecia de fotografias. Mas acredito, pelo que se escuta, que o acompamento era um local sadio, onde se fazia muitas orações, se reuniam para conversar sobre assuntos políticos”, minimizou Heleno à Câmara Legislativa do Distrito Federal (CLDF). “Mas não sei como era a organização do acampamento. Tinha inclusive crianças, muitas mulheres. Durou muito tempo, sem nenhum acontecimento de maiores consequências ruins. Era uma manifestação ordeira e disciplinada”, acrescentou.
Heleno falou na CPI dos Atos Antidemocráticos em condição de testemunha. Durante o depoimento, o general se manteve fiel – como ele mesmo admitiu – ao ex-presidente Bolsonaro. Além de ter negado o viés golpista do movimento, recorreu corriqueiramente à frase “não me lembro” para deixar de responder aos questionamentos da oposição. Ele disse não se recordar, por exemplo, de live realizada por Bolsonaro em 29 de julho de 2021 na qual acusou, com alegações infundadas, as eleições de 2018 de terem sido fraudadas.
Ao comentar um áudio em que disse que precisava tomar calmante para evitar que Bolsonaro tomasse “medidas mais drásticas”, Heleno disse que sua fala foi retirada de contexto. Alegou que apenas havia sentimento no governo de que Bolsonaro poderia, em algum momento, romper com o STF, mas não o fez.
“Se eu tivesse sido articulador [dos atos do dia 8 de janeiro], eu diria aqui. Acho que o tratamento que estão dando a essa palavra golpe não é adequado. Um golpe, para ter sucesso, precisa ter líderes, um líder principal, não é uma atitude simples. Esse termo golpe está sendo empregado com extrema vulgaridade. Uma manifestação, uma demonstração de insatisfação não se pode caracterizar um golpe”, afirmou o general.
Também afirmou que continua achando que ladrão não sobe a rampa. A fala faz referência a um vídeo divulgado pelo site Metrópoles em dezembro do ano passado, quando o então chefe do GSI respondeu com um “não” um manifestante que o questionou se “bandido sobe a rampa”, em clara referência ao presidente Lula, que iria tomar posse em algumas semanas.
Heleno chamou Ricardo Cappelli, ministro interino do GSI, de “mal-informado”, mas poupou críticas ao colega de farda, general Gonçalves Dias – chefe do Gabinete durante os ataques golpistas. “Lamento que o Dr. Cappelli conheça tão pouco do GSI. Ele não conhece nada do GSI”, afirmou Heleno. Cappelli assumiu o GSI interinamente após a saída de Gonçalves Dias e chegou a acusar o general bolsonarista de incitar ataques às instituições da República.
Por fim, Heleno encerrou sua participação na CPI dos Atos Antidemocráticos defendendo o golpe de 1964. “As coisas são vistas só de um lado. O deputado acha que o movimento de 64 matou mais de 1 mil pessoas, acha que foi um movimento de vingança, de ódio, quando o movimento de 64 salvou o Brasil de virar um País comunista. O Brasil esteve a um passo de virar um País comunista”, disse, ao acusar a oposição de “deturpar a história”.
“Ele foi não somente evasivo, mas também cínico. Tentou relativizar tudo que ocorreu no dia 12 de dezembro e no dia 8 de janeiro”, afirmou o deputado distrital Fábio Felix (PSOL).