No momento em que o PT intensifica o movimento pelo voto útil para tentar consolidar a vitória do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) no próximo domingo, líderes e representantes de organizações da sociedade civil já articulam um ato político para o dia 6 de outubro. O objetivo é anunciar uma “frente ampla” contra o presidente Jair Bolsonaro (PL), caso haja segundo turno.
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A ideia do evento, mobilizado pelos grupos Direitos Já e Pacto pela Cidadania, é reunir no mesmo palanque na Casa de Portugal, na capital paulista, os candidatos derrotados no primeiro turno, presidentes de partidos, artistas, juristas e exibir em telão depoimentos de ex-chefes de Estado. Para não constranger candidatos neste momento da campanha, os grupos evitam por ora dizer que se trata de ato em apoio a Lula e classificam o movimento como uma iniciativa contra Bolsonaro.
Coordenador do Direitos Já, o sociólogo Fernando Guimarães ressaltou que o evento já estava marcado desde setembro. “Se tiver segundo turno, a ideia é reunir lideranças da esquerda à direita da sociedade civil em uma frente para derrotar Bolsonaro e seu projeto autoritário. Respeitosamente faremos o diálogo com os candidatos derrotados no primeiro turno. Já estamos conversando com os respectivos partidos”, disse Guimarães.
Se o petista vencer no primeiro turno, o ato será mantido, mas terá como objetivo reconhecer o resultado das urnas, exaltar o trabalho do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e blindar o presidente eleito de eventuais iniciativas golpistas como a que ocorreu no Capitólio nos Estados Unidos após a derrota de Donald Trump.
O evento pretende contar com a presença de quadros políticos que não se manifestaram no primeiro turno, como o senador José Serra (PSDB), além da senadora Simone Tebet (MS), candidata do MDB à Presidência, empresários, juristas, artistas e ativistas como Neca Setúbal.
Fernando Guimarães, sociólogo e coordenador do Diretas Já
O PT espera reunir no ato os principais quadros do MDB e não descarta nem a presença do ex-presidente Michel Temer, que deve se reunir com o ex-presidente Lula. Oficialmente, porém, a tendência é a sigla liberar seus filiados em eventual segunda etapa do pleito.
Primeiro turno
Em outra frente, há um movimento em organização para o dia do primeiro turno – e dias subsequentes – com intuito de manter uma vigília em defesa do processo eleitoral e reagir a eventuais ameaças de desrespeito às eleições. Essa iniciativa engloba o Direitos Já e o Pacto pela Democracia, mas não só eles. Estão juntos a Conectas, a Comissão Arns, a Ordem dos Advogados do Brasil seccional São Paulo (OAB-SP) e lideranças da sociedade civil que integraram os atos de 11 de agosto, na Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo (USP).
“Nossa preocupação é que alguma ação maliciosa questione o resultado das eleições”, afirmou o professor de Direito da FGV-SP Oscar Vilhena, um dos articuladores do manifesto que reuniu entidades empresariais, como a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), e outros movimentos em torno da defesa do processo eleitoral no dia 11 de agosto.
Oscar Vilhena, professor de Direito da FGV-SP
Os integrantes desse coletivo formaram o que chamam de “mesa de iniciativas”, com reuniões semanais para monitorar as ações e narrativas bolsonaristas com o intuito de elaborar respostas rápidas em caso de ameaças golpistas. As reuniões serão mantidas no pós-eleição. No dia 2 de outubro, representantes dos grupos estarão juntos na sede da OAB-SP para acompanhar os desdobramentos da data.
“A ideia é que todas essas iniciativas estejam coordenadas no dia da eleição e nos dias seguintes, para reação da sociedade civil. Faremos uma vigília cívica em torno da defesa da integridade das eleições”, afirmou Vilhena.
Segundo ele, o movimento é suprapartidário e não se confunde com o ato que será realizado após o primeiro turno de frente ampla contra Bolsonaro. “São coisas distintas. A vigília no dia 2 tem o mesmo espírito do ato do dia 11 de agosto”, disse o professor da FGV.