Atualizada às 21h36
BRASÍLIA - O presidente da Agência Nacional de Águas (ANA), Vicente Andreu, nesta quinta-feira, 3, medidas restritivas para o uso da água do Sistema Cantareira, durante audiência na Câmara dos Deputados. A reunião com parlamentares e representantes da agência reguladora federal e também da Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp) foi realizada para tratar da crise do abastecimento em São Paulo.
Uma solução de curto prazo, segundo Andreu, seria usar, e bem, a água disponível para tentar atravessar o período de estiagem. Em seguida, seriam tomadas as medidas restritivas. "Se não forem tomadas, o volume útil poderá secar, com risco de isso acontecer antes de as chuvas virem, em novembro. Mas, e se não vierem?", perguntou. "É preciso tomar medidas preventivas. E, depois, rezar para que chova. Não haverá nenhuma solução técnica de engenharia de curto prazo."
Andreu afirmou que o problema atual, no qual o Cantareira bate recordes seguidos de baixa de sua reserva de água, ainda é muito pequeno diante do que se avizinha, caso não chova. "A crise está dando seus indicativos, mas a crise que vai surgir, se não houver chuva, nem resvalamos nela ainda", afirmou. O presidente da ANA disse que a população entende quando as medidas são tomadas a seu favor, mesmo aquelas restritivas. Nesta quinta-feira, 3, o nível do sistema que abastece 14,3 milhões de paulistas ficou estável em 13,3%.
De acordo com o presidente da ANA, a situação é ainda mais complexa porque, além dos problemas originados pela própria natureza, há um componente político e eleitoral. Andreu referiu-se à disputa entre São Paulo e Rio pela água da Bacia do Rio Paraíba do Sul. "A discussão entre São Paulo e Rio me pareceu, no começo, que tinha mais a ver com voto do que com água. O cidadão de São Paulo não vota no Rio e o do Rio não vota em São Paulo. Isso é fato. Mas a água está interligada."
Andreu disse que há um esforço na ANA para pôr à mesa os dois Estados e Minas para que se busque uma solução e não o confronto na disputa pelas reservas hídricas. "A questão central é integração. Se não conseguirmos solução integrada, vamos tomar decisão errada."
Defesa. O coordenador do Programa Mananciais da Sabesp, Ricardo Araújo, representou a empresa paulista na audiência na Câmara dos Deputados. Ele defendeu a captação de água do Rio Paraíba do Sul, que abastece 11 milhões na Região Metropolitana do Rio.
"Acreditamos que, do ponto de vista técnico, essa solução é plenamente justificável e não prejudica ninguém. Estamos em uma fase em que precisamos avançar mais nas conversas. Não acredito que haja regiões que sejam proprietárias de água. São Paulo tem necessidade enorme dessa água, sob risco de situações muito mais graves", afirmou Araújo.
Além disso, o coordenador já destacou as medidas adotadas para reduzir a captação de água no Cantareira. "Estamos captando pouco menos de 25 mil litros de água por segundo. Há um déficit de 6 mil litros por segundo, que compensamos por meio de bônus à população, quando ela economiza água, e da transferência de outros sistemas de abastecimento de água de São Paulo para a área de atendimento do Cantareira, particularmente do Sistema Guarapiranga e do Alto Tietê", afirmou.
Questionada sobre a proposta restritiva de Andreu, a Sabesp disse que não comentaria as declarações. O presidente da ANA, porém, elogiou o projeto paulista de abastecimento em Brasília. Andreu disse que é admirador do Sistema Macrometrópole, que o governo de São Paulo pretende fazer para garantir o abastecimento de água no Estado, mas ressaltou que o Rio precisa ser contemplado. "Essa não pode ser uma solução bairrista", disse Andreu.