Atualizado às 10h55 de 30 de novembro para correção de informações
BRASÍLIA - Uma troca de e-mails obtida pelo Estado mostra que o advogado e lobista Mauro Marcondes – preso pela Operação Zelotes por intermediar a suposta compra de uma medida provisória no governo Lula – atuou em favor da empresa que fabrica os caças Grippen, a sueca Saab Aviation, antes de ser concluída a negociação da Força Aérea Brasileira para comprar os novos equipamentos. As mensagens mostram que um executivo da empresa buscou a ajuda de Marcondes para conseguir uma reunião com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
A reportagem teve acesso às mensagens eletrônicas entre o diretor da campanha do Grippen, Andrew Wilkinson, e Cristina Mautoni, mulher e sócia de Mauro Marcondes na consultoria Marcondes & Mautoni. Em um e-mail com data de 4 de setembro de 2012, Wilkinson diz a Cristina que o presidente dos Conselhos de Administração da Saab, Marcus Wallenberg, gostaria de se encontrar com “L” durante visita ao Brasil em novembro daquele ano.
“Ele (Marcus) pergunta se nós podemos adicionar na carta um pedido para ele se encontrar com L durante sua visita ao Brasil em novembro”, escreveu em inglês Wilkinson. Em menos de três minutos, Cristina repassa o texto a uma auxiliar, identificada como Fabiane Trindade: “Falar urgente com Mauro”.
Por fim, Fabiane encaminha a seguinte mensagem a um destinatário identificado como Bruno Souza: “Para o conhecimento, o Dr. Mauro quer ligar no Instituto Lula para falar com ele, após eleições”.
Em depoimento à Polícia Federal no inquérito que investiga seu envolvimento em suposto esquema de compra de medidas provisórias para garantir isenção fiscal a montadoras de veículos, Marcondes citou um “Bruno” como sendo estagiário de sua consultoria. A troca de mensagens ocorreu no período de eleições municipais no País.
Ministro. Além de pedido para agendar a conversa com Lula, Marcondes intermediou uma reunião do CEO da Saab Aviation, Âve Svensson, com o então ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Miguel Jorge. Realizado na sede do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), o encontro foi registrado na agenda oficial do ministério no dia 5 de junho de 2009.
Na semana passada, um novo mandado de prisão contra o casal Mauro e Cristina Marcondes foi autorizado pela Justiça e também atingiu outro lobista, Francisco Mirto Florêncio da Silva. Eles são acusados de ter contratado uma investigação clandestina para espionar o procurador José Alfredo de Paula Silva.
Um registro encontrado pela Operação Zelotes indica que o fato ocorreu em 2010, mesmo ano em que o procurador investigava as negociações para a compra dos 36 caças pela Força Aérea Brasileira.
Três empresas disputaram a fase final da licitação dos caças: a sueca Saab, que fabrica o Grippen; a americana Boeing, com o F/A 18E Superhornnet; e a Dassault, do francês Rafale. Em 7 de setembro de 2009, o então presidente Lula chegou a anunciar a negociação para a compra dos Rafale durante visita ao País do então presidente da França, Nicolas Sarkozy.
O anúncio causou mal-estar entre os demais concorrentes. O então ministro da Defesa, Nelson Jobim, negou que o negócio havia sido fechado. A FAB também não gostou do anúncio, pois defendia que o Grippen era a melhor opção. Àquela oportunidade, Lula preferia fechar com a França por outros interesses geopolíticos.
Lobby. A Saab reforçou o lobby em favor do caça sueco. Pupilo de Lula e atual prefeito de São Bernardo do Campo, Luiz Marinho (PT) sempre foi um dos maiores entusiastas do Grippen. O prefeito tem relações com Mauro Marcondes, que foi doador de sua campanha.
A Saab fez parceria com uma empresa de Mauá, município limítrofe a São Bernardo, para a criação de uma nova empresa para produção de equipamentos do caça sueco no País.
Segundo investigadores da Zelotes, o escritório de Marcondes teria intermediado a edição da MP 471, de 2009, com benefícios ao setor automotivo.
Mauro Marcondes fez carreira no setor automotivo e, entre outros cargos, foi diretor de Relações Governamentais da Scania, em São Bernardo - ele deixou a empresa em 2005 e nunca a presidiu, ao contrário do publicado anteriormente pela reportagem. A montadora de caminhões também é da Suécia e tem logotipo quase idêntico ao da Saab, mas a fusão entre as duas empresas foi desfeita em 1995 - a reportagem dizia incorretamente que a Saab controlava a Scania.
Advogados, petista e ex-ministro não comentam o caso
A defesa de Mauro e Cristina Marcondes afirmou ao Estado que não iria se pronunciar a respeito da troca de mensagens eletrônicas e da intermediação de reuniões entre representantes da sueca Saab, fabricante dos caças Grippen comprados pela Aeronáutica, e autoridades e políticos brasileiros.
Procurado pela reportagem, o Instituto Lula também informou que não iria se manifestar a respeito do caso. A Saab informou à reportagem que, “por razões comerciais, uma vez que os nossos concorrentes também reúnem-se com os tomadores de decisão”, não pode “dar informações detalhadas sobre reuniões específicas”.
O ex-ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior Miguel Jorge foi procurado para comentar a reunião com o CEO da Saab Aviation, Âve Svensson, mas não se manifestou até agora.