Indústria articula bancada no Congresso para superar decadência e retomar coesão, prestígio e poder


Frente parlamentar já aglutina 290 deputados e senadores e quer seguir modelo bem-sucedido da bancada ruralista

Por Monica Gugliano

Longe ficou o tempo em que os grandes nomes da indústria, desde a Avenida Paulista, no coração do Estado mais rico do País, pontificavam na vida nacional. Nas últimas quatro décadas em que o Produto Interno Bruto (PIB) passa por altos e baixos, o protagonismo da indústria tem se desintegrado e as perdas passaram a se refletir também no poder de influenciar nas políticas que atingem o setor diretamente. Empresários e políticos avaliam que a situação poderá mudar. Há menos dois meses, parlamentares, com o apoio da Confederação Nacional da Indústria (CNI), resolveram organizar um grupo nos moldes da bem-sucedida Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA).

Linha de produção de automóveis em Sorocaba, no interior de São Paulo  Foto: Divulgação/Toyota

O primeiro teste para a atuação conjunta do grupo que ganhou o nome de Frente Parlamentar Mista da Indústria e reúne, até agora, 290 deputados e senadores, já tem data para ocorrer: a discussão da reforma tributária. “Temos menos indústria e muito menos representatividade do que poderíamos ter”, admite o gerente-executivo de Economia da CNI, Mário Sérgio Telles.

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“Se a frente influenciar e trabalhar em defesa da visão da indústria, em um projeto que consiga equalizar o peso dos impostos, simplificando e trabalhando por justiça social, certamente conquistará um importante espaço no Parlamento”, acredita o presidente em exercício da Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan), Luiz Césio Caetano. Até agora, pondera ele, o setor tem ficado a reboque de iniciativas isoladas e interesses individuais. “Devemos acabar com a omissão. Precisamos ser relevantes nas decisões do Congresso que se refletem nos nossos negócios e na vida nacional”, completa.

É um setor muito disperso, de concorrência entre os principais interlocutores. Veja o caso da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo) e da CNI (Confederação Nacional da Indústria) que disputam protagonismo. Não há união

José Rocha (União Brasil-BA), coordenador da nova frente parlamentar

O coordenador da nova frente, deputado José Rocha (União Brasil-BA), reconhece que o desafio é “imenso”. Diferentemente do que ocorre com o agronegócio, Rocha explica que o setor industrial carece de líderes fortes que defendam seus interesses. “É um setor muito disperso, de concorrência entre os principais interlocutores. Veja o caso da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo) e da CNI que disputam protagonismo. Não há união”, observa. A frente parlamentar é suprapartidária.

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Não é preciso perguntar muito para perceber que conciliar interesses, até mesmo ideologias e preferências políticas, exigirá muito jogo de cintura de quem quiser chegar a um consenso. No Rio Grande do Sul, Estado eminentemente bolsonarista, a Federação das Indústrias local (Fiergs) acompanha a evolução das medidas econômicas do governo Luiz Inácio Lula da Silva para aumentar ou diminuir investimentos no setor. “Há muita incerteza econômica e a confiança está em baixa, neste começo de governo. A indústria gaúcha deverá ser cautelosa e esperar um cenário com melhores condições para efetivar os investimentos”, afirma o presidente da Fiergs, Gilberto Porcello Petry.

Pesquisa da Unidade de Estudos Econômicos (UEE) da entidade aponta que, em 2022, a proporção de empresas que investiram cresceu pelo segundo ano consecutivo. Foram 2,5% acima do registrado em 2021 e 11,2% maiores do que em 2020. Entretanto, para 2023, o levantamento sinaliza um cenário desfavorável. Apenas 54% das empresas têm intenção de investir. “A indústria gaúcha, sem uma sinalização de estabilidade, continuará esperando o desenrolar dos acontecimentos”, acrescenta Petry.

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Por sua vez, o presidente da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg), Flavio Roscoe Nogueira, afirma que o País vive uma conjuntura “muito ruim” para a indústria. “O que conta ainda em nosso favor é que somos um segmento muito importante da economia e, em qualquer nação desenvolvida, ele acaba sempre tendo relevância política”, observa. Ele diz não acreditar que seja fácil aglutinar os interesses do setor em uma frente, mas considera positiva a iniciativa.

Alguns dos grandes entraves precisam ser decididos no Congresso. Veja, por exemplo, a reforma trabalhista. É preciso reformar a reforma rapidamente porque aquela que foi feita é pífia. (...) É a mais cara mão de obra do mundo e a Justiça trabalhista continua sendo a mais protetora do mundo também

Flavio Roscoe Nogueira, presidente da Fiemg

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“Alguns dos grandes entraves precisam ser decididos no Congresso. Veja, por exemplo, a reforma trabalhista. É preciso reformar a reforma rapidamente porque aquela que foi feita é pífia”, critica Nogueira. “É a mais cara mão de obra do mundo e a Justiça trabalhista continua sendo a mais protetora do mundo também”, reclama.

De acordo com estimativa apresentada pela CNI no Dia da Indústria, o Custo Brasil (que inclui os encargos trabalhistas) retira R$ 1,5 trilhão das empresas, o equivalente a 20,5% do PIB.

Indústria de transformação estagnada e divergências

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Na opinião do presidente da Associação Brasileira da Indústria do Plástico (Abiplast), José Ricardo Roriz Coelho, à medida que a indústria de transformação não cresce, o setor perde reconhecimento e o consenso entre os representantes se torna muito difícil. Ele cita como exemplo o agronegócio que tem uma das mais poderosas frentes do Congresso. “Eles pensam todos iguais? Não. Mas debatem suas divergências, chegam a um acordo e levam essa posição adiante. Eles têm um Roberto Rodrigues (ex-ministro da Agricultura). Nós temos quem?”, pergunta.

Os nomes que a indústria tem, acrescenta Roriz, brigam entre si até nas mesmas instituições. No começo deste ano, a CNI precisou interferir numa disputa territorial em que o ex-presidente da Fiesp Paulo Skaf tentou organizar um levante entre os filiados para derrubar do cargo o presidente eleito, Josué Gomes da Silva.

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O episódio, segundo Roriz, demonstra o grau de vaidade e intrigas envolvendo o setor industrial. E, pior, os industriais não são, considera ele, bem vistos pela população. Outro ponto que difere é que o agro produz alimentos e, segundo Roriz, consolidou uma imagem de que “alimenta o Brasil e o mundo”. “A opinião pública acha que os industriais vivem de subsídios e que estão sempre chorando.”

Segundo o presidente do Centro das Indústrias do Estado de São Paulo (Ciesp), o empresário e engenheiro Rafael Cervone, também primeiro-vice-presidente da Fiesp, o agro, desde 1973, trabalha com um plano estruturado e consolidado. O mesmo não acontece na indústria, que vem perdendo espaço no panorama nacional. “Nós não precisamos de Protec ou de campeãs. Necessitamos apenas de segurança jurídica e previsibilidade. Isso, sim, vai permitir agregar valor à indústria. E são essas questões que precisam ser defendidas no Congresso”, afirma Cervone.

Deputado José Rocha (União Brasil-BA) coordena frente parlamentar da indústria no Congresso Nacional Foto: Dida Sampaio/Estadão

Para ele, uma frente parlamentar vai ajudar na mobilização e trabalhará melhor as questões mais importantes. “A indústria tem mais de 130 setores, é bem difícil fazê-los convergir. Por isso precisamos de uma bancada que seja forte, que pense no País, e não no setor. Porque não podemos seguir vivendo em um País onde os únicos que ganham dinheiro são os bancos. Algo está muito errado”, afirma Cervone.

Perda de peso da indústria de transformação

Um estudo do Observatório da Produtividade, da FGV-Ibre, consegue traçar as razões da perda do peso da indústria de transformação nacional. O documento mostra uma queda em torno de 1% ao ano na produtividade nos últimos 30 anos. No mesmo período, a produtividade na agropecuária aumentou em média 5,5% ao ano. “E por quê?”, pergunta o professor e coordenador do Núcleo de Contas Nacionais na FGV-Ibre, Claudio Considera, respondendo ele mesmo: “O agro tem um plano estruturado, e é isso que vai agregar valor à indústria e ajudar a sair da crise. O que não podemos é ficar, por exemplo, criando incentivos para a indústria automobilística. Isso é uma besteira. Uma estupidez do tamanho de um bonde”, critica Considera.

O deputado José Rocha, por enquanto, diz que está tomando pé do terreno onde vai pisar. Mas está convencido de que com o apoio da CNI e os dados negativos que vêm sendo colhidos pela indústria de transformação, há uma boa chance de união. “Vamos deixar de ser um setor desarticulado”, afirma.

Longe ficou o tempo em que os grandes nomes da indústria, desde a Avenida Paulista, no coração do Estado mais rico do País, pontificavam na vida nacional. Nas últimas quatro décadas em que o Produto Interno Bruto (PIB) passa por altos e baixos, o protagonismo da indústria tem se desintegrado e as perdas passaram a se refletir também no poder de influenciar nas políticas que atingem o setor diretamente. Empresários e políticos avaliam que a situação poderá mudar. Há menos dois meses, parlamentares, com o apoio da Confederação Nacional da Indústria (CNI), resolveram organizar um grupo nos moldes da bem-sucedida Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA).

Linha de produção de automóveis em Sorocaba, no interior de São Paulo  Foto: Divulgação/Toyota

O primeiro teste para a atuação conjunta do grupo que ganhou o nome de Frente Parlamentar Mista da Indústria e reúne, até agora, 290 deputados e senadores, já tem data para ocorrer: a discussão da reforma tributária. “Temos menos indústria e muito menos representatividade do que poderíamos ter”, admite o gerente-executivo de Economia da CNI, Mário Sérgio Telles.

“Se a frente influenciar e trabalhar em defesa da visão da indústria, em um projeto que consiga equalizar o peso dos impostos, simplificando e trabalhando por justiça social, certamente conquistará um importante espaço no Parlamento”, acredita o presidente em exercício da Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan), Luiz Césio Caetano. Até agora, pondera ele, o setor tem ficado a reboque de iniciativas isoladas e interesses individuais. “Devemos acabar com a omissão. Precisamos ser relevantes nas decisões do Congresso que se refletem nos nossos negócios e na vida nacional”, completa.

É um setor muito disperso, de concorrência entre os principais interlocutores. Veja o caso da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo) e da CNI (Confederação Nacional da Indústria) que disputam protagonismo. Não há união

José Rocha (União Brasil-BA), coordenador da nova frente parlamentar

O coordenador da nova frente, deputado José Rocha (União Brasil-BA), reconhece que o desafio é “imenso”. Diferentemente do que ocorre com o agronegócio, Rocha explica que o setor industrial carece de líderes fortes que defendam seus interesses. “É um setor muito disperso, de concorrência entre os principais interlocutores. Veja o caso da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo) e da CNI que disputam protagonismo. Não há união”, observa. A frente parlamentar é suprapartidária.

Não é preciso perguntar muito para perceber que conciliar interesses, até mesmo ideologias e preferências políticas, exigirá muito jogo de cintura de quem quiser chegar a um consenso. No Rio Grande do Sul, Estado eminentemente bolsonarista, a Federação das Indústrias local (Fiergs) acompanha a evolução das medidas econômicas do governo Luiz Inácio Lula da Silva para aumentar ou diminuir investimentos no setor. “Há muita incerteza econômica e a confiança está em baixa, neste começo de governo. A indústria gaúcha deverá ser cautelosa e esperar um cenário com melhores condições para efetivar os investimentos”, afirma o presidente da Fiergs, Gilberto Porcello Petry.

Pesquisa da Unidade de Estudos Econômicos (UEE) da entidade aponta que, em 2022, a proporção de empresas que investiram cresceu pelo segundo ano consecutivo. Foram 2,5% acima do registrado em 2021 e 11,2% maiores do que em 2020. Entretanto, para 2023, o levantamento sinaliza um cenário desfavorável. Apenas 54% das empresas têm intenção de investir. “A indústria gaúcha, sem uma sinalização de estabilidade, continuará esperando o desenrolar dos acontecimentos”, acrescenta Petry.

Por sua vez, o presidente da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg), Flavio Roscoe Nogueira, afirma que o País vive uma conjuntura “muito ruim” para a indústria. “O que conta ainda em nosso favor é que somos um segmento muito importante da economia e, em qualquer nação desenvolvida, ele acaba sempre tendo relevância política”, observa. Ele diz não acreditar que seja fácil aglutinar os interesses do setor em uma frente, mas considera positiva a iniciativa.

Alguns dos grandes entraves precisam ser decididos no Congresso. Veja, por exemplo, a reforma trabalhista. É preciso reformar a reforma rapidamente porque aquela que foi feita é pífia. (...) É a mais cara mão de obra do mundo e a Justiça trabalhista continua sendo a mais protetora do mundo também

Flavio Roscoe Nogueira, presidente da Fiemg

“Alguns dos grandes entraves precisam ser decididos no Congresso. Veja, por exemplo, a reforma trabalhista. É preciso reformar a reforma rapidamente porque aquela que foi feita é pífia”, critica Nogueira. “É a mais cara mão de obra do mundo e a Justiça trabalhista continua sendo a mais protetora do mundo também”, reclama.

De acordo com estimativa apresentada pela CNI no Dia da Indústria, o Custo Brasil (que inclui os encargos trabalhistas) retira R$ 1,5 trilhão das empresas, o equivalente a 20,5% do PIB.

Indústria de transformação estagnada e divergências

Na opinião do presidente da Associação Brasileira da Indústria do Plástico (Abiplast), José Ricardo Roriz Coelho, à medida que a indústria de transformação não cresce, o setor perde reconhecimento e o consenso entre os representantes se torna muito difícil. Ele cita como exemplo o agronegócio que tem uma das mais poderosas frentes do Congresso. “Eles pensam todos iguais? Não. Mas debatem suas divergências, chegam a um acordo e levam essa posição adiante. Eles têm um Roberto Rodrigues (ex-ministro da Agricultura). Nós temos quem?”, pergunta.

Os nomes que a indústria tem, acrescenta Roriz, brigam entre si até nas mesmas instituições. No começo deste ano, a CNI precisou interferir numa disputa territorial em que o ex-presidente da Fiesp Paulo Skaf tentou organizar um levante entre os filiados para derrubar do cargo o presidente eleito, Josué Gomes da Silva.

O episódio, segundo Roriz, demonstra o grau de vaidade e intrigas envolvendo o setor industrial. E, pior, os industriais não são, considera ele, bem vistos pela população. Outro ponto que difere é que o agro produz alimentos e, segundo Roriz, consolidou uma imagem de que “alimenta o Brasil e o mundo”. “A opinião pública acha que os industriais vivem de subsídios e que estão sempre chorando.”

Segundo o presidente do Centro das Indústrias do Estado de São Paulo (Ciesp), o empresário e engenheiro Rafael Cervone, também primeiro-vice-presidente da Fiesp, o agro, desde 1973, trabalha com um plano estruturado e consolidado. O mesmo não acontece na indústria, que vem perdendo espaço no panorama nacional. “Nós não precisamos de Protec ou de campeãs. Necessitamos apenas de segurança jurídica e previsibilidade. Isso, sim, vai permitir agregar valor à indústria. E são essas questões que precisam ser defendidas no Congresso”, afirma Cervone.

Deputado José Rocha (União Brasil-BA) coordena frente parlamentar da indústria no Congresso Nacional Foto: Dida Sampaio/Estadão

Para ele, uma frente parlamentar vai ajudar na mobilização e trabalhará melhor as questões mais importantes. “A indústria tem mais de 130 setores, é bem difícil fazê-los convergir. Por isso precisamos de uma bancada que seja forte, que pense no País, e não no setor. Porque não podemos seguir vivendo em um País onde os únicos que ganham dinheiro são os bancos. Algo está muito errado”, afirma Cervone.

Perda de peso da indústria de transformação

Um estudo do Observatório da Produtividade, da FGV-Ibre, consegue traçar as razões da perda do peso da indústria de transformação nacional. O documento mostra uma queda em torno de 1% ao ano na produtividade nos últimos 30 anos. No mesmo período, a produtividade na agropecuária aumentou em média 5,5% ao ano. “E por quê?”, pergunta o professor e coordenador do Núcleo de Contas Nacionais na FGV-Ibre, Claudio Considera, respondendo ele mesmo: “O agro tem um plano estruturado, e é isso que vai agregar valor à indústria e ajudar a sair da crise. O que não podemos é ficar, por exemplo, criando incentivos para a indústria automobilística. Isso é uma besteira. Uma estupidez do tamanho de um bonde”, critica Considera.

O deputado José Rocha, por enquanto, diz que está tomando pé do terreno onde vai pisar. Mas está convencido de que com o apoio da CNI e os dados negativos que vêm sendo colhidos pela indústria de transformação, há uma boa chance de união. “Vamos deixar de ser um setor desarticulado”, afirma.

Longe ficou o tempo em que os grandes nomes da indústria, desde a Avenida Paulista, no coração do Estado mais rico do País, pontificavam na vida nacional. Nas últimas quatro décadas em que o Produto Interno Bruto (PIB) passa por altos e baixos, o protagonismo da indústria tem se desintegrado e as perdas passaram a se refletir também no poder de influenciar nas políticas que atingem o setor diretamente. Empresários e políticos avaliam que a situação poderá mudar. Há menos dois meses, parlamentares, com o apoio da Confederação Nacional da Indústria (CNI), resolveram organizar um grupo nos moldes da bem-sucedida Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA).

Linha de produção de automóveis em Sorocaba, no interior de São Paulo  Foto: Divulgação/Toyota

O primeiro teste para a atuação conjunta do grupo que ganhou o nome de Frente Parlamentar Mista da Indústria e reúne, até agora, 290 deputados e senadores, já tem data para ocorrer: a discussão da reforma tributária. “Temos menos indústria e muito menos representatividade do que poderíamos ter”, admite o gerente-executivo de Economia da CNI, Mário Sérgio Telles.

“Se a frente influenciar e trabalhar em defesa da visão da indústria, em um projeto que consiga equalizar o peso dos impostos, simplificando e trabalhando por justiça social, certamente conquistará um importante espaço no Parlamento”, acredita o presidente em exercício da Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan), Luiz Césio Caetano. Até agora, pondera ele, o setor tem ficado a reboque de iniciativas isoladas e interesses individuais. “Devemos acabar com a omissão. Precisamos ser relevantes nas decisões do Congresso que se refletem nos nossos negócios e na vida nacional”, completa.

É um setor muito disperso, de concorrência entre os principais interlocutores. Veja o caso da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo) e da CNI (Confederação Nacional da Indústria) que disputam protagonismo. Não há união

José Rocha (União Brasil-BA), coordenador da nova frente parlamentar

O coordenador da nova frente, deputado José Rocha (União Brasil-BA), reconhece que o desafio é “imenso”. Diferentemente do que ocorre com o agronegócio, Rocha explica que o setor industrial carece de líderes fortes que defendam seus interesses. “É um setor muito disperso, de concorrência entre os principais interlocutores. Veja o caso da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo) e da CNI que disputam protagonismo. Não há união”, observa. A frente parlamentar é suprapartidária.

Não é preciso perguntar muito para perceber que conciliar interesses, até mesmo ideologias e preferências políticas, exigirá muito jogo de cintura de quem quiser chegar a um consenso. No Rio Grande do Sul, Estado eminentemente bolsonarista, a Federação das Indústrias local (Fiergs) acompanha a evolução das medidas econômicas do governo Luiz Inácio Lula da Silva para aumentar ou diminuir investimentos no setor. “Há muita incerteza econômica e a confiança está em baixa, neste começo de governo. A indústria gaúcha deverá ser cautelosa e esperar um cenário com melhores condições para efetivar os investimentos”, afirma o presidente da Fiergs, Gilberto Porcello Petry.

Pesquisa da Unidade de Estudos Econômicos (UEE) da entidade aponta que, em 2022, a proporção de empresas que investiram cresceu pelo segundo ano consecutivo. Foram 2,5% acima do registrado em 2021 e 11,2% maiores do que em 2020. Entretanto, para 2023, o levantamento sinaliza um cenário desfavorável. Apenas 54% das empresas têm intenção de investir. “A indústria gaúcha, sem uma sinalização de estabilidade, continuará esperando o desenrolar dos acontecimentos”, acrescenta Petry.

Por sua vez, o presidente da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg), Flavio Roscoe Nogueira, afirma que o País vive uma conjuntura “muito ruim” para a indústria. “O que conta ainda em nosso favor é que somos um segmento muito importante da economia e, em qualquer nação desenvolvida, ele acaba sempre tendo relevância política”, observa. Ele diz não acreditar que seja fácil aglutinar os interesses do setor em uma frente, mas considera positiva a iniciativa.

Alguns dos grandes entraves precisam ser decididos no Congresso. Veja, por exemplo, a reforma trabalhista. É preciso reformar a reforma rapidamente porque aquela que foi feita é pífia. (...) É a mais cara mão de obra do mundo e a Justiça trabalhista continua sendo a mais protetora do mundo também

Flavio Roscoe Nogueira, presidente da Fiemg

“Alguns dos grandes entraves precisam ser decididos no Congresso. Veja, por exemplo, a reforma trabalhista. É preciso reformar a reforma rapidamente porque aquela que foi feita é pífia”, critica Nogueira. “É a mais cara mão de obra do mundo e a Justiça trabalhista continua sendo a mais protetora do mundo também”, reclama.

De acordo com estimativa apresentada pela CNI no Dia da Indústria, o Custo Brasil (que inclui os encargos trabalhistas) retira R$ 1,5 trilhão das empresas, o equivalente a 20,5% do PIB.

Indústria de transformação estagnada e divergências

Na opinião do presidente da Associação Brasileira da Indústria do Plástico (Abiplast), José Ricardo Roriz Coelho, à medida que a indústria de transformação não cresce, o setor perde reconhecimento e o consenso entre os representantes se torna muito difícil. Ele cita como exemplo o agronegócio que tem uma das mais poderosas frentes do Congresso. “Eles pensam todos iguais? Não. Mas debatem suas divergências, chegam a um acordo e levam essa posição adiante. Eles têm um Roberto Rodrigues (ex-ministro da Agricultura). Nós temos quem?”, pergunta.

Os nomes que a indústria tem, acrescenta Roriz, brigam entre si até nas mesmas instituições. No começo deste ano, a CNI precisou interferir numa disputa territorial em que o ex-presidente da Fiesp Paulo Skaf tentou organizar um levante entre os filiados para derrubar do cargo o presidente eleito, Josué Gomes da Silva.

O episódio, segundo Roriz, demonstra o grau de vaidade e intrigas envolvendo o setor industrial. E, pior, os industriais não são, considera ele, bem vistos pela população. Outro ponto que difere é que o agro produz alimentos e, segundo Roriz, consolidou uma imagem de que “alimenta o Brasil e o mundo”. “A opinião pública acha que os industriais vivem de subsídios e que estão sempre chorando.”

Segundo o presidente do Centro das Indústrias do Estado de São Paulo (Ciesp), o empresário e engenheiro Rafael Cervone, também primeiro-vice-presidente da Fiesp, o agro, desde 1973, trabalha com um plano estruturado e consolidado. O mesmo não acontece na indústria, que vem perdendo espaço no panorama nacional. “Nós não precisamos de Protec ou de campeãs. Necessitamos apenas de segurança jurídica e previsibilidade. Isso, sim, vai permitir agregar valor à indústria. E são essas questões que precisam ser defendidas no Congresso”, afirma Cervone.

Deputado José Rocha (União Brasil-BA) coordena frente parlamentar da indústria no Congresso Nacional Foto: Dida Sampaio/Estadão

Para ele, uma frente parlamentar vai ajudar na mobilização e trabalhará melhor as questões mais importantes. “A indústria tem mais de 130 setores, é bem difícil fazê-los convergir. Por isso precisamos de uma bancada que seja forte, que pense no País, e não no setor. Porque não podemos seguir vivendo em um País onde os únicos que ganham dinheiro são os bancos. Algo está muito errado”, afirma Cervone.

Perda de peso da indústria de transformação

Um estudo do Observatório da Produtividade, da FGV-Ibre, consegue traçar as razões da perda do peso da indústria de transformação nacional. O documento mostra uma queda em torno de 1% ao ano na produtividade nos últimos 30 anos. No mesmo período, a produtividade na agropecuária aumentou em média 5,5% ao ano. “E por quê?”, pergunta o professor e coordenador do Núcleo de Contas Nacionais na FGV-Ibre, Claudio Considera, respondendo ele mesmo: “O agro tem um plano estruturado, e é isso que vai agregar valor à indústria e ajudar a sair da crise. O que não podemos é ficar, por exemplo, criando incentivos para a indústria automobilística. Isso é uma besteira. Uma estupidez do tamanho de um bonde”, critica Considera.

O deputado José Rocha, por enquanto, diz que está tomando pé do terreno onde vai pisar. Mas está convencido de que com o apoio da CNI e os dados negativos que vêm sendo colhidos pela indústria de transformação, há uma boa chance de união. “Vamos deixar de ser um setor desarticulado”, afirma.

Longe ficou o tempo em que os grandes nomes da indústria, desde a Avenida Paulista, no coração do Estado mais rico do País, pontificavam na vida nacional. Nas últimas quatro décadas em que o Produto Interno Bruto (PIB) passa por altos e baixos, o protagonismo da indústria tem se desintegrado e as perdas passaram a se refletir também no poder de influenciar nas políticas que atingem o setor diretamente. Empresários e políticos avaliam que a situação poderá mudar. Há menos dois meses, parlamentares, com o apoio da Confederação Nacional da Indústria (CNI), resolveram organizar um grupo nos moldes da bem-sucedida Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA).

Linha de produção de automóveis em Sorocaba, no interior de São Paulo  Foto: Divulgação/Toyota

O primeiro teste para a atuação conjunta do grupo que ganhou o nome de Frente Parlamentar Mista da Indústria e reúne, até agora, 290 deputados e senadores, já tem data para ocorrer: a discussão da reforma tributária. “Temos menos indústria e muito menos representatividade do que poderíamos ter”, admite o gerente-executivo de Economia da CNI, Mário Sérgio Telles.

“Se a frente influenciar e trabalhar em defesa da visão da indústria, em um projeto que consiga equalizar o peso dos impostos, simplificando e trabalhando por justiça social, certamente conquistará um importante espaço no Parlamento”, acredita o presidente em exercício da Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan), Luiz Césio Caetano. Até agora, pondera ele, o setor tem ficado a reboque de iniciativas isoladas e interesses individuais. “Devemos acabar com a omissão. Precisamos ser relevantes nas decisões do Congresso que se refletem nos nossos negócios e na vida nacional”, completa.

É um setor muito disperso, de concorrência entre os principais interlocutores. Veja o caso da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo) e da CNI (Confederação Nacional da Indústria) que disputam protagonismo. Não há união

José Rocha (União Brasil-BA), coordenador da nova frente parlamentar

O coordenador da nova frente, deputado José Rocha (União Brasil-BA), reconhece que o desafio é “imenso”. Diferentemente do que ocorre com o agronegócio, Rocha explica que o setor industrial carece de líderes fortes que defendam seus interesses. “É um setor muito disperso, de concorrência entre os principais interlocutores. Veja o caso da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo) e da CNI que disputam protagonismo. Não há união”, observa. A frente parlamentar é suprapartidária.

Não é preciso perguntar muito para perceber que conciliar interesses, até mesmo ideologias e preferências políticas, exigirá muito jogo de cintura de quem quiser chegar a um consenso. No Rio Grande do Sul, Estado eminentemente bolsonarista, a Federação das Indústrias local (Fiergs) acompanha a evolução das medidas econômicas do governo Luiz Inácio Lula da Silva para aumentar ou diminuir investimentos no setor. “Há muita incerteza econômica e a confiança está em baixa, neste começo de governo. A indústria gaúcha deverá ser cautelosa e esperar um cenário com melhores condições para efetivar os investimentos”, afirma o presidente da Fiergs, Gilberto Porcello Petry.

Pesquisa da Unidade de Estudos Econômicos (UEE) da entidade aponta que, em 2022, a proporção de empresas que investiram cresceu pelo segundo ano consecutivo. Foram 2,5% acima do registrado em 2021 e 11,2% maiores do que em 2020. Entretanto, para 2023, o levantamento sinaliza um cenário desfavorável. Apenas 54% das empresas têm intenção de investir. “A indústria gaúcha, sem uma sinalização de estabilidade, continuará esperando o desenrolar dos acontecimentos”, acrescenta Petry.

Por sua vez, o presidente da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg), Flavio Roscoe Nogueira, afirma que o País vive uma conjuntura “muito ruim” para a indústria. “O que conta ainda em nosso favor é que somos um segmento muito importante da economia e, em qualquer nação desenvolvida, ele acaba sempre tendo relevância política”, observa. Ele diz não acreditar que seja fácil aglutinar os interesses do setor em uma frente, mas considera positiva a iniciativa.

Alguns dos grandes entraves precisam ser decididos no Congresso. Veja, por exemplo, a reforma trabalhista. É preciso reformar a reforma rapidamente porque aquela que foi feita é pífia. (...) É a mais cara mão de obra do mundo e a Justiça trabalhista continua sendo a mais protetora do mundo também

Flavio Roscoe Nogueira, presidente da Fiemg

“Alguns dos grandes entraves precisam ser decididos no Congresso. Veja, por exemplo, a reforma trabalhista. É preciso reformar a reforma rapidamente porque aquela que foi feita é pífia”, critica Nogueira. “É a mais cara mão de obra do mundo e a Justiça trabalhista continua sendo a mais protetora do mundo também”, reclama.

De acordo com estimativa apresentada pela CNI no Dia da Indústria, o Custo Brasil (que inclui os encargos trabalhistas) retira R$ 1,5 trilhão das empresas, o equivalente a 20,5% do PIB.

Indústria de transformação estagnada e divergências

Na opinião do presidente da Associação Brasileira da Indústria do Plástico (Abiplast), José Ricardo Roriz Coelho, à medida que a indústria de transformação não cresce, o setor perde reconhecimento e o consenso entre os representantes se torna muito difícil. Ele cita como exemplo o agronegócio que tem uma das mais poderosas frentes do Congresso. “Eles pensam todos iguais? Não. Mas debatem suas divergências, chegam a um acordo e levam essa posição adiante. Eles têm um Roberto Rodrigues (ex-ministro da Agricultura). Nós temos quem?”, pergunta.

Os nomes que a indústria tem, acrescenta Roriz, brigam entre si até nas mesmas instituições. No começo deste ano, a CNI precisou interferir numa disputa territorial em que o ex-presidente da Fiesp Paulo Skaf tentou organizar um levante entre os filiados para derrubar do cargo o presidente eleito, Josué Gomes da Silva.

O episódio, segundo Roriz, demonstra o grau de vaidade e intrigas envolvendo o setor industrial. E, pior, os industriais não são, considera ele, bem vistos pela população. Outro ponto que difere é que o agro produz alimentos e, segundo Roriz, consolidou uma imagem de que “alimenta o Brasil e o mundo”. “A opinião pública acha que os industriais vivem de subsídios e que estão sempre chorando.”

Segundo o presidente do Centro das Indústrias do Estado de São Paulo (Ciesp), o empresário e engenheiro Rafael Cervone, também primeiro-vice-presidente da Fiesp, o agro, desde 1973, trabalha com um plano estruturado e consolidado. O mesmo não acontece na indústria, que vem perdendo espaço no panorama nacional. “Nós não precisamos de Protec ou de campeãs. Necessitamos apenas de segurança jurídica e previsibilidade. Isso, sim, vai permitir agregar valor à indústria. E são essas questões que precisam ser defendidas no Congresso”, afirma Cervone.

Deputado José Rocha (União Brasil-BA) coordena frente parlamentar da indústria no Congresso Nacional Foto: Dida Sampaio/Estadão

Para ele, uma frente parlamentar vai ajudar na mobilização e trabalhará melhor as questões mais importantes. “A indústria tem mais de 130 setores, é bem difícil fazê-los convergir. Por isso precisamos de uma bancada que seja forte, que pense no País, e não no setor. Porque não podemos seguir vivendo em um País onde os únicos que ganham dinheiro são os bancos. Algo está muito errado”, afirma Cervone.

Perda de peso da indústria de transformação

Um estudo do Observatório da Produtividade, da FGV-Ibre, consegue traçar as razões da perda do peso da indústria de transformação nacional. O documento mostra uma queda em torno de 1% ao ano na produtividade nos últimos 30 anos. No mesmo período, a produtividade na agropecuária aumentou em média 5,5% ao ano. “E por quê?”, pergunta o professor e coordenador do Núcleo de Contas Nacionais na FGV-Ibre, Claudio Considera, respondendo ele mesmo: “O agro tem um plano estruturado, e é isso que vai agregar valor à indústria e ajudar a sair da crise. O que não podemos é ficar, por exemplo, criando incentivos para a indústria automobilística. Isso é uma besteira. Uma estupidez do tamanho de um bonde”, critica Considera.

O deputado José Rocha, por enquanto, diz que está tomando pé do terreno onde vai pisar. Mas está convencido de que com o apoio da CNI e os dados negativos que vêm sendo colhidos pela indústria de transformação, há uma boa chance de união. “Vamos deixar de ser um setor desarticulado”, afirma.

Longe ficou o tempo em que os grandes nomes da indústria, desde a Avenida Paulista, no coração do Estado mais rico do País, pontificavam na vida nacional. Nas últimas quatro décadas em que o Produto Interno Bruto (PIB) passa por altos e baixos, o protagonismo da indústria tem se desintegrado e as perdas passaram a se refletir também no poder de influenciar nas políticas que atingem o setor diretamente. Empresários e políticos avaliam que a situação poderá mudar. Há menos dois meses, parlamentares, com o apoio da Confederação Nacional da Indústria (CNI), resolveram organizar um grupo nos moldes da bem-sucedida Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA).

Linha de produção de automóveis em Sorocaba, no interior de São Paulo  Foto: Divulgação/Toyota

O primeiro teste para a atuação conjunta do grupo que ganhou o nome de Frente Parlamentar Mista da Indústria e reúne, até agora, 290 deputados e senadores, já tem data para ocorrer: a discussão da reforma tributária. “Temos menos indústria e muito menos representatividade do que poderíamos ter”, admite o gerente-executivo de Economia da CNI, Mário Sérgio Telles.

“Se a frente influenciar e trabalhar em defesa da visão da indústria, em um projeto que consiga equalizar o peso dos impostos, simplificando e trabalhando por justiça social, certamente conquistará um importante espaço no Parlamento”, acredita o presidente em exercício da Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan), Luiz Césio Caetano. Até agora, pondera ele, o setor tem ficado a reboque de iniciativas isoladas e interesses individuais. “Devemos acabar com a omissão. Precisamos ser relevantes nas decisões do Congresso que se refletem nos nossos negócios e na vida nacional”, completa.

É um setor muito disperso, de concorrência entre os principais interlocutores. Veja o caso da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo) e da CNI (Confederação Nacional da Indústria) que disputam protagonismo. Não há união

José Rocha (União Brasil-BA), coordenador da nova frente parlamentar

O coordenador da nova frente, deputado José Rocha (União Brasil-BA), reconhece que o desafio é “imenso”. Diferentemente do que ocorre com o agronegócio, Rocha explica que o setor industrial carece de líderes fortes que defendam seus interesses. “É um setor muito disperso, de concorrência entre os principais interlocutores. Veja o caso da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo) e da CNI que disputam protagonismo. Não há união”, observa. A frente parlamentar é suprapartidária.

Não é preciso perguntar muito para perceber que conciliar interesses, até mesmo ideologias e preferências políticas, exigirá muito jogo de cintura de quem quiser chegar a um consenso. No Rio Grande do Sul, Estado eminentemente bolsonarista, a Federação das Indústrias local (Fiergs) acompanha a evolução das medidas econômicas do governo Luiz Inácio Lula da Silva para aumentar ou diminuir investimentos no setor. “Há muita incerteza econômica e a confiança está em baixa, neste começo de governo. A indústria gaúcha deverá ser cautelosa e esperar um cenário com melhores condições para efetivar os investimentos”, afirma o presidente da Fiergs, Gilberto Porcello Petry.

Pesquisa da Unidade de Estudos Econômicos (UEE) da entidade aponta que, em 2022, a proporção de empresas que investiram cresceu pelo segundo ano consecutivo. Foram 2,5% acima do registrado em 2021 e 11,2% maiores do que em 2020. Entretanto, para 2023, o levantamento sinaliza um cenário desfavorável. Apenas 54% das empresas têm intenção de investir. “A indústria gaúcha, sem uma sinalização de estabilidade, continuará esperando o desenrolar dos acontecimentos”, acrescenta Petry.

Por sua vez, o presidente da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg), Flavio Roscoe Nogueira, afirma que o País vive uma conjuntura “muito ruim” para a indústria. “O que conta ainda em nosso favor é que somos um segmento muito importante da economia e, em qualquer nação desenvolvida, ele acaba sempre tendo relevância política”, observa. Ele diz não acreditar que seja fácil aglutinar os interesses do setor em uma frente, mas considera positiva a iniciativa.

Alguns dos grandes entraves precisam ser decididos no Congresso. Veja, por exemplo, a reforma trabalhista. É preciso reformar a reforma rapidamente porque aquela que foi feita é pífia. (...) É a mais cara mão de obra do mundo e a Justiça trabalhista continua sendo a mais protetora do mundo também

Flavio Roscoe Nogueira, presidente da Fiemg

“Alguns dos grandes entraves precisam ser decididos no Congresso. Veja, por exemplo, a reforma trabalhista. É preciso reformar a reforma rapidamente porque aquela que foi feita é pífia”, critica Nogueira. “É a mais cara mão de obra do mundo e a Justiça trabalhista continua sendo a mais protetora do mundo também”, reclama.

De acordo com estimativa apresentada pela CNI no Dia da Indústria, o Custo Brasil (que inclui os encargos trabalhistas) retira R$ 1,5 trilhão das empresas, o equivalente a 20,5% do PIB.

Indústria de transformação estagnada e divergências

Na opinião do presidente da Associação Brasileira da Indústria do Plástico (Abiplast), José Ricardo Roriz Coelho, à medida que a indústria de transformação não cresce, o setor perde reconhecimento e o consenso entre os representantes se torna muito difícil. Ele cita como exemplo o agronegócio que tem uma das mais poderosas frentes do Congresso. “Eles pensam todos iguais? Não. Mas debatem suas divergências, chegam a um acordo e levam essa posição adiante. Eles têm um Roberto Rodrigues (ex-ministro da Agricultura). Nós temos quem?”, pergunta.

Os nomes que a indústria tem, acrescenta Roriz, brigam entre si até nas mesmas instituições. No começo deste ano, a CNI precisou interferir numa disputa territorial em que o ex-presidente da Fiesp Paulo Skaf tentou organizar um levante entre os filiados para derrubar do cargo o presidente eleito, Josué Gomes da Silva.

O episódio, segundo Roriz, demonstra o grau de vaidade e intrigas envolvendo o setor industrial. E, pior, os industriais não são, considera ele, bem vistos pela população. Outro ponto que difere é que o agro produz alimentos e, segundo Roriz, consolidou uma imagem de que “alimenta o Brasil e o mundo”. “A opinião pública acha que os industriais vivem de subsídios e que estão sempre chorando.”

Segundo o presidente do Centro das Indústrias do Estado de São Paulo (Ciesp), o empresário e engenheiro Rafael Cervone, também primeiro-vice-presidente da Fiesp, o agro, desde 1973, trabalha com um plano estruturado e consolidado. O mesmo não acontece na indústria, que vem perdendo espaço no panorama nacional. “Nós não precisamos de Protec ou de campeãs. Necessitamos apenas de segurança jurídica e previsibilidade. Isso, sim, vai permitir agregar valor à indústria. E são essas questões que precisam ser defendidas no Congresso”, afirma Cervone.

Deputado José Rocha (União Brasil-BA) coordena frente parlamentar da indústria no Congresso Nacional Foto: Dida Sampaio/Estadão

Para ele, uma frente parlamentar vai ajudar na mobilização e trabalhará melhor as questões mais importantes. “A indústria tem mais de 130 setores, é bem difícil fazê-los convergir. Por isso precisamos de uma bancada que seja forte, que pense no País, e não no setor. Porque não podemos seguir vivendo em um País onde os únicos que ganham dinheiro são os bancos. Algo está muito errado”, afirma Cervone.

Perda de peso da indústria de transformação

Um estudo do Observatório da Produtividade, da FGV-Ibre, consegue traçar as razões da perda do peso da indústria de transformação nacional. O documento mostra uma queda em torno de 1% ao ano na produtividade nos últimos 30 anos. No mesmo período, a produtividade na agropecuária aumentou em média 5,5% ao ano. “E por quê?”, pergunta o professor e coordenador do Núcleo de Contas Nacionais na FGV-Ibre, Claudio Considera, respondendo ele mesmo: “O agro tem um plano estruturado, e é isso que vai agregar valor à indústria e ajudar a sair da crise. O que não podemos é ficar, por exemplo, criando incentivos para a indústria automobilística. Isso é uma besteira. Uma estupidez do tamanho de um bonde”, critica Considera.

O deputado José Rocha, por enquanto, diz que está tomando pé do terreno onde vai pisar. Mas está convencido de que com o apoio da CNI e os dados negativos que vêm sendo colhidos pela indústria de transformação, há uma boa chance de união. “Vamos deixar de ser um setor desarticulado”, afirma.

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