Jornalista, professor e ex-diretor do ‘Estado’


Oliveiros fez carreira acadêmica como cientista social e foi redator-chefe do jornal

Por José Maria Mayrink

Foram 47 anos de jornal, sempre no Estado, seu primeiro e único emprego numa carreira brilhante, de repórter a diretor, que aliou à vida acadêmica, como professor da Universidade de São Paulo (USP). “Na verdade foram 48 anos de casa, pois comecei em 1951, quando estreei como correspondente no interior”, corrigia Oliveiros S. Ferreira, revendo sua história ao se aposentar, em julho de 1999. Era paulista de São José do Rio Pardo, onde nasceu em 5 de maio de 1929, filho de Reynaldo Ferreira e Júlia da Silva Ferreira. Morreu neste sábado de causas naturais, em Campinas, aos 88 anos. Não haverá velório e o jornalista será enterrado às 12h deste domingo no Cemitério São Paulo (Rua Cardeal Arcoverde, 1250).

O jornalista deixou a viúva Vânia Leal Cintra e o filho Afonso Ferreira, de seu primeiro casamento, com Walnice Nogueira Galvão. “Oliveiros atuou nos cargos mais importantes da redação de O Estado de S. Paulo não só pela sua competência, mas também pela confiança que a família sempre teve nele. Um homem digno, comprometido com os melhores interesses do País”, disse o diretor presidente do Grupo Estado, Francisco Mesquita Neto.

Oliveiros Ferreiradedicou-se ao estudo dos problemas nacionais Foto: NELSON ALMEIDA/AE
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Oliveiros acabava de prestar concurso para o magistério na rede estadual e ensinava Sociologia na Escola Normal de Marília, quando descobriu a vocação de jornalista. Em 1952, voltou a São Paulo a convite do professor Lourival Gomes Machado para ser seu assistente na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP, onde se formara em Ciências Sociais.

Em 1965, casou-se com Leontina de Almeida, sua ex-aluna na USP – permaneceram casados até 1999, quando ela morreu. “Oli, meu padrasto, foi essencial e decisivo na minha formação pessoal, profissional e intelectual. Ensinou-me a importância da honestidade intelectual, do rigor analítico, da busca incessante pelo conhecimento, ética e disciplina do trabalho”, afirmou o jornalista William Waack.

Defendeu em 1966 a tese de doutorado sobre o peruano Haya de la Torre: Nossa América, Indoamérica – a Ordem e a Revolução no pensamento de Haya de la Torre. Cinco anos depois, fez a livre-docência com uma tese sobre Gramsci: Os 45 cavaleiros húngaros, na USP. Seus estudos na área de Ciências Sociais renderam 11 livros dedicados a problemas brasileiros e questões internacionais. No Estado, aprofundou em artigos a análise de temas de sua especialidade, como a Guerra Fria, a União Soviética e as ditaduras na América Latina.

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Paralelamente ao trabalho na USP, onde foi professor até se aposentar em 1983, Oliveiros foi consultor e conferencista da Escola Superior de Guerra e da Escola de Guerra Naval. Depois de aposentado, continuou a dar cursos de pós-graduação na FFLCH. Em 1997, foi contratado pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC) e, dez anos depois, mudou-se para Campinas. Alugou uma casa espaçosa ao lado da residência para ali montar escritório e biblioteca.

Rui Barbosa. Ao deixar o sexto andar do prédio do Estado, em julho de 1999, Oliveiros pregou um fac-símile com uma citação de Rui Barbosa na estante de seu escritório, no apartamento da Rua Jerusalém, no bairro do Ibirapuera. “Que posso eu deixar de mim, senão uma página em branco?”, era a frase que se lia no fac-símile. Impossível imaginar que o autor de tantas reportagens, artigos, editoriais e livros experimentasse alguma sensação de vazio para fazer sua essa reflexão. Aposentado, trabalhava em mais um livro e acabou publicando dois.

Oliveiros viveu tempos difíceis no jornalismo, durante o período do regime militar, quando o Estado enfrentou a censura prévia com policiais de plantão em suas instalações, primeiro na redação e depois na oficina gráfica. Como redator-chefe, cargo que exercia na época, antes de ser elevado a diretor, era o interlocutor entre os Mesquita (Julio de Mesquita Neto no Estado e Ruy Mesquita no Jornal da Tarde) e os executores da repressão.

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Homem de confiança do jornal, era um jornalista suspeito para a ditadura. O Centro de Informações da Marinha (Cenimar) achava que Oliveiros era trotskista. Para agentes do Exército, era um comunista. A militância política do passado até que poderia ser uma explicação. Oliveiros foi simpatizante da Vanguarda Socialista e depois se filiou à Esquerda Democrática, mais tarde Partido Socialista Brasileiro (PSB).

Não enfrentou problema no Estado por causa de suas convicções. Ganhou de seus camaradas o apelido de “o amante de Rosa de Luxemburgo”, por causa da admiração pela revolucionária alemã. Admirava ainda Émile Durkheim, Augusto Comte e Karl Marx, autores que, como admitia, fizeram sua cabeça. Era Oliveiros que, na vigência da censura imposta pelo Ato Institucional n.º 5, recebia e transmitia as listas de assuntos censurados. A orientação de Julio Neto e Ruy Mesquita era que se fizessem as reportagens normalmente, deixando aos censores a iniciativa de cortar o que bem entendessem.

Quando Julio de Mesquita Neto morreu, em junho de 1996, Oliveiros ocupou o cargo de diretor-responsável do Estado, por pouco mais de dois meses, antes de Ruy Mesquita, até então diretor do Jornal da Tarde, assumir o cargo. Continuou coordenando a equipe de editorialistas, função que vinha exercendo desde 1977.

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Era um chefe companheiro, capaz de ouvir e acatar a opinião dos subordinados, mesmo discordando dela. Se escrevia a nota 1, o editorial mais importante da página 3, interpretava com lealdade a posição do jornal, encampando conceitos aos quais eventualmente fazia restrições. Deixou muitos amigos entre aqueles que trabalharam com ele. “Pode ser que eu tenha feito algum inimigo, mas ninguém se manifestou”, gostava de brincar, orgulhoso das boas lembranças e do respeito que mereceu de sua equipe.

Repercussão. “Oliveiros atuou nos cargos mais importantes da redação de O Estado de S.Paulo não só pela sua competência mas também pela confiança que a família sempre teve nele.”  Francisco Mesquita Neto, Diretor Presidente do Grupo Estado.

“Era uma figura agradável e divertida. Um analista muito arguto da política contemporânea.” Cláudio Couto, Cientista Político.

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“Um grande intelectual com capacidade de abordar temas a que a universidade não estava acostumada a se debruçar, como a presença dos militares na sociedade.” Eliezer Rizzo de Oliveira, Cientista Político. "Na minha vida e biografia (Oliveiros) é uma figura forte e decisiva. Os méritos que obtive na minha vida profissional e acadêmica devo a ele. No lado pessoal fico orgulhoso de poder levar adiante e cuidar de um pedaço de paraíso, que é o sítio no interior de São Paulo que minha mãe e ele criaram." William Waack, jornalista.

Foram 47 anos de jornal, sempre no Estado, seu primeiro e único emprego numa carreira brilhante, de repórter a diretor, que aliou à vida acadêmica, como professor da Universidade de São Paulo (USP). “Na verdade foram 48 anos de casa, pois comecei em 1951, quando estreei como correspondente no interior”, corrigia Oliveiros S. Ferreira, revendo sua história ao se aposentar, em julho de 1999. Era paulista de São José do Rio Pardo, onde nasceu em 5 de maio de 1929, filho de Reynaldo Ferreira e Júlia da Silva Ferreira. Morreu neste sábado de causas naturais, em Campinas, aos 88 anos. Não haverá velório e o jornalista será enterrado às 12h deste domingo no Cemitério São Paulo (Rua Cardeal Arcoverde, 1250).

O jornalista deixou a viúva Vânia Leal Cintra e o filho Afonso Ferreira, de seu primeiro casamento, com Walnice Nogueira Galvão. “Oliveiros atuou nos cargos mais importantes da redação de O Estado de S. Paulo não só pela sua competência, mas também pela confiança que a família sempre teve nele. Um homem digno, comprometido com os melhores interesses do País”, disse o diretor presidente do Grupo Estado, Francisco Mesquita Neto.

Oliveiros Ferreiradedicou-se ao estudo dos problemas nacionais Foto: NELSON ALMEIDA/AE

Oliveiros acabava de prestar concurso para o magistério na rede estadual e ensinava Sociologia na Escola Normal de Marília, quando descobriu a vocação de jornalista. Em 1952, voltou a São Paulo a convite do professor Lourival Gomes Machado para ser seu assistente na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP, onde se formara em Ciências Sociais.

Em 1965, casou-se com Leontina de Almeida, sua ex-aluna na USP – permaneceram casados até 1999, quando ela morreu. “Oli, meu padrasto, foi essencial e decisivo na minha formação pessoal, profissional e intelectual. Ensinou-me a importância da honestidade intelectual, do rigor analítico, da busca incessante pelo conhecimento, ética e disciplina do trabalho”, afirmou o jornalista William Waack.

Defendeu em 1966 a tese de doutorado sobre o peruano Haya de la Torre: Nossa América, Indoamérica – a Ordem e a Revolução no pensamento de Haya de la Torre. Cinco anos depois, fez a livre-docência com uma tese sobre Gramsci: Os 45 cavaleiros húngaros, na USP. Seus estudos na área de Ciências Sociais renderam 11 livros dedicados a problemas brasileiros e questões internacionais. No Estado, aprofundou em artigos a análise de temas de sua especialidade, como a Guerra Fria, a União Soviética e as ditaduras na América Latina.

Paralelamente ao trabalho na USP, onde foi professor até se aposentar em 1983, Oliveiros foi consultor e conferencista da Escola Superior de Guerra e da Escola de Guerra Naval. Depois de aposentado, continuou a dar cursos de pós-graduação na FFLCH. Em 1997, foi contratado pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC) e, dez anos depois, mudou-se para Campinas. Alugou uma casa espaçosa ao lado da residência para ali montar escritório e biblioteca.

Rui Barbosa. Ao deixar o sexto andar do prédio do Estado, em julho de 1999, Oliveiros pregou um fac-símile com uma citação de Rui Barbosa na estante de seu escritório, no apartamento da Rua Jerusalém, no bairro do Ibirapuera. “Que posso eu deixar de mim, senão uma página em branco?”, era a frase que se lia no fac-símile. Impossível imaginar que o autor de tantas reportagens, artigos, editoriais e livros experimentasse alguma sensação de vazio para fazer sua essa reflexão. Aposentado, trabalhava em mais um livro e acabou publicando dois.

Oliveiros viveu tempos difíceis no jornalismo, durante o período do regime militar, quando o Estado enfrentou a censura prévia com policiais de plantão em suas instalações, primeiro na redação e depois na oficina gráfica. Como redator-chefe, cargo que exercia na época, antes de ser elevado a diretor, era o interlocutor entre os Mesquita (Julio de Mesquita Neto no Estado e Ruy Mesquita no Jornal da Tarde) e os executores da repressão.

Homem de confiança do jornal, era um jornalista suspeito para a ditadura. O Centro de Informações da Marinha (Cenimar) achava que Oliveiros era trotskista. Para agentes do Exército, era um comunista. A militância política do passado até que poderia ser uma explicação. Oliveiros foi simpatizante da Vanguarda Socialista e depois se filiou à Esquerda Democrática, mais tarde Partido Socialista Brasileiro (PSB).

Não enfrentou problema no Estado por causa de suas convicções. Ganhou de seus camaradas o apelido de “o amante de Rosa de Luxemburgo”, por causa da admiração pela revolucionária alemã. Admirava ainda Émile Durkheim, Augusto Comte e Karl Marx, autores que, como admitia, fizeram sua cabeça. Era Oliveiros que, na vigência da censura imposta pelo Ato Institucional n.º 5, recebia e transmitia as listas de assuntos censurados. A orientação de Julio Neto e Ruy Mesquita era que se fizessem as reportagens normalmente, deixando aos censores a iniciativa de cortar o que bem entendessem.

Quando Julio de Mesquita Neto morreu, em junho de 1996, Oliveiros ocupou o cargo de diretor-responsável do Estado, por pouco mais de dois meses, antes de Ruy Mesquita, até então diretor do Jornal da Tarde, assumir o cargo. Continuou coordenando a equipe de editorialistas, função que vinha exercendo desde 1977.

Era um chefe companheiro, capaz de ouvir e acatar a opinião dos subordinados, mesmo discordando dela. Se escrevia a nota 1, o editorial mais importante da página 3, interpretava com lealdade a posição do jornal, encampando conceitos aos quais eventualmente fazia restrições. Deixou muitos amigos entre aqueles que trabalharam com ele. “Pode ser que eu tenha feito algum inimigo, mas ninguém se manifestou”, gostava de brincar, orgulhoso das boas lembranças e do respeito que mereceu de sua equipe.

Repercussão. “Oliveiros atuou nos cargos mais importantes da redação de O Estado de S.Paulo não só pela sua competência mas também pela confiança que a família sempre teve nele.”  Francisco Mesquita Neto, Diretor Presidente do Grupo Estado.

“Era uma figura agradável e divertida. Um analista muito arguto da política contemporânea.” Cláudio Couto, Cientista Político.

“Um grande intelectual com capacidade de abordar temas a que a universidade não estava acostumada a se debruçar, como a presença dos militares na sociedade.” Eliezer Rizzo de Oliveira, Cientista Político. "Na minha vida e biografia (Oliveiros) é uma figura forte e decisiva. Os méritos que obtive na minha vida profissional e acadêmica devo a ele. No lado pessoal fico orgulhoso de poder levar adiante e cuidar de um pedaço de paraíso, que é o sítio no interior de São Paulo que minha mãe e ele criaram." William Waack, jornalista.

Foram 47 anos de jornal, sempre no Estado, seu primeiro e único emprego numa carreira brilhante, de repórter a diretor, que aliou à vida acadêmica, como professor da Universidade de São Paulo (USP). “Na verdade foram 48 anos de casa, pois comecei em 1951, quando estreei como correspondente no interior”, corrigia Oliveiros S. Ferreira, revendo sua história ao se aposentar, em julho de 1999. Era paulista de São José do Rio Pardo, onde nasceu em 5 de maio de 1929, filho de Reynaldo Ferreira e Júlia da Silva Ferreira. Morreu neste sábado de causas naturais, em Campinas, aos 88 anos. Não haverá velório e o jornalista será enterrado às 12h deste domingo no Cemitério São Paulo (Rua Cardeal Arcoverde, 1250).

O jornalista deixou a viúva Vânia Leal Cintra e o filho Afonso Ferreira, de seu primeiro casamento, com Walnice Nogueira Galvão. “Oliveiros atuou nos cargos mais importantes da redação de O Estado de S. Paulo não só pela sua competência, mas também pela confiança que a família sempre teve nele. Um homem digno, comprometido com os melhores interesses do País”, disse o diretor presidente do Grupo Estado, Francisco Mesquita Neto.

Oliveiros Ferreiradedicou-se ao estudo dos problemas nacionais Foto: NELSON ALMEIDA/AE

Oliveiros acabava de prestar concurso para o magistério na rede estadual e ensinava Sociologia na Escola Normal de Marília, quando descobriu a vocação de jornalista. Em 1952, voltou a São Paulo a convite do professor Lourival Gomes Machado para ser seu assistente na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP, onde se formara em Ciências Sociais.

Em 1965, casou-se com Leontina de Almeida, sua ex-aluna na USP – permaneceram casados até 1999, quando ela morreu. “Oli, meu padrasto, foi essencial e decisivo na minha formação pessoal, profissional e intelectual. Ensinou-me a importância da honestidade intelectual, do rigor analítico, da busca incessante pelo conhecimento, ética e disciplina do trabalho”, afirmou o jornalista William Waack.

Defendeu em 1966 a tese de doutorado sobre o peruano Haya de la Torre: Nossa América, Indoamérica – a Ordem e a Revolução no pensamento de Haya de la Torre. Cinco anos depois, fez a livre-docência com uma tese sobre Gramsci: Os 45 cavaleiros húngaros, na USP. Seus estudos na área de Ciências Sociais renderam 11 livros dedicados a problemas brasileiros e questões internacionais. No Estado, aprofundou em artigos a análise de temas de sua especialidade, como a Guerra Fria, a União Soviética e as ditaduras na América Latina.

Paralelamente ao trabalho na USP, onde foi professor até se aposentar em 1983, Oliveiros foi consultor e conferencista da Escola Superior de Guerra e da Escola de Guerra Naval. Depois de aposentado, continuou a dar cursos de pós-graduação na FFLCH. Em 1997, foi contratado pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC) e, dez anos depois, mudou-se para Campinas. Alugou uma casa espaçosa ao lado da residência para ali montar escritório e biblioteca.

Rui Barbosa. Ao deixar o sexto andar do prédio do Estado, em julho de 1999, Oliveiros pregou um fac-símile com uma citação de Rui Barbosa na estante de seu escritório, no apartamento da Rua Jerusalém, no bairro do Ibirapuera. “Que posso eu deixar de mim, senão uma página em branco?”, era a frase que se lia no fac-símile. Impossível imaginar que o autor de tantas reportagens, artigos, editoriais e livros experimentasse alguma sensação de vazio para fazer sua essa reflexão. Aposentado, trabalhava em mais um livro e acabou publicando dois.

Oliveiros viveu tempos difíceis no jornalismo, durante o período do regime militar, quando o Estado enfrentou a censura prévia com policiais de plantão em suas instalações, primeiro na redação e depois na oficina gráfica. Como redator-chefe, cargo que exercia na época, antes de ser elevado a diretor, era o interlocutor entre os Mesquita (Julio de Mesquita Neto no Estado e Ruy Mesquita no Jornal da Tarde) e os executores da repressão.

Homem de confiança do jornal, era um jornalista suspeito para a ditadura. O Centro de Informações da Marinha (Cenimar) achava que Oliveiros era trotskista. Para agentes do Exército, era um comunista. A militância política do passado até que poderia ser uma explicação. Oliveiros foi simpatizante da Vanguarda Socialista e depois se filiou à Esquerda Democrática, mais tarde Partido Socialista Brasileiro (PSB).

Não enfrentou problema no Estado por causa de suas convicções. Ganhou de seus camaradas o apelido de “o amante de Rosa de Luxemburgo”, por causa da admiração pela revolucionária alemã. Admirava ainda Émile Durkheim, Augusto Comte e Karl Marx, autores que, como admitia, fizeram sua cabeça. Era Oliveiros que, na vigência da censura imposta pelo Ato Institucional n.º 5, recebia e transmitia as listas de assuntos censurados. A orientação de Julio Neto e Ruy Mesquita era que se fizessem as reportagens normalmente, deixando aos censores a iniciativa de cortar o que bem entendessem.

Quando Julio de Mesquita Neto morreu, em junho de 1996, Oliveiros ocupou o cargo de diretor-responsável do Estado, por pouco mais de dois meses, antes de Ruy Mesquita, até então diretor do Jornal da Tarde, assumir o cargo. Continuou coordenando a equipe de editorialistas, função que vinha exercendo desde 1977.

Era um chefe companheiro, capaz de ouvir e acatar a opinião dos subordinados, mesmo discordando dela. Se escrevia a nota 1, o editorial mais importante da página 3, interpretava com lealdade a posição do jornal, encampando conceitos aos quais eventualmente fazia restrições. Deixou muitos amigos entre aqueles que trabalharam com ele. “Pode ser que eu tenha feito algum inimigo, mas ninguém se manifestou”, gostava de brincar, orgulhoso das boas lembranças e do respeito que mereceu de sua equipe.

Repercussão. “Oliveiros atuou nos cargos mais importantes da redação de O Estado de S.Paulo não só pela sua competência mas também pela confiança que a família sempre teve nele.”  Francisco Mesquita Neto, Diretor Presidente do Grupo Estado.

“Era uma figura agradável e divertida. Um analista muito arguto da política contemporânea.” Cláudio Couto, Cientista Político.

“Um grande intelectual com capacidade de abordar temas a que a universidade não estava acostumada a se debruçar, como a presença dos militares na sociedade.” Eliezer Rizzo de Oliveira, Cientista Político. "Na minha vida e biografia (Oliveiros) é uma figura forte e decisiva. Os méritos que obtive na minha vida profissional e acadêmica devo a ele. No lado pessoal fico orgulhoso de poder levar adiante e cuidar de um pedaço de paraíso, que é o sítio no interior de São Paulo que minha mãe e ele criaram." William Waack, jornalista.

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