O presidente da República, pelo que se supõe, ocupa um cargo público fundamental – e, nessa condição, tem de prestar contas o tempo todo onde está, para onde vai e o que está fazendo. Não é uma gentileza opcional. É uma obrigação. Lula e o seu “estafe”, como se diz hoje quando a conversa é sobre jogador de futebol, têm outro entendimento a respeito disso. Estão convencidos de que a população tem de ouvir estritamente o que o “estafe” decide lhe dizer, na hora em que quiser e pela boca de quem resolve falar.
Lula foi internado no Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo, para fazer uma cirurgia de urgência na caixa craniana. Não se trata de uma questão pessoal de saúde do presidente, da sua família, nem de uma coisinha sem importância do dia a dia. É um acontecimento de óbvio interesse público – e o público brasileiro tem o direito de ser informado sobre ele com honestidade, precisão e em tempo real. A “presidência” não acha nada disso. O povo, pelo que demonstrou através de suas ações neste episódio, tem apenas de repetir que está tudo bem.
Para um presidente e um governo que colocam a “narrativa” na posição de atividade mais importante da vida humana, a comunicação em torno de seu tratamento médico foi uma catástrofe. Achavam, em seu entorno, que a única coisa que realmente importava era não informar o público com transparência, profissionalismo e clareza. Em vez disso, a prioridade era selecionar o que não deveria ser contado aos cidadãos, porque “não interessa”, ou porque “não é da conta deles”, ou por que “pode atrapalhar” – atrapalhar a eles mesmos, é claro.
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A segunda linha de ação parece ter sido a criação de uma baderna quando acharam que tinha chegado a hora de falar alguma coisa – por má intenção ou por incompetência. Onde estava o porta-voz oficial? Não havia o porta-voz oficial. Onde estava o ministro das Comunicações? Não há mais ministro das Comunicações – aliás, um dos assuntos mais comentados em volta do hospital era a sua breve demissão. Onde estava alguém confiável para dar informações com nexo? Não havia ninguém confiável.
Como não havia ninguém habilitado a cumprir as obrigações de comunicar os fatos ao público, todo mundo falou ao mesmo tempo – e quanto mais gente fala, menos você acaba sabendo ao certo. Falaram os médicos. Falou a assessoria de imprensa – assessoria do hospital, não da presidência. Falaram o ministro da “Coordenação Política”, o ministro Zé das Couves e o ministro Zé Chiclete. Falou o Advogado-Geral da União. Falou até a deputada Benedita, para dizer que “a Janja” está “cuidando muito bem “do Lula”. É a medida exata de quanto eles levam você a sério.