“É flash mob, Giuliana”, disse um colega de trabalho, incrédulo, diante do que eu estava mostrando. Difícil mesmo acreditar naquela cena. Entrei na redação apressada, com celular na mão. A transmissão era ao vivo por redes sociais. Em questão de minutos, descobrimos que não se tratava de flash mob, não era teatro, era a deputada federal Carla Zambelli (PL-SP) zanzando pelas ruas dos Jardins, com uma arma em punho.
Quem não tem a figurinha de Zambelli andando armada, de camiseta verde e cabelos vermelhos? Nos grupos do zap, a figurinha substitui o emoji de 🔥🎪, ou de 🤡. Na visão de bolsonaristas, o ato de Zambelli na véspera do segundo turno das eleições provocou fuga de votos e contribuiu para a derrota de Jair Bolsonaro.
A jornada de Zambelli na política tem sido um tiro no pé. Toda legislatura tem lá seus representantes do chamado baixo clero, que fazem barulho por nada. Zambelli é diferente, acerta o alvo contra si mesma e contra quem estiver por perto.
Ainda na pandemia, gritou pelo negacionismo. Foi contrariada pela realidade dos fatos e do vírus. Diagnosticada com covid-19, apareceu com uma receita médica de dermatologista, que prescreveu cloroquina. E, recentemente, foi parar na uti, também com diagnóstico de covid.
Agora, o hacker Walter Delgatti disse em depoimento à Polícia Federal que Zambelli pediu a ele para invadir urnas eletrônicas. Segundo Delgatti, Zambelli pediu ainda que ele invadisse a conta do ministro do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes.
Fiel escudeira de Jair Bolsonaro, Zambelli teve dias de glória com o poder. Foi quando o então ministro da Justiça de Bolsonaro, Sergio Moro, deu uma de cupido e a apresentou ao coronel Aginaldo, então chefe da Força de Segurança Nacional, uma autoridade em tiros.
A flecha do amor foi certeira e Moro foi padrinho de casamento. A amizade desandou, Moro se afastou e hoje, no senado, nem chama mais de prezada a afilhada.
Cada vez mais isolada, Zambelli tem sido “espanta rodinha” em grupos de parlamentares conservadores.