Organizada pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), a Feira Nacional da Reforma Agrária expõe a relação de proximidade entre governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o movimento. Ministros e o vice-presidente Geraldo Alckmin viraram estrelas do evento, que começou nesta sexta-feira, 12, no Parque da Água Branca, região oeste de São Paulo.
Desde o início deste ano, o grupo intensificou as invasões de terra para pressionar o governo federal a liberar mais recursos para a reforma agrária e nomear superintendências do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra). O movimento já garantiu um lugar no chamado Conselhão de Lula, mesmo após as ações do ‘Abril Vermelho’.
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, virou garoto-propaganda de uma marca de fubá. “Tenho orgulho de ter participado da campanha publicitária destes produtos”, afirmou ele, que não compareceu ao evento, mas, em rede social, elogiou os itens feitos pelos sem terra.
Na sexta-feira, o indicado de Lula para assumir a Diretoria de Políticas Monetárias do Banco Central, o secretário-executivo, Gabriel Galípolo, já havia visitado o evento, como revelou o Estadão. A presença de Alckmin e de ministros na feira ampliou as críticas na bancada ruralista ao governo.
Geraldo Alckmin chegou por volta do meio-dia na feira. Bem-recebido pelo publico, o vice-presidente tirou fotos com simpatizantes e andou no meio do público. Um dois apoiadores entoou um grito muito usado nas campanhas petistas do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. “Alckmin, guerreiro do povo brasileiro.” O canto, contudo, não foi acompanhado pelos demais apoiadores, e o vice-presidente continuou a visita.
Questionado sobre a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do MST, o vice-presidente disse que o trabalho do Legislativo não é “policialesco.” “Sou muito cauteloso com essa história da CPI. O trabalho do Legislativo é legiferante (de elaborar leis), e não policialesco. Já existem muitos órgãos de fiscalização”, disse Alckmin durante uma coletiva de imprensa na feira.
Usando a reforma tributária como exemplo, o vice-presidente falou em “valorizar o aspecto legislativo” e aprofundar as discussões que tramitam no Congresso. Alckmin deixou o evento por volta da uma e meia da tarde.
Também presente no evento, o ministro do Desenvolvimento Agrário (MDA), Paulo Teixeira, disse que a pasta está com um plano emergencial para retornar com assentamentos a partir do mês de maio. “Serão novos assentamentos em áreas que o Incra (Instituto Nacional de Reforma Agrária) já possui”, afirmou durante a Feira da Reforma Agrária, em São Paulo.
O ministro disse que será fornecido crédito para a instalação destes assentamentos, além de assistência técnica para o início da produção nos locais. Ele afirmou ainda que as ações do Abril Vermelho, em que MST organizou ocupações, foi totalmente superado pelo governo. “Pedimos que os grupos se retirassem das terras da Embrapa e da Suzano e eles se retiraram”, disse. O governo ainda abriu uma mesa de negociação entre o movimento e a Suzano, de acordo com Teixeira.
João Pedro Stédile, liderança do MST, rebateu as declarações de Teixeira sobre o Abril Vermelho estar superado. “Próximo ‘Abril Vermelho’ vamos convidar ele (o ministro Paulo Teixeira) para ir em Carajás, para ir ao cemitério visitar os 19 túmulos.” A resposta é uma referência ao episódio em que 19 sem-terra foram assassinados em Eldorado de Carajás, no Pará, em abril de 1996.
Em seguida, Stedile amenizou o tom a respeito do ministro para comentar a CPI do MST. “Dentro do agronegócio há um setor mais sensível, inclusive na figura do ministro da agricultura - mas aqueles setores mais atrasados cometem crimes. Eles sim deveriam ter uma CPI. Quem invadiu as reservas indígenas? Quem financiou os garimpeiros yanomami?”
Na sua avaliação, a CPI é uma tentativa de setores de direita fazerem oposição política ao governo e monopolizarem o debate público. “Usam o espaço para produzir memes e dialogar com a base deles”, disse Stedile sobre os parlamentares de direita.