Atritos entre Bolsonaro e Valdemar vão além de elogio a Lula; veja os episódios


Antes de dizer em entrevista que Lula tem ‘popularidade’ e ‘prestígio’, presidente do PL também discordou de Bolsonaro nas escolhas de candidaturas para as eleições municipais e no apoio à reforma tributária

Por Gabriel de Sousa

BRASÍLIA – A relação de Jair Bolsonaro com o presidente do Partido Liberal (PL), Valdemar Costa Neto, é marcada por atritos desde que o ex-presidente se filiou à sigla em 2021. Nos últimos meses, Bolsonaro e o dirigente partidário adotaram posições contrárias em temas como as eleições municipais de 2024 e a reforma tributária, levando o ex-chefe do Executivo a criticar Valdemar para aliados ou expor publicamente os desentendimentos entre os dois.

Relação entre o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e o presidente do PL, Valdemar Costa Neto, é marcada por discordâncias sobre eleições municipais e reforma tributária Foto: Divulgação/PL

Em entrevista ao jornal regional O Diário, da região de Mogi das Cruzes e do Alto Tietê, Valdemar elogiou os mandatos anteriores do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e afirmou que “não há comparação” entre o petista e Bolsonaro. Na gravação de 15 de dezembro, que ganhou repercussão na última sexta-feira, 12, o presidente do PL disse também que Lula tem “prestígio”, enquanto o correligionário possui “carisma”.

continua após a publicidade

“Lula não tem comparação com Bolsonaro, completamente diferente. O Lula tem muito prestígio, não o carisma que Bolsonaro tem, mas tem popularidade, é conhecido por todos os brasileiros. O Bolsonaro, não, pois tem um mandato só”, afirmou Valdemar.

Bolsonaro reagiu à fala do dirigente da sua legenda e disse, em uma conversa com apoiadores no litoral do Rio, que “declarações absurdas” de “uma pessoa do partido” podem implodir a sigla.

“Tudo na vida eu puxo um pouquinho para vida familiar de cada um de nós, né? Problemas têm. Essa semana tive um problema sério, não vou falar com quem... ‘Ó, se continuar assim, você vai implodir o partido’. Pessoa do partido dando declaração absurda. Como ‘o Lula é extremamente popular’. Manda ele vir tomar um 51 (marca de cachaça) ali na esquina. Não vem”, disse Bolsonaro.

continua após a publicidade

Diante das críticas recebidas por apoiadores de Bolsonaro, Valdemar usou as redes sociais no sábado, 13, para endossar a aliança com o ex-presidente. “Quem não tem lealdade e fidelidade tem vida curta na política. Sou leal ao Bolsonaro e fiel aos meus princípios. Quem me conhece sabe que minha palavra não faz curva”, afirmou.

Definição de candidatos para eleições provocou desavenças

continua após a publicidade

Em maio do ano passado, Bolsonaro e Valdemar tiveram uma rusga sobre as eleições de 2024. Segundo a Coluna do Estadão, aliados disseram que o presidente do PL se incomodou com o fato de o ex-presidente priorizar amigos para as pré-candidaturas, sem levar em consideração as melhores estratégias eleitorais para o pleito deste ano.

Valdemar se dispôs a acatar algumas sugestões do ex-presidente de candidatos para as eleições municipais, mas não todas. O presidente do PL garantiu a Bolsonaro o direito a bater o martelo em cidades estratégicas onde candidatos bolsonaristas tiveram um bom desempenho em 2022. No entanto, a carta branca para o ex-presidente não se estende a locais onde bolsonaristas não conseguiram ser eleitos.

No fim de novembro, Bolsonaro mostrou atritos com o dirigente partidário para escolha das pré-candidaturas municipais. No lançamento do PL+60, movimento da sigla destinado a incentivar o desenvolvimento de políticas públicas para idosos, o ex-presidente afirmou que precisa, às vezes, “engolir” os postulantes propostos por Valdemar.

continua após a publicidade

“Na medida do possível, eu me coloco no lugar dele (Valdemar) e ele se coloca no meu lugar. Para podermos crescer, temos que abrir mão. Então, por vezes, eu engulo o candidato do Valdemar, depois ele engole um candidato meu”, afirmou Bolsonaro.

No fim de outubro, Valdemar foi alvo de críticas de apoiadores de Bolsonaro após declarar apoio à pré-candidatura de Lucas Sanches, ex-membro do Movimento Brasil Livre (MBL), para a Prefeitura de Guarulhos. Nas redes sociais, o presidente do PL foi acusado por influenciadores de tentar “destruir Bolsonaro” e de promover “politicagem suja e mercenária”.

Bolsonaristas começaram a compartilhar um vídeo de Sanches com a camiseta do MBL de Guarulhos, dizendo a frase “primeiramente, fora Bolsonaro”. O conteúdo segue com a declaração recente de apoio de Valdemar Costa Neto e a inscrição “mais um surfista”. A assessoria de comunicação do político afirmou ao Estadão que o material foi “editado de forma maldosa” para prejudicá-lo.

continua após a publicidade

Sanches publicou um trecho maior do vídeo nas suas redes sociais, onde é possível entender que ele critica manifestações políticas de professores em sala de aula. No trecho, o pré-candidato afirma que não seria adequado um ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) abrir uma sessão dizendo a frase contrária ao ex-presidente.

As discussões sobre pré-candidatos provocaram atritos também entre o presidente do PL e um dos filhos do ex-presidente, o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ). No início de novembro, Valdemar afirmou que a candidatura do deputado federal e ex-diretor da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) Alexandre Ramagem (PL-RJ) para a disputa da Prefeitura do Rio já estava consolidada. Em nota, Flávio contestou o dirigente e disse que “o martelo não está batido” para a indicação do representante da sigla no pleito.

Indecisão sobre apoio a Nunes ou a Salles na disputa pela Prefeitura

continua após a publicidade

A discordância de Valdemar e Bolsonaro sobre os candidatos que o PL deve indicar para as prefeituras se tornou mais evidente na capital paulista. Na cidade de São Paulo, Lula venceu o ex-presidente no segundo turno das eleições de 2022 por 3.677.921 votos (53,5% dos votos válidos) a 3.191.484 votos (46,5% dos votos válidos).

Enquanto Bolsonaro tentou emplacar o nome do seu ex-ministro do Meio Ambiente, o deputado federal Ricardo Salles (PL-SP), Valdemar costurou aliança com o prefeito Ricardo Nunes (MDB), que vai tentar a reeleição.

Ao mesmo tempo em que Nunes e Valdemar fechavam o acordo para enfrentar o deputado federal Guilherme Boulos (PSOL-SP), pré-candidato à Prefeitura apoiado por Lula, Bolsonaro chegou a pedir publicamente “Salles prefeito” na saída de um evento do PL em Brasília. “São Paulo merece realmente um nome que vá fazer pelo município e não fazer por partido”, disse Bolsonaro. O ex-ministro do Meio Ambiente publicou um registro do momento em rede social.

No último dia 4, Nunes afirmou que Valdemar havia definido que o PL apoiaria a sua campanha à reeleição com o aval de Bolsonaro e que a possibilidade de uma candidatura de Salles pela sigla havia sido “descartada”.

“Ele (Valdemar) me confirmou que o assunto estava superado, martelo batido. Estaria caminhando junto com a gente e, portanto, a outra opção de candidatura estava descartada”, disse o prefeito.

Valdemar disse que Bolsonaro ‘errou na comunicação’ sobre reforma tributária

Em julho do ano passado, quando a reforma tributária estava sendo encaminhada para votação na Câmara, Bolsonaro afirmou que a medida seria um “soco no estômago dos mais pobres” e orientou a bancada do partido na Casa a votar contra a proposta.

A reforma tributária passou na Câmara no dia 6 de julho por 382 votos a favor e 118 contra. No PL, 20 dos 99 deputados foram favoráveis à proposta. A adesão de uma parcela da bancada provocou um racha no partido.

Em entrevista ao jornal Folha de S.Paulo semanas após a aprovação da proposta na Câmara, Valdemar afirmou que Bolsonaro errou “na comunicação” e que não havia “se explicado bem” sobre a sua oposição ao texto. O dirigente disse que todos os deputados da sigla eram favoráveis a uma reforma tributária, mas não da forma como o texto foi redigido na Casa.

Apesar da entrevista de Valdemar, Bolsonaro manteve a oposição ao texto quando ele tramitou no Senado. Pelas redes sociais, o ex-presidente evocou temas caros ao bolsonarismo como “ideologia de gênero” e a regulamentação do aborto para criticar a proposta.

No dia 8 de novembro, quando a proposta foi votada pela Casa, o Estadão flagrou Bolsonaro tentando sabotar a votação do texto a partir de mensagens enviadas para o celular de senadores aliados. A estratégia não funcionou e a reforma foi aprovada por 53 votos a 24.

Desavenças começaram antes mesmo de filiação do PL

As intrigas entre Bolsonaro e Valdemar começaram antes mesmo de Bolsonaro ingressar no PL. Em busca de uma sigla para disputar a reeleição em 2022, o ex-presidente se reuniu com o dirigente e exigiu que os diretórios do Rio e de São Paulo fossem comandados pelos seus filhos: o senador Flávio Bolsonaro e o deputado Eduardo Bolsonaro, respectivamente. Bolsonaro saiu derrotado na disputa interna.

Bolsonaro queria o senador Flávio Bolsonaro no comando do PL do Rio de Janeiro e o deputado Eduardo Bolsonaro na direção do PL paulista, o que não foi aceito por Valdemar Foto: Wilton Junior/Estadão e Dida Sampaio/Estadão

Outro momento de desavença entre os dois ocorreu no fim de 2022, quando Bolsonaro perdeu a eleição presidencial para Lula. O ex-presidente ficou em silêncio e não reconheceu a derrota para o petista, ao mesmo tempo em que apoiadores passaram a bloquear estradas e ir para as portas dos quartéis do Exército. Em entrevista para a CNN Brasil um mês após o pleito, Valdemar disse que o ex-chefe do Executivo precisava “reafirmar a postura de líder”, mesmo que de oposição.

O presidente do PL também defendeu que o ex-presidente fizesse uma fala direcionada aos manifestantes, que estavam ocupando as rodovias. “O Bolsonaro precisa falar com o povo dele”, disse. O pronunciamento citado por Valdemar não foi feito pelo ex-chefe do Executivo.

BRASÍLIA – A relação de Jair Bolsonaro com o presidente do Partido Liberal (PL), Valdemar Costa Neto, é marcada por atritos desde que o ex-presidente se filiou à sigla em 2021. Nos últimos meses, Bolsonaro e o dirigente partidário adotaram posições contrárias em temas como as eleições municipais de 2024 e a reforma tributária, levando o ex-chefe do Executivo a criticar Valdemar para aliados ou expor publicamente os desentendimentos entre os dois.

Relação entre o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e o presidente do PL, Valdemar Costa Neto, é marcada por discordâncias sobre eleições municipais e reforma tributária Foto: Divulgação/PL

Em entrevista ao jornal regional O Diário, da região de Mogi das Cruzes e do Alto Tietê, Valdemar elogiou os mandatos anteriores do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e afirmou que “não há comparação” entre o petista e Bolsonaro. Na gravação de 15 de dezembro, que ganhou repercussão na última sexta-feira, 12, o presidente do PL disse também que Lula tem “prestígio”, enquanto o correligionário possui “carisma”.

“Lula não tem comparação com Bolsonaro, completamente diferente. O Lula tem muito prestígio, não o carisma que Bolsonaro tem, mas tem popularidade, é conhecido por todos os brasileiros. O Bolsonaro, não, pois tem um mandato só”, afirmou Valdemar.

Bolsonaro reagiu à fala do dirigente da sua legenda e disse, em uma conversa com apoiadores no litoral do Rio, que “declarações absurdas” de “uma pessoa do partido” podem implodir a sigla.

“Tudo na vida eu puxo um pouquinho para vida familiar de cada um de nós, né? Problemas têm. Essa semana tive um problema sério, não vou falar com quem... ‘Ó, se continuar assim, você vai implodir o partido’. Pessoa do partido dando declaração absurda. Como ‘o Lula é extremamente popular’. Manda ele vir tomar um 51 (marca de cachaça) ali na esquina. Não vem”, disse Bolsonaro.

Diante das críticas recebidas por apoiadores de Bolsonaro, Valdemar usou as redes sociais no sábado, 13, para endossar a aliança com o ex-presidente. “Quem não tem lealdade e fidelidade tem vida curta na política. Sou leal ao Bolsonaro e fiel aos meus princípios. Quem me conhece sabe que minha palavra não faz curva”, afirmou.

Definição de candidatos para eleições provocou desavenças

Em maio do ano passado, Bolsonaro e Valdemar tiveram uma rusga sobre as eleições de 2024. Segundo a Coluna do Estadão, aliados disseram que o presidente do PL se incomodou com o fato de o ex-presidente priorizar amigos para as pré-candidaturas, sem levar em consideração as melhores estratégias eleitorais para o pleito deste ano.

Valdemar se dispôs a acatar algumas sugestões do ex-presidente de candidatos para as eleições municipais, mas não todas. O presidente do PL garantiu a Bolsonaro o direito a bater o martelo em cidades estratégicas onde candidatos bolsonaristas tiveram um bom desempenho em 2022. No entanto, a carta branca para o ex-presidente não se estende a locais onde bolsonaristas não conseguiram ser eleitos.

No fim de novembro, Bolsonaro mostrou atritos com o dirigente partidário para escolha das pré-candidaturas municipais. No lançamento do PL+60, movimento da sigla destinado a incentivar o desenvolvimento de políticas públicas para idosos, o ex-presidente afirmou que precisa, às vezes, “engolir” os postulantes propostos por Valdemar.

“Na medida do possível, eu me coloco no lugar dele (Valdemar) e ele se coloca no meu lugar. Para podermos crescer, temos que abrir mão. Então, por vezes, eu engulo o candidato do Valdemar, depois ele engole um candidato meu”, afirmou Bolsonaro.

No fim de outubro, Valdemar foi alvo de críticas de apoiadores de Bolsonaro após declarar apoio à pré-candidatura de Lucas Sanches, ex-membro do Movimento Brasil Livre (MBL), para a Prefeitura de Guarulhos. Nas redes sociais, o presidente do PL foi acusado por influenciadores de tentar “destruir Bolsonaro” e de promover “politicagem suja e mercenária”.

Bolsonaristas começaram a compartilhar um vídeo de Sanches com a camiseta do MBL de Guarulhos, dizendo a frase “primeiramente, fora Bolsonaro”. O conteúdo segue com a declaração recente de apoio de Valdemar Costa Neto e a inscrição “mais um surfista”. A assessoria de comunicação do político afirmou ao Estadão que o material foi “editado de forma maldosa” para prejudicá-lo.

Sanches publicou um trecho maior do vídeo nas suas redes sociais, onde é possível entender que ele critica manifestações políticas de professores em sala de aula. No trecho, o pré-candidato afirma que não seria adequado um ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) abrir uma sessão dizendo a frase contrária ao ex-presidente.

As discussões sobre pré-candidatos provocaram atritos também entre o presidente do PL e um dos filhos do ex-presidente, o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ). No início de novembro, Valdemar afirmou que a candidatura do deputado federal e ex-diretor da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) Alexandre Ramagem (PL-RJ) para a disputa da Prefeitura do Rio já estava consolidada. Em nota, Flávio contestou o dirigente e disse que “o martelo não está batido” para a indicação do representante da sigla no pleito.

Indecisão sobre apoio a Nunes ou a Salles na disputa pela Prefeitura

A discordância de Valdemar e Bolsonaro sobre os candidatos que o PL deve indicar para as prefeituras se tornou mais evidente na capital paulista. Na cidade de São Paulo, Lula venceu o ex-presidente no segundo turno das eleições de 2022 por 3.677.921 votos (53,5% dos votos válidos) a 3.191.484 votos (46,5% dos votos válidos).

Enquanto Bolsonaro tentou emplacar o nome do seu ex-ministro do Meio Ambiente, o deputado federal Ricardo Salles (PL-SP), Valdemar costurou aliança com o prefeito Ricardo Nunes (MDB), que vai tentar a reeleição.

Ao mesmo tempo em que Nunes e Valdemar fechavam o acordo para enfrentar o deputado federal Guilherme Boulos (PSOL-SP), pré-candidato à Prefeitura apoiado por Lula, Bolsonaro chegou a pedir publicamente “Salles prefeito” na saída de um evento do PL em Brasília. “São Paulo merece realmente um nome que vá fazer pelo município e não fazer por partido”, disse Bolsonaro. O ex-ministro do Meio Ambiente publicou um registro do momento em rede social.

No último dia 4, Nunes afirmou que Valdemar havia definido que o PL apoiaria a sua campanha à reeleição com o aval de Bolsonaro e que a possibilidade de uma candidatura de Salles pela sigla havia sido “descartada”.

“Ele (Valdemar) me confirmou que o assunto estava superado, martelo batido. Estaria caminhando junto com a gente e, portanto, a outra opção de candidatura estava descartada”, disse o prefeito.

Valdemar disse que Bolsonaro ‘errou na comunicação’ sobre reforma tributária

Em julho do ano passado, quando a reforma tributária estava sendo encaminhada para votação na Câmara, Bolsonaro afirmou que a medida seria um “soco no estômago dos mais pobres” e orientou a bancada do partido na Casa a votar contra a proposta.

A reforma tributária passou na Câmara no dia 6 de julho por 382 votos a favor e 118 contra. No PL, 20 dos 99 deputados foram favoráveis à proposta. A adesão de uma parcela da bancada provocou um racha no partido.

Em entrevista ao jornal Folha de S.Paulo semanas após a aprovação da proposta na Câmara, Valdemar afirmou que Bolsonaro errou “na comunicação” e que não havia “se explicado bem” sobre a sua oposição ao texto. O dirigente disse que todos os deputados da sigla eram favoráveis a uma reforma tributária, mas não da forma como o texto foi redigido na Casa.

Apesar da entrevista de Valdemar, Bolsonaro manteve a oposição ao texto quando ele tramitou no Senado. Pelas redes sociais, o ex-presidente evocou temas caros ao bolsonarismo como “ideologia de gênero” e a regulamentação do aborto para criticar a proposta.

No dia 8 de novembro, quando a proposta foi votada pela Casa, o Estadão flagrou Bolsonaro tentando sabotar a votação do texto a partir de mensagens enviadas para o celular de senadores aliados. A estratégia não funcionou e a reforma foi aprovada por 53 votos a 24.

Desavenças começaram antes mesmo de filiação do PL

As intrigas entre Bolsonaro e Valdemar começaram antes mesmo de Bolsonaro ingressar no PL. Em busca de uma sigla para disputar a reeleição em 2022, o ex-presidente se reuniu com o dirigente e exigiu que os diretórios do Rio e de São Paulo fossem comandados pelos seus filhos: o senador Flávio Bolsonaro e o deputado Eduardo Bolsonaro, respectivamente. Bolsonaro saiu derrotado na disputa interna.

Bolsonaro queria o senador Flávio Bolsonaro no comando do PL do Rio de Janeiro e o deputado Eduardo Bolsonaro na direção do PL paulista, o que não foi aceito por Valdemar Foto: Wilton Junior/Estadão e Dida Sampaio/Estadão

Outro momento de desavença entre os dois ocorreu no fim de 2022, quando Bolsonaro perdeu a eleição presidencial para Lula. O ex-presidente ficou em silêncio e não reconheceu a derrota para o petista, ao mesmo tempo em que apoiadores passaram a bloquear estradas e ir para as portas dos quartéis do Exército. Em entrevista para a CNN Brasil um mês após o pleito, Valdemar disse que o ex-chefe do Executivo precisava “reafirmar a postura de líder”, mesmo que de oposição.

O presidente do PL também defendeu que o ex-presidente fizesse uma fala direcionada aos manifestantes, que estavam ocupando as rodovias. “O Bolsonaro precisa falar com o povo dele”, disse. O pronunciamento citado por Valdemar não foi feito pelo ex-chefe do Executivo.

BRASÍLIA – A relação de Jair Bolsonaro com o presidente do Partido Liberal (PL), Valdemar Costa Neto, é marcada por atritos desde que o ex-presidente se filiou à sigla em 2021. Nos últimos meses, Bolsonaro e o dirigente partidário adotaram posições contrárias em temas como as eleições municipais de 2024 e a reforma tributária, levando o ex-chefe do Executivo a criticar Valdemar para aliados ou expor publicamente os desentendimentos entre os dois.

Relação entre o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e o presidente do PL, Valdemar Costa Neto, é marcada por discordâncias sobre eleições municipais e reforma tributária Foto: Divulgação/PL

Em entrevista ao jornal regional O Diário, da região de Mogi das Cruzes e do Alto Tietê, Valdemar elogiou os mandatos anteriores do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e afirmou que “não há comparação” entre o petista e Bolsonaro. Na gravação de 15 de dezembro, que ganhou repercussão na última sexta-feira, 12, o presidente do PL disse também que Lula tem “prestígio”, enquanto o correligionário possui “carisma”.

“Lula não tem comparação com Bolsonaro, completamente diferente. O Lula tem muito prestígio, não o carisma que Bolsonaro tem, mas tem popularidade, é conhecido por todos os brasileiros. O Bolsonaro, não, pois tem um mandato só”, afirmou Valdemar.

Bolsonaro reagiu à fala do dirigente da sua legenda e disse, em uma conversa com apoiadores no litoral do Rio, que “declarações absurdas” de “uma pessoa do partido” podem implodir a sigla.

“Tudo na vida eu puxo um pouquinho para vida familiar de cada um de nós, né? Problemas têm. Essa semana tive um problema sério, não vou falar com quem... ‘Ó, se continuar assim, você vai implodir o partido’. Pessoa do partido dando declaração absurda. Como ‘o Lula é extremamente popular’. Manda ele vir tomar um 51 (marca de cachaça) ali na esquina. Não vem”, disse Bolsonaro.

Diante das críticas recebidas por apoiadores de Bolsonaro, Valdemar usou as redes sociais no sábado, 13, para endossar a aliança com o ex-presidente. “Quem não tem lealdade e fidelidade tem vida curta na política. Sou leal ao Bolsonaro e fiel aos meus princípios. Quem me conhece sabe que minha palavra não faz curva”, afirmou.

Definição de candidatos para eleições provocou desavenças

Em maio do ano passado, Bolsonaro e Valdemar tiveram uma rusga sobre as eleições de 2024. Segundo a Coluna do Estadão, aliados disseram que o presidente do PL se incomodou com o fato de o ex-presidente priorizar amigos para as pré-candidaturas, sem levar em consideração as melhores estratégias eleitorais para o pleito deste ano.

Valdemar se dispôs a acatar algumas sugestões do ex-presidente de candidatos para as eleições municipais, mas não todas. O presidente do PL garantiu a Bolsonaro o direito a bater o martelo em cidades estratégicas onde candidatos bolsonaristas tiveram um bom desempenho em 2022. No entanto, a carta branca para o ex-presidente não se estende a locais onde bolsonaristas não conseguiram ser eleitos.

No fim de novembro, Bolsonaro mostrou atritos com o dirigente partidário para escolha das pré-candidaturas municipais. No lançamento do PL+60, movimento da sigla destinado a incentivar o desenvolvimento de políticas públicas para idosos, o ex-presidente afirmou que precisa, às vezes, “engolir” os postulantes propostos por Valdemar.

“Na medida do possível, eu me coloco no lugar dele (Valdemar) e ele se coloca no meu lugar. Para podermos crescer, temos que abrir mão. Então, por vezes, eu engulo o candidato do Valdemar, depois ele engole um candidato meu”, afirmou Bolsonaro.

No fim de outubro, Valdemar foi alvo de críticas de apoiadores de Bolsonaro após declarar apoio à pré-candidatura de Lucas Sanches, ex-membro do Movimento Brasil Livre (MBL), para a Prefeitura de Guarulhos. Nas redes sociais, o presidente do PL foi acusado por influenciadores de tentar “destruir Bolsonaro” e de promover “politicagem suja e mercenária”.

Bolsonaristas começaram a compartilhar um vídeo de Sanches com a camiseta do MBL de Guarulhos, dizendo a frase “primeiramente, fora Bolsonaro”. O conteúdo segue com a declaração recente de apoio de Valdemar Costa Neto e a inscrição “mais um surfista”. A assessoria de comunicação do político afirmou ao Estadão que o material foi “editado de forma maldosa” para prejudicá-lo.

Sanches publicou um trecho maior do vídeo nas suas redes sociais, onde é possível entender que ele critica manifestações políticas de professores em sala de aula. No trecho, o pré-candidato afirma que não seria adequado um ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) abrir uma sessão dizendo a frase contrária ao ex-presidente.

As discussões sobre pré-candidatos provocaram atritos também entre o presidente do PL e um dos filhos do ex-presidente, o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ). No início de novembro, Valdemar afirmou que a candidatura do deputado federal e ex-diretor da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) Alexandre Ramagem (PL-RJ) para a disputa da Prefeitura do Rio já estava consolidada. Em nota, Flávio contestou o dirigente e disse que “o martelo não está batido” para a indicação do representante da sigla no pleito.

Indecisão sobre apoio a Nunes ou a Salles na disputa pela Prefeitura

A discordância de Valdemar e Bolsonaro sobre os candidatos que o PL deve indicar para as prefeituras se tornou mais evidente na capital paulista. Na cidade de São Paulo, Lula venceu o ex-presidente no segundo turno das eleições de 2022 por 3.677.921 votos (53,5% dos votos válidos) a 3.191.484 votos (46,5% dos votos válidos).

Enquanto Bolsonaro tentou emplacar o nome do seu ex-ministro do Meio Ambiente, o deputado federal Ricardo Salles (PL-SP), Valdemar costurou aliança com o prefeito Ricardo Nunes (MDB), que vai tentar a reeleição.

Ao mesmo tempo em que Nunes e Valdemar fechavam o acordo para enfrentar o deputado federal Guilherme Boulos (PSOL-SP), pré-candidato à Prefeitura apoiado por Lula, Bolsonaro chegou a pedir publicamente “Salles prefeito” na saída de um evento do PL em Brasília. “São Paulo merece realmente um nome que vá fazer pelo município e não fazer por partido”, disse Bolsonaro. O ex-ministro do Meio Ambiente publicou um registro do momento em rede social.

No último dia 4, Nunes afirmou que Valdemar havia definido que o PL apoiaria a sua campanha à reeleição com o aval de Bolsonaro e que a possibilidade de uma candidatura de Salles pela sigla havia sido “descartada”.

“Ele (Valdemar) me confirmou que o assunto estava superado, martelo batido. Estaria caminhando junto com a gente e, portanto, a outra opção de candidatura estava descartada”, disse o prefeito.

Valdemar disse que Bolsonaro ‘errou na comunicação’ sobre reforma tributária

Em julho do ano passado, quando a reforma tributária estava sendo encaminhada para votação na Câmara, Bolsonaro afirmou que a medida seria um “soco no estômago dos mais pobres” e orientou a bancada do partido na Casa a votar contra a proposta.

A reforma tributária passou na Câmara no dia 6 de julho por 382 votos a favor e 118 contra. No PL, 20 dos 99 deputados foram favoráveis à proposta. A adesão de uma parcela da bancada provocou um racha no partido.

Em entrevista ao jornal Folha de S.Paulo semanas após a aprovação da proposta na Câmara, Valdemar afirmou que Bolsonaro errou “na comunicação” e que não havia “se explicado bem” sobre a sua oposição ao texto. O dirigente disse que todos os deputados da sigla eram favoráveis a uma reforma tributária, mas não da forma como o texto foi redigido na Casa.

Apesar da entrevista de Valdemar, Bolsonaro manteve a oposição ao texto quando ele tramitou no Senado. Pelas redes sociais, o ex-presidente evocou temas caros ao bolsonarismo como “ideologia de gênero” e a regulamentação do aborto para criticar a proposta.

No dia 8 de novembro, quando a proposta foi votada pela Casa, o Estadão flagrou Bolsonaro tentando sabotar a votação do texto a partir de mensagens enviadas para o celular de senadores aliados. A estratégia não funcionou e a reforma foi aprovada por 53 votos a 24.

Desavenças começaram antes mesmo de filiação do PL

As intrigas entre Bolsonaro e Valdemar começaram antes mesmo de Bolsonaro ingressar no PL. Em busca de uma sigla para disputar a reeleição em 2022, o ex-presidente se reuniu com o dirigente e exigiu que os diretórios do Rio e de São Paulo fossem comandados pelos seus filhos: o senador Flávio Bolsonaro e o deputado Eduardo Bolsonaro, respectivamente. Bolsonaro saiu derrotado na disputa interna.

Bolsonaro queria o senador Flávio Bolsonaro no comando do PL do Rio de Janeiro e o deputado Eduardo Bolsonaro na direção do PL paulista, o que não foi aceito por Valdemar Foto: Wilton Junior/Estadão e Dida Sampaio/Estadão

Outro momento de desavença entre os dois ocorreu no fim de 2022, quando Bolsonaro perdeu a eleição presidencial para Lula. O ex-presidente ficou em silêncio e não reconheceu a derrota para o petista, ao mesmo tempo em que apoiadores passaram a bloquear estradas e ir para as portas dos quartéis do Exército. Em entrevista para a CNN Brasil um mês após o pleito, Valdemar disse que o ex-chefe do Executivo precisava “reafirmar a postura de líder”, mesmo que de oposição.

O presidente do PL também defendeu que o ex-presidente fizesse uma fala direcionada aos manifestantes, que estavam ocupando as rodovias. “O Bolsonaro precisa falar com o povo dele”, disse. O pronunciamento citado por Valdemar não foi feito pelo ex-chefe do Executivo.

BRASÍLIA – A relação de Jair Bolsonaro com o presidente do Partido Liberal (PL), Valdemar Costa Neto, é marcada por atritos desde que o ex-presidente se filiou à sigla em 2021. Nos últimos meses, Bolsonaro e o dirigente partidário adotaram posições contrárias em temas como as eleições municipais de 2024 e a reforma tributária, levando o ex-chefe do Executivo a criticar Valdemar para aliados ou expor publicamente os desentendimentos entre os dois.

Relação entre o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e o presidente do PL, Valdemar Costa Neto, é marcada por discordâncias sobre eleições municipais e reforma tributária Foto: Divulgação/PL

Em entrevista ao jornal regional O Diário, da região de Mogi das Cruzes e do Alto Tietê, Valdemar elogiou os mandatos anteriores do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e afirmou que “não há comparação” entre o petista e Bolsonaro. Na gravação de 15 de dezembro, que ganhou repercussão na última sexta-feira, 12, o presidente do PL disse também que Lula tem “prestígio”, enquanto o correligionário possui “carisma”.

“Lula não tem comparação com Bolsonaro, completamente diferente. O Lula tem muito prestígio, não o carisma que Bolsonaro tem, mas tem popularidade, é conhecido por todos os brasileiros. O Bolsonaro, não, pois tem um mandato só”, afirmou Valdemar.

Bolsonaro reagiu à fala do dirigente da sua legenda e disse, em uma conversa com apoiadores no litoral do Rio, que “declarações absurdas” de “uma pessoa do partido” podem implodir a sigla.

“Tudo na vida eu puxo um pouquinho para vida familiar de cada um de nós, né? Problemas têm. Essa semana tive um problema sério, não vou falar com quem... ‘Ó, se continuar assim, você vai implodir o partido’. Pessoa do partido dando declaração absurda. Como ‘o Lula é extremamente popular’. Manda ele vir tomar um 51 (marca de cachaça) ali na esquina. Não vem”, disse Bolsonaro.

Diante das críticas recebidas por apoiadores de Bolsonaro, Valdemar usou as redes sociais no sábado, 13, para endossar a aliança com o ex-presidente. “Quem não tem lealdade e fidelidade tem vida curta na política. Sou leal ao Bolsonaro e fiel aos meus princípios. Quem me conhece sabe que minha palavra não faz curva”, afirmou.

Definição de candidatos para eleições provocou desavenças

Em maio do ano passado, Bolsonaro e Valdemar tiveram uma rusga sobre as eleições de 2024. Segundo a Coluna do Estadão, aliados disseram que o presidente do PL se incomodou com o fato de o ex-presidente priorizar amigos para as pré-candidaturas, sem levar em consideração as melhores estratégias eleitorais para o pleito deste ano.

Valdemar se dispôs a acatar algumas sugestões do ex-presidente de candidatos para as eleições municipais, mas não todas. O presidente do PL garantiu a Bolsonaro o direito a bater o martelo em cidades estratégicas onde candidatos bolsonaristas tiveram um bom desempenho em 2022. No entanto, a carta branca para o ex-presidente não se estende a locais onde bolsonaristas não conseguiram ser eleitos.

No fim de novembro, Bolsonaro mostrou atritos com o dirigente partidário para escolha das pré-candidaturas municipais. No lançamento do PL+60, movimento da sigla destinado a incentivar o desenvolvimento de políticas públicas para idosos, o ex-presidente afirmou que precisa, às vezes, “engolir” os postulantes propostos por Valdemar.

“Na medida do possível, eu me coloco no lugar dele (Valdemar) e ele se coloca no meu lugar. Para podermos crescer, temos que abrir mão. Então, por vezes, eu engulo o candidato do Valdemar, depois ele engole um candidato meu”, afirmou Bolsonaro.

No fim de outubro, Valdemar foi alvo de críticas de apoiadores de Bolsonaro após declarar apoio à pré-candidatura de Lucas Sanches, ex-membro do Movimento Brasil Livre (MBL), para a Prefeitura de Guarulhos. Nas redes sociais, o presidente do PL foi acusado por influenciadores de tentar “destruir Bolsonaro” e de promover “politicagem suja e mercenária”.

Bolsonaristas começaram a compartilhar um vídeo de Sanches com a camiseta do MBL de Guarulhos, dizendo a frase “primeiramente, fora Bolsonaro”. O conteúdo segue com a declaração recente de apoio de Valdemar Costa Neto e a inscrição “mais um surfista”. A assessoria de comunicação do político afirmou ao Estadão que o material foi “editado de forma maldosa” para prejudicá-lo.

Sanches publicou um trecho maior do vídeo nas suas redes sociais, onde é possível entender que ele critica manifestações políticas de professores em sala de aula. No trecho, o pré-candidato afirma que não seria adequado um ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) abrir uma sessão dizendo a frase contrária ao ex-presidente.

As discussões sobre pré-candidatos provocaram atritos também entre o presidente do PL e um dos filhos do ex-presidente, o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ). No início de novembro, Valdemar afirmou que a candidatura do deputado federal e ex-diretor da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) Alexandre Ramagem (PL-RJ) para a disputa da Prefeitura do Rio já estava consolidada. Em nota, Flávio contestou o dirigente e disse que “o martelo não está batido” para a indicação do representante da sigla no pleito.

Indecisão sobre apoio a Nunes ou a Salles na disputa pela Prefeitura

A discordância de Valdemar e Bolsonaro sobre os candidatos que o PL deve indicar para as prefeituras se tornou mais evidente na capital paulista. Na cidade de São Paulo, Lula venceu o ex-presidente no segundo turno das eleições de 2022 por 3.677.921 votos (53,5% dos votos válidos) a 3.191.484 votos (46,5% dos votos válidos).

Enquanto Bolsonaro tentou emplacar o nome do seu ex-ministro do Meio Ambiente, o deputado federal Ricardo Salles (PL-SP), Valdemar costurou aliança com o prefeito Ricardo Nunes (MDB), que vai tentar a reeleição.

Ao mesmo tempo em que Nunes e Valdemar fechavam o acordo para enfrentar o deputado federal Guilherme Boulos (PSOL-SP), pré-candidato à Prefeitura apoiado por Lula, Bolsonaro chegou a pedir publicamente “Salles prefeito” na saída de um evento do PL em Brasília. “São Paulo merece realmente um nome que vá fazer pelo município e não fazer por partido”, disse Bolsonaro. O ex-ministro do Meio Ambiente publicou um registro do momento em rede social.

No último dia 4, Nunes afirmou que Valdemar havia definido que o PL apoiaria a sua campanha à reeleição com o aval de Bolsonaro e que a possibilidade de uma candidatura de Salles pela sigla havia sido “descartada”.

“Ele (Valdemar) me confirmou que o assunto estava superado, martelo batido. Estaria caminhando junto com a gente e, portanto, a outra opção de candidatura estava descartada”, disse o prefeito.

Valdemar disse que Bolsonaro ‘errou na comunicação’ sobre reforma tributária

Em julho do ano passado, quando a reforma tributária estava sendo encaminhada para votação na Câmara, Bolsonaro afirmou que a medida seria um “soco no estômago dos mais pobres” e orientou a bancada do partido na Casa a votar contra a proposta.

A reforma tributária passou na Câmara no dia 6 de julho por 382 votos a favor e 118 contra. No PL, 20 dos 99 deputados foram favoráveis à proposta. A adesão de uma parcela da bancada provocou um racha no partido.

Em entrevista ao jornal Folha de S.Paulo semanas após a aprovação da proposta na Câmara, Valdemar afirmou que Bolsonaro errou “na comunicação” e que não havia “se explicado bem” sobre a sua oposição ao texto. O dirigente disse que todos os deputados da sigla eram favoráveis a uma reforma tributária, mas não da forma como o texto foi redigido na Casa.

Apesar da entrevista de Valdemar, Bolsonaro manteve a oposição ao texto quando ele tramitou no Senado. Pelas redes sociais, o ex-presidente evocou temas caros ao bolsonarismo como “ideologia de gênero” e a regulamentação do aborto para criticar a proposta.

No dia 8 de novembro, quando a proposta foi votada pela Casa, o Estadão flagrou Bolsonaro tentando sabotar a votação do texto a partir de mensagens enviadas para o celular de senadores aliados. A estratégia não funcionou e a reforma foi aprovada por 53 votos a 24.

Desavenças começaram antes mesmo de filiação do PL

As intrigas entre Bolsonaro e Valdemar começaram antes mesmo de Bolsonaro ingressar no PL. Em busca de uma sigla para disputar a reeleição em 2022, o ex-presidente se reuniu com o dirigente e exigiu que os diretórios do Rio e de São Paulo fossem comandados pelos seus filhos: o senador Flávio Bolsonaro e o deputado Eduardo Bolsonaro, respectivamente. Bolsonaro saiu derrotado na disputa interna.

Bolsonaro queria o senador Flávio Bolsonaro no comando do PL do Rio de Janeiro e o deputado Eduardo Bolsonaro na direção do PL paulista, o que não foi aceito por Valdemar Foto: Wilton Junior/Estadão e Dida Sampaio/Estadão

Outro momento de desavença entre os dois ocorreu no fim de 2022, quando Bolsonaro perdeu a eleição presidencial para Lula. O ex-presidente ficou em silêncio e não reconheceu a derrota para o petista, ao mesmo tempo em que apoiadores passaram a bloquear estradas e ir para as portas dos quartéis do Exército. Em entrevista para a CNN Brasil um mês após o pleito, Valdemar disse que o ex-chefe do Executivo precisava “reafirmar a postura de líder”, mesmo que de oposição.

O presidente do PL também defendeu que o ex-presidente fizesse uma fala direcionada aos manifestantes, que estavam ocupando as rodovias. “O Bolsonaro precisa falar com o povo dele”, disse. O pronunciamento citado por Valdemar não foi feito pelo ex-chefe do Executivo.

BRASÍLIA – A relação de Jair Bolsonaro com o presidente do Partido Liberal (PL), Valdemar Costa Neto, é marcada por atritos desde que o ex-presidente se filiou à sigla em 2021. Nos últimos meses, Bolsonaro e o dirigente partidário adotaram posições contrárias em temas como as eleições municipais de 2024 e a reforma tributária, levando o ex-chefe do Executivo a criticar Valdemar para aliados ou expor publicamente os desentendimentos entre os dois.

Relação entre o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e o presidente do PL, Valdemar Costa Neto, é marcada por discordâncias sobre eleições municipais e reforma tributária Foto: Divulgação/PL

Em entrevista ao jornal regional O Diário, da região de Mogi das Cruzes e do Alto Tietê, Valdemar elogiou os mandatos anteriores do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e afirmou que “não há comparação” entre o petista e Bolsonaro. Na gravação de 15 de dezembro, que ganhou repercussão na última sexta-feira, 12, o presidente do PL disse também que Lula tem “prestígio”, enquanto o correligionário possui “carisma”.

“Lula não tem comparação com Bolsonaro, completamente diferente. O Lula tem muito prestígio, não o carisma que Bolsonaro tem, mas tem popularidade, é conhecido por todos os brasileiros. O Bolsonaro, não, pois tem um mandato só”, afirmou Valdemar.

Bolsonaro reagiu à fala do dirigente da sua legenda e disse, em uma conversa com apoiadores no litoral do Rio, que “declarações absurdas” de “uma pessoa do partido” podem implodir a sigla.

“Tudo na vida eu puxo um pouquinho para vida familiar de cada um de nós, né? Problemas têm. Essa semana tive um problema sério, não vou falar com quem... ‘Ó, se continuar assim, você vai implodir o partido’. Pessoa do partido dando declaração absurda. Como ‘o Lula é extremamente popular’. Manda ele vir tomar um 51 (marca de cachaça) ali na esquina. Não vem”, disse Bolsonaro.

Diante das críticas recebidas por apoiadores de Bolsonaro, Valdemar usou as redes sociais no sábado, 13, para endossar a aliança com o ex-presidente. “Quem não tem lealdade e fidelidade tem vida curta na política. Sou leal ao Bolsonaro e fiel aos meus princípios. Quem me conhece sabe que minha palavra não faz curva”, afirmou.

Definição de candidatos para eleições provocou desavenças

Em maio do ano passado, Bolsonaro e Valdemar tiveram uma rusga sobre as eleições de 2024. Segundo a Coluna do Estadão, aliados disseram que o presidente do PL se incomodou com o fato de o ex-presidente priorizar amigos para as pré-candidaturas, sem levar em consideração as melhores estratégias eleitorais para o pleito deste ano.

Valdemar se dispôs a acatar algumas sugestões do ex-presidente de candidatos para as eleições municipais, mas não todas. O presidente do PL garantiu a Bolsonaro o direito a bater o martelo em cidades estratégicas onde candidatos bolsonaristas tiveram um bom desempenho em 2022. No entanto, a carta branca para o ex-presidente não se estende a locais onde bolsonaristas não conseguiram ser eleitos.

No fim de novembro, Bolsonaro mostrou atritos com o dirigente partidário para escolha das pré-candidaturas municipais. No lançamento do PL+60, movimento da sigla destinado a incentivar o desenvolvimento de políticas públicas para idosos, o ex-presidente afirmou que precisa, às vezes, “engolir” os postulantes propostos por Valdemar.

“Na medida do possível, eu me coloco no lugar dele (Valdemar) e ele se coloca no meu lugar. Para podermos crescer, temos que abrir mão. Então, por vezes, eu engulo o candidato do Valdemar, depois ele engole um candidato meu”, afirmou Bolsonaro.

No fim de outubro, Valdemar foi alvo de críticas de apoiadores de Bolsonaro após declarar apoio à pré-candidatura de Lucas Sanches, ex-membro do Movimento Brasil Livre (MBL), para a Prefeitura de Guarulhos. Nas redes sociais, o presidente do PL foi acusado por influenciadores de tentar “destruir Bolsonaro” e de promover “politicagem suja e mercenária”.

Bolsonaristas começaram a compartilhar um vídeo de Sanches com a camiseta do MBL de Guarulhos, dizendo a frase “primeiramente, fora Bolsonaro”. O conteúdo segue com a declaração recente de apoio de Valdemar Costa Neto e a inscrição “mais um surfista”. A assessoria de comunicação do político afirmou ao Estadão que o material foi “editado de forma maldosa” para prejudicá-lo.

Sanches publicou um trecho maior do vídeo nas suas redes sociais, onde é possível entender que ele critica manifestações políticas de professores em sala de aula. No trecho, o pré-candidato afirma que não seria adequado um ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) abrir uma sessão dizendo a frase contrária ao ex-presidente.

As discussões sobre pré-candidatos provocaram atritos também entre o presidente do PL e um dos filhos do ex-presidente, o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ). No início de novembro, Valdemar afirmou que a candidatura do deputado federal e ex-diretor da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) Alexandre Ramagem (PL-RJ) para a disputa da Prefeitura do Rio já estava consolidada. Em nota, Flávio contestou o dirigente e disse que “o martelo não está batido” para a indicação do representante da sigla no pleito.

Indecisão sobre apoio a Nunes ou a Salles na disputa pela Prefeitura

A discordância de Valdemar e Bolsonaro sobre os candidatos que o PL deve indicar para as prefeituras se tornou mais evidente na capital paulista. Na cidade de São Paulo, Lula venceu o ex-presidente no segundo turno das eleições de 2022 por 3.677.921 votos (53,5% dos votos válidos) a 3.191.484 votos (46,5% dos votos válidos).

Enquanto Bolsonaro tentou emplacar o nome do seu ex-ministro do Meio Ambiente, o deputado federal Ricardo Salles (PL-SP), Valdemar costurou aliança com o prefeito Ricardo Nunes (MDB), que vai tentar a reeleição.

Ao mesmo tempo em que Nunes e Valdemar fechavam o acordo para enfrentar o deputado federal Guilherme Boulos (PSOL-SP), pré-candidato à Prefeitura apoiado por Lula, Bolsonaro chegou a pedir publicamente “Salles prefeito” na saída de um evento do PL em Brasília. “São Paulo merece realmente um nome que vá fazer pelo município e não fazer por partido”, disse Bolsonaro. O ex-ministro do Meio Ambiente publicou um registro do momento em rede social.

No último dia 4, Nunes afirmou que Valdemar havia definido que o PL apoiaria a sua campanha à reeleição com o aval de Bolsonaro e que a possibilidade de uma candidatura de Salles pela sigla havia sido “descartada”.

“Ele (Valdemar) me confirmou que o assunto estava superado, martelo batido. Estaria caminhando junto com a gente e, portanto, a outra opção de candidatura estava descartada”, disse o prefeito.

Valdemar disse que Bolsonaro ‘errou na comunicação’ sobre reforma tributária

Em julho do ano passado, quando a reforma tributária estava sendo encaminhada para votação na Câmara, Bolsonaro afirmou que a medida seria um “soco no estômago dos mais pobres” e orientou a bancada do partido na Casa a votar contra a proposta.

A reforma tributária passou na Câmara no dia 6 de julho por 382 votos a favor e 118 contra. No PL, 20 dos 99 deputados foram favoráveis à proposta. A adesão de uma parcela da bancada provocou um racha no partido.

Em entrevista ao jornal Folha de S.Paulo semanas após a aprovação da proposta na Câmara, Valdemar afirmou que Bolsonaro errou “na comunicação” e que não havia “se explicado bem” sobre a sua oposição ao texto. O dirigente disse que todos os deputados da sigla eram favoráveis a uma reforma tributária, mas não da forma como o texto foi redigido na Casa.

Apesar da entrevista de Valdemar, Bolsonaro manteve a oposição ao texto quando ele tramitou no Senado. Pelas redes sociais, o ex-presidente evocou temas caros ao bolsonarismo como “ideologia de gênero” e a regulamentação do aborto para criticar a proposta.

No dia 8 de novembro, quando a proposta foi votada pela Casa, o Estadão flagrou Bolsonaro tentando sabotar a votação do texto a partir de mensagens enviadas para o celular de senadores aliados. A estratégia não funcionou e a reforma foi aprovada por 53 votos a 24.

Desavenças começaram antes mesmo de filiação do PL

As intrigas entre Bolsonaro e Valdemar começaram antes mesmo de Bolsonaro ingressar no PL. Em busca de uma sigla para disputar a reeleição em 2022, o ex-presidente se reuniu com o dirigente e exigiu que os diretórios do Rio e de São Paulo fossem comandados pelos seus filhos: o senador Flávio Bolsonaro e o deputado Eduardo Bolsonaro, respectivamente. Bolsonaro saiu derrotado na disputa interna.

Bolsonaro queria o senador Flávio Bolsonaro no comando do PL do Rio de Janeiro e o deputado Eduardo Bolsonaro na direção do PL paulista, o que não foi aceito por Valdemar Foto: Wilton Junior/Estadão e Dida Sampaio/Estadão

Outro momento de desavença entre os dois ocorreu no fim de 2022, quando Bolsonaro perdeu a eleição presidencial para Lula. O ex-presidente ficou em silêncio e não reconheceu a derrota para o petista, ao mesmo tempo em que apoiadores passaram a bloquear estradas e ir para as portas dos quartéis do Exército. Em entrevista para a CNN Brasil um mês após o pleito, Valdemar disse que o ex-chefe do Executivo precisava “reafirmar a postura de líder”, mesmo que de oposição.

O presidente do PL também defendeu que o ex-presidente fizesse uma fala direcionada aos manifestantes, que estavam ocupando as rodovias. “O Bolsonaro precisa falar com o povo dele”, disse. O pronunciamento citado por Valdemar não foi feito pelo ex-chefe do Executivo.

Atualizamos nossa política de cookies

Ao utilizar nossos serviços, você aceita a política de monitoramento de cookies.