BRASÍLIA - Ex-presidente do PT durante o escândalo do mensalão (2003-2005) e um dos condenados e presos no processo, o ex-deputado federal José Genoino defendeu que o partido não pode mais errar no governo e deve construir um polo à esquerda. O ex-dirigente petista, um dos ícones do partido, ausentou-se do ato de comemoração dos 43 anos da sigla, em Brasília, onde o presidente Luiz Inácio Lula da Silva discursa na noite desta segunda-feira, dia 13.
“Temos que atualizar nossa linha política e mudar os métodos de organização para que o PT se coloque à altura de construir um polo à esquerda neste momento. Vai ser preciso a gente não errar no atendimento à população mais pobre, excluída, às mulheres, aos indígenas, á comunidade LGBTQIA+, à nova classe trabalhadora, à luta contra o racismo e à luta pela soberania nacional”, disse Genoino, em recado transmitido por meio de vídeo gravado. “A democracia não é apenas um enfeite, a democracia tem que ser substantivada para melhorar a qualidade de vida do povo brasileiro.”
No vídeo, Genoino afirmou que o PT “é atrevido e sabe navegar contra a maré” e afirmou que Lula é um “símbolo de força para o futuro”.
A sugestão de um polo à esquerda vai na contramão da construção de uma frente ampla, com partidos de centro e centro-direita, que Lula organizou na campanha de 2022 para derrotar o ex-presidente Jair Bolsonaro. O presidente tentou espelhar a pluralidade de partidos na formação do governo e na construção agora de uma base de apoio parlamentar, com participação de legendas do Centrão que fizeram oposição a ele.
Desde a condenação em 2012, Genoino afastou-se da vida pública, nunca mais disputou eleições ou cargos de relevo no comando do PT, mas segue sendo auscultado pela cúpula do partido e muito ligado à militância. Em 2015, a pena dele foi extinta pelo Supremo Tribunal Federal, após o indulto concedido pela ex-presidente Dilma Rousseff.
Genoino foi condenado a 4 anos e 8 meses de prisão, por corrupção ativa, no processo de compra de apoio parlamentar para o primeiro governo Lula, julgado no Supremo. Ele sempre negou o crime. O ex-presidente petista foi preso em novembro de 2013 e chegou cumprir pouco mais de um ano da pena em regime fechado no Complexo Penitenciário da Papuda. Por razões de saúde e por progressão de regime, passou por prisão aberta e domiciliar até conquistar o perdão judicial.
A exemplo dele, nenhum dos integrantes da cúpula do PT condenados no processo do mensalão voltou a ocupar cargos de direção ou a disputar eleições com destaque. José Dirceu e João Paulo Cunha, assim como Genoino, atuam nos bastidores do partido, como conselheiros políticos de dirigentes e parlamentares.