BRASÍLIA – Responsável por levar Luciane Barbosa Farias, mulher do Tio Patinhas – um líder do Comando Vermelho (CV) no Amazonas, para o Ministério da Justiça, a advogada Janira Rocha foi financiada pela facção criminosa antes da visita ao prédio da pasta do ministro Flávio Dino.
Nesta segunda-feira, 13, o Estadão revelou que Luciane esteve no Ministério da Justiça em duas ocasiões, como representante do Instituto Liberdade do Amazonas (ILA), uma ONG que, segundo a polícia amazonense, é financiada pelo tráfico.
O ministério se defendeu afirmando que não era possível saber da relação de Luciane com o Comando Vermelho porque a autora do pedido de audiência teria sido Janira. Nesta terça-feira, 14, o Estadão apresentou documentos que mostram que a advogada também é ligada à facção.
Recibos apreendidos pela Polícia Civil do Amazonas (PC-AM) no celular de uma integrante do Comando Vermelho mostram três transferências que totalizam R$ 23.654 feitos por um “contador” do CV para a conta de Janira. Os pagamentos foram feitos em um único dia, próximo da data em que Luciane, também conhecida como a “dama do tráfico amazonense”, se reuniu com o secretário de Assuntos Legislativos do Ministério da Justiça, Elias Vaz, em março deste ano.
Os pagamentos foram feitos por Alexsandro Barbosa, que é considerado pela Polícia Civil do Amazonas como o contador do Comando Vermelho no Estado, segundo diálogos do grupo captados pelos investigadores. Janira não é advogada de Alexsandro.
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Janira foi deputada pelo PSOL e enriqueceu durante o mandato
Janira da Rocha Silva tem 61 anos e é natural de Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense. Ela é formada em História e em Direito e se apresenta nas redes sociais como uma militante feminista, socialista, apoiadora do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e ativista de Direitos Fundamentais e Humanos.
Em 2010, Janira iniciou a carreira política ao ser eleita deputada estadual pelo PSOL do Rio de Janeiro, após receber 6.642 votos e ser a menos votada entre 70 parlamentares empossados. Ela também concorreu ao mesmo cargo nos pleitos de 2006 e 2014, mas não teve votos suficientes para se eleger.
Em 2010, quando foi eleita deputada estadual, o patrimônio declarado à Justiça Eleitoral por Janira era de R$ 9 mil. Em 2014, quando tentou a reeleição para a Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj), os seus bens foram estimados em R$ 402 mil, uma alta de 4.366%.
Em 2021, ela chegou a ser condenada em primeira instância na Justiça por contratar funcionários fantasmas e por ter obrigado servidores de seu gabinete a devolverem parte dos salários durante o mandato na Alerj, entre 2011 e 2014. A acusação contra ela, porém, prescreveu sem que o processo tivesse chegado ao fim.
Diretora da ONG Anjos da Liberdade e advogada de Flordelis
Janira também foi diretora de Relações Institucionais do Instituto Anjos da Liberdade, outra ONG que também é acusada de servir de fachada para o Comando Vermelho. A fundadora da organização é a advogada Flávia Fróes, conhecida por defender líderes de facções como Marcinho VP e Fernandinho Beira-Mar.
Fróes é investigada pela Polícia Federal (PF) por ter pedido dinheiro para chefes de facções criminosas para financiar sua campanha a deputada federal nas últimas eleições, onde não conseguiu se eleger à Câmara dos Deputados. Os investigadores também apuram se a advogada comprou uma BMW por R$ 280 mil durante o período eleitoral, dinheiro que supostamente seria oriundo do tráfico.
Recentemente, Janira voltou aos holofotes ao assumir, em maio de 2021, a defesa da ex-deputada federal Flordelis dos Santos de Souza, que foi condenada a 50 anos de prisão no ano passado pelo assassinato do marido, o pastor Anderson do Carmo.