O jogo da democracia no Brasil e no mundo

A guerra aos piratas da floresta


Podemos ser párias ou protagonistas. Tudo depende de como lidarmos com a Amazônia

Por João Gabriel de Lima

Eis um bom roteiro para um filme. Uma frota de navios piratas ataca a região do pré-sal. São bucaneiros com bandeirinha de caveira, espada na cinta e perna de pau – mas numa versão século 21, com celulares, laptops e domínio da tecnologia de águas profundas. Logo assumem o controle da região e começam a extrair petróleo.

Dois dos temas mais importantes do Brasil atual não têm sido suficientemente discutidos no debate eleitoral. O primeiro é a crise econômica que afeta o dia a dia dos brasileiros. O segundo tem a ver com o papel de nosso país no mundo. Seremos totalmente irrelevantes se não formos protagonistas na economia do futuro, cada vez mais sustentável – e, para isso, temos de ser campeões em preservação ambiental.

Para Barreto, parte da enorme extensão de terra desmatada na região pode ser reflorestada, gerando valor no mercado de carbono. Foto: Tiago Queiroz/Estadão
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Voltemos ao filme. Para combater os piratas do pré-sal, o governo brasileiro tem duas alternativas. A primeira é enviar a Marinha e expulsá-los. Alguém sugere, no entanto, que é melhor entregar o pré-sal aos piratas. Suspendam-se os leilões e vendam-se os lotes aos bucaneiros, até com desconto. O governo opta por esta alternativa. O filme termina com uma grande festa entre os piratas, com muito rum, cantigas de Johnny Depp e biscoitos de marinheiro.

A imagem dos piratas do pré-sal foi usada pelo cientista Paulo Barreto, em entrevista à coluna, para ilustrar como funciona a grilagem no Brasil. “O grileiro se apropria ilegalmente da terra porque sabe que, anos mais tarde, o governo irá legalizá-la”, disse Barreto ao minipodcast da semana. “São como piratas da floresta. Esse ciclo em que a legalização do crime leva a mais crime cria um incentivo perverso.”

Barreto faz parte do projeto Amazônia 2030 – em que cientistas com renome mundial estudam a região e propõem soluções. Os cálculos de Barreto mostram que não é preciso grilar nem desmatar para dinamizar a economia na Amazônia. Por um único motivo: já se desmatou tanto que sobram terras. São mais de 52 milhões de hectares improdutivos ou abandonados, duas vezes e meia a área do Estado do Paraná.

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Para Barreto, parte da enorme extensão de terra desmatada na região pode ser reflorestada, gerando valor no mercado de carbono. Outra parte pode ser dedicada a atividades como agricultura e pecuária, pensadas de forma mais produtiva e sustentável. “A criação de bois pode se concentrar, por exemplo, perto de frigoríficos já existentes, diminuindo o gasto com transporte”, diz ele.

Podemos ser párias internacionais ou protagonistas do futuro. Tudo depende de como lidarmos com a Amazônia. Estudos e ideias não faltam – e declarar guerra aos piratas da floresta é o primeiro passo.

Para saber mais

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Mini-podcast com Paulo Barreto

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Ouça entrevista com o cientista, integrante do projeto Amazônia 2030

Estudo do projeto Amazônia 2030 sobre o “paradoxo amazônico”

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Estudo do projeto Amazônia 2030 sobre como desenvolver a Amazônia sem desmatamento

Estudo de Paulo Barreto sobre pecuária bovina na Amazônia

Eis um bom roteiro para um filme. Uma frota de navios piratas ataca a região do pré-sal. São bucaneiros com bandeirinha de caveira, espada na cinta e perna de pau – mas numa versão século 21, com celulares, laptops e domínio da tecnologia de águas profundas. Logo assumem o controle da região e começam a extrair petróleo.

Dois dos temas mais importantes do Brasil atual não têm sido suficientemente discutidos no debate eleitoral. O primeiro é a crise econômica que afeta o dia a dia dos brasileiros. O segundo tem a ver com o papel de nosso país no mundo. Seremos totalmente irrelevantes se não formos protagonistas na economia do futuro, cada vez mais sustentável – e, para isso, temos de ser campeões em preservação ambiental.

Para Barreto, parte da enorme extensão de terra desmatada na região pode ser reflorestada, gerando valor no mercado de carbono. Foto: Tiago Queiroz/Estadão

Voltemos ao filme. Para combater os piratas do pré-sal, o governo brasileiro tem duas alternativas. A primeira é enviar a Marinha e expulsá-los. Alguém sugere, no entanto, que é melhor entregar o pré-sal aos piratas. Suspendam-se os leilões e vendam-se os lotes aos bucaneiros, até com desconto. O governo opta por esta alternativa. O filme termina com uma grande festa entre os piratas, com muito rum, cantigas de Johnny Depp e biscoitos de marinheiro.

A imagem dos piratas do pré-sal foi usada pelo cientista Paulo Barreto, em entrevista à coluna, para ilustrar como funciona a grilagem no Brasil. “O grileiro se apropria ilegalmente da terra porque sabe que, anos mais tarde, o governo irá legalizá-la”, disse Barreto ao minipodcast da semana. “São como piratas da floresta. Esse ciclo em que a legalização do crime leva a mais crime cria um incentivo perverso.”

Barreto faz parte do projeto Amazônia 2030 – em que cientistas com renome mundial estudam a região e propõem soluções. Os cálculos de Barreto mostram que não é preciso grilar nem desmatar para dinamizar a economia na Amazônia. Por um único motivo: já se desmatou tanto que sobram terras. São mais de 52 milhões de hectares improdutivos ou abandonados, duas vezes e meia a área do Estado do Paraná.

Para Barreto, parte da enorme extensão de terra desmatada na região pode ser reflorestada, gerando valor no mercado de carbono. Outra parte pode ser dedicada a atividades como agricultura e pecuária, pensadas de forma mais produtiva e sustentável. “A criação de bois pode se concentrar, por exemplo, perto de frigoríficos já existentes, diminuindo o gasto com transporte”, diz ele.

Podemos ser párias internacionais ou protagonistas do futuro. Tudo depende de como lidarmos com a Amazônia. Estudos e ideias não faltam – e declarar guerra aos piratas da floresta é o primeiro passo.

Para saber mais

Mini-podcast com Paulo Barreto

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Ouça entrevista com o cientista, integrante do projeto Amazônia 2030

Estudo do projeto Amazônia 2030 sobre o “paradoxo amazônico”

Estudo do projeto Amazônia 2030 sobre como desenvolver a Amazônia sem desmatamento

Estudo de Paulo Barreto sobre pecuária bovina na Amazônia

Eis um bom roteiro para um filme. Uma frota de navios piratas ataca a região do pré-sal. São bucaneiros com bandeirinha de caveira, espada na cinta e perna de pau – mas numa versão século 21, com celulares, laptops e domínio da tecnologia de águas profundas. Logo assumem o controle da região e começam a extrair petróleo.

Dois dos temas mais importantes do Brasil atual não têm sido suficientemente discutidos no debate eleitoral. O primeiro é a crise econômica que afeta o dia a dia dos brasileiros. O segundo tem a ver com o papel de nosso país no mundo. Seremos totalmente irrelevantes se não formos protagonistas na economia do futuro, cada vez mais sustentável – e, para isso, temos de ser campeões em preservação ambiental.

Para Barreto, parte da enorme extensão de terra desmatada na região pode ser reflorestada, gerando valor no mercado de carbono. Foto: Tiago Queiroz/Estadão

Voltemos ao filme. Para combater os piratas do pré-sal, o governo brasileiro tem duas alternativas. A primeira é enviar a Marinha e expulsá-los. Alguém sugere, no entanto, que é melhor entregar o pré-sal aos piratas. Suspendam-se os leilões e vendam-se os lotes aos bucaneiros, até com desconto. O governo opta por esta alternativa. O filme termina com uma grande festa entre os piratas, com muito rum, cantigas de Johnny Depp e biscoitos de marinheiro.

A imagem dos piratas do pré-sal foi usada pelo cientista Paulo Barreto, em entrevista à coluna, para ilustrar como funciona a grilagem no Brasil. “O grileiro se apropria ilegalmente da terra porque sabe que, anos mais tarde, o governo irá legalizá-la”, disse Barreto ao minipodcast da semana. “São como piratas da floresta. Esse ciclo em que a legalização do crime leva a mais crime cria um incentivo perverso.”

Barreto faz parte do projeto Amazônia 2030 – em que cientistas com renome mundial estudam a região e propõem soluções. Os cálculos de Barreto mostram que não é preciso grilar nem desmatar para dinamizar a economia na Amazônia. Por um único motivo: já se desmatou tanto que sobram terras. São mais de 52 milhões de hectares improdutivos ou abandonados, duas vezes e meia a área do Estado do Paraná.

Para Barreto, parte da enorme extensão de terra desmatada na região pode ser reflorestada, gerando valor no mercado de carbono. Outra parte pode ser dedicada a atividades como agricultura e pecuária, pensadas de forma mais produtiva e sustentável. “A criação de bois pode se concentrar, por exemplo, perto de frigoríficos já existentes, diminuindo o gasto com transporte”, diz ele.

Podemos ser párias internacionais ou protagonistas do futuro. Tudo depende de como lidarmos com a Amazônia. Estudos e ideias não faltam – e declarar guerra aos piratas da floresta é o primeiro passo.

Para saber mais

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Estudo do projeto Amazônia 2030 sobre o “paradoxo amazônico”

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