BRASÍLIA – O governo prepara retaliação aos deputados de partidos da base de apoio que assinaram o pedido de impeachment contra o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), protocolado na Câmara na semana passada. Para o revide, petistas apontam que o Executivo pode prejudicar o repasse de emendas e suspender indicações feitas por esses parlamentares a cargos regionais.
O posicionamento foi sinalizado pelo líder do governo na Casa, José Guimarães (PT-CE), em um encontro que reuniu o líder do PSB, Gervásio Maia (PB), e o do PSD, Antônio Britto (BA), nesta terça-feira, 27. O deputado petista avisou aos partidos aliados que os parlamentares serão tratados como persona non grata pelo Palácio do Planalto e não serão recebidos por ministros.
O uso da expressão persona non grata por governistas é um trocadilho com o tratamento que Israel deu a Lula, considerado presença indesejada naquele país após comparar os bombardeios israelenses na Faixa de Gaza ao Holocausto. O pedido de impeachment, de autoria da bolsonarista Carla Zambelli (PL-SP), tem como motivação justamente a fala do petista sobre Israel.
Cinco deputados do PSD, legenda de Britto, assinaram o requerimento. São eles: Sargento Fahur (PR), Ismael (SC), Reinhold Stephanes (PR), Darci de Matos (SC) e Stefano Aguiar (MG).
O PSD tem ministérios (Agricultura, Pesca e Minas e Energia) no governo Lula e, ainda assim, teve deputados que aderiram ao pedido de impeachment de Lula. Há também signatários do União Brasil, do Republicanos e do PP, que comandam pastas na Esplanada.
No entendimento dos parlamentares presentes na reunião, não há razão para deputados que são da base do governo aderirem a um pedido de impeachment contra o presidente. Uma lista de todos os parlamentares da base governista signatários está pronta para ser encaminhada ao Planalto.
“Formou-se um consenso entre nós de que é incompatível o parlamentar ser da base do governo, ter relação com o governo e assinar pedido de impeachment”, escreveu Guimarães no X (antigo Twitter). “Isso não é razoável e a minha posição é encaminhar a lista desses parlamentares para que o governo tome providências.”
De acordo com uma liderança da Câmara ouvida pelo Broadcast Político/Estadão, mesmo que o pedido de cassação de Lula não avance, apoiar o impeachment é algo que “magoa” e “não será esquecido”. Se, por um lado, o Planalto critica os deputados da base aliada que endossaram o documento, por outro, elogia os integrantes do oposicionista PL que não assinaram o texto. Esses parlamentares devem ser mais bem recebidos por ministros.
Leia Também:
O pedido de impeachment feito por Zambelli foi protocolado com 139 assinaturas, com mais cinco aditamentos a serem protocolados. Cabe ao presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), decidir dar abertura ao pedido ou não. Ele pode arquivar a proposta ou mantê-la na gaveta, já que não há um prazo determinado para avaliação.
O presidente da Câmara tem se aproximado do governo após um início de ano turbulento na relação entre o Planalto e o deputado, que rompeu relações com o ministro da Secretaria de Relações Institucionais, Alexandre Padilha, responsável pela articulação política do governo com o Congresso, por insatisfação com regras para a liberação de recursos da Saúde.
Antes do carnaval, Lula e Lira se reuniram e decidiram construir juntos uma candidatura à sucessão na Câmara – a eleição ocorrerá em fevereiro de 2025. Na última quinta-feira, 22, Lula recebeu Lira e os líderes partidários da Câmara para um “happy hour” no Palácio do Alvorada. O encontro foi promovido pelo governo para estreitar a relação do Executivo com as bancadas e, principalmente, com o presidente da Casa. O petista ganhou de presente um uísque, na ocasião, e prometeu chamar os parlamentares para um churrasco na próxima vez.
Como mostrou o Estadão, parlamentares e lideranças do Centrão creem que a proposta não deve prosperar. O líder do União Brasil na Câmara, Elmar Nascimento (BA) por exemplo, é um dos que minimizam. Para ele, trata-se de um “factoide”.