Como a conjuntura do País afeta o ambiente público e o empresarial

A comunicação como instrumento para reafirmar a vida ou desencadear a morte


Por Redação

Guadalupe Marcondes de Moura, Fonoaudióloga, Mestre em Ciências da Reabilitação: Comunicação Humana, pela Faculdade de Medicina da USP. Doutora em Educação Especial (ênfase na pessoa surda) pela Faculdade de Educação da USP. Docente e Coordenadora da disciplina de Audiologia Educacional da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo, Coordenadora do Laboratório de Estudos Fonoaudiológicos em Atipias da Língua de Sinais - LEFALS

Os problemas comunicativos que estamos vivenciando como espécie, aprofundados pela pandemia da Covid-19, demonstram o grau de importância de se tratar do tema com a seriedade que o mesmo exige, visto que essa problemática ameaça nossa existência comprometendo-a, do ponto de vista da qualidade, ou anulando-a definitivamente. A história da humanidade nos mostra que os temas de desentendimentos variam, mas a causa é sempre a mesma: a falta de comunicação (proposital ou não), a comunicação ineficiente (tentativa e falha) ou a comunicação utilizada para provocar danos de forma deliberada.

A quem serve o interesse de, literalmente, anular a vida? É assustador pensar que uma caneta pode fazê-lo, sempre empunhada por alguém que, tendo a intenção de prejudicar deliberadamente, não se comunica ou comunica-se de forma violenta. Ao usar o termo "violento" não me refiro, necessariamente, à truculência, à selvageria. Às vezes, a comunicação que provoca violências também pode vir sob a forma de uma fala interpretada como "simples e sincera". Este é um subterfúgio típico dos que dominam a arte de manipular e conseguem emplacar uma narrativa de ódio mascarada de "honestidade" e "autenticidade".

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Muitos, fadigados pelos dissabores constantes de uma vida socialmente cruel, realidade vivenciada na pele ou conhecida pela tevê, são atraídos por esse "canto da sereia", sem perceber que quem lhes canta aos ouvidos, não importa se de terno, jaleco, toga, batina ou outro, é justamente quem alimenta a crueldade social que provoca a fadiga. Quem não se comunica (cala, omite), se comunica de maneira ineficiente (falha por falta de competência) ou se comunica com a intenção de prejudicar (mente, manipula, corrompe) comete crime contra a humanidade e é responsável por gerar o estado de caos no qual estamos mergulhados.

De forma contundente estamos constatando que tanto a falta de comunicação quanto a comunicação enviesada pela ausência de evidências científicas podem matar. Quando não há campanha para a prevenção de doenças, por exemplo, ou seja, quando os órgãos responsáveis não informam e orientam a população acerca de um risco para a saúde, a falta dessa comunicação mata. Mantendo o mesmo exemplo, quando a comunicação que se recebe sobre doenças carece de comprovações, de garantias para a proteção da vida e uma pseudossolução é transmitida, perigosamente, apoiada em quase nada além do desejo, vaidade ou teimosia, a comunicação também se converte em arma de destruição em massa.

Na área da saúde, portanto, a falta de comunicação, as tentativas ineficazes e/ou a intenção de prejudicar nos levaram à realidade distópica de, em 2021, não termos consenso no que se refere a algo que é surpreendentemente simples: vacinas salvam vidas. Sabemos disso há mais de 200 anos, basta inteirar-se da história da erradicação da varíola no mundo e, inclusive, a história brasileira de campanhas de imunização para esta e outras doenças. A despeito de todos os nossos esforços (e conquistas!) para proteger a vida, porém, estamos encarando hoje, como nação, um abismo cognitivo, ao colocarmos em dúvida os benefícios da vacina e, até mesmo, de equipamentos de proteção individual que, como o próprio nome indica, servem para proteger.

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Constatamos, diante do cenário atual, que a população brasileira, na sua máxima condição de coletividade - recentemente desfalcada em mais de 500 mil pessoas que perderam suas vidas pela pandemia e pelo pandemônio -, padece da falta de uma liderança comunicativa assertiva e positiva para promover as condições de seguirmos uma linha de raciocínio e ação que nos possibilite exteriorizar algumas de nossas melhores qualidades, como a de um país com histórico de sucesso em campanhas de vacinação, por exemplo.

Este fenômeno indica que as pessoas vêm sendo insufladas por uma comunicação beligerante que vem crescendo, em especial, nos últimos anos. O Brasil, do corpo/alma indígena e negro massacrados desde sua origem, foi alicerçado sob a égide da invasão, da negação da liberdade, da destruição e da exploração que não permite troca comunicativa alguma, mas apenas a satisfação da sanha de quem explora. Mas, o Brasil como uma árvore que insiste em brotar no asfalto, também é o avesso dos seus algozes: é a delicadeza, a música, a poesia, as cores todas, a ciência, o grito de basta, o sorriso de quem ama e sonha mesmo diante da brutalidade e do entorpecimento como mecanismo de sobrevivência. Somos um povo de variações linguísticas incríveis, muito profícuo na habilidade de encontrarmos modos criativos para nos comunicarmos, a despeito das limitações geográficas, inclusive.

A comunicação como instrumento para reafirmar a vida ou desencadear a morte se materializa na ação das pessoas que escolhem um ou outro caminho, se posicionam como agentes de manutenção ou transformação de uma ou outra realidade. Neste caso, não há uma terceira via. Se estivermos hígidos, do ponto de vista da saúde geral, não é possível nos isentarmos da responsabilidade: ou escolhemos vida (e estamos sujeitos às variações no espectro da qualidade, claro) ou a ausência dela. Ou escolhemos nos comunicar pela paz ou pela guerra. A ausência de comunicação, neste exemplo, é arriscada já que a atitude isenta pode servir a um ou a outro propósito. Quem gostaria de arriscar, com seu silêncio, a contribuir para a morte?

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Como a flecha, a comunicação também não é lançada e percorre seu trajeto sozinha, ela está a nosso serviço, nós somos como um arco teso. Como seres na e para a linguagem trazemos em nós a capacidade, biologicamente determinada, de acertar o alvo. Certamente há muitos brasileiros que apesar de exaustos ainda conseguem imaginar o Brasil se entendendo com o Brasil. São pessoas que projetam e sustentam em suas telas mentais a imagem de um país plural, justo e que lutam por isso da melhor forma que podem, todos os dias, escolhendo a vida. O fazem por todos os filhos, filhas e filhes que aqui habitam e a quem devemos a obrigação moral de uma chance que lhes possibilite acreditar, que não lhes negue a esperança nem os instrumentos necessários para a construção de um futuro melhor que o nosso.

Podemos fazê-lo se assim decidirmos. Isto transcende a minha ou a sua necessidade - isto se refere a nossa, como coletividade. Diz respeito à continuidade da nossa espécie e também à preservação e regeneração de toda forma de vida no planeta. Sim, é fato que ainda precisamos amadurecer muito para comunicarmos nossas necessidades sem julgamentos e animosidades. Mais alguns passos à frente, no entanto, e alcançaremos o estágio de, naturalmente, escolhermos o todo para além de nós mesmos. Precisamos nos lembrar, contudo, que é a punção de vida e não de morte a única capaz de guiar essa iniciativa e de nos dar a oportunidade de findarmos o processo destrutivo que há muito insistimos em alimentar.

Guadalupe Marcondes de Moura, Fonoaudióloga, Mestre em Ciências da Reabilitação: Comunicação Humana, pela Faculdade de Medicina da USP. Doutora em Educação Especial (ênfase na pessoa surda) pela Faculdade de Educação da USP. Docente e Coordenadora da disciplina de Audiologia Educacional da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo, Coordenadora do Laboratório de Estudos Fonoaudiológicos em Atipias da Língua de Sinais - LEFALS

Os problemas comunicativos que estamos vivenciando como espécie, aprofundados pela pandemia da Covid-19, demonstram o grau de importância de se tratar do tema com a seriedade que o mesmo exige, visto que essa problemática ameaça nossa existência comprometendo-a, do ponto de vista da qualidade, ou anulando-a definitivamente. A história da humanidade nos mostra que os temas de desentendimentos variam, mas a causa é sempre a mesma: a falta de comunicação (proposital ou não), a comunicação ineficiente (tentativa e falha) ou a comunicação utilizada para provocar danos de forma deliberada.

A quem serve o interesse de, literalmente, anular a vida? É assustador pensar que uma caneta pode fazê-lo, sempre empunhada por alguém que, tendo a intenção de prejudicar deliberadamente, não se comunica ou comunica-se de forma violenta. Ao usar o termo "violento" não me refiro, necessariamente, à truculência, à selvageria. Às vezes, a comunicação que provoca violências também pode vir sob a forma de uma fala interpretada como "simples e sincera". Este é um subterfúgio típico dos que dominam a arte de manipular e conseguem emplacar uma narrativa de ódio mascarada de "honestidade" e "autenticidade".

Muitos, fadigados pelos dissabores constantes de uma vida socialmente cruel, realidade vivenciada na pele ou conhecida pela tevê, são atraídos por esse "canto da sereia", sem perceber que quem lhes canta aos ouvidos, não importa se de terno, jaleco, toga, batina ou outro, é justamente quem alimenta a crueldade social que provoca a fadiga. Quem não se comunica (cala, omite), se comunica de maneira ineficiente (falha por falta de competência) ou se comunica com a intenção de prejudicar (mente, manipula, corrompe) comete crime contra a humanidade e é responsável por gerar o estado de caos no qual estamos mergulhados.

De forma contundente estamos constatando que tanto a falta de comunicação quanto a comunicação enviesada pela ausência de evidências científicas podem matar. Quando não há campanha para a prevenção de doenças, por exemplo, ou seja, quando os órgãos responsáveis não informam e orientam a população acerca de um risco para a saúde, a falta dessa comunicação mata. Mantendo o mesmo exemplo, quando a comunicação que se recebe sobre doenças carece de comprovações, de garantias para a proteção da vida e uma pseudossolução é transmitida, perigosamente, apoiada em quase nada além do desejo, vaidade ou teimosia, a comunicação também se converte em arma de destruição em massa.

Na área da saúde, portanto, a falta de comunicação, as tentativas ineficazes e/ou a intenção de prejudicar nos levaram à realidade distópica de, em 2021, não termos consenso no que se refere a algo que é surpreendentemente simples: vacinas salvam vidas. Sabemos disso há mais de 200 anos, basta inteirar-se da história da erradicação da varíola no mundo e, inclusive, a história brasileira de campanhas de imunização para esta e outras doenças. A despeito de todos os nossos esforços (e conquistas!) para proteger a vida, porém, estamos encarando hoje, como nação, um abismo cognitivo, ao colocarmos em dúvida os benefícios da vacina e, até mesmo, de equipamentos de proteção individual que, como o próprio nome indica, servem para proteger.

Constatamos, diante do cenário atual, que a população brasileira, na sua máxima condição de coletividade - recentemente desfalcada em mais de 500 mil pessoas que perderam suas vidas pela pandemia e pelo pandemônio -, padece da falta de uma liderança comunicativa assertiva e positiva para promover as condições de seguirmos uma linha de raciocínio e ação que nos possibilite exteriorizar algumas de nossas melhores qualidades, como a de um país com histórico de sucesso em campanhas de vacinação, por exemplo.

Este fenômeno indica que as pessoas vêm sendo insufladas por uma comunicação beligerante que vem crescendo, em especial, nos últimos anos. O Brasil, do corpo/alma indígena e negro massacrados desde sua origem, foi alicerçado sob a égide da invasão, da negação da liberdade, da destruição e da exploração que não permite troca comunicativa alguma, mas apenas a satisfação da sanha de quem explora. Mas, o Brasil como uma árvore que insiste em brotar no asfalto, também é o avesso dos seus algozes: é a delicadeza, a música, a poesia, as cores todas, a ciência, o grito de basta, o sorriso de quem ama e sonha mesmo diante da brutalidade e do entorpecimento como mecanismo de sobrevivência. Somos um povo de variações linguísticas incríveis, muito profícuo na habilidade de encontrarmos modos criativos para nos comunicarmos, a despeito das limitações geográficas, inclusive.

A comunicação como instrumento para reafirmar a vida ou desencadear a morte se materializa na ação das pessoas que escolhem um ou outro caminho, se posicionam como agentes de manutenção ou transformação de uma ou outra realidade. Neste caso, não há uma terceira via. Se estivermos hígidos, do ponto de vista da saúde geral, não é possível nos isentarmos da responsabilidade: ou escolhemos vida (e estamos sujeitos às variações no espectro da qualidade, claro) ou a ausência dela. Ou escolhemos nos comunicar pela paz ou pela guerra. A ausência de comunicação, neste exemplo, é arriscada já que a atitude isenta pode servir a um ou a outro propósito. Quem gostaria de arriscar, com seu silêncio, a contribuir para a morte?

Como a flecha, a comunicação também não é lançada e percorre seu trajeto sozinha, ela está a nosso serviço, nós somos como um arco teso. Como seres na e para a linguagem trazemos em nós a capacidade, biologicamente determinada, de acertar o alvo. Certamente há muitos brasileiros que apesar de exaustos ainda conseguem imaginar o Brasil se entendendo com o Brasil. São pessoas que projetam e sustentam em suas telas mentais a imagem de um país plural, justo e que lutam por isso da melhor forma que podem, todos os dias, escolhendo a vida. O fazem por todos os filhos, filhas e filhes que aqui habitam e a quem devemos a obrigação moral de uma chance que lhes possibilite acreditar, que não lhes negue a esperança nem os instrumentos necessários para a construção de um futuro melhor que o nosso.

Podemos fazê-lo se assim decidirmos. Isto transcende a minha ou a sua necessidade - isto se refere a nossa, como coletividade. Diz respeito à continuidade da nossa espécie e também à preservação e regeneração de toda forma de vida no planeta. Sim, é fato que ainda precisamos amadurecer muito para comunicarmos nossas necessidades sem julgamentos e animosidades. Mais alguns passos à frente, no entanto, e alcançaremos o estágio de, naturalmente, escolhermos o todo para além de nós mesmos. Precisamos nos lembrar, contudo, que é a punção de vida e não de morte a única capaz de guiar essa iniciativa e de nos dar a oportunidade de findarmos o processo destrutivo que há muito insistimos em alimentar.

Guadalupe Marcondes de Moura, Fonoaudióloga, Mestre em Ciências da Reabilitação: Comunicação Humana, pela Faculdade de Medicina da USP. Doutora em Educação Especial (ênfase na pessoa surda) pela Faculdade de Educação da USP. Docente e Coordenadora da disciplina de Audiologia Educacional da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo, Coordenadora do Laboratório de Estudos Fonoaudiológicos em Atipias da Língua de Sinais - LEFALS

Os problemas comunicativos que estamos vivenciando como espécie, aprofundados pela pandemia da Covid-19, demonstram o grau de importância de se tratar do tema com a seriedade que o mesmo exige, visto que essa problemática ameaça nossa existência comprometendo-a, do ponto de vista da qualidade, ou anulando-a definitivamente. A história da humanidade nos mostra que os temas de desentendimentos variam, mas a causa é sempre a mesma: a falta de comunicação (proposital ou não), a comunicação ineficiente (tentativa e falha) ou a comunicação utilizada para provocar danos de forma deliberada.

A quem serve o interesse de, literalmente, anular a vida? É assustador pensar que uma caneta pode fazê-lo, sempre empunhada por alguém que, tendo a intenção de prejudicar deliberadamente, não se comunica ou comunica-se de forma violenta. Ao usar o termo "violento" não me refiro, necessariamente, à truculência, à selvageria. Às vezes, a comunicação que provoca violências também pode vir sob a forma de uma fala interpretada como "simples e sincera". Este é um subterfúgio típico dos que dominam a arte de manipular e conseguem emplacar uma narrativa de ódio mascarada de "honestidade" e "autenticidade".

Muitos, fadigados pelos dissabores constantes de uma vida socialmente cruel, realidade vivenciada na pele ou conhecida pela tevê, são atraídos por esse "canto da sereia", sem perceber que quem lhes canta aos ouvidos, não importa se de terno, jaleco, toga, batina ou outro, é justamente quem alimenta a crueldade social que provoca a fadiga. Quem não se comunica (cala, omite), se comunica de maneira ineficiente (falha por falta de competência) ou se comunica com a intenção de prejudicar (mente, manipula, corrompe) comete crime contra a humanidade e é responsável por gerar o estado de caos no qual estamos mergulhados.

De forma contundente estamos constatando que tanto a falta de comunicação quanto a comunicação enviesada pela ausência de evidências científicas podem matar. Quando não há campanha para a prevenção de doenças, por exemplo, ou seja, quando os órgãos responsáveis não informam e orientam a população acerca de um risco para a saúde, a falta dessa comunicação mata. Mantendo o mesmo exemplo, quando a comunicação que se recebe sobre doenças carece de comprovações, de garantias para a proteção da vida e uma pseudossolução é transmitida, perigosamente, apoiada em quase nada além do desejo, vaidade ou teimosia, a comunicação também se converte em arma de destruição em massa.

Na área da saúde, portanto, a falta de comunicação, as tentativas ineficazes e/ou a intenção de prejudicar nos levaram à realidade distópica de, em 2021, não termos consenso no que se refere a algo que é surpreendentemente simples: vacinas salvam vidas. Sabemos disso há mais de 200 anos, basta inteirar-se da história da erradicação da varíola no mundo e, inclusive, a história brasileira de campanhas de imunização para esta e outras doenças. A despeito de todos os nossos esforços (e conquistas!) para proteger a vida, porém, estamos encarando hoje, como nação, um abismo cognitivo, ao colocarmos em dúvida os benefícios da vacina e, até mesmo, de equipamentos de proteção individual que, como o próprio nome indica, servem para proteger.

Constatamos, diante do cenário atual, que a população brasileira, na sua máxima condição de coletividade - recentemente desfalcada em mais de 500 mil pessoas que perderam suas vidas pela pandemia e pelo pandemônio -, padece da falta de uma liderança comunicativa assertiva e positiva para promover as condições de seguirmos uma linha de raciocínio e ação que nos possibilite exteriorizar algumas de nossas melhores qualidades, como a de um país com histórico de sucesso em campanhas de vacinação, por exemplo.

Este fenômeno indica que as pessoas vêm sendo insufladas por uma comunicação beligerante que vem crescendo, em especial, nos últimos anos. O Brasil, do corpo/alma indígena e negro massacrados desde sua origem, foi alicerçado sob a égide da invasão, da negação da liberdade, da destruição e da exploração que não permite troca comunicativa alguma, mas apenas a satisfação da sanha de quem explora. Mas, o Brasil como uma árvore que insiste em brotar no asfalto, também é o avesso dos seus algozes: é a delicadeza, a música, a poesia, as cores todas, a ciência, o grito de basta, o sorriso de quem ama e sonha mesmo diante da brutalidade e do entorpecimento como mecanismo de sobrevivência. Somos um povo de variações linguísticas incríveis, muito profícuo na habilidade de encontrarmos modos criativos para nos comunicarmos, a despeito das limitações geográficas, inclusive.

A comunicação como instrumento para reafirmar a vida ou desencadear a morte se materializa na ação das pessoas que escolhem um ou outro caminho, se posicionam como agentes de manutenção ou transformação de uma ou outra realidade. Neste caso, não há uma terceira via. Se estivermos hígidos, do ponto de vista da saúde geral, não é possível nos isentarmos da responsabilidade: ou escolhemos vida (e estamos sujeitos às variações no espectro da qualidade, claro) ou a ausência dela. Ou escolhemos nos comunicar pela paz ou pela guerra. A ausência de comunicação, neste exemplo, é arriscada já que a atitude isenta pode servir a um ou a outro propósito. Quem gostaria de arriscar, com seu silêncio, a contribuir para a morte?

Como a flecha, a comunicação também não é lançada e percorre seu trajeto sozinha, ela está a nosso serviço, nós somos como um arco teso. Como seres na e para a linguagem trazemos em nós a capacidade, biologicamente determinada, de acertar o alvo. Certamente há muitos brasileiros que apesar de exaustos ainda conseguem imaginar o Brasil se entendendo com o Brasil. São pessoas que projetam e sustentam em suas telas mentais a imagem de um país plural, justo e que lutam por isso da melhor forma que podem, todos os dias, escolhendo a vida. O fazem por todos os filhos, filhas e filhes que aqui habitam e a quem devemos a obrigação moral de uma chance que lhes possibilite acreditar, que não lhes negue a esperança nem os instrumentos necessários para a construção de um futuro melhor que o nosso.

Podemos fazê-lo se assim decidirmos. Isto transcende a minha ou a sua necessidade - isto se refere a nossa, como coletividade. Diz respeito à continuidade da nossa espécie e também à preservação e regeneração de toda forma de vida no planeta. Sim, é fato que ainda precisamos amadurecer muito para comunicarmos nossas necessidades sem julgamentos e animosidades. Mais alguns passos à frente, no entanto, e alcançaremos o estágio de, naturalmente, escolhermos o todo para além de nós mesmos. Precisamos nos lembrar, contudo, que é a punção de vida e não de morte a única capaz de guiar essa iniciativa e de nos dar a oportunidade de findarmos o processo destrutivo que há muito insistimos em alimentar.

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