Crônicas sobre política municipal. Cultura brasileira local sob olhar provocativo | Colaboradores: Eder Brito, Camila Tuchlinski, Marcos Silveira e Patricia Tavares.

São Pedro: paraíso, tempestade e sorte


A década de 90 nos trouxe o famoso caso dos anões do orçamento. O deputado federal João Alves de Almeida (PPR da Bahia) foi figura central no escândalo que se tornou nacionalmente conhecido com a abertura da CPI do Orçamento. A forma como o parlamentar falecido em 2004 lavava dinheiro era a compra de bilhetes premiados de loteria. Dizia-se um homem de sorte, e "a encontrou" dezenas de vezes nos sorteios da Caixa. Como dizem os jovens: 'só que não', ou #sqn... Ele era corrupto mesmo.

Por Humberto Dantas

Outros políticos, historicamente, apelaram para esse mesmo expediente para justificarem riqueza. Mas e quando efetivamente o agente público ganha na loteria? Vinte amigos dividirão o prêmio de mais R$ 100 milhões que a Caixa Econômica Federal sorteou semana passada - o maior de todos os tempos, com exceção à tradicional Mega da Virada. Cada um ficará com cerca de cinco milhões de reais, que poupados de forma conservadora em um banco qualquer renderão R$ 25 mil por mês. Pouco? Muito?

Entre os ganhadores está Alexandre Russi, do PR, prefeito de São Pedro Cipa, no Mato Grosso, irmão do deputado estadual Max Russi, do PSB. O parlamentar afirma que sempre joga e nunca teve tamanha sorte, mas o contemplado alegou que jogou duas vezes na vida, segundo reportagem da UOL. A aposta foi feita com amigos de Jaciara, cidade vizinha. São Pedro da Cipa é nova e pequena. Com menos de cinco mil habitantes foi emancipada em 1993 e tem o nome ligado a uma empresa - a CIPA, Companhia Industrial, Pastoril e Agrícola - que executou projeto de colonização do Vale do Rio São Lourenço. Mas está também ligado a Pedro, porteiro do céu e senhor do tempo. Teria sido ele, nesse mundo tão consumista, a abrir as portas do paraíso para os vencedores com uma tempestade de dinheiro?

A curiosidade maior de toda essa história é que a cidade, uma tripa de território em meio ao estado, apresentou orçamento de pouco mais de R$ 12 milhões em 2015 - de acordo com o DATAPEDIA. Assim, ao contrário da imensa maioria das pessoas que olham para um prêmio de loteria e ficam a dizer o que seria possível comprar - centenas de carros, dezenas de apartamentos etc. - entendamos o que isso representa para a cidade do prefeito. O prêmio total da Caixa pagou quase uma década de recursos públicos locais, e o prefeito, que ganha cerca de R$ 11 mil por mês, ficou com o equivalente ao que a cidade gasta anualmente com a folha de pessoal e encargos. Se preferir observar sob a ótica das políticas públicas, Russi abocanhou licitamente a soma do que o município empenha em saúde e urbanismo, ou dez vezes o que despende com seu parlamento composto por nove vereadores por ano.

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Assim, o impacto do recurso adicionado à conta do prefeito pode desequilibrar o Índice de Gini, que mede o grau de concentração da distribuição da renda. Quando tem valor igual a um (1), existe desigualdade máxima, isto é, a renda domiciliar per capita é totalmente apropriada por um único indivíduo. Quando ele tem valor igual a zero (0), tem-se perfeita igualdade, isto é, a renda é distribuída na mesma proporção para todos os domicílios.

No Brasil, um dos países mais desiguais do mundo, o indicador passou de 0,63 em 1991, para 0,62 em 2000 e atingiu 0,60 em 2010. São Pedro não é tão desigual assim, pois atingira 0,38 em 2010. Com uma redução espantosa nos índices de pobreza no período destacado, e melhorias no IDH, a cidade parece dar boas repostas ao universo social com base na análise de números. Mas e agora que um único agente acumulou tanto? Como ficará a desigualdade local? Não importa agora, isso é sorte. Boa sorte, prefeito! Que seus governados tenham o mesmo caminho em matéria de acesso ao que existe de melhor em matéria de políticas públicas.

Outros políticos, historicamente, apelaram para esse mesmo expediente para justificarem riqueza. Mas e quando efetivamente o agente público ganha na loteria? Vinte amigos dividirão o prêmio de mais R$ 100 milhões que a Caixa Econômica Federal sorteou semana passada - o maior de todos os tempos, com exceção à tradicional Mega da Virada. Cada um ficará com cerca de cinco milhões de reais, que poupados de forma conservadora em um banco qualquer renderão R$ 25 mil por mês. Pouco? Muito?

Entre os ganhadores está Alexandre Russi, do PR, prefeito de São Pedro Cipa, no Mato Grosso, irmão do deputado estadual Max Russi, do PSB. O parlamentar afirma que sempre joga e nunca teve tamanha sorte, mas o contemplado alegou que jogou duas vezes na vida, segundo reportagem da UOL. A aposta foi feita com amigos de Jaciara, cidade vizinha. São Pedro da Cipa é nova e pequena. Com menos de cinco mil habitantes foi emancipada em 1993 e tem o nome ligado a uma empresa - a CIPA, Companhia Industrial, Pastoril e Agrícola - que executou projeto de colonização do Vale do Rio São Lourenço. Mas está também ligado a Pedro, porteiro do céu e senhor do tempo. Teria sido ele, nesse mundo tão consumista, a abrir as portas do paraíso para os vencedores com uma tempestade de dinheiro?

A curiosidade maior de toda essa história é que a cidade, uma tripa de território em meio ao estado, apresentou orçamento de pouco mais de R$ 12 milhões em 2015 - de acordo com o DATAPEDIA. Assim, ao contrário da imensa maioria das pessoas que olham para um prêmio de loteria e ficam a dizer o que seria possível comprar - centenas de carros, dezenas de apartamentos etc. - entendamos o que isso representa para a cidade do prefeito. O prêmio total da Caixa pagou quase uma década de recursos públicos locais, e o prefeito, que ganha cerca de R$ 11 mil por mês, ficou com o equivalente ao que a cidade gasta anualmente com a folha de pessoal e encargos. Se preferir observar sob a ótica das políticas públicas, Russi abocanhou licitamente a soma do que o município empenha em saúde e urbanismo, ou dez vezes o que despende com seu parlamento composto por nove vereadores por ano.

Assim, o impacto do recurso adicionado à conta do prefeito pode desequilibrar o Índice de Gini, que mede o grau de concentração da distribuição da renda. Quando tem valor igual a um (1), existe desigualdade máxima, isto é, a renda domiciliar per capita é totalmente apropriada por um único indivíduo. Quando ele tem valor igual a zero (0), tem-se perfeita igualdade, isto é, a renda é distribuída na mesma proporção para todos os domicílios.

No Brasil, um dos países mais desiguais do mundo, o indicador passou de 0,63 em 1991, para 0,62 em 2000 e atingiu 0,60 em 2010. São Pedro não é tão desigual assim, pois atingira 0,38 em 2010. Com uma redução espantosa nos índices de pobreza no período destacado, e melhorias no IDH, a cidade parece dar boas repostas ao universo social com base na análise de números. Mas e agora que um único agente acumulou tanto? Como ficará a desigualdade local? Não importa agora, isso é sorte. Boa sorte, prefeito! Que seus governados tenham o mesmo caminho em matéria de acesso ao que existe de melhor em matéria de políticas públicas.

Outros políticos, historicamente, apelaram para esse mesmo expediente para justificarem riqueza. Mas e quando efetivamente o agente público ganha na loteria? Vinte amigos dividirão o prêmio de mais R$ 100 milhões que a Caixa Econômica Federal sorteou semana passada - o maior de todos os tempos, com exceção à tradicional Mega da Virada. Cada um ficará com cerca de cinco milhões de reais, que poupados de forma conservadora em um banco qualquer renderão R$ 25 mil por mês. Pouco? Muito?

Entre os ganhadores está Alexandre Russi, do PR, prefeito de São Pedro Cipa, no Mato Grosso, irmão do deputado estadual Max Russi, do PSB. O parlamentar afirma que sempre joga e nunca teve tamanha sorte, mas o contemplado alegou que jogou duas vezes na vida, segundo reportagem da UOL. A aposta foi feita com amigos de Jaciara, cidade vizinha. São Pedro da Cipa é nova e pequena. Com menos de cinco mil habitantes foi emancipada em 1993 e tem o nome ligado a uma empresa - a CIPA, Companhia Industrial, Pastoril e Agrícola - que executou projeto de colonização do Vale do Rio São Lourenço. Mas está também ligado a Pedro, porteiro do céu e senhor do tempo. Teria sido ele, nesse mundo tão consumista, a abrir as portas do paraíso para os vencedores com uma tempestade de dinheiro?

A curiosidade maior de toda essa história é que a cidade, uma tripa de território em meio ao estado, apresentou orçamento de pouco mais de R$ 12 milhões em 2015 - de acordo com o DATAPEDIA. Assim, ao contrário da imensa maioria das pessoas que olham para um prêmio de loteria e ficam a dizer o que seria possível comprar - centenas de carros, dezenas de apartamentos etc. - entendamos o que isso representa para a cidade do prefeito. O prêmio total da Caixa pagou quase uma década de recursos públicos locais, e o prefeito, que ganha cerca de R$ 11 mil por mês, ficou com o equivalente ao que a cidade gasta anualmente com a folha de pessoal e encargos. Se preferir observar sob a ótica das políticas públicas, Russi abocanhou licitamente a soma do que o município empenha em saúde e urbanismo, ou dez vezes o que despende com seu parlamento composto por nove vereadores por ano.

Assim, o impacto do recurso adicionado à conta do prefeito pode desequilibrar o Índice de Gini, que mede o grau de concentração da distribuição da renda. Quando tem valor igual a um (1), existe desigualdade máxima, isto é, a renda domiciliar per capita é totalmente apropriada por um único indivíduo. Quando ele tem valor igual a zero (0), tem-se perfeita igualdade, isto é, a renda é distribuída na mesma proporção para todos os domicílios.

No Brasil, um dos países mais desiguais do mundo, o indicador passou de 0,63 em 1991, para 0,62 em 2000 e atingiu 0,60 em 2010. São Pedro não é tão desigual assim, pois atingira 0,38 em 2010. Com uma redução espantosa nos índices de pobreza no período destacado, e melhorias no IDH, a cidade parece dar boas repostas ao universo social com base na análise de números. Mas e agora que um único agente acumulou tanto? Como ficará a desigualdade local? Não importa agora, isso é sorte. Boa sorte, prefeito! Que seus governados tenham o mesmo caminho em matéria de acesso ao que existe de melhor em matéria de políticas públicas.

Outros políticos, historicamente, apelaram para esse mesmo expediente para justificarem riqueza. Mas e quando efetivamente o agente público ganha na loteria? Vinte amigos dividirão o prêmio de mais R$ 100 milhões que a Caixa Econômica Federal sorteou semana passada - o maior de todos os tempos, com exceção à tradicional Mega da Virada. Cada um ficará com cerca de cinco milhões de reais, que poupados de forma conservadora em um banco qualquer renderão R$ 25 mil por mês. Pouco? Muito?

Entre os ganhadores está Alexandre Russi, do PR, prefeito de São Pedro Cipa, no Mato Grosso, irmão do deputado estadual Max Russi, do PSB. O parlamentar afirma que sempre joga e nunca teve tamanha sorte, mas o contemplado alegou que jogou duas vezes na vida, segundo reportagem da UOL. A aposta foi feita com amigos de Jaciara, cidade vizinha. São Pedro da Cipa é nova e pequena. Com menos de cinco mil habitantes foi emancipada em 1993 e tem o nome ligado a uma empresa - a CIPA, Companhia Industrial, Pastoril e Agrícola - que executou projeto de colonização do Vale do Rio São Lourenço. Mas está também ligado a Pedro, porteiro do céu e senhor do tempo. Teria sido ele, nesse mundo tão consumista, a abrir as portas do paraíso para os vencedores com uma tempestade de dinheiro?

A curiosidade maior de toda essa história é que a cidade, uma tripa de território em meio ao estado, apresentou orçamento de pouco mais de R$ 12 milhões em 2015 - de acordo com o DATAPEDIA. Assim, ao contrário da imensa maioria das pessoas que olham para um prêmio de loteria e ficam a dizer o que seria possível comprar - centenas de carros, dezenas de apartamentos etc. - entendamos o que isso representa para a cidade do prefeito. O prêmio total da Caixa pagou quase uma década de recursos públicos locais, e o prefeito, que ganha cerca de R$ 11 mil por mês, ficou com o equivalente ao que a cidade gasta anualmente com a folha de pessoal e encargos. Se preferir observar sob a ótica das políticas públicas, Russi abocanhou licitamente a soma do que o município empenha em saúde e urbanismo, ou dez vezes o que despende com seu parlamento composto por nove vereadores por ano.

Assim, o impacto do recurso adicionado à conta do prefeito pode desequilibrar o Índice de Gini, que mede o grau de concentração da distribuição da renda. Quando tem valor igual a um (1), existe desigualdade máxima, isto é, a renda domiciliar per capita é totalmente apropriada por um único indivíduo. Quando ele tem valor igual a zero (0), tem-se perfeita igualdade, isto é, a renda é distribuída na mesma proporção para todos os domicílios.

No Brasil, um dos países mais desiguais do mundo, o indicador passou de 0,63 em 1991, para 0,62 em 2000 e atingiu 0,60 em 2010. São Pedro não é tão desigual assim, pois atingira 0,38 em 2010. Com uma redução espantosa nos índices de pobreza no período destacado, e melhorias no IDH, a cidade parece dar boas repostas ao universo social com base na análise de números. Mas e agora que um único agente acumulou tanto? Como ficará a desigualdade local? Não importa agora, isso é sorte. Boa sorte, prefeito! Que seus governados tenham o mesmo caminho em matéria de acesso ao que existe de melhor em matéria de políticas públicas.

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