O petista Fernando Haddad, pré-candidato ao governo de São Paulo, não desistiu de ter Marina Silva como parceira de chapa na disputa pelo Palácio dos Bandeirantes. Apesar do anúncio desta semana de que a ex-ministra concorrerá a uma vaga de deputada federal pela Rede, Haddad mantém conversas com a expectativa de costurar a parceria. Segundo aliados, o petista acredita que a oficialização da candidatura à Câmara não emperra a articulação.
O ex-ministro conseguiu o apoio de parte do PT e do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva para a parceria. O diálogo com Marina tem fluído, segundo aliados do petista. Ele estará presente no sábado, em evento em São Paulo no qual a ex-ministra oficializa sua disputa à Câmara. O ato também formaliza a candidatura à reeleição da deputada estadual Marina Helou, defendida por integrantes da Rede como uma alternativa para a chapa com Haddad caso não prospere a parceria com Marina Silva.
Haddad é um dos nomes mais próximos a Lula atualmente. O ex-presidente tem mantido como principais aliados na campanha deste ano aqueles que estiveram ao seu lado durante os quase 600 dias em que esteve preso em Curitiba. Haddad, que assumiu a candidatura do PT à presidência em 2018 diante da impossibilidade de Lula concorrer, é um deles. Ele tem acompanhado Lula em parte dos jantares reservados e fora da agenda que o ex-presidente mantém com empresários. Também articulou em sua casa, na última quarta-feira, um encontro do ex-presidente com reitores de universidades do Estado.
Questionado pelo Estadão se havia descartado a ideia de ter a ex-ministra como sua vice, Haddad desconversou. “Eu várias vezes respondi que eu só definiria a chapa completa quando eu tivesse a decisão final do PSB. Como isso está próximo de acontecer, em seguida vamos reunir partidos da federação e aqueles que já declararam apoio, inclusive a Rede, que já declarou apoio à minha candidatura oficialmente. Vamos sentar para completar a chapa, se o PSB vier a ocupar a vaga do Senado”, disse Haddad, em entrevista coletiva em Guarulhos.
Ele aguarda a definição de Márcio França (PSB) para fazer movimentos formais que permitam selar a chapa. Até agora pré-candidato ao governo do Estado, França já indicou ao PT e à direção do PSB que irá abrir mão da candidatura e disputar o Senado na chapa com Haddad. Um vídeo divulgado por ele na quinta-feira, no entanto, no qual confirma a candidatura ao governo, irritou petistas e demais aliados na chapa. Desde a semana passada, França vem postergando, dia após dia, o anúncio da desistência, segundo integrantes da campanha de Lula.
Haddad tem evitado se posicionar publicamente sobre o perfil que busca como vice. Na mesma entrevista, disse que quanto mais aberto a ouvir aliados, mais bem sucedido será na formação da chapa. Nos bastidores, no entanto, o petista deixa claro que prefere um nome que acene para o centro e o ajude, portanto, a superar o antipetismo no interior paulista. Ele também tem preferência por uma mulher.
Marina é considerada por Haddad como a candidata ideal. Não só porque reúne os dois atributos, como porque é um nome de peso para a chapa e alguém com quem o petista tem boas relações. Em entrevista ao Roda Viva, na TV Cultura, Haddad afirmou que Marina é “uma personalidade necessária para o Brasil”. A Rede prefere que a ex-ministra concorra como deputada federal, pois deve ser a principal puxadora de votos do partido.
A “solução-Marina” resolve também um impasse entre partidos aliados do PT. O PSOL cobra espaço na chapa do petista. O partido abriu mão de candidato à Presidência para apoiar Lula. No Estado, o partido desistiu de lançar Guilherme Boulos ao Palácio dos Bandeirantes em benefício de Haddad. Pelo acordo com Boulos, costurado por Lula, o PT apoiará o líder do movimento por moradia MTST à prefeitura em 2024. Mas o PSOL espera mais do que isso. O presidente nacional do partido, Juliano Medeiros, tem cobrado que a legenda tenha espaço na chapa estadual — se não com a vaga ao Senado, como vice de Haddad.