Jornalistas brasileiros que acompanhavam o presidente Jair Bolsonaro em Roma, onde ele participou da Cúpula de Líderes do G-20, relataram ontem agressões por parte da equipe de segurança do chefe do Executivo. As hostilidades aconteceram, conforme os relatos, antes e durante uma caminhada improvisada de Bolsonaro com apoiadores que se reuniram frente à embaixada do Brasil.
De acordo com o Uol, nenhum dos policiais explicou se fazia parte da embaixada brasileira, da Itália ou se eram privados. Os relatos afirmam que havia tanto italianos quanto brasileiros no grupo que fazia a proteção do presidente.
Segundo os relatos, Bolsonaro acenou, do alto de uma sacada da embaixada, para os simpatizantes que carregavam cartazes de apoio ao governo. Depois, desceu para falar com o grupo. Durante a espera pelo presidente, uma jornalista da Folha de S.Paulo foi empurrada por seguranças e uma produtora da GloboNews foi hostilizada pelos manifestantes.
Ao indicar que faria uma caminhada pelo bairro, Bolsonaro foi seguido por equipes de reportagem. Neste momento, jornalistas passaram a ser empurrados pelos seguranças e houve agressões. Um profissional da TV Globo disse ter recebido um soco no estômago. Os veículos que presenciaram o momento foram impedidos de gravar. O celular de um jornalista do Uol foi jogado na via. Repórteres do jornal O Globo e da BBC Brasil relataram agressões verbais.
Com a confusão, a caminhada durou pouco menos de dez minutos e Bolsonaro voltou à embaixada. Os jornalistas estavam com credenciais e identificações no momento das agressões.
Associações de imprensa, veículos e políticos repudiam o episódio
Em nota, a Globo diz que condena as agressões e exige uma “apuração completa de responsabilidades”. “É a retórica beligerante do presidente Jair Bolsonaro contra jornalistas que está na raiz desse tipo de ataque. Essa retórica não impedirá o trabalho legítimo da imprensa”, diz o texto. A Folha de S.Paulo e o Uol também repudiaram o episódio. "Mais um inaceitável ataque da Presidência Jair Bolsonaro à imprensa profissional", escreveu o jornal.
A Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji) chama atenção para a "escalada perigosa" de ataques como o que ocorreu hoje. "A Abraji repudia mais esse ataque à imprensa envolvendo a maior autoridade do país. Ao não condenar atos violentos de seus seguranças e apoiadores a jornalistas que tão somente estão cumprindo seu dever de informar, o presidente da República incentiva mais ataques do gênero, em uma escalada perigosa e que pode se revelar fatal", diz a nota divulgada na noite deste domingo.
A Associação Nacional de Jornais (ANJ) também divulgou nota em que repudia o ocorrido. "A violência contra os jornalistas, na tentativa de impedir seu trabalho, é consequência direta da postura do próprio presidente, que estimula com atos e palavras a intolerância diante da atividade jornalística", diz a entidade, que também cobra apuração e a devida punição dos culpados.
O senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), que foi vice-presidente da CPI da Covid, criticou o ato em uma rede social. “Atitude típica de ditadores covardes! Bolsonaro e seus capangas são leões contra a imprensa livre e jornalistas. Mas são mansinhos contra os esquemas de corrupção promovidos pelo Centrão e seu governo!”, escreveu. O relator da comissão, Renan Calheiros (MDB-AL), também registrou o seu repúdio: "Ignorado pelos líderes, (Bolsonaro) virou piada na mídia mundial e partiu para a ignorância".
O Palácio do Planalto não se manifestou.