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O Irlandês que mudou o Jardim Ângela


Por Redação
 Foto: arquivo pessoal.

Benedito Mariano, Sociólogo, Mestre em Ciências Sociais pela PUC-SP. É coordenador do Núcleo de Segurança Pública na Democracia do IREE. Secretário de Segurança Cidadã da Cidade de Diadema. Foi Ouvidor da Polícia do Estado de São Paulo. Membro Associado do Fórum Brasileiro de Segurança Pública. Foi diretor do Centro Santo Dias de Direitos Humanos da Arquidiocese de São Paulo

Conheci o padre Jaime Crowe nos anos 80, quando o bairro do Jardim Angela, na periferia da zona sul de São Paulo, considerado pela Organização das Nações Unidas (ONU) um dos locais mais violentos do mundo. A luta contra a violência e cultura de paz no Jardim Ângela não pode ser contada sem falar desse padre irlandês chamado Jaime.

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No comando da Paroquia Santos Mártires, ele liderou um movimento da sociedade civil local, com caminhadas pela vida e pela paz e a criação de dezenas de projetos sociais. Foi responsável pela formação de dezenas de lideranças populares. Sua paroquia era o ponto de referência dos movimentos sociais e populares.

Em meados de 1996, na condição de Ouvidor da Polícia, a pedido do padre Jaime, organizei um encontro dele com o então secretário de Segurança Pública Jose Afonso da Silva. Na audiência, padre Jaime relatou ao secretário as centenas de mortes violentas no bairro da Jardim Ângela, o que o obrigava a terminar as atividades da paroquia antes das 22:00hs porque ninguém se sentia seguro após este horário.

Lembro-me do secretário Jose Afonso perguntar: "mas padre, e a polícia?", momento em que o padre Jaime disse, sem titubear "a polícia se ausenta meia hora antes do povo". Como resultado desta audiência, o Secretario Jose Afonso propôs um encontro na paroquia Santos Mártires com toda a cúpula da Polícia Civil e Militar.

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Na semana seguinte, por ocasião do encontro, foram para o Jardim Ângela o próprio secretário de segurança pública, o comandante Geral da PM e o Delegado Geral da Polícia Civil, acompanhados de dezenas de policiais com dezenas de viaturas. Após uma fala inicial do Padre Jaime, agradecendo a presença do secretário e dos comandos das Polícias, a primeira fala de uma senhora que estava no encontro foi "Secretário, eu não quero fazer pergunta nenhuma...só peço uma coisa...que o senhor volte outras vezes ao Jd. Ângela...desde que moro aqui, há mais de 20 anos,nunca vi tanta polícia" A paroquiana foi aplaudida de pé pela plateia.

A partir deste encontro com a cúpula da Secretaria de Segurança Pública do Estado, foi criada uma Base Comunitária da Polícia Militar no Jardim Ângela. Padre Jaime inspirou o conceito de polícia de proximidade (comunitária), uma polícia que conhece a população e que, além de criar sensação de segurança, passa a desenvolver com esta uma relação de respeito mútuo.  O policiamento na região também foi intensificado e, gradativamente, foram diminuindo as mortes violentas e a letalidade policial.

Em 2002, quando Lula era candidato a presidente da República e eu era um dos coordenadores do programa de segurança pública da campanha, programamos vários encontros na periferia com o candidato para ouvir a população sobre seus principais problemas na área da segurança pública. O primeiro encontro foi no Jardim Ângela. A paroquia Santos Mártires estava lotada.

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Durante mais de duas horas, a população apresentou ao candidato Lula a situação de violência no bairro. Esse encontro, coordenado pelo padre Jaime, foi inspiração para elaboração das diretrizes de mudanças constitucionais e infraconstitucionais que apresentamos no programa de governo. Após o evento, o padre Jaime convidou o Lula e sua comitiva para uma prosa na sua casa, acompanhada de uma bela caipirinha, uma forma carinhosa que ele tinha de receber seus convidados.

A Teologia da libertação, que indicava uma aproximação da igreja católica com as questões sociais da população, sobretudo da população mais pobre, foi desenvolvida pelo padre Jaime de maneira intensa, marcando sua ação pastoral na periferia da zona sul de São Paulo pela construção de uma igreja radicalmente comprometida com os pobres e com a vida daqueles que são mais excluídos na sociedade.

Padre Jaime deixa seu nome e seu trabalho marcados no Jardim Ângela.Seu legado é uma inspiração para milhares de movimentos sociais e populares pelo que semeou de amor ao próximo e pela sua dedicação as causas dos empobrecidos, como diria Leonardo Boff.

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Que você possa celebrar no céu, com Santo Dias, Dom Paulo Evaristo Arns, Pedro Casaldáliga, Dom Hélder Câmara, Chico Mendes, Dorothy Stang e tantos (as) outros (as) que dedicaram suas vidas para construção de um mundo melhor.

Meu querido amigo e pastor irlandês padre Jaime. Presente sempre.

 Foto: arquivo pessoal.

Benedito Mariano, Sociólogo, Mestre em Ciências Sociais pela PUC-SP. É coordenador do Núcleo de Segurança Pública na Democracia do IREE. Secretário de Segurança Cidadã da Cidade de Diadema. Foi Ouvidor da Polícia do Estado de São Paulo. Membro Associado do Fórum Brasileiro de Segurança Pública. Foi diretor do Centro Santo Dias de Direitos Humanos da Arquidiocese de São Paulo

Conheci o padre Jaime Crowe nos anos 80, quando o bairro do Jardim Angela, na periferia da zona sul de São Paulo, considerado pela Organização das Nações Unidas (ONU) um dos locais mais violentos do mundo. A luta contra a violência e cultura de paz no Jardim Ângela não pode ser contada sem falar desse padre irlandês chamado Jaime.

No comando da Paroquia Santos Mártires, ele liderou um movimento da sociedade civil local, com caminhadas pela vida e pela paz e a criação de dezenas de projetos sociais. Foi responsável pela formação de dezenas de lideranças populares. Sua paroquia era o ponto de referência dos movimentos sociais e populares.

Em meados de 1996, na condição de Ouvidor da Polícia, a pedido do padre Jaime, organizei um encontro dele com o então secretário de Segurança Pública Jose Afonso da Silva. Na audiência, padre Jaime relatou ao secretário as centenas de mortes violentas no bairro da Jardim Ângela, o que o obrigava a terminar as atividades da paroquia antes das 22:00hs porque ninguém se sentia seguro após este horário.

Lembro-me do secretário Jose Afonso perguntar: "mas padre, e a polícia?", momento em que o padre Jaime disse, sem titubear "a polícia se ausenta meia hora antes do povo". Como resultado desta audiência, o Secretario Jose Afonso propôs um encontro na paroquia Santos Mártires com toda a cúpula da Polícia Civil e Militar.

Na semana seguinte, por ocasião do encontro, foram para o Jardim Ângela o próprio secretário de segurança pública, o comandante Geral da PM e o Delegado Geral da Polícia Civil, acompanhados de dezenas de policiais com dezenas de viaturas. Após uma fala inicial do Padre Jaime, agradecendo a presença do secretário e dos comandos das Polícias, a primeira fala de uma senhora que estava no encontro foi "Secretário, eu não quero fazer pergunta nenhuma...só peço uma coisa...que o senhor volte outras vezes ao Jd. Ângela...desde que moro aqui, há mais de 20 anos,nunca vi tanta polícia" A paroquiana foi aplaudida de pé pela plateia.

A partir deste encontro com a cúpula da Secretaria de Segurança Pública do Estado, foi criada uma Base Comunitária da Polícia Militar no Jardim Ângela. Padre Jaime inspirou o conceito de polícia de proximidade (comunitária), uma polícia que conhece a população e que, além de criar sensação de segurança, passa a desenvolver com esta uma relação de respeito mútuo.  O policiamento na região também foi intensificado e, gradativamente, foram diminuindo as mortes violentas e a letalidade policial.

Em 2002, quando Lula era candidato a presidente da República e eu era um dos coordenadores do programa de segurança pública da campanha, programamos vários encontros na periferia com o candidato para ouvir a população sobre seus principais problemas na área da segurança pública. O primeiro encontro foi no Jardim Ângela. A paroquia Santos Mártires estava lotada.

Durante mais de duas horas, a população apresentou ao candidato Lula a situação de violência no bairro. Esse encontro, coordenado pelo padre Jaime, foi inspiração para elaboração das diretrizes de mudanças constitucionais e infraconstitucionais que apresentamos no programa de governo. Após o evento, o padre Jaime convidou o Lula e sua comitiva para uma prosa na sua casa, acompanhada de uma bela caipirinha, uma forma carinhosa que ele tinha de receber seus convidados.

A Teologia da libertação, que indicava uma aproximação da igreja católica com as questões sociais da população, sobretudo da população mais pobre, foi desenvolvida pelo padre Jaime de maneira intensa, marcando sua ação pastoral na periferia da zona sul de São Paulo pela construção de uma igreja radicalmente comprometida com os pobres e com a vida daqueles que são mais excluídos na sociedade.

Padre Jaime deixa seu nome e seu trabalho marcados no Jardim Ângela.Seu legado é uma inspiração para milhares de movimentos sociais e populares pelo que semeou de amor ao próximo e pela sua dedicação as causas dos empobrecidos, como diria Leonardo Boff.

Que você possa celebrar no céu, com Santo Dias, Dom Paulo Evaristo Arns, Pedro Casaldáliga, Dom Hélder Câmara, Chico Mendes, Dorothy Stang e tantos (as) outros (as) que dedicaram suas vidas para construção de um mundo melhor.

Meu querido amigo e pastor irlandês padre Jaime. Presente sempre.

 Foto: arquivo pessoal.

Benedito Mariano, Sociólogo, Mestre em Ciências Sociais pela PUC-SP. É coordenador do Núcleo de Segurança Pública na Democracia do IREE. Secretário de Segurança Cidadã da Cidade de Diadema. Foi Ouvidor da Polícia do Estado de São Paulo. Membro Associado do Fórum Brasileiro de Segurança Pública. Foi diretor do Centro Santo Dias de Direitos Humanos da Arquidiocese de São Paulo

Conheci o padre Jaime Crowe nos anos 80, quando o bairro do Jardim Angela, na periferia da zona sul de São Paulo, considerado pela Organização das Nações Unidas (ONU) um dos locais mais violentos do mundo. A luta contra a violência e cultura de paz no Jardim Ângela não pode ser contada sem falar desse padre irlandês chamado Jaime.

No comando da Paroquia Santos Mártires, ele liderou um movimento da sociedade civil local, com caminhadas pela vida e pela paz e a criação de dezenas de projetos sociais. Foi responsável pela formação de dezenas de lideranças populares. Sua paroquia era o ponto de referência dos movimentos sociais e populares.

Em meados de 1996, na condição de Ouvidor da Polícia, a pedido do padre Jaime, organizei um encontro dele com o então secretário de Segurança Pública Jose Afonso da Silva. Na audiência, padre Jaime relatou ao secretário as centenas de mortes violentas no bairro da Jardim Ângela, o que o obrigava a terminar as atividades da paroquia antes das 22:00hs porque ninguém se sentia seguro após este horário.

Lembro-me do secretário Jose Afonso perguntar: "mas padre, e a polícia?", momento em que o padre Jaime disse, sem titubear "a polícia se ausenta meia hora antes do povo". Como resultado desta audiência, o Secretario Jose Afonso propôs um encontro na paroquia Santos Mártires com toda a cúpula da Polícia Civil e Militar.

Na semana seguinte, por ocasião do encontro, foram para o Jardim Ângela o próprio secretário de segurança pública, o comandante Geral da PM e o Delegado Geral da Polícia Civil, acompanhados de dezenas de policiais com dezenas de viaturas. Após uma fala inicial do Padre Jaime, agradecendo a presença do secretário e dos comandos das Polícias, a primeira fala de uma senhora que estava no encontro foi "Secretário, eu não quero fazer pergunta nenhuma...só peço uma coisa...que o senhor volte outras vezes ao Jd. Ângela...desde que moro aqui, há mais de 20 anos,nunca vi tanta polícia" A paroquiana foi aplaudida de pé pela plateia.

A partir deste encontro com a cúpula da Secretaria de Segurança Pública do Estado, foi criada uma Base Comunitária da Polícia Militar no Jardim Ângela. Padre Jaime inspirou o conceito de polícia de proximidade (comunitária), uma polícia que conhece a população e que, além de criar sensação de segurança, passa a desenvolver com esta uma relação de respeito mútuo.  O policiamento na região também foi intensificado e, gradativamente, foram diminuindo as mortes violentas e a letalidade policial.

Em 2002, quando Lula era candidato a presidente da República e eu era um dos coordenadores do programa de segurança pública da campanha, programamos vários encontros na periferia com o candidato para ouvir a população sobre seus principais problemas na área da segurança pública. O primeiro encontro foi no Jardim Ângela. A paroquia Santos Mártires estava lotada.

Durante mais de duas horas, a população apresentou ao candidato Lula a situação de violência no bairro. Esse encontro, coordenado pelo padre Jaime, foi inspiração para elaboração das diretrizes de mudanças constitucionais e infraconstitucionais que apresentamos no programa de governo. Após o evento, o padre Jaime convidou o Lula e sua comitiva para uma prosa na sua casa, acompanhada de uma bela caipirinha, uma forma carinhosa que ele tinha de receber seus convidados.

A Teologia da libertação, que indicava uma aproximação da igreja católica com as questões sociais da população, sobretudo da população mais pobre, foi desenvolvida pelo padre Jaime de maneira intensa, marcando sua ação pastoral na periferia da zona sul de São Paulo pela construção de uma igreja radicalmente comprometida com os pobres e com a vida daqueles que são mais excluídos na sociedade.

Padre Jaime deixa seu nome e seu trabalho marcados no Jardim Ângela.Seu legado é uma inspiração para milhares de movimentos sociais e populares pelo que semeou de amor ao próximo e pela sua dedicação as causas dos empobrecidos, como diria Leonardo Boff.

Que você possa celebrar no céu, com Santo Dias, Dom Paulo Evaristo Arns, Pedro Casaldáliga, Dom Hélder Câmara, Chico Mendes, Dorothy Stang e tantos (as) outros (as) que dedicaram suas vidas para construção de um mundo melhor.

Meu querido amigo e pastor irlandês padre Jaime. Presente sempre.

 Foto: arquivo pessoal.

Benedito Mariano, Sociólogo, Mestre em Ciências Sociais pela PUC-SP. É coordenador do Núcleo de Segurança Pública na Democracia do IREE. Secretário de Segurança Cidadã da Cidade de Diadema. Foi Ouvidor da Polícia do Estado de São Paulo. Membro Associado do Fórum Brasileiro de Segurança Pública. Foi diretor do Centro Santo Dias de Direitos Humanos da Arquidiocese de São Paulo

Conheci o padre Jaime Crowe nos anos 80, quando o bairro do Jardim Angela, na periferia da zona sul de São Paulo, considerado pela Organização das Nações Unidas (ONU) um dos locais mais violentos do mundo. A luta contra a violência e cultura de paz no Jardim Ângela não pode ser contada sem falar desse padre irlandês chamado Jaime.

No comando da Paroquia Santos Mártires, ele liderou um movimento da sociedade civil local, com caminhadas pela vida e pela paz e a criação de dezenas de projetos sociais. Foi responsável pela formação de dezenas de lideranças populares. Sua paroquia era o ponto de referência dos movimentos sociais e populares.

Em meados de 1996, na condição de Ouvidor da Polícia, a pedido do padre Jaime, organizei um encontro dele com o então secretário de Segurança Pública Jose Afonso da Silva. Na audiência, padre Jaime relatou ao secretário as centenas de mortes violentas no bairro da Jardim Ângela, o que o obrigava a terminar as atividades da paroquia antes das 22:00hs porque ninguém se sentia seguro após este horário.

Lembro-me do secretário Jose Afonso perguntar: "mas padre, e a polícia?", momento em que o padre Jaime disse, sem titubear "a polícia se ausenta meia hora antes do povo". Como resultado desta audiência, o Secretario Jose Afonso propôs um encontro na paroquia Santos Mártires com toda a cúpula da Polícia Civil e Militar.

Na semana seguinte, por ocasião do encontro, foram para o Jardim Ângela o próprio secretário de segurança pública, o comandante Geral da PM e o Delegado Geral da Polícia Civil, acompanhados de dezenas de policiais com dezenas de viaturas. Após uma fala inicial do Padre Jaime, agradecendo a presença do secretário e dos comandos das Polícias, a primeira fala de uma senhora que estava no encontro foi "Secretário, eu não quero fazer pergunta nenhuma...só peço uma coisa...que o senhor volte outras vezes ao Jd. Ângela...desde que moro aqui, há mais de 20 anos,nunca vi tanta polícia" A paroquiana foi aplaudida de pé pela plateia.

A partir deste encontro com a cúpula da Secretaria de Segurança Pública do Estado, foi criada uma Base Comunitária da Polícia Militar no Jardim Ângela. Padre Jaime inspirou o conceito de polícia de proximidade (comunitária), uma polícia que conhece a população e que, além de criar sensação de segurança, passa a desenvolver com esta uma relação de respeito mútuo.  O policiamento na região também foi intensificado e, gradativamente, foram diminuindo as mortes violentas e a letalidade policial.

Em 2002, quando Lula era candidato a presidente da República e eu era um dos coordenadores do programa de segurança pública da campanha, programamos vários encontros na periferia com o candidato para ouvir a população sobre seus principais problemas na área da segurança pública. O primeiro encontro foi no Jardim Ângela. A paroquia Santos Mártires estava lotada.

Durante mais de duas horas, a população apresentou ao candidato Lula a situação de violência no bairro. Esse encontro, coordenado pelo padre Jaime, foi inspiração para elaboração das diretrizes de mudanças constitucionais e infraconstitucionais que apresentamos no programa de governo. Após o evento, o padre Jaime convidou o Lula e sua comitiva para uma prosa na sua casa, acompanhada de uma bela caipirinha, uma forma carinhosa que ele tinha de receber seus convidados.

A Teologia da libertação, que indicava uma aproximação da igreja católica com as questões sociais da população, sobretudo da população mais pobre, foi desenvolvida pelo padre Jaime de maneira intensa, marcando sua ação pastoral na periferia da zona sul de São Paulo pela construção de uma igreja radicalmente comprometida com os pobres e com a vida daqueles que são mais excluídos na sociedade.

Padre Jaime deixa seu nome e seu trabalho marcados no Jardim Ângela.Seu legado é uma inspiração para milhares de movimentos sociais e populares pelo que semeou de amor ao próximo e pela sua dedicação as causas dos empobrecidos, como diria Leonardo Boff.

Que você possa celebrar no céu, com Santo Dias, Dom Paulo Evaristo Arns, Pedro Casaldáliga, Dom Hélder Câmara, Chico Mendes, Dorothy Stang e tantos (as) outros (as) que dedicaram suas vidas para construção de um mundo melhor.

Meu querido amigo e pastor irlandês padre Jaime. Presente sempre.

 Foto: arquivo pessoal.

Benedito Mariano, Sociólogo, Mestre em Ciências Sociais pela PUC-SP. É coordenador do Núcleo de Segurança Pública na Democracia do IREE. Secretário de Segurança Cidadã da Cidade de Diadema. Foi Ouvidor da Polícia do Estado de São Paulo. Membro Associado do Fórum Brasileiro de Segurança Pública. Foi diretor do Centro Santo Dias de Direitos Humanos da Arquidiocese de São Paulo

Conheci o padre Jaime Crowe nos anos 80, quando o bairro do Jardim Angela, na periferia da zona sul de São Paulo, considerado pela Organização das Nações Unidas (ONU) um dos locais mais violentos do mundo. A luta contra a violência e cultura de paz no Jardim Ângela não pode ser contada sem falar desse padre irlandês chamado Jaime.

No comando da Paroquia Santos Mártires, ele liderou um movimento da sociedade civil local, com caminhadas pela vida e pela paz e a criação de dezenas de projetos sociais. Foi responsável pela formação de dezenas de lideranças populares. Sua paroquia era o ponto de referência dos movimentos sociais e populares.

Em meados de 1996, na condição de Ouvidor da Polícia, a pedido do padre Jaime, organizei um encontro dele com o então secretário de Segurança Pública Jose Afonso da Silva. Na audiência, padre Jaime relatou ao secretário as centenas de mortes violentas no bairro da Jardim Ângela, o que o obrigava a terminar as atividades da paroquia antes das 22:00hs porque ninguém se sentia seguro após este horário.

Lembro-me do secretário Jose Afonso perguntar: "mas padre, e a polícia?", momento em que o padre Jaime disse, sem titubear "a polícia se ausenta meia hora antes do povo". Como resultado desta audiência, o Secretario Jose Afonso propôs um encontro na paroquia Santos Mártires com toda a cúpula da Polícia Civil e Militar.

Na semana seguinte, por ocasião do encontro, foram para o Jardim Ângela o próprio secretário de segurança pública, o comandante Geral da PM e o Delegado Geral da Polícia Civil, acompanhados de dezenas de policiais com dezenas de viaturas. Após uma fala inicial do Padre Jaime, agradecendo a presença do secretário e dos comandos das Polícias, a primeira fala de uma senhora que estava no encontro foi "Secretário, eu não quero fazer pergunta nenhuma...só peço uma coisa...que o senhor volte outras vezes ao Jd. Ângela...desde que moro aqui, há mais de 20 anos,nunca vi tanta polícia" A paroquiana foi aplaudida de pé pela plateia.

A partir deste encontro com a cúpula da Secretaria de Segurança Pública do Estado, foi criada uma Base Comunitária da Polícia Militar no Jardim Ângela. Padre Jaime inspirou o conceito de polícia de proximidade (comunitária), uma polícia que conhece a população e que, além de criar sensação de segurança, passa a desenvolver com esta uma relação de respeito mútuo.  O policiamento na região também foi intensificado e, gradativamente, foram diminuindo as mortes violentas e a letalidade policial.

Em 2002, quando Lula era candidato a presidente da República e eu era um dos coordenadores do programa de segurança pública da campanha, programamos vários encontros na periferia com o candidato para ouvir a população sobre seus principais problemas na área da segurança pública. O primeiro encontro foi no Jardim Ângela. A paroquia Santos Mártires estava lotada.

Durante mais de duas horas, a população apresentou ao candidato Lula a situação de violência no bairro. Esse encontro, coordenado pelo padre Jaime, foi inspiração para elaboração das diretrizes de mudanças constitucionais e infraconstitucionais que apresentamos no programa de governo. Após o evento, o padre Jaime convidou o Lula e sua comitiva para uma prosa na sua casa, acompanhada de uma bela caipirinha, uma forma carinhosa que ele tinha de receber seus convidados.

A Teologia da libertação, que indicava uma aproximação da igreja católica com as questões sociais da população, sobretudo da população mais pobre, foi desenvolvida pelo padre Jaime de maneira intensa, marcando sua ação pastoral na periferia da zona sul de São Paulo pela construção de uma igreja radicalmente comprometida com os pobres e com a vida daqueles que são mais excluídos na sociedade.

Padre Jaime deixa seu nome e seu trabalho marcados no Jardim Ângela.Seu legado é uma inspiração para milhares de movimentos sociais e populares pelo que semeou de amor ao próximo e pela sua dedicação as causas dos empobrecidos, como diria Leonardo Boff.

Que você possa celebrar no céu, com Santo Dias, Dom Paulo Evaristo Arns, Pedro Casaldáliga, Dom Hélder Câmara, Chico Mendes, Dorothy Stang e tantos (as) outros (as) que dedicaram suas vidas para construção de um mundo melhor.

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