Todas as vezes em que o Brasil baixa a um novo patamar em matéria de falência moral e se ouve as pessoas dizerem “eu quero ir embora deste país”, é bom olhar um pouco para os paraísos de Primeiríssimo Mundo e os níveis superiores de civilização que lhes são atribuídos pelo imaginário brasileiro. Não diminui em nada os problemas do Brasil, é claro. Mas mostra que não estamos sozinhos em nossas tragédias, e que a miragem de um mundo ideal lá fora é apenas isso – uma miragem. Os avanços extraordinários que essas sociedades souberam construir e oferecer para a humanidade estão sendo desmontados por uma ofensiva sem precedentes contra os direitos fundamentais das pessoas – da liberdade de pensamento à liberdade de discordar. Tentam reduzir, agora, o direito à vida.
Grupos de estudantes de três das mais sagradas universidades dos Estados Unidos – Harvard, MIT e Penn State, com suas anuidades próximas a R$ 300 mil e os seus Prêmios Nobel – estão pregando, em manifestações públicas, o genocídio da população de Israel. Dizem que é a única solução para o “problema da Palestina”. É chocante ver que jovens colocados nas esferas mais altas da educação mundial defendem o assassinato em massa de judeus, como na Alemanha de Hitler. Mas bem pior é o apoio que recebem da direção das universidades onde estão matriculados. Chamados a depor numa comissão de inquérito do Congresso americano, os presidentes de Harvard, MIT e Penn State se recusaram, pergunta após pergunta, a dizer que a pregação do genocídio em seus campi era contrária aos estatutos e aos princípios éticos das universidades que dirigem.
Se você não é contra o genocídio, qual é a dedução que se pode fazer? Os presidentes quiseram mostrar que são neutros; acham que podem manter uma posição isenta diante do homicídio em massa. É óbvio que só conseguiram provocar um escândalo – que não chegou às manchetes, é claro, mas continua sendo um escândalo. Em seus depoimentos à comissão, disseram e repetiram, do começo ao fim, que a condenação das propostas de genocídio contra os judeus dependia do “contexto”. Como assim? Pregar a morte de seres humanos pode não ser ruim, conforme for o “contexto”? É o que dizem os reitores. A defesa do genocídio, segundo eles, só poderia sofrer objeções se passasse do “discurso aos atos”; enquanto for uma questão de “opinião pessoal”, dizem, está tudo bem. Quer dizer que para receber uma sanção disciplinar o aluno teria, fisicamente, de matar um judeu? É a conclusão possível.
Certos vinhos, segundo os peritos, “viajam mal”. Certas visões de mundo também. O stalinismo viajou mal de Moscou para Harvard.