O jogo da democracia no Brasil e no mundo

Os piratas digitais da floresta


Serviço Florestal Brasileiro anunciou ‘malha fina’ para identificar e punir fraudadores do CAR

Por João Gabriel de Lima
Atualização:

Um furo de reportagem de Vinícius Valfré, do Estadão, revelou nesta semana uma artimanha dos “grileiros”, os ladrões de terra pública. Na Amazônia, os criminosos agem digitalmente. Eles preenchem os formulários do Cadastro Ambiental Rural (CAR) na versão online, e avançam ilegalmente sobre terras indígenas. Pior: usam os formulários para conseguir benesses e financiamentos, aproveitando-se da lentidão da Justiça.

Valfré recorreu a ferramentas de jornalismo de dados – cruzou os formulários do CAR com tecnologia de geolocalização – e encontrou 325 fazendas registradas ilegalmente, entre 2014 e 2023. A grilagem online é um crime da era digital – e foi a própria tecnologia digital que apanhou em flagrante os piratas da floresta.

A geolocalização pode ser usada contra outros tipos de crime. Uma nova lei da comunidade europeia dificulta a importação de carne produzida em zonas de desmatamento. Pela lei, cabe ao importador a verificação da procedência da mercadoria. Empresas brasileiras já enfrentaram problemas no exterior por não ter registro de procedência.

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Operação do Ibama em área desmatada dentro da terra indígena Pirititi, em 2018 Foto: Felipe Werneck/Ibama

“O Brasil já tem o sistema de rastreamento SISBOV, utilizado por alguns exportadores de gado para a Europa”, diz o engenheiro florestal Paulo Barreto, um dos fundadores do instituto de pesquisas Imazon. “Falta, no entanto, cruzar essa informação com o mapa das fazendas, para saber se o gado vem de região de desmatamento. Satélites já nos fornecem esses dados, mas não fazemos o cruzamento.”

Barreto, entrevistado no minipodcast da semana, faz parte do time do Amazônia 2030, um dos principais projetos de pesquisa científica sobre a maior floresta tropical do mundo. Segundo ele, o Brasil seria pioneiro nesse tipo de cruzamento de dados: “O governo poderia liderar esse processo, até como estratégia para ganharmos mercado”.

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A imagem do Brasil no mundo – nosso “soft power”, no jargão das relações internacionais – depende de duas coisas. Nossa capacidade de produzir alimentos, de preferência associada ao desenvolvimento de uma indústria sofisticada e sustentável no setor. E o cuidado com a floresta Amazônica, essencial para que a vida no planeta não se torne intolerável para as gerações de nossos filhos e netos.

Depois da reportagem do Estadão, o Serviço Florestal Brasileiro, órgão do governo federal, anunciou que está fazendo uma espécie de “malha fina” para identificar e punir os fraudadores do CAR. É uma boa notícia. Grilar terras indígenas é crime. Desmatar é crime. Como mostram a reportagem do Estadão e as pesquisas do Amazônia 2030, existe tecnologia para combater os dois crimes. Basta querer usá-la.

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Para saber mais

Minipodcast com Paulo Barreto

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Ouça entrevista

Um furo de reportagem de Vinícius Valfré, do Estadão, revelou nesta semana uma artimanha dos “grileiros”, os ladrões de terra pública. Na Amazônia, os criminosos agem digitalmente. Eles preenchem os formulários do Cadastro Ambiental Rural (CAR) na versão online, e avançam ilegalmente sobre terras indígenas. Pior: usam os formulários para conseguir benesses e financiamentos, aproveitando-se da lentidão da Justiça.

Valfré recorreu a ferramentas de jornalismo de dados – cruzou os formulários do CAR com tecnologia de geolocalização – e encontrou 325 fazendas registradas ilegalmente, entre 2014 e 2023. A grilagem online é um crime da era digital – e foi a própria tecnologia digital que apanhou em flagrante os piratas da floresta.

A geolocalização pode ser usada contra outros tipos de crime. Uma nova lei da comunidade europeia dificulta a importação de carne produzida em zonas de desmatamento. Pela lei, cabe ao importador a verificação da procedência da mercadoria. Empresas brasileiras já enfrentaram problemas no exterior por não ter registro de procedência.

Operação do Ibama em área desmatada dentro da terra indígena Pirititi, em 2018 Foto: Felipe Werneck/Ibama

“O Brasil já tem o sistema de rastreamento SISBOV, utilizado por alguns exportadores de gado para a Europa”, diz o engenheiro florestal Paulo Barreto, um dos fundadores do instituto de pesquisas Imazon. “Falta, no entanto, cruzar essa informação com o mapa das fazendas, para saber se o gado vem de região de desmatamento. Satélites já nos fornecem esses dados, mas não fazemos o cruzamento.”

Barreto, entrevistado no minipodcast da semana, faz parte do time do Amazônia 2030, um dos principais projetos de pesquisa científica sobre a maior floresta tropical do mundo. Segundo ele, o Brasil seria pioneiro nesse tipo de cruzamento de dados: “O governo poderia liderar esse processo, até como estratégia para ganharmos mercado”.

A imagem do Brasil no mundo – nosso “soft power”, no jargão das relações internacionais – depende de duas coisas. Nossa capacidade de produzir alimentos, de preferência associada ao desenvolvimento de uma indústria sofisticada e sustentável no setor. E o cuidado com a floresta Amazônica, essencial para que a vida no planeta não se torne intolerável para as gerações de nossos filhos e netos.

Depois da reportagem do Estadão, o Serviço Florestal Brasileiro, órgão do governo federal, anunciou que está fazendo uma espécie de “malha fina” para identificar e punir os fraudadores do CAR. É uma boa notícia. Grilar terras indígenas é crime. Desmatar é crime. Como mostram a reportagem do Estadão e as pesquisas do Amazônia 2030, existe tecnologia para combater os dois crimes. Basta querer usá-la.

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Valfré recorreu a ferramentas de jornalismo de dados – cruzou os formulários do CAR com tecnologia de geolocalização – e encontrou 325 fazendas registradas ilegalmente, entre 2014 e 2023. A grilagem online é um crime da era digital – e foi a própria tecnologia digital que apanhou em flagrante os piratas da floresta.

A geolocalização pode ser usada contra outros tipos de crime. Uma nova lei da comunidade europeia dificulta a importação de carne produzida em zonas de desmatamento. Pela lei, cabe ao importador a verificação da procedência da mercadoria. Empresas brasileiras já enfrentaram problemas no exterior por não ter registro de procedência.

Operação do Ibama em área desmatada dentro da terra indígena Pirititi, em 2018 Foto: Felipe Werneck/Ibama

“O Brasil já tem o sistema de rastreamento SISBOV, utilizado por alguns exportadores de gado para a Europa”, diz o engenheiro florestal Paulo Barreto, um dos fundadores do instituto de pesquisas Imazon. “Falta, no entanto, cruzar essa informação com o mapa das fazendas, para saber se o gado vem de região de desmatamento. Satélites já nos fornecem esses dados, mas não fazemos o cruzamento.”

Barreto, entrevistado no minipodcast da semana, faz parte do time do Amazônia 2030, um dos principais projetos de pesquisa científica sobre a maior floresta tropical do mundo. Segundo ele, o Brasil seria pioneiro nesse tipo de cruzamento de dados: “O governo poderia liderar esse processo, até como estratégia para ganharmos mercado”.

A imagem do Brasil no mundo – nosso “soft power”, no jargão das relações internacionais – depende de duas coisas. Nossa capacidade de produzir alimentos, de preferência associada ao desenvolvimento de uma indústria sofisticada e sustentável no setor. E o cuidado com a floresta Amazônica, essencial para que a vida no planeta não se torne intolerável para as gerações de nossos filhos e netos.

Depois da reportagem do Estadão, o Serviço Florestal Brasileiro, órgão do governo federal, anunciou que está fazendo uma espécie de “malha fina” para identificar e punir os fraudadores do CAR. É uma boa notícia. Grilar terras indígenas é crime. Desmatar é crime. Como mostram a reportagem do Estadão e as pesquisas do Amazônia 2030, existe tecnologia para combater os dois crimes. Basta querer usá-la.

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