Trampolim de Marçal, indústria de cortes opera com brechas no sistema de monetização de plataformas


Formato se popularizou na esteira dos podcasts, e remuneração por parte das plataformas tem levado usuários a tentarem burlar algoritmos em busca de riqueza

Por Guilherme Caetano

BRASÍLIA – O mercado dos chamados “cortes” nas plataformas de vídeo, içado ao centro do debate eleitoral de São Paulo por Pablo Marçal (PRTB), cresceu nos últimos anos na esteira da popularização dos podcasts e das transmissões ao vivo. Mas são as brechas no sistema de monetização das redes sociais que têm rendido a usuários a promessa de dinheiro fácil.

Os cortes são um formato de divulgação de trechos recortados de vídeos mais longos, pinçados como os “melhores momentos” daquele conteúdo. Eles são voltados sobretudo a usuários que não querem se deter à íntegra do material, que muitas vezes toma horas de duração.

continua após a publicidade

Marçal virou alvo da Justiça Eleitoral após a campanha de Tabata Amaral (PSB) acusá-lo de abuso de poder por, entre outras coisas, promover campeonatos de cortes com premiação em dinheiro aos vencedores. O Estadão mostrou que a comunidade no Discord que promovia esses eventos fez uma limpeza nas mensagens após o início da investigação.

Com a massificação dos programas de entrevista em vídeo como os “mesacasts” – modelo criado a partir dos podcasts, em que entrevistadores e convidados passam um longo tempo conversando sobre determinado tema, sentados a uma mesa –, multiplicaram-se canais dedicados a oferecer pílulas curtas dessas gravações.

Candidato à Prefeitura de São Paulo, Pablo Marçal (PRTB) fala que já rezou em dois velórios para que os falecidos ressuscitassem Foto: @FlowPodcast via YouTube
continua após a publicidade

Alguns dos gigantes do YouTube brasileiro têm seus próprios canais de cortes, para segurar a audiência que gosta do conteúdo do canal, mas não consegue acompanhar tudo o que é produzido. O comunicador Casimiro Miguel se tornou referência no meio por ter popularizado o seu próprio canal de cortes (3,92 milhões de inscritos), que funciona como uma curadoria do conteúdo que ele produz. Seu principal produto, a CazéTV, tem 16,3 milhões de inscritos.

Com o tempo, outros canais, em especial de podcasts, passaram a fazer o mesmo, sob o entendimento de que esses vídeos curtos servem como isca para usuários passarem a consumir o conteúdo completo. Alguns exemplos são o POD DELAS (3 milhões de inscritos) com o Cortes PODDELAS (672 mil), o Podpah (8,5 milhões) com o Cortes Podpah (2,6 milhões), e o Flow Podcast (5,6 milhões) com o Cortes do Flow (2,8 milhões).

A professora e pesquisadora da USP Carolina Terra, que estuda o tema, coloca ressalvas sobre o poder desse formato. “Esses cortes funcionam com alguma frase de efeito, com alguma opinião polêmica, com algo que vai chamar a atenção do usuário. Mas muitas vezes eles favorecem enormemente a desinformação, porque eles podem ser descontextualizados. Como o nome mesmo diz, é um corte, então você não conhece o contexto todo, e aquilo pode viralizar pura e simplesmente por uma fala distorcida”, disse.

continua após a publicidade

Os apresentadores do Podpah chegaram a se queixar com os seus inscritos da “dor de cabeça” causada pela manipulação e descontextualização radical do conteúdo que publicavam pelos canais de cortes. “A gente está tendo muita dor de cabeça com vocês que fazem cortes. A gente libera, tudo certo, mas a gente está tendo muito problema. Tem uma regra nova: só vai poder fazer corte depois de 24 horas (da publicação do vídeo), para a gente poder analisar. (Tem gente que) manipula o título, faz um clickbait, isso acaba f* nosso programa”, queixou-se Igor Cavalari, o Igão, em um vídeo publicado em 2021.

‘Como ficar rico com cortes’: publicações ensinam como aproveitar brechas das plataformas

continua após a publicidade

A remuneração de produtores de conteúdo nessas plataformas abriu uma demanda para usuários comuns se aproveitarem das publicações alheias. Há um vasto número de canais no YouTube prometendo como ganhar “rios de dinheiro” com cortes de produtos famosos. “Como ficar rico com cortes” é uma das buscas sugeridas quando se pesquisa esse tipo de formato no buscador do site de vídeos, por exemplo.

O Estadão levantou uma série de vídeos ensinando macetes para driblar o algoritmo de plataformas como YouTube e TikTok, uma vez que essas redes costumam privilegiar conteúdo original, e mascarar a publicação “roubada”.

O site Social Blade, ferramenta de métricas para redes sociais, estima que o TikTok pague de 20 a 50 dólares por milhão de visualizações, e o YouTube, de 250 a 4 mil dólares pela mesma quantidade de exibições. Tendo isso em vista, canais passaram a orientar o que fazer para ganhar milhares de reais por mês sem produzir nenhuma novidade para a rede social.

continua após a publicidade

Entre as orientações de youtubers para “enganar” o algoritmo estão inverter o vídeo original, incluir uma trilha sonora alheia e acrescentar a própria dublagem no trecho em destaque, na tentativa de que a plataforma identifique aquela publicação como original. Produtores de conteúdo passaram a introduzir em um canto do corte vídeos aleatórios que geram alguma satisfação, de artesanato ou jogatina de games, por exemplo, para reter mais a atenção do usuário.

Pablo Marçal estimula ‘indústria de cortes’

O próprio Marçal se especializou nesse nicho. Na busca por dicas para ganhar dinheiro com cortes há diversos conselhos do coach. Em uma palestra dada no último ano, ele declarou ter centenas de “alunos” enriquecendo com a divulgação de sua imagem, e que eles podem “criar negócios” a partir de parcerias com ele e da audiência alcançada replicando seu conteúdo.

continua após a publicidade

“Deve ter aí no mínimo uns 300 alunos meus ficando ricos sem colocar a imagem deles, só pondo a minha. O que você faz? Você pega o corte de uma coisa muito forte que eu estou fazendo, lança esse corte, e se você for bem-sucedido, a minha equipe vai te chamar para uma parceria”, afirmou na ocasião.

Durante debate, Marçal usou uma carteira de trabalho para provocar o adversário Guilherme Boulos; ato rendeu um dos cortes do candidato Foto: Werther Santana/Estadão

Em outro vídeo antigo, gravado e disponibilizado em um canal parceiro, Marçal disse ter criado uma “indústria de cortes”, e que paga para os fãs compartilharem seus vídeos. Ele menciona patrocinar sites que publicam o conteúdo “sem parar”.

“A gente criou um indústria de cortes. Tem três públicos: a tropa gigante que faz vídeo para nós, corta e posta sem parar; tem os simpatizantes, que não participam do rolê. Então, se você é simpatizante e está postando, você pode entrar no Discord e ganhar dinheiro. Ganhar não, fazer (dinheiro), né, porque eu estou pagando, e também posso pagar para você não parar (de postar). Tem alguns portais que estão fazendo sem parar e estão sendo patrocinados. Não aguento mais gastar milhões com tráfego pago. Melhor gastar com a turminha aí fazendo vídeo”, disse.

Para Carolina Terra, pessoas como Marçal acabam se tornando especialistas no algoritmo, portanto “experts da visibilidade”, já que aprendem os caminhos para alcançar a maior quantidade de pessoas possível. “Se você domina minimamente o algoritmo, você sabe qual tipo de conteúdo produzir, a duração, qual formato. Então, você consegue sempre lacrar para obter a audiência que quiser. Infelizmente, isso tem estado a serviço da desinformação, de uma direita extrema, com esse afã de sempre viralizar”, afirmou.

BRASÍLIA – O mercado dos chamados “cortes” nas plataformas de vídeo, içado ao centro do debate eleitoral de São Paulo por Pablo Marçal (PRTB), cresceu nos últimos anos na esteira da popularização dos podcasts e das transmissões ao vivo. Mas são as brechas no sistema de monetização das redes sociais que têm rendido a usuários a promessa de dinheiro fácil.

Os cortes são um formato de divulgação de trechos recortados de vídeos mais longos, pinçados como os “melhores momentos” daquele conteúdo. Eles são voltados sobretudo a usuários que não querem se deter à íntegra do material, que muitas vezes toma horas de duração.

Marçal virou alvo da Justiça Eleitoral após a campanha de Tabata Amaral (PSB) acusá-lo de abuso de poder por, entre outras coisas, promover campeonatos de cortes com premiação em dinheiro aos vencedores. O Estadão mostrou que a comunidade no Discord que promovia esses eventos fez uma limpeza nas mensagens após o início da investigação.

Com a massificação dos programas de entrevista em vídeo como os “mesacasts” – modelo criado a partir dos podcasts, em que entrevistadores e convidados passam um longo tempo conversando sobre determinado tema, sentados a uma mesa –, multiplicaram-se canais dedicados a oferecer pílulas curtas dessas gravações.

Candidato à Prefeitura de São Paulo, Pablo Marçal (PRTB) fala que já rezou em dois velórios para que os falecidos ressuscitassem Foto: @FlowPodcast via YouTube

Alguns dos gigantes do YouTube brasileiro têm seus próprios canais de cortes, para segurar a audiência que gosta do conteúdo do canal, mas não consegue acompanhar tudo o que é produzido. O comunicador Casimiro Miguel se tornou referência no meio por ter popularizado o seu próprio canal de cortes (3,92 milhões de inscritos), que funciona como uma curadoria do conteúdo que ele produz. Seu principal produto, a CazéTV, tem 16,3 milhões de inscritos.

Com o tempo, outros canais, em especial de podcasts, passaram a fazer o mesmo, sob o entendimento de que esses vídeos curtos servem como isca para usuários passarem a consumir o conteúdo completo. Alguns exemplos são o POD DELAS (3 milhões de inscritos) com o Cortes PODDELAS (672 mil), o Podpah (8,5 milhões) com o Cortes Podpah (2,6 milhões), e o Flow Podcast (5,6 milhões) com o Cortes do Flow (2,8 milhões).

A professora e pesquisadora da USP Carolina Terra, que estuda o tema, coloca ressalvas sobre o poder desse formato. “Esses cortes funcionam com alguma frase de efeito, com alguma opinião polêmica, com algo que vai chamar a atenção do usuário. Mas muitas vezes eles favorecem enormemente a desinformação, porque eles podem ser descontextualizados. Como o nome mesmo diz, é um corte, então você não conhece o contexto todo, e aquilo pode viralizar pura e simplesmente por uma fala distorcida”, disse.

Os apresentadores do Podpah chegaram a se queixar com os seus inscritos da “dor de cabeça” causada pela manipulação e descontextualização radical do conteúdo que publicavam pelos canais de cortes. “A gente está tendo muita dor de cabeça com vocês que fazem cortes. A gente libera, tudo certo, mas a gente está tendo muito problema. Tem uma regra nova: só vai poder fazer corte depois de 24 horas (da publicação do vídeo), para a gente poder analisar. (Tem gente que) manipula o título, faz um clickbait, isso acaba f* nosso programa”, queixou-se Igor Cavalari, o Igão, em um vídeo publicado em 2021.

‘Como ficar rico com cortes’: publicações ensinam como aproveitar brechas das plataformas

A remuneração de produtores de conteúdo nessas plataformas abriu uma demanda para usuários comuns se aproveitarem das publicações alheias. Há um vasto número de canais no YouTube prometendo como ganhar “rios de dinheiro” com cortes de produtos famosos. “Como ficar rico com cortes” é uma das buscas sugeridas quando se pesquisa esse tipo de formato no buscador do site de vídeos, por exemplo.

O Estadão levantou uma série de vídeos ensinando macetes para driblar o algoritmo de plataformas como YouTube e TikTok, uma vez que essas redes costumam privilegiar conteúdo original, e mascarar a publicação “roubada”.

O site Social Blade, ferramenta de métricas para redes sociais, estima que o TikTok pague de 20 a 50 dólares por milhão de visualizações, e o YouTube, de 250 a 4 mil dólares pela mesma quantidade de exibições. Tendo isso em vista, canais passaram a orientar o que fazer para ganhar milhares de reais por mês sem produzir nenhuma novidade para a rede social.

Entre as orientações de youtubers para “enganar” o algoritmo estão inverter o vídeo original, incluir uma trilha sonora alheia e acrescentar a própria dublagem no trecho em destaque, na tentativa de que a plataforma identifique aquela publicação como original. Produtores de conteúdo passaram a introduzir em um canto do corte vídeos aleatórios que geram alguma satisfação, de artesanato ou jogatina de games, por exemplo, para reter mais a atenção do usuário.

Pablo Marçal estimula ‘indústria de cortes’

O próprio Marçal se especializou nesse nicho. Na busca por dicas para ganhar dinheiro com cortes há diversos conselhos do coach. Em uma palestra dada no último ano, ele declarou ter centenas de “alunos” enriquecendo com a divulgação de sua imagem, e que eles podem “criar negócios” a partir de parcerias com ele e da audiência alcançada replicando seu conteúdo.

“Deve ter aí no mínimo uns 300 alunos meus ficando ricos sem colocar a imagem deles, só pondo a minha. O que você faz? Você pega o corte de uma coisa muito forte que eu estou fazendo, lança esse corte, e se você for bem-sucedido, a minha equipe vai te chamar para uma parceria”, afirmou na ocasião.

Durante debate, Marçal usou uma carteira de trabalho para provocar o adversário Guilherme Boulos; ato rendeu um dos cortes do candidato Foto: Werther Santana/Estadão

Em outro vídeo antigo, gravado e disponibilizado em um canal parceiro, Marçal disse ter criado uma “indústria de cortes”, e que paga para os fãs compartilharem seus vídeos. Ele menciona patrocinar sites que publicam o conteúdo “sem parar”.

“A gente criou um indústria de cortes. Tem três públicos: a tropa gigante que faz vídeo para nós, corta e posta sem parar; tem os simpatizantes, que não participam do rolê. Então, se você é simpatizante e está postando, você pode entrar no Discord e ganhar dinheiro. Ganhar não, fazer (dinheiro), né, porque eu estou pagando, e também posso pagar para você não parar (de postar). Tem alguns portais que estão fazendo sem parar e estão sendo patrocinados. Não aguento mais gastar milhões com tráfego pago. Melhor gastar com a turminha aí fazendo vídeo”, disse.

Para Carolina Terra, pessoas como Marçal acabam se tornando especialistas no algoritmo, portanto “experts da visibilidade”, já que aprendem os caminhos para alcançar a maior quantidade de pessoas possível. “Se você domina minimamente o algoritmo, você sabe qual tipo de conteúdo produzir, a duração, qual formato. Então, você consegue sempre lacrar para obter a audiência que quiser. Infelizmente, isso tem estado a serviço da desinformação, de uma direita extrema, com esse afã de sempre viralizar”, afirmou.

BRASÍLIA – O mercado dos chamados “cortes” nas plataformas de vídeo, içado ao centro do debate eleitoral de São Paulo por Pablo Marçal (PRTB), cresceu nos últimos anos na esteira da popularização dos podcasts e das transmissões ao vivo. Mas são as brechas no sistema de monetização das redes sociais que têm rendido a usuários a promessa de dinheiro fácil.

Os cortes são um formato de divulgação de trechos recortados de vídeos mais longos, pinçados como os “melhores momentos” daquele conteúdo. Eles são voltados sobretudo a usuários que não querem se deter à íntegra do material, que muitas vezes toma horas de duração.

Marçal virou alvo da Justiça Eleitoral após a campanha de Tabata Amaral (PSB) acusá-lo de abuso de poder por, entre outras coisas, promover campeonatos de cortes com premiação em dinheiro aos vencedores. O Estadão mostrou que a comunidade no Discord que promovia esses eventos fez uma limpeza nas mensagens após o início da investigação.

Com a massificação dos programas de entrevista em vídeo como os “mesacasts” – modelo criado a partir dos podcasts, em que entrevistadores e convidados passam um longo tempo conversando sobre determinado tema, sentados a uma mesa –, multiplicaram-se canais dedicados a oferecer pílulas curtas dessas gravações.

Candidato à Prefeitura de São Paulo, Pablo Marçal (PRTB) fala que já rezou em dois velórios para que os falecidos ressuscitassem Foto: @FlowPodcast via YouTube

Alguns dos gigantes do YouTube brasileiro têm seus próprios canais de cortes, para segurar a audiência que gosta do conteúdo do canal, mas não consegue acompanhar tudo o que é produzido. O comunicador Casimiro Miguel se tornou referência no meio por ter popularizado o seu próprio canal de cortes (3,92 milhões de inscritos), que funciona como uma curadoria do conteúdo que ele produz. Seu principal produto, a CazéTV, tem 16,3 milhões de inscritos.

Com o tempo, outros canais, em especial de podcasts, passaram a fazer o mesmo, sob o entendimento de que esses vídeos curtos servem como isca para usuários passarem a consumir o conteúdo completo. Alguns exemplos são o POD DELAS (3 milhões de inscritos) com o Cortes PODDELAS (672 mil), o Podpah (8,5 milhões) com o Cortes Podpah (2,6 milhões), e o Flow Podcast (5,6 milhões) com o Cortes do Flow (2,8 milhões).

A professora e pesquisadora da USP Carolina Terra, que estuda o tema, coloca ressalvas sobre o poder desse formato. “Esses cortes funcionam com alguma frase de efeito, com alguma opinião polêmica, com algo que vai chamar a atenção do usuário. Mas muitas vezes eles favorecem enormemente a desinformação, porque eles podem ser descontextualizados. Como o nome mesmo diz, é um corte, então você não conhece o contexto todo, e aquilo pode viralizar pura e simplesmente por uma fala distorcida”, disse.

Os apresentadores do Podpah chegaram a se queixar com os seus inscritos da “dor de cabeça” causada pela manipulação e descontextualização radical do conteúdo que publicavam pelos canais de cortes. “A gente está tendo muita dor de cabeça com vocês que fazem cortes. A gente libera, tudo certo, mas a gente está tendo muito problema. Tem uma regra nova: só vai poder fazer corte depois de 24 horas (da publicação do vídeo), para a gente poder analisar. (Tem gente que) manipula o título, faz um clickbait, isso acaba f* nosso programa”, queixou-se Igor Cavalari, o Igão, em um vídeo publicado em 2021.

‘Como ficar rico com cortes’: publicações ensinam como aproveitar brechas das plataformas

A remuneração de produtores de conteúdo nessas plataformas abriu uma demanda para usuários comuns se aproveitarem das publicações alheias. Há um vasto número de canais no YouTube prometendo como ganhar “rios de dinheiro” com cortes de produtos famosos. “Como ficar rico com cortes” é uma das buscas sugeridas quando se pesquisa esse tipo de formato no buscador do site de vídeos, por exemplo.

O Estadão levantou uma série de vídeos ensinando macetes para driblar o algoritmo de plataformas como YouTube e TikTok, uma vez que essas redes costumam privilegiar conteúdo original, e mascarar a publicação “roubada”.

O site Social Blade, ferramenta de métricas para redes sociais, estima que o TikTok pague de 20 a 50 dólares por milhão de visualizações, e o YouTube, de 250 a 4 mil dólares pela mesma quantidade de exibições. Tendo isso em vista, canais passaram a orientar o que fazer para ganhar milhares de reais por mês sem produzir nenhuma novidade para a rede social.

Entre as orientações de youtubers para “enganar” o algoritmo estão inverter o vídeo original, incluir uma trilha sonora alheia e acrescentar a própria dublagem no trecho em destaque, na tentativa de que a plataforma identifique aquela publicação como original. Produtores de conteúdo passaram a introduzir em um canto do corte vídeos aleatórios que geram alguma satisfação, de artesanato ou jogatina de games, por exemplo, para reter mais a atenção do usuário.

Pablo Marçal estimula ‘indústria de cortes’

O próprio Marçal se especializou nesse nicho. Na busca por dicas para ganhar dinheiro com cortes há diversos conselhos do coach. Em uma palestra dada no último ano, ele declarou ter centenas de “alunos” enriquecendo com a divulgação de sua imagem, e que eles podem “criar negócios” a partir de parcerias com ele e da audiência alcançada replicando seu conteúdo.

“Deve ter aí no mínimo uns 300 alunos meus ficando ricos sem colocar a imagem deles, só pondo a minha. O que você faz? Você pega o corte de uma coisa muito forte que eu estou fazendo, lança esse corte, e se você for bem-sucedido, a minha equipe vai te chamar para uma parceria”, afirmou na ocasião.

Durante debate, Marçal usou uma carteira de trabalho para provocar o adversário Guilherme Boulos; ato rendeu um dos cortes do candidato Foto: Werther Santana/Estadão

Em outro vídeo antigo, gravado e disponibilizado em um canal parceiro, Marçal disse ter criado uma “indústria de cortes”, e que paga para os fãs compartilharem seus vídeos. Ele menciona patrocinar sites que publicam o conteúdo “sem parar”.

“A gente criou um indústria de cortes. Tem três públicos: a tropa gigante que faz vídeo para nós, corta e posta sem parar; tem os simpatizantes, que não participam do rolê. Então, se você é simpatizante e está postando, você pode entrar no Discord e ganhar dinheiro. Ganhar não, fazer (dinheiro), né, porque eu estou pagando, e também posso pagar para você não parar (de postar). Tem alguns portais que estão fazendo sem parar e estão sendo patrocinados. Não aguento mais gastar milhões com tráfego pago. Melhor gastar com a turminha aí fazendo vídeo”, disse.

Para Carolina Terra, pessoas como Marçal acabam se tornando especialistas no algoritmo, portanto “experts da visibilidade”, já que aprendem os caminhos para alcançar a maior quantidade de pessoas possível. “Se você domina minimamente o algoritmo, você sabe qual tipo de conteúdo produzir, a duração, qual formato. Então, você consegue sempre lacrar para obter a audiência que quiser. Infelizmente, isso tem estado a serviço da desinformação, de uma direita extrema, com esse afã de sempre viralizar”, afirmou.

BRASÍLIA – O mercado dos chamados “cortes” nas plataformas de vídeo, içado ao centro do debate eleitoral de São Paulo por Pablo Marçal (PRTB), cresceu nos últimos anos na esteira da popularização dos podcasts e das transmissões ao vivo. Mas são as brechas no sistema de monetização das redes sociais que têm rendido a usuários a promessa de dinheiro fácil.

Os cortes são um formato de divulgação de trechos recortados de vídeos mais longos, pinçados como os “melhores momentos” daquele conteúdo. Eles são voltados sobretudo a usuários que não querem se deter à íntegra do material, que muitas vezes toma horas de duração.

Marçal virou alvo da Justiça Eleitoral após a campanha de Tabata Amaral (PSB) acusá-lo de abuso de poder por, entre outras coisas, promover campeonatos de cortes com premiação em dinheiro aos vencedores. O Estadão mostrou que a comunidade no Discord que promovia esses eventos fez uma limpeza nas mensagens após o início da investigação.

Com a massificação dos programas de entrevista em vídeo como os “mesacasts” – modelo criado a partir dos podcasts, em que entrevistadores e convidados passam um longo tempo conversando sobre determinado tema, sentados a uma mesa –, multiplicaram-se canais dedicados a oferecer pílulas curtas dessas gravações.

Candidato à Prefeitura de São Paulo, Pablo Marçal (PRTB) fala que já rezou em dois velórios para que os falecidos ressuscitassem Foto: @FlowPodcast via YouTube

Alguns dos gigantes do YouTube brasileiro têm seus próprios canais de cortes, para segurar a audiência que gosta do conteúdo do canal, mas não consegue acompanhar tudo o que é produzido. O comunicador Casimiro Miguel se tornou referência no meio por ter popularizado o seu próprio canal de cortes (3,92 milhões de inscritos), que funciona como uma curadoria do conteúdo que ele produz. Seu principal produto, a CazéTV, tem 16,3 milhões de inscritos.

Com o tempo, outros canais, em especial de podcasts, passaram a fazer o mesmo, sob o entendimento de que esses vídeos curtos servem como isca para usuários passarem a consumir o conteúdo completo. Alguns exemplos são o POD DELAS (3 milhões de inscritos) com o Cortes PODDELAS (672 mil), o Podpah (8,5 milhões) com o Cortes Podpah (2,6 milhões), e o Flow Podcast (5,6 milhões) com o Cortes do Flow (2,8 milhões).

A professora e pesquisadora da USP Carolina Terra, que estuda o tema, coloca ressalvas sobre o poder desse formato. “Esses cortes funcionam com alguma frase de efeito, com alguma opinião polêmica, com algo que vai chamar a atenção do usuário. Mas muitas vezes eles favorecem enormemente a desinformação, porque eles podem ser descontextualizados. Como o nome mesmo diz, é um corte, então você não conhece o contexto todo, e aquilo pode viralizar pura e simplesmente por uma fala distorcida”, disse.

Os apresentadores do Podpah chegaram a se queixar com os seus inscritos da “dor de cabeça” causada pela manipulação e descontextualização radical do conteúdo que publicavam pelos canais de cortes. “A gente está tendo muita dor de cabeça com vocês que fazem cortes. A gente libera, tudo certo, mas a gente está tendo muito problema. Tem uma regra nova: só vai poder fazer corte depois de 24 horas (da publicação do vídeo), para a gente poder analisar. (Tem gente que) manipula o título, faz um clickbait, isso acaba f* nosso programa”, queixou-se Igor Cavalari, o Igão, em um vídeo publicado em 2021.

‘Como ficar rico com cortes’: publicações ensinam como aproveitar brechas das plataformas

A remuneração de produtores de conteúdo nessas plataformas abriu uma demanda para usuários comuns se aproveitarem das publicações alheias. Há um vasto número de canais no YouTube prometendo como ganhar “rios de dinheiro” com cortes de produtos famosos. “Como ficar rico com cortes” é uma das buscas sugeridas quando se pesquisa esse tipo de formato no buscador do site de vídeos, por exemplo.

O Estadão levantou uma série de vídeos ensinando macetes para driblar o algoritmo de plataformas como YouTube e TikTok, uma vez que essas redes costumam privilegiar conteúdo original, e mascarar a publicação “roubada”.

O site Social Blade, ferramenta de métricas para redes sociais, estima que o TikTok pague de 20 a 50 dólares por milhão de visualizações, e o YouTube, de 250 a 4 mil dólares pela mesma quantidade de exibições. Tendo isso em vista, canais passaram a orientar o que fazer para ganhar milhares de reais por mês sem produzir nenhuma novidade para a rede social.

Entre as orientações de youtubers para “enganar” o algoritmo estão inverter o vídeo original, incluir uma trilha sonora alheia e acrescentar a própria dublagem no trecho em destaque, na tentativa de que a plataforma identifique aquela publicação como original. Produtores de conteúdo passaram a introduzir em um canto do corte vídeos aleatórios que geram alguma satisfação, de artesanato ou jogatina de games, por exemplo, para reter mais a atenção do usuário.

Pablo Marçal estimula ‘indústria de cortes’

O próprio Marçal se especializou nesse nicho. Na busca por dicas para ganhar dinheiro com cortes há diversos conselhos do coach. Em uma palestra dada no último ano, ele declarou ter centenas de “alunos” enriquecendo com a divulgação de sua imagem, e que eles podem “criar negócios” a partir de parcerias com ele e da audiência alcançada replicando seu conteúdo.

“Deve ter aí no mínimo uns 300 alunos meus ficando ricos sem colocar a imagem deles, só pondo a minha. O que você faz? Você pega o corte de uma coisa muito forte que eu estou fazendo, lança esse corte, e se você for bem-sucedido, a minha equipe vai te chamar para uma parceria”, afirmou na ocasião.

Durante debate, Marçal usou uma carteira de trabalho para provocar o adversário Guilherme Boulos; ato rendeu um dos cortes do candidato Foto: Werther Santana/Estadão

Em outro vídeo antigo, gravado e disponibilizado em um canal parceiro, Marçal disse ter criado uma “indústria de cortes”, e que paga para os fãs compartilharem seus vídeos. Ele menciona patrocinar sites que publicam o conteúdo “sem parar”.

“A gente criou um indústria de cortes. Tem três públicos: a tropa gigante que faz vídeo para nós, corta e posta sem parar; tem os simpatizantes, que não participam do rolê. Então, se você é simpatizante e está postando, você pode entrar no Discord e ganhar dinheiro. Ganhar não, fazer (dinheiro), né, porque eu estou pagando, e também posso pagar para você não parar (de postar). Tem alguns portais que estão fazendo sem parar e estão sendo patrocinados. Não aguento mais gastar milhões com tráfego pago. Melhor gastar com a turminha aí fazendo vídeo”, disse.

Para Carolina Terra, pessoas como Marçal acabam se tornando especialistas no algoritmo, portanto “experts da visibilidade”, já que aprendem os caminhos para alcançar a maior quantidade de pessoas possível. “Se você domina minimamente o algoritmo, você sabe qual tipo de conteúdo produzir, a duração, qual formato. Então, você consegue sempre lacrar para obter a audiência que quiser. Infelizmente, isso tem estado a serviço da desinformação, de uma direita extrema, com esse afã de sempre viralizar”, afirmou.

Atualizamos nossa política de cookies

Ao utilizar nossos serviços, você aceita a política de monitoramento de cookies.