BRASÍLIA - Exonerado da presidência da EBC após o Estadão revelar que compartilhou uma publicação que chamava apoiadores de Israel de “idiotas”, o jornalista Hélio Doyle vai seguir ganhando salário do governo por mais seis meses. Isso porque a Comissão de Ética Pública decidiu conceder quarentena remunerada a Doyle. Na prática, o jornalista não poderá atuar na iniciativa privada por um semestre, mas, por outro lado, será recompensado com a mesma remuneração que recebia na EBC, ou seja, R$ 34.895,78. “Preenchi o pedido, encaminhei à comissão e fui comunicado da decisão”, afirmou Doyle, informando ter sido orientado a apresentar o pedido à comissão.
O jornalista foi exonerado em outubro após compartilhar um tuíte do cartunista e ativista político Carlos Latuff que dizia: “Não precisa ser sionista para apoiar Israel. Ser um idiota é o bastante”. O jornalista estava à frente da EBC desde fevereiro, ou seja, passou oito meses no cargo.
A decisão da Comissão de Ética Pública foi tomada em reunião no dia 11 de dezembro, a última do colegiado em 2024. Por regra, a quarentena remunerada é concedida a ex-servidores do alto escalão do governo federal que tiveram acesso a informações privilegiadas e, por isso, podem favorecer empresas da iniciativa privada.
Conforme antecipado pelo Estadão, a ex-ministra dos Esportes Ana Moser também também ganhou o benefício após ser exonerada do cargo pelo presidente Lula (PT) para dar mais espaço ao Centrão no governo.
Um documento obtido pela reportagem revela que Moser, contudo, não apresentou proposta de trabalho ao pedir a quarentena remunerada ao colegiado.
“Fui contatada por diversas empresas, com as quais estabeleci relacionamento antes e durante o exercício do cargo de Ministra do Esporte, para atuar como consultora em matérias relacionadas às áreas de competência do Ministério do Esporte”, alegou ela.
Pela jurisprudência da Comissão de Ética, a apresentação de uma proposta de trabalho só seria dispensável em caso de cargos que atuam em áreas sensíveis, como um ministro da Economia ou um presidente do Banco Central.