Atualizada às 19h23
BRASÍLIA - O governo já prepara uma estratégia de defesa com relação ao anúncio do presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), de aceitar a ação que pede o impeachment da presidente Dilma Rousseff, irritado com a decisão do PT de votar contra sua anistia no Conselho de Ética. O governo afirma que entrará no Supremo Tribunal Federal (STF) para contestar a medida, sob a alegação de que ele age por vingança, sem que haja crime de responsabilidade a ser imputado à presidente.
Embora a tática de resistência tenha sido discutida nesta quarta-feira, 2, no Palácio do Planalto, o governo esperava não ser obrigado a tomar essa atitude extrema. Na avaliação de auxiliares de Dilma, a decisão dos três representantes do PT no Conselho de Ética de votar a favor da continuidade do processo contra Cunha, à revelia do Planalto, foi uma “questão de sobrevivência” para o partido, brutalmente atingido por escândalos de corrupção.
No núcleo do governo, o diagnóstico da maioria foi o de que a cúpula do PT optou por salvar o seu lado, às vésperas do ano eleitoral de 2016, deixando Dilma se virar sozinha. Na prática, apenas os ministros da Comunicação Social, Edinho Silva, e da Justiça, José Eduardo Cardozo, achavam que o PT deveria ir para o enfrentamento contra Cunha no Conselho de Ética. Jaques Wagner (Casa Civil) e Ricardo Berzoini (Secretaria de Governo) sempre trabalharam para não provocar o presidente da Câmara.
O discurso oficial é o de que o governo tem votos no plenário para derrubar o impeachment, mesmo se o Supremo não for acionado. Em conversas reservadas, porém, ministros admitem que o cenário político, hoje, é de total incerteza. “Nós temos de nos preparar para o pior porque, se vier o melhor, será lucro”, afirmou um interlocutor da presidente. Nos bastidores, aliados do governo apostam que a Procuradoria Geral da República poderá afastar Cunha do comando da Câmara, antes mesmo do veredicto do Conselho de Ética, caso ele use o cargo para se proteger e tentar depor Dilma. "O que Cunha está fazendo com o Planalto é chantagem", disse um asssessor de Dilma.