Uma das melhores piadas do ano, com certeza, é esse Boris Johnson, que até outro dia despachava como primeiro-ministro da Grã-Bretanha. Johnson, um dos mais excitados militantes das represálias econômicas contra a Rússia, em castigo pela invasão da Ucrânia, deu como certo, mais de uma vez: “Putin está morto”. Na sua análise dos fatos, ele garantia que as sanções que os países da Europa e os Estados Unidos socaram em cima da Rússia tinham transformado o presidente Vladimir Putin em farinha de rosca; a economia russa seria destruída, a população iria se levantar em revolta e o regime seria derrubado. Aconteceu o contrário. Putin continua na sua cadeira, com popularidade de 80%. O rublo está mais forte hoje do que quando as sanções começaram. O superávit da Rússia na balança comercial é de US$ 250 bilhões, o dobro do que foi no ano anterior à guerra. Mais de US$ 1 bilhão entra a cada dia no país em petróleo e gás. Em compensação, Boris Johnson é o mais recente político desempregado do Primeiro Mundo – acaba de ser posto para fora do governo.
As sanções econômicas contra a Rússia, que iriam liquidar Putin, acabar com a guerra e levar a Ucrânia à vitória, foram um fracasso miserável. Europeus e americanos acharam que estavam dando um espetáculo mundial de unidade, força e virtude com a sua política de extermínio econômico total. Mas foram completamente ignorados pelo resto do mundo, da China ao Brasil, da Ásia à África, que continuaram seu comércio normal com a Rússia. Houve declarações educadas de condenação “à guerra” e de incentivo ao bem, mas em dinheiro, que é bom, ninguém mexeu. O resultado é que quem ficou isolado foram a Europa e os Estados Unidos; são eles, e não a Rússia, que estão hoje em crise econômica, com crescimento perto do zero e inflação perto dos 10% ao ano. Acharam que iam quebrar a Rússia fechando lojas da Gucci. Não entenderam nada.
As sanções são uma lição admirável sobre a caixinha de ilusões, cálculos errados e arrogância mental em que vivem os países de Primeiro Mundo e os seus governozinhos globaloides, medíocres e metidos a besta. Europeus e americanos continuam convencidos de que os seus problemas são os problemas do resto do mundo. Estão aflitos com a proibição das sacolas de plástico, a participação de “transgêneros” no concurso de Miss Espanha e a alta na temperatura média na Groenlândia – e acham que todos têm de estar também. Seus desejos, da mesma forma, têm de ser os desejos dos 8 bilhões de habitantes da Terra, do combate ao “racismo sistêmico” até a vitória da Ucrânia. O fiasco das sanções mostra o quanto estão perdidos.