Das prévias à desistência: como a pré-candidatura de Doria chegou ao fim no PSDB


Vitória em processo de escolha interna nunca lhe assegurou preferência nem a garantia de que teria legenda e recursos para disputar a Presidência da República

Por Adriana Ferraz
Atualização:

O anúncio feito nesta segunda, 23, por João Doria (PSDB) não foi exatamente uma surpresa. Apesar de o ex-governador paulista ser conhecido por sua obstinação em disputar a Presidência da República, a aproximação das eleições só tornavam essa possibilidade mais distante. Com forte resistência interna, mesmo após vencer as prévias, nenhuma garantia de apoio a seu nome na convenção nacional ou mesmo de acesso a recursos do fundo eleitoral para uma eventual campanha, desistir passou a ser uma opção. Até mesmo para Doria.

Prévias

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Desde a divulgação do resultado das prévias, em novembro passado, o tucano vinha tentando firmar seu nome como o escolhido pelo PSDB. Em vão. Além de não receber apoios públicos de incentivo à sua pré-candidatura, o então governador ainda passou a ser pressionado pelo colega Eduardo Leite (RS), que, mesmo perdendo no voto interno, manteve-se disposto a concorrer ao Planalto.

Em fevereiro, já havia pressão pela desistência de Doria. Em um encontro em Brasília, a ala tucana contrária à pré-candidatura própria do PSDB ao Planalto se reuniu para discutir a estagnação do paulista nas pesquisas e a sua consequência dificuldade de se mostrar um candidato competitivo e capaz de romper a polarização entre o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o presidente Jair Bolsonaro (PL).

Terceira via

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O movimento contrário a Doria se intensificou a partir de março, quando Leite passou a ser cortejado pelo PSD e partidos da chamada terceira via iniciaram uma negociação para a escolha de um candidato único. Cinco meses após vencer as prévias, o tucano só havia conseguido o apoio do Cidadania e em função da aprovação pelo partido presido por Roberto Freire de uma federação com o PSDB.

No mês seguinte, MDB, União Brasil, Cidadania e PSDB decidiram selar um acordo para lançar um candidato único para o Planalto. Na ocasião, Simone Tebet (MDB), Doria, Leite (que decidiu ficar no PSDB) e Sérgio Moro (União Brasil) eram tratados como possíveis pré-candidatos, mas o nome da senadora já aparecia como o mais cotado para encabeçar a chapa, por ser visto como o mais “estável” entre os postulantes.

O ex-governador João Doria anunciou a desistência nesta segunda-feira.  Foto: Werther Santana/Estadão
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Blefe e renúncia

Dias após o anúncio de permanência de Leite no partido, Doria surpreendeu aliados ao comunicar que havia desistido de concorrer à Presidência pelo PSDB e avisar que não iria mais deixar o cargo de governador, como estava previsto. O anúncio, no decorrer do dia 31 de março, fez com que o Bruno Araújo enviasse uma carta aos principais líderes do partido na qual defendeu o resultado das prévias pela primeira vez.

Ao final do dia, Doria voltou atrás da “decisão” e afirmou a jornalistas que as notícias sobre sua eventual desistência da disputa à Presidência foram “estratégia política”. Segundo o tucano, houve um planejamento prévio para que o presidente do partido tivesse de se manifestar publicamente em apoio a seu nome.

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Bruno Araújo é retirado da campanha e comemora

A carta assinada por Bruno Araújo não teve efeito prático 15 dias após ser divulgada e Doria resolveu expor o problema, retirando o dirigente nacional da coordenação de sua pré-campanha. E Araújo não deixou barato. Pelas redes sociais, disse que nunca exerceu de fato um papel de liderança no projeto de Doria, ironizou a troca e se mostrou aliviado: “Ufa”, disse.

Segundo a equipe de Doria, a decisão foi motivada por manifestações de Araújo que “relativizavam” o papel do tucano paulista na disputa presidencial, postura considerada pelo ex-governador como “pouco agregadora”. Dias antes, Araújo havia afirmado que a aliança entre as legendas que articulam uma candidatura única da chamada “terceira via” é preponderante, ou seja, vale mais do que o resultado das prévias tucanas.

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Ameaça de judicialização

Em meados de maio, Doria apelou à sua última cartada: o tucano sinalizou que uma eventual decisão da executiva nacional tucana contrária à sua pré-candidatura ao Palácio do Planalto e favorável a uma composição com a senadora poderia levá-lo à Justiça para fazer valer o resultado das prévias.

O grupo de Doria acusou o PSDB de “golpe”, após a contratação de pesquisas internas pelas cúpulas do seu partido e do MDB para a definição de uma chapa única na disputa pela Presidência da República. O fato agravou a crise na legenda e isolou ainda mais o ex-governador dentro do partido.

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Simone escolhida

O último contragolpe sofrido internamente ocorreu na quarta, 18 de maio. Os presidentes de PSDB, MDB e Cidadania decidiram indicar Simone Tebet como candidata única da terceira via à Presidência. Pesquisas encomendadas pelos partidos mostraram que a rejeição a Doria é muito alta e Simone teria maior potencial de crescimento.

A cúpula tucana faz pressão desde então para Doria desistir do páreo, sob a alegação de que a pré-candidatura dele atrapalha os concorrentes do partido, principalmente em São Paulo, Estado administrado pelo PSDB há quase 30 anos, onde o governador Rodrigo Garcia disputa a reeleição. A ala do partido favorável a Simone quer que o senador Tasso Jereissati (CE) seja candidato a vice na chapa.

Desistência

O ex-governador João Doria desistiu de concorrer à Presidência da República pelo PSDB em anúncio feito nesta segunda, 23. “Me retiro da disputa com o coração ferido e a alma leve. Com a sensação inequívoca do dever cumprido e missão bem realizada. Com boa gestão e sem corrupção”, afirmou.

Em pronunciamento ao lado do presidente do partido, Bruno Araújo, o tucano disse que entende que não é a escolha do comando da legenda. “Hoje neste 23 de maio, serenamente, entendo que não sou a escolha da cúpula do PSDB”, afirmou. “Sempre busquei e seguirei buscando o consenso, mesmo que ele seja contrário à minha vontade.”

O anúncio feito nesta segunda, 23, por João Doria (PSDB) não foi exatamente uma surpresa. Apesar de o ex-governador paulista ser conhecido por sua obstinação em disputar a Presidência da República, a aproximação das eleições só tornavam essa possibilidade mais distante. Com forte resistência interna, mesmo após vencer as prévias, nenhuma garantia de apoio a seu nome na convenção nacional ou mesmo de acesso a recursos do fundo eleitoral para uma eventual campanha, desistir passou a ser uma opção. Até mesmo para Doria.

Prévias

Desde a divulgação do resultado das prévias, em novembro passado, o tucano vinha tentando firmar seu nome como o escolhido pelo PSDB. Em vão. Além de não receber apoios públicos de incentivo à sua pré-candidatura, o então governador ainda passou a ser pressionado pelo colega Eduardo Leite (RS), que, mesmo perdendo no voto interno, manteve-se disposto a concorrer ao Planalto.

Em fevereiro, já havia pressão pela desistência de Doria. Em um encontro em Brasília, a ala tucana contrária à pré-candidatura própria do PSDB ao Planalto se reuniu para discutir a estagnação do paulista nas pesquisas e a sua consequência dificuldade de se mostrar um candidato competitivo e capaz de romper a polarização entre o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o presidente Jair Bolsonaro (PL).

Terceira via

O movimento contrário a Doria se intensificou a partir de março, quando Leite passou a ser cortejado pelo PSD e partidos da chamada terceira via iniciaram uma negociação para a escolha de um candidato único. Cinco meses após vencer as prévias, o tucano só havia conseguido o apoio do Cidadania e em função da aprovação pelo partido presido por Roberto Freire de uma federação com o PSDB.

No mês seguinte, MDB, União Brasil, Cidadania e PSDB decidiram selar um acordo para lançar um candidato único para o Planalto. Na ocasião, Simone Tebet (MDB), Doria, Leite (que decidiu ficar no PSDB) e Sérgio Moro (União Brasil) eram tratados como possíveis pré-candidatos, mas o nome da senadora já aparecia como o mais cotado para encabeçar a chapa, por ser visto como o mais “estável” entre os postulantes.

O ex-governador João Doria anunciou a desistência nesta segunda-feira.  Foto: Werther Santana/Estadão

Blefe e renúncia

Dias após o anúncio de permanência de Leite no partido, Doria surpreendeu aliados ao comunicar que havia desistido de concorrer à Presidência pelo PSDB e avisar que não iria mais deixar o cargo de governador, como estava previsto. O anúncio, no decorrer do dia 31 de março, fez com que o Bruno Araújo enviasse uma carta aos principais líderes do partido na qual defendeu o resultado das prévias pela primeira vez.

Ao final do dia, Doria voltou atrás da “decisão” e afirmou a jornalistas que as notícias sobre sua eventual desistência da disputa à Presidência foram “estratégia política”. Segundo o tucano, houve um planejamento prévio para que o presidente do partido tivesse de se manifestar publicamente em apoio a seu nome.

Bruno Araújo é retirado da campanha e comemora

A carta assinada por Bruno Araújo não teve efeito prático 15 dias após ser divulgada e Doria resolveu expor o problema, retirando o dirigente nacional da coordenação de sua pré-campanha. E Araújo não deixou barato. Pelas redes sociais, disse que nunca exerceu de fato um papel de liderança no projeto de Doria, ironizou a troca e se mostrou aliviado: “Ufa”, disse.

Segundo a equipe de Doria, a decisão foi motivada por manifestações de Araújo que “relativizavam” o papel do tucano paulista na disputa presidencial, postura considerada pelo ex-governador como “pouco agregadora”. Dias antes, Araújo havia afirmado que a aliança entre as legendas que articulam uma candidatura única da chamada “terceira via” é preponderante, ou seja, vale mais do que o resultado das prévias tucanas.

Ameaça de judicialização

Em meados de maio, Doria apelou à sua última cartada: o tucano sinalizou que uma eventual decisão da executiva nacional tucana contrária à sua pré-candidatura ao Palácio do Planalto e favorável a uma composição com a senadora poderia levá-lo à Justiça para fazer valer o resultado das prévias.

O grupo de Doria acusou o PSDB de “golpe”, após a contratação de pesquisas internas pelas cúpulas do seu partido e do MDB para a definição de uma chapa única na disputa pela Presidência da República. O fato agravou a crise na legenda e isolou ainda mais o ex-governador dentro do partido.

Simone escolhida

O último contragolpe sofrido internamente ocorreu na quarta, 18 de maio. Os presidentes de PSDB, MDB e Cidadania decidiram indicar Simone Tebet como candidata única da terceira via à Presidência. Pesquisas encomendadas pelos partidos mostraram que a rejeição a Doria é muito alta e Simone teria maior potencial de crescimento.

A cúpula tucana faz pressão desde então para Doria desistir do páreo, sob a alegação de que a pré-candidatura dele atrapalha os concorrentes do partido, principalmente em São Paulo, Estado administrado pelo PSDB há quase 30 anos, onde o governador Rodrigo Garcia disputa a reeleição. A ala do partido favorável a Simone quer que o senador Tasso Jereissati (CE) seja candidato a vice na chapa.

Desistência

O ex-governador João Doria desistiu de concorrer à Presidência da República pelo PSDB em anúncio feito nesta segunda, 23. “Me retiro da disputa com o coração ferido e a alma leve. Com a sensação inequívoca do dever cumprido e missão bem realizada. Com boa gestão e sem corrupção”, afirmou.

Em pronunciamento ao lado do presidente do partido, Bruno Araújo, o tucano disse que entende que não é a escolha do comando da legenda. “Hoje neste 23 de maio, serenamente, entendo que não sou a escolha da cúpula do PSDB”, afirmou. “Sempre busquei e seguirei buscando o consenso, mesmo que ele seja contrário à minha vontade.”

O anúncio feito nesta segunda, 23, por João Doria (PSDB) não foi exatamente uma surpresa. Apesar de o ex-governador paulista ser conhecido por sua obstinação em disputar a Presidência da República, a aproximação das eleições só tornavam essa possibilidade mais distante. Com forte resistência interna, mesmo após vencer as prévias, nenhuma garantia de apoio a seu nome na convenção nacional ou mesmo de acesso a recursos do fundo eleitoral para uma eventual campanha, desistir passou a ser uma opção. Até mesmo para Doria.

Prévias

Desde a divulgação do resultado das prévias, em novembro passado, o tucano vinha tentando firmar seu nome como o escolhido pelo PSDB. Em vão. Além de não receber apoios públicos de incentivo à sua pré-candidatura, o então governador ainda passou a ser pressionado pelo colega Eduardo Leite (RS), que, mesmo perdendo no voto interno, manteve-se disposto a concorrer ao Planalto.

Em fevereiro, já havia pressão pela desistência de Doria. Em um encontro em Brasília, a ala tucana contrária à pré-candidatura própria do PSDB ao Planalto se reuniu para discutir a estagnação do paulista nas pesquisas e a sua consequência dificuldade de se mostrar um candidato competitivo e capaz de romper a polarização entre o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o presidente Jair Bolsonaro (PL).

Terceira via

O movimento contrário a Doria se intensificou a partir de março, quando Leite passou a ser cortejado pelo PSD e partidos da chamada terceira via iniciaram uma negociação para a escolha de um candidato único. Cinco meses após vencer as prévias, o tucano só havia conseguido o apoio do Cidadania e em função da aprovação pelo partido presido por Roberto Freire de uma federação com o PSDB.

No mês seguinte, MDB, União Brasil, Cidadania e PSDB decidiram selar um acordo para lançar um candidato único para o Planalto. Na ocasião, Simone Tebet (MDB), Doria, Leite (que decidiu ficar no PSDB) e Sérgio Moro (União Brasil) eram tratados como possíveis pré-candidatos, mas o nome da senadora já aparecia como o mais cotado para encabeçar a chapa, por ser visto como o mais “estável” entre os postulantes.

O ex-governador João Doria anunciou a desistência nesta segunda-feira.  Foto: Werther Santana/Estadão

Blefe e renúncia

Dias após o anúncio de permanência de Leite no partido, Doria surpreendeu aliados ao comunicar que havia desistido de concorrer à Presidência pelo PSDB e avisar que não iria mais deixar o cargo de governador, como estava previsto. O anúncio, no decorrer do dia 31 de março, fez com que o Bruno Araújo enviasse uma carta aos principais líderes do partido na qual defendeu o resultado das prévias pela primeira vez.

Ao final do dia, Doria voltou atrás da “decisão” e afirmou a jornalistas que as notícias sobre sua eventual desistência da disputa à Presidência foram “estratégia política”. Segundo o tucano, houve um planejamento prévio para que o presidente do partido tivesse de se manifestar publicamente em apoio a seu nome.

Bruno Araújo é retirado da campanha e comemora

A carta assinada por Bruno Araújo não teve efeito prático 15 dias após ser divulgada e Doria resolveu expor o problema, retirando o dirigente nacional da coordenação de sua pré-campanha. E Araújo não deixou barato. Pelas redes sociais, disse que nunca exerceu de fato um papel de liderança no projeto de Doria, ironizou a troca e se mostrou aliviado: “Ufa”, disse.

Segundo a equipe de Doria, a decisão foi motivada por manifestações de Araújo que “relativizavam” o papel do tucano paulista na disputa presidencial, postura considerada pelo ex-governador como “pouco agregadora”. Dias antes, Araújo havia afirmado que a aliança entre as legendas que articulam uma candidatura única da chamada “terceira via” é preponderante, ou seja, vale mais do que o resultado das prévias tucanas.

Ameaça de judicialização

Em meados de maio, Doria apelou à sua última cartada: o tucano sinalizou que uma eventual decisão da executiva nacional tucana contrária à sua pré-candidatura ao Palácio do Planalto e favorável a uma composição com a senadora poderia levá-lo à Justiça para fazer valer o resultado das prévias.

O grupo de Doria acusou o PSDB de “golpe”, após a contratação de pesquisas internas pelas cúpulas do seu partido e do MDB para a definição de uma chapa única na disputa pela Presidência da República. O fato agravou a crise na legenda e isolou ainda mais o ex-governador dentro do partido.

Simone escolhida

O último contragolpe sofrido internamente ocorreu na quarta, 18 de maio. Os presidentes de PSDB, MDB e Cidadania decidiram indicar Simone Tebet como candidata única da terceira via à Presidência. Pesquisas encomendadas pelos partidos mostraram que a rejeição a Doria é muito alta e Simone teria maior potencial de crescimento.

A cúpula tucana faz pressão desde então para Doria desistir do páreo, sob a alegação de que a pré-candidatura dele atrapalha os concorrentes do partido, principalmente em São Paulo, Estado administrado pelo PSDB há quase 30 anos, onde o governador Rodrigo Garcia disputa a reeleição. A ala do partido favorável a Simone quer que o senador Tasso Jereissati (CE) seja candidato a vice na chapa.

Desistência

O ex-governador João Doria desistiu de concorrer à Presidência da República pelo PSDB em anúncio feito nesta segunda, 23. “Me retiro da disputa com o coração ferido e a alma leve. Com a sensação inequívoca do dever cumprido e missão bem realizada. Com boa gestão e sem corrupção”, afirmou.

Em pronunciamento ao lado do presidente do partido, Bruno Araújo, o tucano disse que entende que não é a escolha do comando da legenda. “Hoje neste 23 de maio, serenamente, entendo que não sou a escolha da cúpula do PSDB”, afirmou. “Sempre busquei e seguirei buscando o consenso, mesmo que ele seja contrário à minha vontade.”

O anúncio feito nesta segunda, 23, por João Doria (PSDB) não foi exatamente uma surpresa. Apesar de o ex-governador paulista ser conhecido por sua obstinação em disputar a Presidência da República, a aproximação das eleições só tornavam essa possibilidade mais distante. Com forte resistência interna, mesmo após vencer as prévias, nenhuma garantia de apoio a seu nome na convenção nacional ou mesmo de acesso a recursos do fundo eleitoral para uma eventual campanha, desistir passou a ser uma opção. Até mesmo para Doria.

Prévias

Desde a divulgação do resultado das prévias, em novembro passado, o tucano vinha tentando firmar seu nome como o escolhido pelo PSDB. Em vão. Além de não receber apoios públicos de incentivo à sua pré-candidatura, o então governador ainda passou a ser pressionado pelo colega Eduardo Leite (RS), que, mesmo perdendo no voto interno, manteve-se disposto a concorrer ao Planalto.

Em fevereiro, já havia pressão pela desistência de Doria. Em um encontro em Brasília, a ala tucana contrária à pré-candidatura própria do PSDB ao Planalto se reuniu para discutir a estagnação do paulista nas pesquisas e a sua consequência dificuldade de se mostrar um candidato competitivo e capaz de romper a polarização entre o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o presidente Jair Bolsonaro (PL).

Terceira via

O movimento contrário a Doria se intensificou a partir de março, quando Leite passou a ser cortejado pelo PSD e partidos da chamada terceira via iniciaram uma negociação para a escolha de um candidato único. Cinco meses após vencer as prévias, o tucano só havia conseguido o apoio do Cidadania e em função da aprovação pelo partido presido por Roberto Freire de uma federação com o PSDB.

No mês seguinte, MDB, União Brasil, Cidadania e PSDB decidiram selar um acordo para lançar um candidato único para o Planalto. Na ocasião, Simone Tebet (MDB), Doria, Leite (que decidiu ficar no PSDB) e Sérgio Moro (União Brasil) eram tratados como possíveis pré-candidatos, mas o nome da senadora já aparecia como o mais cotado para encabeçar a chapa, por ser visto como o mais “estável” entre os postulantes.

O ex-governador João Doria anunciou a desistência nesta segunda-feira.  Foto: Werther Santana/Estadão

Blefe e renúncia

Dias após o anúncio de permanência de Leite no partido, Doria surpreendeu aliados ao comunicar que havia desistido de concorrer à Presidência pelo PSDB e avisar que não iria mais deixar o cargo de governador, como estava previsto. O anúncio, no decorrer do dia 31 de março, fez com que o Bruno Araújo enviasse uma carta aos principais líderes do partido na qual defendeu o resultado das prévias pela primeira vez.

Ao final do dia, Doria voltou atrás da “decisão” e afirmou a jornalistas que as notícias sobre sua eventual desistência da disputa à Presidência foram “estratégia política”. Segundo o tucano, houve um planejamento prévio para que o presidente do partido tivesse de se manifestar publicamente em apoio a seu nome.

Bruno Araújo é retirado da campanha e comemora

A carta assinada por Bruno Araújo não teve efeito prático 15 dias após ser divulgada e Doria resolveu expor o problema, retirando o dirigente nacional da coordenação de sua pré-campanha. E Araújo não deixou barato. Pelas redes sociais, disse que nunca exerceu de fato um papel de liderança no projeto de Doria, ironizou a troca e se mostrou aliviado: “Ufa”, disse.

Segundo a equipe de Doria, a decisão foi motivada por manifestações de Araújo que “relativizavam” o papel do tucano paulista na disputa presidencial, postura considerada pelo ex-governador como “pouco agregadora”. Dias antes, Araújo havia afirmado que a aliança entre as legendas que articulam uma candidatura única da chamada “terceira via” é preponderante, ou seja, vale mais do que o resultado das prévias tucanas.

Ameaça de judicialização

Em meados de maio, Doria apelou à sua última cartada: o tucano sinalizou que uma eventual decisão da executiva nacional tucana contrária à sua pré-candidatura ao Palácio do Planalto e favorável a uma composição com a senadora poderia levá-lo à Justiça para fazer valer o resultado das prévias.

O grupo de Doria acusou o PSDB de “golpe”, após a contratação de pesquisas internas pelas cúpulas do seu partido e do MDB para a definição de uma chapa única na disputa pela Presidência da República. O fato agravou a crise na legenda e isolou ainda mais o ex-governador dentro do partido.

Simone escolhida

O último contragolpe sofrido internamente ocorreu na quarta, 18 de maio. Os presidentes de PSDB, MDB e Cidadania decidiram indicar Simone Tebet como candidata única da terceira via à Presidência. Pesquisas encomendadas pelos partidos mostraram que a rejeição a Doria é muito alta e Simone teria maior potencial de crescimento.

A cúpula tucana faz pressão desde então para Doria desistir do páreo, sob a alegação de que a pré-candidatura dele atrapalha os concorrentes do partido, principalmente em São Paulo, Estado administrado pelo PSDB há quase 30 anos, onde o governador Rodrigo Garcia disputa a reeleição. A ala do partido favorável a Simone quer que o senador Tasso Jereissati (CE) seja candidato a vice na chapa.

Desistência

O ex-governador João Doria desistiu de concorrer à Presidência da República pelo PSDB em anúncio feito nesta segunda, 23. “Me retiro da disputa com o coração ferido e a alma leve. Com a sensação inequívoca do dever cumprido e missão bem realizada. Com boa gestão e sem corrupção”, afirmou.

Em pronunciamento ao lado do presidente do partido, Bruno Araújo, o tucano disse que entende que não é a escolha do comando da legenda. “Hoje neste 23 de maio, serenamente, entendo que não sou a escolha da cúpula do PSDB”, afirmou. “Sempre busquei e seguirei buscando o consenso, mesmo que ele seja contrário à minha vontade.”

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