Sem vínculos com o setor de ensino e sem possuir cargo público, um grupo de religiosos comandava a agenda do ex-ministro da Educação Milton Ribeiro. O chamado “gabinete paralelo de pastores” foi o primeiro de uma série de escândalos revelados pelo Estadão que atingiram o Ministério da Educação neste ano. As denúncias envolvem, ainda, pagamentos de propina, preços inflados em pregão e até a construção de “escolas fake”.
As denúncias levaram à abertura de investigações no Tribunal de Contas da União, no Ministério Público e podem se tornar objetos de uma Comissão Parlamentar de Inquérito articulada no Senado.
Confira os escândalos que atingem o MEC:
Em março, o Estadão mostrou que o gabinete de Milton Ribeiro foi capturado por um grupo de pastores ligados a ele. Embora sem vínculo com a administração pública, os religiosos atuavam como lobistas, decidindo, inclusive, a destinação dos recursos da pasta. Em conversa revelada pelo jornal Folha de S.Paulo, o ex-ministro admitiu que priorizava o atendimento a prefeitos que chegavam por meio dos pastores Gilmar dos Santos e Arilton Moura. O caso levou à demissão de Ribeiro e de assessores.
O trânsito livre destes religiosos facilitou não apenas a liberação de dinheiro da pasta em prazo recorde, mas também o pagamento de propinas para facilitar o acesso ao ex-ministro. Um dos pastores envolvidos no caso, Arilton Moura pediu pagamentos de até 1 quilo de ouro em troca de recursos para construção de escolas e creches.
A atuação do gabinete envolvia também a compra de Bíblias para serem distribuídas nas cidades que recebiam a visita de Ribeiro, e dinheiro para a igreja evangélica, como mostrou o Estadão. Os exemplares continham fotografias do ex-ministro e dos pastores citados, além de material promocional do MEC.
Em abril, o Estadão revelou que o governo preparava uma licitação com risco de sobrepreço de mais de R$ 700 milhões para compra de ônibus escolares. Após a publicação da reportagem, o pregão economizou R$ 500 milhões do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE). Integrantes do governo pressionaram para que alertas de preços inflados emitidos por órgãos de controle fossem desconsiderados.
O MEC foi alvo de mais uma polêmica após o Estadão mostrar nesta semana que a pasta autorizou a construção de 2 mil unidades escolares a despeito de outras 3,5 mil escolas inacabadas. O esquema de “escolas fake” tem como base o FNDE, capitaneado pelo ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira (PP-PI). Sem previsão orçamentária para conclusão das novas unidades, a construção é usada como palanque de campanha. As escolas são anunciadas por deputados e senadores em ano eleitoral sem nunca saírem de fato do papel.
O presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), também se envolveu em polêmicas na Educação. Uma empresa alagoana contratada para fornecer kits de robótica vendeu equipamentos com lucros de até 420% em comparação ao que pagou. Segundo a Folha de S.Paulo, um dos sócios da companhia é familiar de um aliado de Lira.