O jogo da democracia no Brasil e no mundo

O chute na trave e a onda Bolsonaro


Presidente e ex-presidente falaram muito de seus feitos no passado, com poucas propostas para o futuro

Por João Gabriel de Lima

A eleição deste ano foi a primeira na história brasileira a opor um presidente e um ex-presidente da república. Cada um deles usou uma estratégia vitoriosa em campanhas anteriores. Ambos foram criticados – com razão – por falar muito de seus feitos no passado, mas trazer poucas propostas para o futuro.

O ex-presidente Lula seguiu o que fizera em 2002. Em sua primeira campanha presidencial, Lula convidou o empresário José de Alencar, dono da Coteminas, para ser seu vice. Depois de formar duplas com companheiros de esquerda – José Paulo Bisol em 1989, Aloísio Mercadante em 1994 e Leonel Brizola em 1998 – Lula decidiu criar, em suas próprias palavras, uma chapa “capital-trabalho”. Alencar pertencia ao Partido Liberal, de centro-direita – ironicamente, um homônimo do PL que hoje tem em seus quadros o presidente Jair Bolsonaro.

Lula e Bolsonaro avançam para o segundo turno Foto: Marcelo Fonseca/Estadão e Ernesto Benavides/AFP
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Neste ano, Lula usou a mesma estratégia de, à partida, conquistar o centro. Convidou Geraldo Alckmin, ex-PSDB, para ser seu vice na chapa. Passou a campanha cortejando apoios em todas as áreas do espectro político, e reatou com ex-aliados na centro-direita, como o prefeito carioca Eduardo Paes, do PSD. Na última semana de campanha, fez uma live com artistas e um encontro com empresários e mercado financeiro – ao qual compareceram alguns aliados habituais do presidente Bolsonaro, como o empresário Flávio Rocha e os sócios da produtora olavista Brasil Paralelo.

As redes sociais foram fundamentais para eleger Bolsonaro em 2018, numa campanha atípica em vários sentidos – e que teve como ponto de inflexão o atentado contra o presidente em 6 de setembro. Por causa da facada, Bolsonaro não pode comparecer aos debates e sabatinas na televisão. Agora, em 2022, Bolsonaro teve condições de participar de todos os eventos de campanha, mas continuou com a lógica de redes sociais – falar aos nichos específicos de seus seguidores habituais.

Na hora de escolher o vice, em vez de acenar ao centro, preferiu convidar seu ministro da Defesa, o general Braga Netto. Compareceu a diversas Marchas para Jesus ao longo da campanha, e colocou a primeira-dama Michele Bolsonaro – que é evangélica – em posição de destaque. Nos debates, explicitou o quanto pode as posições clássicas que energizam sua base: pró-armas, contra a ideologia de gênero e antiaborto, sempre a brandir seu slogan: “Deus, pátria, família e liberdade”.

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Pode-se dizer que os dois candidatos tiveram sucesso relativo. Lula não conseguiu ganhar no primeiro turno, mote de sua campanha nos últimos dias – e isso teve sabor de derrota. Chegou ao segundo turno, no entanto, com mais de 48% dos votos. Isso significa que, com menos de dois pontos, conseguirá se sagrar presidente. O PT nunca elegeu um presidente em primeiro turno. Bateu na trave três vezes – com o próprio Lula em 2006, contra Alckmin, com Dilma em 2010, contra José Serra, e agora. Em 2006 e 2010 o PT acabou por vencer no segundo turno. Aliás, na redemocratização, nenhum segundo colocado conseguiu virar a eleição.

Bolsonaro passou a última semana da campanha dizendo que ganharia no primeiro turno com 60% dos votos. Perdeu – mas, levando-se em consideração as pesquisas e as expectativas dos bolsonaristas sensatos, saiu-se bem melhor que a encomenda. De acordo com os institutos, teria algo em torno de 37% dos votos, contra 50% de Lula. Os institutos acertaram a votação de Lula – mas Bolsonaro saiu-se muito melhor, confirmando os “trackings” que rastrearam o voto envergonhado. Muitos esperavam uma “onda Lula”. O que se viu, como em 2018, foi uma “onda Bolsonaro”.

O presidente também encontra motivos para comemorar em outras instâncias do pleito. Na eleição para governador, quatro candidatos de direita terminaram na liderança nos cinco maiores colégios eleitorais. Os dois que se elegeram em primeiro turno são egressos da onda bolsonarista de 2018 – Claudio Castro no Rio de Janeiro e Romeu Zema em Minas Gerais. Onyx Lorenzoni e Tarcísio Freitas, figuras de proa do bolsonarismo, lideraram nos Estados de São Paulo e Rio Grande do Sul. Vários ministros e ex-ministros de seu governo – Damares Alves, Sérgio Moro e o astronauta Marcos Pontes – se elegeram senadores em seus Estados.

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Lula está na frente nos números. Bolsonaro ganhou tração nos palanques estaduais. Lula deverá intensificar os gestos em direção ao centro. Bolsonaro precisa desesperadamente de novos apoios. O presidente e o ex-presidente chegaram ao segundo turno usando truques do passado. Para ganhar, terão que dizer ao eleitor o que pretendem fazer no futuro.

A eleição deste ano foi a primeira na história brasileira a opor um presidente e um ex-presidente da república. Cada um deles usou uma estratégia vitoriosa em campanhas anteriores. Ambos foram criticados – com razão – por falar muito de seus feitos no passado, mas trazer poucas propostas para o futuro.

O ex-presidente Lula seguiu o que fizera em 2002. Em sua primeira campanha presidencial, Lula convidou o empresário José de Alencar, dono da Coteminas, para ser seu vice. Depois de formar duplas com companheiros de esquerda – José Paulo Bisol em 1989, Aloísio Mercadante em 1994 e Leonel Brizola em 1998 – Lula decidiu criar, em suas próprias palavras, uma chapa “capital-trabalho”. Alencar pertencia ao Partido Liberal, de centro-direita – ironicamente, um homônimo do PL que hoje tem em seus quadros o presidente Jair Bolsonaro.

Lula e Bolsonaro avançam para o segundo turno Foto: Marcelo Fonseca/Estadão e Ernesto Benavides/AFP

Neste ano, Lula usou a mesma estratégia de, à partida, conquistar o centro. Convidou Geraldo Alckmin, ex-PSDB, para ser seu vice na chapa. Passou a campanha cortejando apoios em todas as áreas do espectro político, e reatou com ex-aliados na centro-direita, como o prefeito carioca Eduardo Paes, do PSD. Na última semana de campanha, fez uma live com artistas e um encontro com empresários e mercado financeiro – ao qual compareceram alguns aliados habituais do presidente Bolsonaro, como o empresário Flávio Rocha e os sócios da produtora olavista Brasil Paralelo.

As redes sociais foram fundamentais para eleger Bolsonaro em 2018, numa campanha atípica em vários sentidos – e que teve como ponto de inflexão o atentado contra o presidente em 6 de setembro. Por causa da facada, Bolsonaro não pode comparecer aos debates e sabatinas na televisão. Agora, em 2022, Bolsonaro teve condições de participar de todos os eventos de campanha, mas continuou com a lógica de redes sociais – falar aos nichos específicos de seus seguidores habituais.

Na hora de escolher o vice, em vez de acenar ao centro, preferiu convidar seu ministro da Defesa, o general Braga Netto. Compareceu a diversas Marchas para Jesus ao longo da campanha, e colocou a primeira-dama Michele Bolsonaro – que é evangélica – em posição de destaque. Nos debates, explicitou o quanto pode as posições clássicas que energizam sua base: pró-armas, contra a ideologia de gênero e antiaborto, sempre a brandir seu slogan: “Deus, pátria, família e liberdade”.

Pode-se dizer que os dois candidatos tiveram sucesso relativo. Lula não conseguiu ganhar no primeiro turno, mote de sua campanha nos últimos dias – e isso teve sabor de derrota. Chegou ao segundo turno, no entanto, com mais de 48% dos votos. Isso significa que, com menos de dois pontos, conseguirá se sagrar presidente. O PT nunca elegeu um presidente em primeiro turno. Bateu na trave três vezes – com o próprio Lula em 2006, contra Alckmin, com Dilma em 2010, contra José Serra, e agora. Em 2006 e 2010 o PT acabou por vencer no segundo turno. Aliás, na redemocratização, nenhum segundo colocado conseguiu virar a eleição.

Bolsonaro passou a última semana da campanha dizendo que ganharia no primeiro turno com 60% dos votos. Perdeu – mas, levando-se em consideração as pesquisas e as expectativas dos bolsonaristas sensatos, saiu-se bem melhor que a encomenda. De acordo com os institutos, teria algo em torno de 37% dos votos, contra 50% de Lula. Os institutos acertaram a votação de Lula – mas Bolsonaro saiu-se muito melhor, confirmando os “trackings” que rastrearam o voto envergonhado. Muitos esperavam uma “onda Lula”. O que se viu, como em 2018, foi uma “onda Bolsonaro”.

O presidente também encontra motivos para comemorar em outras instâncias do pleito. Na eleição para governador, quatro candidatos de direita terminaram na liderança nos cinco maiores colégios eleitorais. Os dois que se elegeram em primeiro turno são egressos da onda bolsonarista de 2018 – Claudio Castro no Rio de Janeiro e Romeu Zema em Minas Gerais. Onyx Lorenzoni e Tarcísio Freitas, figuras de proa do bolsonarismo, lideraram nos Estados de São Paulo e Rio Grande do Sul. Vários ministros e ex-ministros de seu governo – Damares Alves, Sérgio Moro e o astronauta Marcos Pontes – se elegeram senadores em seus Estados.

Lula está na frente nos números. Bolsonaro ganhou tração nos palanques estaduais. Lula deverá intensificar os gestos em direção ao centro. Bolsonaro precisa desesperadamente de novos apoios. O presidente e o ex-presidente chegaram ao segundo turno usando truques do passado. Para ganhar, terão que dizer ao eleitor o que pretendem fazer no futuro.

A eleição deste ano foi a primeira na história brasileira a opor um presidente e um ex-presidente da república. Cada um deles usou uma estratégia vitoriosa em campanhas anteriores. Ambos foram criticados – com razão – por falar muito de seus feitos no passado, mas trazer poucas propostas para o futuro.

O ex-presidente Lula seguiu o que fizera em 2002. Em sua primeira campanha presidencial, Lula convidou o empresário José de Alencar, dono da Coteminas, para ser seu vice. Depois de formar duplas com companheiros de esquerda – José Paulo Bisol em 1989, Aloísio Mercadante em 1994 e Leonel Brizola em 1998 – Lula decidiu criar, em suas próprias palavras, uma chapa “capital-trabalho”. Alencar pertencia ao Partido Liberal, de centro-direita – ironicamente, um homônimo do PL que hoje tem em seus quadros o presidente Jair Bolsonaro.

Lula e Bolsonaro avançam para o segundo turno Foto: Marcelo Fonseca/Estadão e Ernesto Benavides/AFP

Neste ano, Lula usou a mesma estratégia de, à partida, conquistar o centro. Convidou Geraldo Alckmin, ex-PSDB, para ser seu vice na chapa. Passou a campanha cortejando apoios em todas as áreas do espectro político, e reatou com ex-aliados na centro-direita, como o prefeito carioca Eduardo Paes, do PSD. Na última semana de campanha, fez uma live com artistas e um encontro com empresários e mercado financeiro – ao qual compareceram alguns aliados habituais do presidente Bolsonaro, como o empresário Flávio Rocha e os sócios da produtora olavista Brasil Paralelo.

As redes sociais foram fundamentais para eleger Bolsonaro em 2018, numa campanha atípica em vários sentidos – e que teve como ponto de inflexão o atentado contra o presidente em 6 de setembro. Por causa da facada, Bolsonaro não pode comparecer aos debates e sabatinas na televisão. Agora, em 2022, Bolsonaro teve condições de participar de todos os eventos de campanha, mas continuou com a lógica de redes sociais – falar aos nichos específicos de seus seguidores habituais.

Na hora de escolher o vice, em vez de acenar ao centro, preferiu convidar seu ministro da Defesa, o general Braga Netto. Compareceu a diversas Marchas para Jesus ao longo da campanha, e colocou a primeira-dama Michele Bolsonaro – que é evangélica – em posição de destaque. Nos debates, explicitou o quanto pode as posições clássicas que energizam sua base: pró-armas, contra a ideologia de gênero e antiaborto, sempre a brandir seu slogan: “Deus, pátria, família e liberdade”.

Pode-se dizer que os dois candidatos tiveram sucesso relativo. Lula não conseguiu ganhar no primeiro turno, mote de sua campanha nos últimos dias – e isso teve sabor de derrota. Chegou ao segundo turno, no entanto, com mais de 48% dos votos. Isso significa que, com menos de dois pontos, conseguirá se sagrar presidente. O PT nunca elegeu um presidente em primeiro turno. Bateu na trave três vezes – com o próprio Lula em 2006, contra Alckmin, com Dilma em 2010, contra José Serra, e agora. Em 2006 e 2010 o PT acabou por vencer no segundo turno. Aliás, na redemocratização, nenhum segundo colocado conseguiu virar a eleição.

Bolsonaro passou a última semana da campanha dizendo que ganharia no primeiro turno com 60% dos votos. Perdeu – mas, levando-se em consideração as pesquisas e as expectativas dos bolsonaristas sensatos, saiu-se bem melhor que a encomenda. De acordo com os institutos, teria algo em torno de 37% dos votos, contra 50% de Lula. Os institutos acertaram a votação de Lula – mas Bolsonaro saiu-se muito melhor, confirmando os “trackings” que rastrearam o voto envergonhado. Muitos esperavam uma “onda Lula”. O que se viu, como em 2018, foi uma “onda Bolsonaro”.

O presidente também encontra motivos para comemorar em outras instâncias do pleito. Na eleição para governador, quatro candidatos de direita terminaram na liderança nos cinco maiores colégios eleitorais. Os dois que se elegeram em primeiro turno são egressos da onda bolsonarista de 2018 – Claudio Castro no Rio de Janeiro e Romeu Zema em Minas Gerais. Onyx Lorenzoni e Tarcísio Freitas, figuras de proa do bolsonarismo, lideraram nos Estados de São Paulo e Rio Grande do Sul. Vários ministros e ex-ministros de seu governo – Damares Alves, Sérgio Moro e o astronauta Marcos Pontes – se elegeram senadores em seus Estados.

Lula está na frente nos números. Bolsonaro ganhou tração nos palanques estaduais. Lula deverá intensificar os gestos em direção ao centro. Bolsonaro precisa desesperadamente de novos apoios. O presidente e o ex-presidente chegaram ao segundo turno usando truques do passado. Para ganhar, terão que dizer ao eleitor o que pretendem fazer no futuro.

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