Recursos supostamente desviados da Bancoop (Cooperativa Habitacional dos Bancários de São Paulo), fundada pelo deputado Ricardo Berzoini (SP), atual presidente do PT, teriam financiado caixa 2 para campanha do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em 2002. A denúncia é do técnico em edificações Hélio Malheiro. Em depoimento ao Ministério Público de São Paulo, que investiga suspeita de crimes envolvendo a entidade, ele afirmou que seu irmão, Luís Eduardo Saeger Malheiro, ex-presidente da Bancoop e morto em acidente de carro em 2004, confidenciou-lhe que "tinha de ceder às pressões políticas e, muitas vezes, se via obrigado a entregar valores de grande monta para as campanhas eleitorais do Partido dos Trabalhadores, desviando os recursos que eram destinados à construção das unidades habitacionais". Malheiro abriu espontaneamente seu sigilo e autorizou a promotoria a obter qualquer dado bancário ou fiscal de suas contas correntes e movimentações financeiras. Disse que está sofrendo ameaças de morte. Pediu para ser incluído no Programa de Proteção à Testemunha. O relato do empresário preenche 8 páginas e foi tomado no dia 29 pelo promotor de Justiça José Carlos Blat, que conduz a apuração. Blat diz que a Bancoop mantém o perfil "de uma organização criminosa, com indícios de caixa 2 em campanhas do PT e empresas de fachada de propriedade de ex-dirigentes". Afirma ainda que se trata de "uma cooperativa de fachada que se vale de empresas para enriquecer seus diretores e partidos políticos". O desfalque, declarou Malheiro, "acabou gerando enormes prejuízos financeiros à Bancoop". Ele afirmou que o suposto esquema de doações ilegais teve início em 1998 "com valores destinados à campanha para deputado federal do sr. Ricardo Berzoini, que à época era diretor da Bancoop". Malheiro disse que foi contratado como medidor de obras pela Bancoop em agosto de 1999, porém seu contrato de trabalho não era relacionado diretamente com a cooperativa, mas à empresa Saned Saneamento Edificações e Comércio. ORDENS EXPRESSAS Ele contou que, entre 2001 e 2002, "em pelo menos três ou quatro oportunidades", subempreiteiros depositaram valores em dinheiro em contas de sua titularidade, que chegavam até a R$ 5 mil". Tais depósitos, segundo Malheiro, eram determinados pelo engenheiro Ricardo Luís do Carmo, engenheiro responsável pelo Departamento de Engenharia da Bancoop. Malheiro afirmou que seu irmão "era muito pressionado pelos dirigentes do Sindicato dos Bancários". Na época, João Vaccari Neto (atual presidente da Bancoop) dirigia o sindicato. O acusador disse que "não tinha autorizado o uso de suas contas para depósitos ilegais ou criminosos, sendo certo que os empreiteiros repassavam os valores (correspondentes) de notas fiscais superfaturadas recebidas da Bancoop para que a cooperativa pudesse utilizar para campanhas políticas do PT". "Soube diretamente de meu irmão que aqueles valores depositados pelos subempreiteiros em minhas contas correntes, originários de desvios de recursos da Bancoop, eram destinados a financiamento de campanha do PT, sendo destinados tais valores a campanha do candidato à Presidência da República Luiz Inácio Lula da Silva", assegurou. Ele disse ter advertido seu irmão de que "não seria laranja de ninguém". "Em conversas constantes com meu irmão fui informado de que a situação financeira da Bancoop estava cada vez mais comprometida, porque a cada campanha eleitoral de pessoas ligadas ao PT valores de grande monta eram desviados, o que ocasionava rombos financeiros que levavam à paralisação de obras e ao prejuízo de milhares de cooperados", assinalou Hélio Malheiro. Em 2003, a preocupação de Luís Eduardo era recuperar o rombo financeiro, segundo Malheiro. "Apesar das promessas feitas, o dinheiro desviado para fomentar o caixa 2 das campanhas do PT nunca foi devolvido. A situação financeira da Bancoop começou a ruir de tal forma que meu irmão procurou Berzoini, em 2004, e foi obtido um empréstimo junto a um fundo de investimentos no valor superior a R$ 43 milhões."