O jogo da democracia no Brasil e no mundo

Perda de protagonismo de Bolsonaro, agora inelegível, é boa notícia para a direita brasileira


É hora de se afastar dos radicais que espalham mentiras, destroem palácios e instigam brasileiros contra brasileiros

Por João Gabriel de Lima
Atualização:

O slogan daquela funerária do interior – “você não sabe quando, mas você sabe onde” – assombrou o ex-presidente Jair Bolsonaro nas últimas semanas. O “onde” era o Tribunal Superior Eleitoral, que fatalmente decretaria a inelegibilidade do ex-presidente. Só não se sabia “quando” – acabou sendo nesta sexta-feira, 30. A perda de protagonismo de Bolsonaro é uma boa notícia para a direita brasileira, ao menos aquela que se apresenta como “liberal” ou “conservadora”.

Conservadores, por definição, defendem as instituições. Os que são verdadeiramente conservadores ficaram chocados com o vandalismo golpista no 8 de janeiro. Liberais, como o nome diz, defendem a liberdade, coletiva e individual – o que leva os liberais autênticos a repudiar a agenda retrógrada do bolsonarismo. Não à toa, uma pesquisa recente mostrou que a maioria dos eleitores não vê mais Bolsonaro como o líder da direita. Preferem outro nome.

Jair Bolsonaro no condomínio onde mora na Barra da Tijuca, no Rio; ex-presidente está inelegível por oito anos Foto: PEDRO KIRILOS
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Se Bolsonaro mente ao dizer que defende as tradições conservadora e liberal, o que ele representa então? O jornalista e consultor político Thomas Traumann responde a essa pergunta na tese de mestrado que acaba de defender na UERJ. “No mundo inteiro, a direita radical populista defende ideias nacionalistas, e em minha dissertação mostro como isso se aplica a Bolsonaro”, diz Traumann, entrevistado no minipodcast da semana.

Para Traumann, o suposto nacionalismo de Bolsonaro é principalmente uma ferramenta para desqualificar inimigos. “Ele falava mal da China para atacar o governador paulista João Doria, e da Venezuela para atingir o PT e a esquerda”, diz Traumann. “No fundo, é um populista, ou seja, alguém que pretende instigar divisões na sociedade”.

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Na dissertação, Traumann usa a melhor literatura disponível para mostrar como Bolsonaro abraçou a tríade da direita radical: populismo, autoritarismo – no caso dele, de cunho militarista – e sua versão torta de nacionalismo. No vácuo de Bolsonaro, que novas lideranças surgirão à direita?

“Acho difícil que o debate volte a girar apenas em torno de questões econômicas. A agenda de valores veio para ficar”, diz Traumann. Ele acha, no entanto, que o fantasma do 8 de janeiro afastará políticos com veleidades autoritárias ou militaristas.

O liberalismo e o conservadorismo, ao lado do socialismo e da social-democracia, são as quatro tradições nobres da política ocidental. Livre de Bolsonaro – a quem abraçou em 2018 por razões pragmáticas – a direita brasileira tem a chance de resgatar seus valores. É hora de se afastar dos radicais que espalham mentiras, destroem palácios e instigam brasileiros contra brasileiros.

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Para saber mais

Minipodcast com Thomas Traumann

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Ouça entrevista com jornalista e consultor político

O slogan daquela funerária do interior – “você não sabe quando, mas você sabe onde” – assombrou o ex-presidente Jair Bolsonaro nas últimas semanas. O “onde” era o Tribunal Superior Eleitoral, que fatalmente decretaria a inelegibilidade do ex-presidente. Só não se sabia “quando” – acabou sendo nesta sexta-feira, 30. A perda de protagonismo de Bolsonaro é uma boa notícia para a direita brasileira, ao menos aquela que se apresenta como “liberal” ou “conservadora”.

Conservadores, por definição, defendem as instituições. Os que são verdadeiramente conservadores ficaram chocados com o vandalismo golpista no 8 de janeiro. Liberais, como o nome diz, defendem a liberdade, coletiva e individual – o que leva os liberais autênticos a repudiar a agenda retrógrada do bolsonarismo. Não à toa, uma pesquisa recente mostrou que a maioria dos eleitores não vê mais Bolsonaro como o líder da direita. Preferem outro nome.

Jair Bolsonaro no condomínio onde mora na Barra da Tijuca, no Rio; ex-presidente está inelegível por oito anos Foto: PEDRO KIRILOS

Se Bolsonaro mente ao dizer que defende as tradições conservadora e liberal, o que ele representa então? O jornalista e consultor político Thomas Traumann responde a essa pergunta na tese de mestrado que acaba de defender na UERJ. “No mundo inteiro, a direita radical populista defende ideias nacionalistas, e em minha dissertação mostro como isso se aplica a Bolsonaro”, diz Traumann, entrevistado no minipodcast da semana.

Para Traumann, o suposto nacionalismo de Bolsonaro é principalmente uma ferramenta para desqualificar inimigos. “Ele falava mal da China para atacar o governador paulista João Doria, e da Venezuela para atingir o PT e a esquerda”, diz Traumann. “No fundo, é um populista, ou seja, alguém que pretende instigar divisões na sociedade”.

Na dissertação, Traumann usa a melhor literatura disponível para mostrar como Bolsonaro abraçou a tríade da direita radical: populismo, autoritarismo – no caso dele, de cunho militarista – e sua versão torta de nacionalismo. No vácuo de Bolsonaro, que novas lideranças surgirão à direita?

“Acho difícil que o debate volte a girar apenas em torno de questões econômicas. A agenda de valores veio para ficar”, diz Traumann. Ele acha, no entanto, que o fantasma do 8 de janeiro afastará políticos com veleidades autoritárias ou militaristas.

O liberalismo e o conservadorismo, ao lado do socialismo e da social-democracia, são as quatro tradições nobres da política ocidental. Livre de Bolsonaro – a quem abraçou em 2018 por razões pragmáticas – a direita brasileira tem a chance de resgatar seus valores. É hora de se afastar dos radicais que espalham mentiras, destroem palácios e instigam brasileiros contra brasileiros.

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Conservadores, por definição, defendem as instituições. Os que são verdadeiramente conservadores ficaram chocados com o vandalismo golpista no 8 de janeiro. Liberais, como o nome diz, defendem a liberdade, coletiva e individual – o que leva os liberais autênticos a repudiar a agenda retrógrada do bolsonarismo. Não à toa, uma pesquisa recente mostrou que a maioria dos eleitores não vê mais Bolsonaro como o líder da direita. Preferem outro nome.

Jair Bolsonaro no condomínio onde mora na Barra da Tijuca, no Rio; ex-presidente está inelegível por oito anos Foto: PEDRO KIRILOS

Se Bolsonaro mente ao dizer que defende as tradições conservadora e liberal, o que ele representa então? O jornalista e consultor político Thomas Traumann responde a essa pergunta na tese de mestrado que acaba de defender na UERJ. “No mundo inteiro, a direita radical populista defende ideias nacionalistas, e em minha dissertação mostro como isso se aplica a Bolsonaro”, diz Traumann, entrevistado no minipodcast da semana.

Para Traumann, o suposto nacionalismo de Bolsonaro é principalmente uma ferramenta para desqualificar inimigos. “Ele falava mal da China para atacar o governador paulista João Doria, e da Venezuela para atingir o PT e a esquerda”, diz Traumann. “No fundo, é um populista, ou seja, alguém que pretende instigar divisões na sociedade”.

Na dissertação, Traumann usa a melhor literatura disponível para mostrar como Bolsonaro abraçou a tríade da direita radical: populismo, autoritarismo – no caso dele, de cunho militarista – e sua versão torta de nacionalismo. No vácuo de Bolsonaro, que novas lideranças surgirão à direita?

“Acho difícil que o debate volte a girar apenas em torno de questões econômicas. A agenda de valores veio para ficar”, diz Traumann. Ele acha, no entanto, que o fantasma do 8 de janeiro afastará políticos com veleidades autoritárias ou militaristas.

O liberalismo e o conservadorismo, ao lado do socialismo e da social-democracia, são as quatro tradições nobres da política ocidental. Livre de Bolsonaro – a quem abraçou em 2018 por razões pragmáticas – a direita brasileira tem a chance de resgatar seus valores. É hora de se afastar dos radicais que espalham mentiras, destroem palácios e instigam brasileiros contra brasileiros.

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