Aos fatos, como eles são

Opinião|Fenômeno sísmico da eleição em São Paulo é a preferência dos trabalhadores pela direita


O problema, para a ciência política, é que as classes trabalhadoras da cidade não querem votar no Partido dos Trabalhadores; a reação tem sido negar a realidade

Por J.R. Guzzo
Atualização:

O fato mais revelador das eleições municipais na maior cidade do Brasil parece não estar sendo percebido, e muito menos entendido, por nossos cientistas políticos. Ao contrário da geologia, que oferece sismógrafos e outros artefatos para detectar o movimento das grandes massas de matéria debaixo da superfície da Terra, os analistas só têm à sua disposição o bom senso. Se têm pouco, ou nenhum, não conseguem acompanhar a deslocação das placas subterrâneas que determina para onde está indo a política na vida real.

Vista aérea de prédios na cidade de São Paulo.  Foto: Daniel Teixeira/Estadão
continua após a publicidade

O fenômeno sísmico dessas eleições para a Prefeitura de São Paulo é a aparente preferência das classes trabalhadoras por nomes da direita para governar a sua cidade. São Paulo é, sem dúvida, a capital proletária do Brasil. Eleição, aqui, não é decidida por chefetes políticos que distribuem cartões do Bolsa Família, nem por manifestos de intelectuais ou por bilionários com “pegada social”. É o mundo do trabalho e da produção que vai às urnas — e esse mundo está dizendo que a direita tem dois dos três candidatos preferidos pelos 9,3 milhões de eleitores paulistanos.

Há um negacionismo exacerbado em relação a essa realidade. Não poderia ser assim dos pontos de vista sociológico, filosófico e metafísico, segundo as instruções que recebemos das classes “que pensam”. Está previsto em seus tratados que só a burguesia, os fanáticos e os débeis mentais podem votar na direita. Os trabalhadores, obrigatoriamente, têm de votar na esquerda — seu partido não se chama, justamente, Partido dos Trabalhadores? Mas a realidade está contando uma história diferente.

São Paulo é a cidade que mais tem trabalhadores no Brasil — e eles vêm de todo o país, o que torna São Paulo a cidade mais brasileira do Brasil. O problema, para a ciência política, é que os trabalhadores de São Paulo não querem votar no Partido dos Trabalhadores. A reação tem sido negar a realidade. Não é a esquerda que está doente. É a direita que está dividida. Tem dois dos três candidatos mais fortes, e isso mostra a sua fraqueza: deveria ter um só no bloco da frente, mas se deu mal e ficou com dois.

continua após a publicidade

A qualidade média do raciocínio é daí para pior. Não se admite que o trabalhador paulistano está pensando em melhorar a sua própria vida, e não em dar apoio aos moradores de rua ou em “desarmar a polícia”. Pior: seus anseios de prosperidade são tratados como uma tara direitista, religiosa e reacionária. Pior ainda: ameaçam a “democracia”. Mas a massa eleitoral é a classe operária, e ela não está no arquipélago onde se pensa assim, esse que vai de Perdizes ao Brooklin, do Alto de Pinheiros à Vila Mariana. As placas mudaram de lugar.

O fato mais revelador das eleições municipais na maior cidade do Brasil parece não estar sendo percebido, e muito menos entendido, por nossos cientistas políticos. Ao contrário da geologia, que oferece sismógrafos e outros artefatos para detectar o movimento das grandes massas de matéria debaixo da superfície da Terra, os analistas só têm à sua disposição o bom senso. Se têm pouco, ou nenhum, não conseguem acompanhar a deslocação das placas subterrâneas que determina para onde está indo a política na vida real.

Vista aérea de prédios na cidade de São Paulo.  Foto: Daniel Teixeira/Estadão

O fenômeno sísmico dessas eleições para a Prefeitura de São Paulo é a aparente preferência das classes trabalhadoras por nomes da direita para governar a sua cidade. São Paulo é, sem dúvida, a capital proletária do Brasil. Eleição, aqui, não é decidida por chefetes políticos que distribuem cartões do Bolsa Família, nem por manifestos de intelectuais ou por bilionários com “pegada social”. É o mundo do trabalho e da produção que vai às urnas — e esse mundo está dizendo que a direita tem dois dos três candidatos preferidos pelos 9,3 milhões de eleitores paulistanos.

Há um negacionismo exacerbado em relação a essa realidade. Não poderia ser assim dos pontos de vista sociológico, filosófico e metafísico, segundo as instruções que recebemos das classes “que pensam”. Está previsto em seus tratados que só a burguesia, os fanáticos e os débeis mentais podem votar na direita. Os trabalhadores, obrigatoriamente, têm de votar na esquerda — seu partido não se chama, justamente, Partido dos Trabalhadores? Mas a realidade está contando uma história diferente.

São Paulo é a cidade que mais tem trabalhadores no Brasil — e eles vêm de todo o país, o que torna São Paulo a cidade mais brasileira do Brasil. O problema, para a ciência política, é que os trabalhadores de São Paulo não querem votar no Partido dos Trabalhadores. A reação tem sido negar a realidade. Não é a esquerda que está doente. É a direita que está dividida. Tem dois dos três candidatos mais fortes, e isso mostra a sua fraqueza: deveria ter um só no bloco da frente, mas se deu mal e ficou com dois.

A qualidade média do raciocínio é daí para pior. Não se admite que o trabalhador paulistano está pensando em melhorar a sua própria vida, e não em dar apoio aos moradores de rua ou em “desarmar a polícia”. Pior: seus anseios de prosperidade são tratados como uma tara direitista, religiosa e reacionária. Pior ainda: ameaçam a “democracia”. Mas a massa eleitoral é a classe operária, e ela não está no arquipélago onde se pensa assim, esse que vai de Perdizes ao Brooklin, do Alto de Pinheiros à Vila Mariana. As placas mudaram de lugar.

O fato mais revelador das eleições municipais na maior cidade do Brasil parece não estar sendo percebido, e muito menos entendido, por nossos cientistas políticos. Ao contrário da geologia, que oferece sismógrafos e outros artefatos para detectar o movimento das grandes massas de matéria debaixo da superfície da Terra, os analistas só têm à sua disposição o bom senso. Se têm pouco, ou nenhum, não conseguem acompanhar a deslocação das placas subterrâneas que determina para onde está indo a política na vida real.

Vista aérea de prédios na cidade de São Paulo.  Foto: Daniel Teixeira/Estadão

O fenômeno sísmico dessas eleições para a Prefeitura de São Paulo é a aparente preferência das classes trabalhadoras por nomes da direita para governar a sua cidade. São Paulo é, sem dúvida, a capital proletária do Brasil. Eleição, aqui, não é decidida por chefetes políticos que distribuem cartões do Bolsa Família, nem por manifestos de intelectuais ou por bilionários com “pegada social”. É o mundo do trabalho e da produção que vai às urnas — e esse mundo está dizendo que a direita tem dois dos três candidatos preferidos pelos 9,3 milhões de eleitores paulistanos.

Há um negacionismo exacerbado em relação a essa realidade. Não poderia ser assim dos pontos de vista sociológico, filosófico e metafísico, segundo as instruções que recebemos das classes “que pensam”. Está previsto em seus tratados que só a burguesia, os fanáticos e os débeis mentais podem votar na direita. Os trabalhadores, obrigatoriamente, têm de votar na esquerda — seu partido não se chama, justamente, Partido dos Trabalhadores? Mas a realidade está contando uma história diferente.

São Paulo é a cidade que mais tem trabalhadores no Brasil — e eles vêm de todo o país, o que torna São Paulo a cidade mais brasileira do Brasil. O problema, para a ciência política, é que os trabalhadores de São Paulo não querem votar no Partido dos Trabalhadores. A reação tem sido negar a realidade. Não é a esquerda que está doente. É a direita que está dividida. Tem dois dos três candidatos mais fortes, e isso mostra a sua fraqueza: deveria ter um só no bloco da frente, mas se deu mal e ficou com dois.

A qualidade média do raciocínio é daí para pior. Não se admite que o trabalhador paulistano está pensando em melhorar a sua própria vida, e não em dar apoio aos moradores de rua ou em “desarmar a polícia”. Pior: seus anseios de prosperidade são tratados como uma tara direitista, religiosa e reacionária. Pior ainda: ameaçam a “democracia”. Mas a massa eleitoral é a classe operária, e ela não está no arquipélago onde se pensa assim, esse que vai de Perdizes ao Brooklin, do Alto de Pinheiros à Vila Mariana. As placas mudaram de lugar.

Tudo Sobre
Opinião por J.R. Guzzo

Jornalista escreve semanalmente sobre o cenário político e econômico do País

Atualizamos nossa política de cookies

Ao utilizar nossos serviços, você aceita a política de monitoramento de cookies.