Familiares de Marielle e Anderson prestam depoimento em julgamento de Lessa e Queiroz: ‘Barbárie’


Mãe, ex-assessora e viúvas de Marielle e Anderson prestaram depoimento nesta quarta-feira, 30, ao Tribunal do Júri do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro

Por Rayanderson Guerra
Atualização:

RIO – “Chegaram a dizer: ‘foi pouco. Podia ter sido queimada’.” Com a voz embargada, a mãe da vereadora Marielle Franco, Marinete Silva, relembrou em depoimento, por cerca de 40 minutos, o antes e depois do assassinato da filha e do motorista Anderson Gomes, em 2018, ao jurados do 4º Tribunal do Júri do Rio de Janeiro. Seis anos e sete meses após a morte da parlamentar, Marinete é uma das sete testemunhas de acusação ouvidas nesta quarta-feira, 30, no julgamento dos ex-policiais militares Ronnie Lessa e Élcio Queiroz, acusados de serem os autores do crime.

“A gente teve tanta fake (news) com a minha filha. A gente teve tanto ataque. Chegaram a dizer: ‘foi pouco. Podia ter sido queimada’. Isso é muito duro”, disse Marinete.

Segunda testemunha a depor, Marinete chorou ao ouvir áudios enviados por Marielle antes do crime e pediu justiça pelo assassinato da filha: “Só quero uma condenação justa”.

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“Não estou para falar da minha filha como parlamentar. Estou como mãe. Ela lutou muito: estudou e chegou onde chegou. Aquilo foi uma barbárie. Nenhuma mãe merece perder a filha desse jeito. Quero pedir justiça por Marielle e Anderson”, disse.

Mãe de Marielle conta que acompanhou de perto toda a investigação.  Foto: Fábio Costa/Agência O Dia - 9/3/2022

Ronnie Lessa e Élcio Queiroz acompanharam os depoimentos por videoconferência diretamente das unidades onde estão presos. Lessa está na Penitenciária de Tremembé, no interior de São Paulo. Já Élcio está no Centro de Inclusão e Reabilitação, em Brasília.

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“Eu não criei ódio no meu coração. Eu criei muita dor. É claro que, em algum momento, tem tristeza e revolta”, disse Marinete.

Antes de Marinete, a assessora parlamentar Fernanda Chaves foi a primeira a depor. Uma das principais testemunhas do caso, Fernanda é a vítima sobrevivente do ataque que vitimou a ex-vereadora Marielle Franco. Ela estava no carro ao lado de Marielle quando voltavam para o bairro da Tijuca, zona norte do Rio, depois de participarem de uma reunião com mulheres negras na Lapa, no centro.

Fernanda Chaves presta depoimento ao tribunal do Júri do TJRJ por videoconferência Foto: Reprodução/MPRJ
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A ex-assessora de Marielle relembrou o dia do crime e contou que precisou alterar sua rotina e mudar de cidade. Ela também mencionou a apreensão de toda a família após a execução da vereadora, de quem era amiga há 15 anos.

“Eu ouvi uma rajada em nossa direção. Eu percebi que era uma rajada em direção ao carro. Em um reflexo, eu me abaixei. Eu estava atrás do Anderson e do lado da Marielle. Eu me enfiei atrás do banco do Anderson. Eu percebi que o carro foi atingido, mas seguia em movimento. O Anderson esboçou dor, falou ‘ai’, mas foi um suspiro. Eu lembro que o carro estava andando, mas lembro dos braços dele caindo. Marielle estava imóvel e o corpo dela caiu em cima de mim”, disse em depoimento.

Ela contou ainda que precisou sair imediatamente da casa onde vivia, na Tijuca, zona norte do Rio, para se proteger em outro país. Fernanda contou que foi questionada pela filha porque precisavam buscar proteção e “o que era assassinato”.

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“Minha filha de seis anos me perguntou o que era assassinato. Ela não entendia porque a gente precisava fugir. Ela era uma apaixonada pela escola. Deixamos tudo para trás. Ela se sentia em perigo e tentamos protegê-la. Até hoje isso tem impacto sobre nossas vidas”, contou.

‘Requintes de crueldade’, diz viúva Mônica Benício

A viúva de Marielle, Mônica Benício, também foi uma das testemunhas ouvidas na tarde desta quarta-feira. Segundo Mônica, a confirmação de que a mulher foi executada chegou com o “requinte de crueldade da surpresa, da dúvida”.

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“O assassinato da Marielle, a notícia da morte dela, quando vem com a confirmação de que era uma execução, e não uma tentativa de assalto ou alguma coisa assim, ela tinha também em si esse requinte de crueldade da surpresa, da dúvida, de porquê a Marielle.”

A ex-vereadora Marielle Franco e a arquiteta Mônica Benício. Foto: Arquivo Pessoal

Em vários momentos do depoimento, Mônica não conteve o choro e afirmou que a única justiça seria ter “Marielle e Anderson vivos”.

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“Se eu dissesse justiça, talvez pudesse ter uma leitura equivocada dessa frase porque a única justiça possível seria não precisar estar aqui e ter a Marielle e o Anderson vivos. Para além disso, dentro do que é possível, eu espero que se faça a justiça que o Brasil, que o mundo, espera há seis anos e sete meses”, disse.

‘Espero que paguem pelo que fizeram’, diz viúva de Anderson

A advogada Ágatha Arnaus, viúva do motorista Anderson Gomes, lembrou como foi o último dia de vida do marido. Ela contou que o motorista de Marielle se preparava para uma vaga de mecânico de aviação e do sonho do marido de ser pai.

“Eu nunca tinha feito nada sem o Anderson, sempre tive ele ao meu lado. Eu tinha 27 anos e não consegui processar tudo. Eram várias coisas para equilibrar, não sabia se voltava a estudar, queria fazer algo para mim. Eu lembro de uma frase que meu pai me disse: ‘Tudo que eu fizesse a partir dali seria a primeira vez sem o Anderson’”, relembrou Ágatha no depoimento.

Viúva de Anderson Gomes, Ágatha Arnaus, presta depoimento ao tribunal do júri Foto: Reprodução/TJRJ

A viúva de Anderson contou que precisou cuidar do filho, Arthur, sozinha e falou sobre as dificuldades da criação do filho autista sem a presença do pai. “Eu espero que as pessoas que me tiraram o Anderson, que tiraram o pai do Arthur, que elas paguem pelo que elas fizeram”, disse.

“No mesmo ano em que o Anderson morreu, eu tive de levar o Arthur sozinha para operar uma obstrução intestinal. Os médicos chegaram a falar que ele não aguentaria e que eu tinha de ficar preparada. Naquele momento, já sem o Anderson, achei que a minha família, a que eu criei, tinha acabado. Eu achei que ia enlouquecer naquele dia. Eu repeti várias vezes que o Arthur era a última coisa que tinha me restado do Anderson”, contou Agatha.

Policiais recontam cena do crime

Os policiais civis do Rio de Janeiro Luismar Cortelettili e Carlos Alberto Paúra Júnior, que participaram da primeira fase de investigações do crime, recontaram suas funções durante o trabalho da Polícia Civil do Rio no caso.

Luismar Cortelettili trabalhou no setor de busca eletrônica e analisou dados do celular de Élcio Queiroz para mapear o trajeto do ex-PM no período anterior ao crime e no dia da execução. De acordo com o agente, o acusado caiu em contradições, segundo o relatório apresentado após o fim das diligências.

“Ele caiu em algumas contradições. Ele ficou bastante fora de casa, e ele diz que não ficaria depois de trabalhar. Quando vai à Barra, ele dizia que ia encontrar o compadre. Ele caiu em algumas contradições. Está tudo no relatório”, conta.

Paúra relata como foi a investigação sob o comando do delegado Giniton Lages, então responsável pelo caso na Polícia Civil.

“Participei ativamente da investigação. Eu fazia parte do núcleo que investigou o veículo utilizado nas mortes das vítimas. É importante informar que chegamos à DH da capital uma semana após o crime. Estávamos lotados na divisão de Homicídios da Baixada Fluminense (DHBF). E foi determinado que a nossa equipe, comandada pelo doutor Giniton Lages”, relata.

Carlos Alberto Paúra Júnior, policial civil do Rio de Janeiro, presta depoimento Foto: Reprodução/TJRJ

Ele conta que ficou responsável por buscar informações sobre o deslocamento do automóvel usado no crime pela cidade, antes e depois dos assassinatos.

“Minha parte foi oficiar a CET-Rio para pegar todas as informações de todos os veículos que transitaram no Centro da cidade naquele momento, tentar verificar de onde o veículo veio e para onde o veículo foi”, diz.

Já a testemunha Carolina Rodrigues, perita que atuou com a Polícia Civil, contou que foi responsável por participar na identificação da arma usada no assassinato de Marielle e Anderson. De acordo com ela, ficou provado de que a arma usada era a HK MP5.

“Fui responsável por todo o o procedimento técnico pericial da reprodução. A questão da arma nós já tínhamos informações sobre uma suspeição de que era a MP5 pelos exames de balística realizados no CCE. Quando você dispara uma arma de fogo, tem o estojo, que fica deflagrado no local. Tem marcas bem características”, conta.

E acrescenta:

“Nós tiramos o estojo da Marielle, nós confrontamos com diversos padrões de diversos tipos de arma e o que mais se adequou ao tipo de estojo do caso da vereadora foi a MP5. Vimos a dispersão das avarias no veículo, no cadáver e no chão”, relata.

Ronnie Lessa

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RIO – “Chegaram a dizer: ‘foi pouco. Podia ter sido queimada’.” Com a voz embargada, a mãe da vereadora Marielle Franco, Marinete Silva, relembrou em depoimento, por cerca de 40 minutos, o antes e depois do assassinato da filha e do motorista Anderson Gomes, em 2018, ao jurados do 4º Tribunal do Júri do Rio de Janeiro. Seis anos e sete meses após a morte da parlamentar, Marinete é uma das sete testemunhas de acusação ouvidas nesta quarta-feira, 30, no julgamento dos ex-policiais militares Ronnie Lessa e Élcio Queiroz, acusados de serem os autores do crime.

“A gente teve tanta fake (news) com a minha filha. A gente teve tanto ataque. Chegaram a dizer: ‘foi pouco. Podia ter sido queimada’. Isso é muito duro”, disse Marinete.

Segunda testemunha a depor, Marinete chorou ao ouvir áudios enviados por Marielle antes do crime e pediu justiça pelo assassinato da filha: “Só quero uma condenação justa”.

“Não estou para falar da minha filha como parlamentar. Estou como mãe. Ela lutou muito: estudou e chegou onde chegou. Aquilo foi uma barbárie. Nenhuma mãe merece perder a filha desse jeito. Quero pedir justiça por Marielle e Anderson”, disse.

Mãe de Marielle conta que acompanhou de perto toda a investigação.  Foto: Fábio Costa/Agência O Dia - 9/3/2022

Ronnie Lessa e Élcio Queiroz acompanharam os depoimentos por videoconferência diretamente das unidades onde estão presos. Lessa está na Penitenciária de Tremembé, no interior de São Paulo. Já Élcio está no Centro de Inclusão e Reabilitação, em Brasília.

“Eu não criei ódio no meu coração. Eu criei muita dor. É claro que, em algum momento, tem tristeza e revolta”, disse Marinete.

Antes de Marinete, a assessora parlamentar Fernanda Chaves foi a primeira a depor. Uma das principais testemunhas do caso, Fernanda é a vítima sobrevivente do ataque que vitimou a ex-vereadora Marielle Franco. Ela estava no carro ao lado de Marielle quando voltavam para o bairro da Tijuca, zona norte do Rio, depois de participarem de uma reunião com mulheres negras na Lapa, no centro.

Fernanda Chaves presta depoimento ao tribunal do Júri do TJRJ por videoconferência Foto: Reprodução/MPRJ

A ex-assessora de Marielle relembrou o dia do crime e contou que precisou alterar sua rotina e mudar de cidade. Ela também mencionou a apreensão de toda a família após a execução da vereadora, de quem era amiga há 15 anos.

“Eu ouvi uma rajada em nossa direção. Eu percebi que era uma rajada em direção ao carro. Em um reflexo, eu me abaixei. Eu estava atrás do Anderson e do lado da Marielle. Eu me enfiei atrás do banco do Anderson. Eu percebi que o carro foi atingido, mas seguia em movimento. O Anderson esboçou dor, falou ‘ai’, mas foi um suspiro. Eu lembro que o carro estava andando, mas lembro dos braços dele caindo. Marielle estava imóvel e o corpo dela caiu em cima de mim”, disse em depoimento.

Ela contou ainda que precisou sair imediatamente da casa onde vivia, na Tijuca, zona norte do Rio, para se proteger em outro país. Fernanda contou que foi questionada pela filha porque precisavam buscar proteção e “o que era assassinato”.

“Minha filha de seis anos me perguntou o que era assassinato. Ela não entendia porque a gente precisava fugir. Ela era uma apaixonada pela escola. Deixamos tudo para trás. Ela se sentia em perigo e tentamos protegê-la. Até hoje isso tem impacto sobre nossas vidas”, contou.

‘Requintes de crueldade’, diz viúva Mônica Benício

A viúva de Marielle, Mônica Benício, também foi uma das testemunhas ouvidas na tarde desta quarta-feira. Segundo Mônica, a confirmação de que a mulher foi executada chegou com o “requinte de crueldade da surpresa, da dúvida”.

“O assassinato da Marielle, a notícia da morte dela, quando vem com a confirmação de que era uma execução, e não uma tentativa de assalto ou alguma coisa assim, ela tinha também em si esse requinte de crueldade da surpresa, da dúvida, de porquê a Marielle.”

A ex-vereadora Marielle Franco e a arquiteta Mônica Benício. Foto: Arquivo Pessoal

Em vários momentos do depoimento, Mônica não conteve o choro e afirmou que a única justiça seria ter “Marielle e Anderson vivos”.

“Se eu dissesse justiça, talvez pudesse ter uma leitura equivocada dessa frase porque a única justiça possível seria não precisar estar aqui e ter a Marielle e o Anderson vivos. Para além disso, dentro do que é possível, eu espero que se faça a justiça que o Brasil, que o mundo, espera há seis anos e sete meses”, disse.

‘Espero que paguem pelo que fizeram’, diz viúva de Anderson

A advogada Ágatha Arnaus, viúva do motorista Anderson Gomes, lembrou como foi o último dia de vida do marido. Ela contou que o motorista de Marielle se preparava para uma vaga de mecânico de aviação e do sonho do marido de ser pai.

“Eu nunca tinha feito nada sem o Anderson, sempre tive ele ao meu lado. Eu tinha 27 anos e não consegui processar tudo. Eram várias coisas para equilibrar, não sabia se voltava a estudar, queria fazer algo para mim. Eu lembro de uma frase que meu pai me disse: ‘Tudo que eu fizesse a partir dali seria a primeira vez sem o Anderson’”, relembrou Ágatha no depoimento.

Viúva de Anderson Gomes, Ágatha Arnaus, presta depoimento ao tribunal do júri Foto: Reprodução/TJRJ

A viúva de Anderson contou que precisou cuidar do filho, Arthur, sozinha e falou sobre as dificuldades da criação do filho autista sem a presença do pai. “Eu espero que as pessoas que me tiraram o Anderson, que tiraram o pai do Arthur, que elas paguem pelo que elas fizeram”, disse.

“No mesmo ano em que o Anderson morreu, eu tive de levar o Arthur sozinha para operar uma obstrução intestinal. Os médicos chegaram a falar que ele não aguentaria e que eu tinha de ficar preparada. Naquele momento, já sem o Anderson, achei que a minha família, a que eu criei, tinha acabado. Eu achei que ia enlouquecer naquele dia. Eu repeti várias vezes que o Arthur era a última coisa que tinha me restado do Anderson”, contou Agatha.

Policiais recontam cena do crime

Os policiais civis do Rio de Janeiro Luismar Cortelettili e Carlos Alberto Paúra Júnior, que participaram da primeira fase de investigações do crime, recontaram suas funções durante o trabalho da Polícia Civil do Rio no caso.

Luismar Cortelettili trabalhou no setor de busca eletrônica e analisou dados do celular de Élcio Queiroz para mapear o trajeto do ex-PM no período anterior ao crime e no dia da execução. De acordo com o agente, o acusado caiu em contradições, segundo o relatório apresentado após o fim das diligências.

“Ele caiu em algumas contradições. Ele ficou bastante fora de casa, e ele diz que não ficaria depois de trabalhar. Quando vai à Barra, ele dizia que ia encontrar o compadre. Ele caiu em algumas contradições. Está tudo no relatório”, conta.

Paúra relata como foi a investigação sob o comando do delegado Giniton Lages, então responsável pelo caso na Polícia Civil.

“Participei ativamente da investigação. Eu fazia parte do núcleo que investigou o veículo utilizado nas mortes das vítimas. É importante informar que chegamos à DH da capital uma semana após o crime. Estávamos lotados na divisão de Homicídios da Baixada Fluminense (DHBF). E foi determinado que a nossa equipe, comandada pelo doutor Giniton Lages”, relata.

Carlos Alberto Paúra Júnior, policial civil do Rio de Janeiro, presta depoimento Foto: Reprodução/TJRJ

Ele conta que ficou responsável por buscar informações sobre o deslocamento do automóvel usado no crime pela cidade, antes e depois dos assassinatos.

“Minha parte foi oficiar a CET-Rio para pegar todas as informações de todos os veículos que transitaram no Centro da cidade naquele momento, tentar verificar de onde o veículo veio e para onde o veículo foi”, diz.

Já a testemunha Carolina Rodrigues, perita que atuou com a Polícia Civil, contou que foi responsável por participar na identificação da arma usada no assassinato de Marielle e Anderson. De acordo com ela, ficou provado de que a arma usada era a HK MP5.

“Fui responsável por todo o o procedimento técnico pericial da reprodução. A questão da arma nós já tínhamos informações sobre uma suspeição de que era a MP5 pelos exames de balística realizados no CCE. Quando você dispara uma arma de fogo, tem o estojo, que fica deflagrado no local. Tem marcas bem características”, conta.

E acrescenta:

“Nós tiramos o estojo da Marielle, nós confrontamos com diversos padrões de diversos tipos de arma e o que mais se adequou ao tipo de estojo do caso da vereadora foi a MP5. Vimos a dispersão das avarias no veículo, no cadáver e no chão”, relata.

Ronnie Lessa

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RIO – “Chegaram a dizer: ‘foi pouco. Podia ter sido queimada’.” Com a voz embargada, a mãe da vereadora Marielle Franco, Marinete Silva, relembrou em depoimento, por cerca de 40 minutos, o antes e depois do assassinato da filha e do motorista Anderson Gomes, em 2018, ao jurados do 4º Tribunal do Júri do Rio de Janeiro. Seis anos e sete meses após a morte da parlamentar, Marinete é uma das sete testemunhas de acusação ouvidas nesta quarta-feira, 30, no julgamento dos ex-policiais militares Ronnie Lessa e Élcio Queiroz, acusados de serem os autores do crime.

“A gente teve tanta fake (news) com a minha filha. A gente teve tanto ataque. Chegaram a dizer: ‘foi pouco. Podia ter sido queimada’. Isso é muito duro”, disse Marinete.

Segunda testemunha a depor, Marinete chorou ao ouvir áudios enviados por Marielle antes do crime e pediu justiça pelo assassinato da filha: “Só quero uma condenação justa”.

“Não estou para falar da minha filha como parlamentar. Estou como mãe. Ela lutou muito: estudou e chegou onde chegou. Aquilo foi uma barbárie. Nenhuma mãe merece perder a filha desse jeito. Quero pedir justiça por Marielle e Anderson”, disse.

Mãe de Marielle conta que acompanhou de perto toda a investigação.  Foto: Fábio Costa/Agência O Dia - 9/3/2022

Ronnie Lessa e Élcio Queiroz acompanharam os depoimentos por videoconferência diretamente das unidades onde estão presos. Lessa está na Penitenciária de Tremembé, no interior de São Paulo. Já Élcio está no Centro de Inclusão e Reabilitação, em Brasília.

“Eu não criei ódio no meu coração. Eu criei muita dor. É claro que, em algum momento, tem tristeza e revolta”, disse Marinete.

Antes de Marinete, a assessora parlamentar Fernanda Chaves foi a primeira a depor. Uma das principais testemunhas do caso, Fernanda é a vítima sobrevivente do ataque que vitimou a ex-vereadora Marielle Franco. Ela estava no carro ao lado de Marielle quando voltavam para o bairro da Tijuca, zona norte do Rio, depois de participarem de uma reunião com mulheres negras na Lapa, no centro.

Fernanda Chaves presta depoimento ao tribunal do Júri do TJRJ por videoconferência Foto: Reprodução/MPRJ

A ex-assessora de Marielle relembrou o dia do crime e contou que precisou alterar sua rotina e mudar de cidade. Ela também mencionou a apreensão de toda a família após a execução da vereadora, de quem era amiga há 15 anos.

“Eu ouvi uma rajada em nossa direção. Eu percebi que era uma rajada em direção ao carro. Em um reflexo, eu me abaixei. Eu estava atrás do Anderson e do lado da Marielle. Eu me enfiei atrás do banco do Anderson. Eu percebi que o carro foi atingido, mas seguia em movimento. O Anderson esboçou dor, falou ‘ai’, mas foi um suspiro. Eu lembro que o carro estava andando, mas lembro dos braços dele caindo. Marielle estava imóvel e o corpo dela caiu em cima de mim”, disse em depoimento.

Ela contou ainda que precisou sair imediatamente da casa onde vivia, na Tijuca, zona norte do Rio, para se proteger em outro país. Fernanda contou que foi questionada pela filha porque precisavam buscar proteção e “o que era assassinato”.

“Minha filha de seis anos me perguntou o que era assassinato. Ela não entendia porque a gente precisava fugir. Ela era uma apaixonada pela escola. Deixamos tudo para trás. Ela se sentia em perigo e tentamos protegê-la. Até hoje isso tem impacto sobre nossas vidas”, contou.

‘Requintes de crueldade’, diz viúva Mônica Benício

A viúva de Marielle, Mônica Benício, também foi uma das testemunhas ouvidas na tarde desta quarta-feira. Segundo Mônica, a confirmação de que a mulher foi executada chegou com o “requinte de crueldade da surpresa, da dúvida”.

“O assassinato da Marielle, a notícia da morte dela, quando vem com a confirmação de que era uma execução, e não uma tentativa de assalto ou alguma coisa assim, ela tinha também em si esse requinte de crueldade da surpresa, da dúvida, de porquê a Marielle.”

A ex-vereadora Marielle Franco e a arquiteta Mônica Benício. Foto: Arquivo Pessoal

Em vários momentos do depoimento, Mônica não conteve o choro e afirmou que a única justiça seria ter “Marielle e Anderson vivos”.

“Se eu dissesse justiça, talvez pudesse ter uma leitura equivocada dessa frase porque a única justiça possível seria não precisar estar aqui e ter a Marielle e o Anderson vivos. Para além disso, dentro do que é possível, eu espero que se faça a justiça que o Brasil, que o mundo, espera há seis anos e sete meses”, disse.

‘Espero que paguem pelo que fizeram’, diz viúva de Anderson

A advogada Ágatha Arnaus, viúva do motorista Anderson Gomes, lembrou como foi o último dia de vida do marido. Ela contou que o motorista de Marielle se preparava para uma vaga de mecânico de aviação e do sonho do marido de ser pai.

“Eu nunca tinha feito nada sem o Anderson, sempre tive ele ao meu lado. Eu tinha 27 anos e não consegui processar tudo. Eram várias coisas para equilibrar, não sabia se voltava a estudar, queria fazer algo para mim. Eu lembro de uma frase que meu pai me disse: ‘Tudo que eu fizesse a partir dali seria a primeira vez sem o Anderson’”, relembrou Ágatha no depoimento.

Viúva de Anderson Gomes, Ágatha Arnaus, presta depoimento ao tribunal do júri Foto: Reprodução/TJRJ

A viúva de Anderson contou que precisou cuidar do filho, Arthur, sozinha e falou sobre as dificuldades da criação do filho autista sem a presença do pai. “Eu espero que as pessoas que me tiraram o Anderson, que tiraram o pai do Arthur, que elas paguem pelo que elas fizeram”, disse.

“No mesmo ano em que o Anderson morreu, eu tive de levar o Arthur sozinha para operar uma obstrução intestinal. Os médicos chegaram a falar que ele não aguentaria e que eu tinha de ficar preparada. Naquele momento, já sem o Anderson, achei que a minha família, a que eu criei, tinha acabado. Eu achei que ia enlouquecer naquele dia. Eu repeti várias vezes que o Arthur era a última coisa que tinha me restado do Anderson”, contou Agatha.

Policiais recontam cena do crime

Os policiais civis do Rio de Janeiro Luismar Cortelettili e Carlos Alberto Paúra Júnior, que participaram da primeira fase de investigações do crime, recontaram suas funções durante o trabalho da Polícia Civil do Rio no caso.

Luismar Cortelettili trabalhou no setor de busca eletrônica e analisou dados do celular de Élcio Queiroz para mapear o trajeto do ex-PM no período anterior ao crime e no dia da execução. De acordo com o agente, o acusado caiu em contradições, segundo o relatório apresentado após o fim das diligências.

“Ele caiu em algumas contradições. Ele ficou bastante fora de casa, e ele diz que não ficaria depois de trabalhar. Quando vai à Barra, ele dizia que ia encontrar o compadre. Ele caiu em algumas contradições. Está tudo no relatório”, conta.

Paúra relata como foi a investigação sob o comando do delegado Giniton Lages, então responsável pelo caso na Polícia Civil.

“Participei ativamente da investigação. Eu fazia parte do núcleo que investigou o veículo utilizado nas mortes das vítimas. É importante informar que chegamos à DH da capital uma semana após o crime. Estávamos lotados na divisão de Homicídios da Baixada Fluminense (DHBF). E foi determinado que a nossa equipe, comandada pelo doutor Giniton Lages”, relata.

Carlos Alberto Paúra Júnior, policial civil do Rio de Janeiro, presta depoimento Foto: Reprodução/TJRJ

Ele conta que ficou responsável por buscar informações sobre o deslocamento do automóvel usado no crime pela cidade, antes e depois dos assassinatos.

“Minha parte foi oficiar a CET-Rio para pegar todas as informações de todos os veículos que transitaram no Centro da cidade naquele momento, tentar verificar de onde o veículo veio e para onde o veículo foi”, diz.

Já a testemunha Carolina Rodrigues, perita que atuou com a Polícia Civil, contou que foi responsável por participar na identificação da arma usada no assassinato de Marielle e Anderson. De acordo com ela, ficou provado de que a arma usada era a HK MP5.

“Fui responsável por todo o o procedimento técnico pericial da reprodução. A questão da arma nós já tínhamos informações sobre uma suspeição de que era a MP5 pelos exames de balística realizados no CCE. Quando você dispara uma arma de fogo, tem o estojo, que fica deflagrado no local. Tem marcas bem características”, conta.

E acrescenta:

“Nós tiramos o estojo da Marielle, nós confrontamos com diversos padrões de diversos tipos de arma e o que mais se adequou ao tipo de estojo do caso da vereadora foi a MP5. Vimos a dispersão das avarias no veículo, no cadáver e no chão”, relata.

Ronnie Lessa

Siga o ‘Estadão’ nas redes sociais

RIO – “Chegaram a dizer: ‘foi pouco. Podia ter sido queimada’.” Com a voz embargada, a mãe da vereadora Marielle Franco, Marinete Silva, relembrou em depoimento, por cerca de 40 minutos, o antes e depois do assassinato da filha e do motorista Anderson Gomes, em 2018, ao jurados do 4º Tribunal do Júri do Rio de Janeiro. Seis anos e sete meses após a morte da parlamentar, Marinete é uma das sete testemunhas de acusação ouvidas nesta quarta-feira, 30, no julgamento dos ex-policiais militares Ronnie Lessa e Élcio Queiroz, acusados de serem os autores do crime.

“A gente teve tanta fake (news) com a minha filha. A gente teve tanto ataque. Chegaram a dizer: ‘foi pouco. Podia ter sido queimada’. Isso é muito duro”, disse Marinete.

Segunda testemunha a depor, Marinete chorou ao ouvir áudios enviados por Marielle antes do crime e pediu justiça pelo assassinato da filha: “Só quero uma condenação justa”.

“Não estou para falar da minha filha como parlamentar. Estou como mãe. Ela lutou muito: estudou e chegou onde chegou. Aquilo foi uma barbárie. Nenhuma mãe merece perder a filha desse jeito. Quero pedir justiça por Marielle e Anderson”, disse.

Mãe de Marielle conta que acompanhou de perto toda a investigação.  Foto: Fábio Costa/Agência O Dia - 9/3/2022

Ronnie Lessa e Élcio Queiroz acompanharam os depoimentos por videoconferência diretamente das unidades onde estão presos. Lessa está na Penitenciária de Tremembé, no interior de São Paulo. Já Élcio está no Centro de Inclusão e Reabilitação, em Brasília.

“Eu não criei ódio no meu coração. Eu criei muita dor. É claro que, em algum momento, tem tristeza e revolta”, disse Marinete.

Antes de Marinete, a assessora parlamentar Fernanda Chaves foi a primeira a depor. Uma das principais testemunhas do caso, Fernanda é a vítima sobrevivente do ataque que vitimou a ex-vereadora Marielle Franco. Ela estava no carro ao lado de Marielle quando voltavam para o bairro da Tijuca, zona norte do Rio, depois de participarem de uma reunião com mulheres negras na Lapa, no centro.

Fernanda Chaves presta depoimento ao tribunal do Júri do TJRJ por videoconferência Foto: Reprodução/MPRJ

A ex-assessora de Marielle relembrou o dia do crime e contou que precisou alterar sua rotina e mudar de cidade. Ela também mencionou a apreensão de toda a família após a execução da vereadora, de quem era amiga há 15 anos.

“Eu ouvi uma rajada em nossa direção. Eu percebi que era uma rajada em direção ao carro. Em um reflexo, eu me abaixei. Eu estava atrás do Anderson e do lado da Marielle. Eu me enfiei atrás do banco do Anderson. Eu percebi que o carro foi atingido, mas seguia em movimento. O Anderson esboçou dor, falou ‘ai’, mas foi um suspiro. Eu lembro que o carro estava andando, mas lembro dos braços dele caindo. Marielle estava imóvel e o corpo dela caiu em cima de mim”, disse em depoimento.

Ela contou ainda que precisou sair imediatamente da casa onde vivia, na Tijuca, zona norte do Rio, para se proteger em outro país. Fernanda contou que foi questionada pela filha porque precisavam buscar proteção e “o que era assassinato”.

“Minha filha de seis anos me perguntou o que era assassinato. Ela não entendia porque a gente precisava fugir. Ela era uma apaixonada pela escola. Deixamos tudo para trás. Ela se sentia em perigo e tentamos protegê-la. Até hoje isso tem impacto sobre nossas vidas”, contou.

‘Requintes de crueldade’, diz viúva Mônica Benício

A viúva de Marielle, Mônica Benício, também foi uma das testemunhas ouvidas na tarde desta quarta-feira. Segundo Mônica, a confirmação de que a mulher foi executada chegou com o “requinte de crueldade da surpresa, da dúvida”.

“O assassinato da Marielle, a notícia da morte dela, quando vem com a confirmação de que era uma execução, e não uma tentativa de assalto ou alguma coisa assim, ela tinha também em si esse requinte de crueldade da surpresa, da dúvida, de porquê a Marielle.”

A ex-vereadora Marielle Franco e a arquiteta Mônica Benício. Foto: Arquivo Pessoal

Em vários momentos do depoimento, Mônica não conteve o choro e afirmou que a única justiça seria ter “Marielle e Anderson vivos”.

“Se eu dissesse justiça, talvez pudesse ter uma leitura equivocada dessa frase porque a única justiça possível seria não precisar estar aqui e ter a Marielle e o Anderson vivos. Para além disso, dentro do que é possível, eu espero que se faça a justiça que o Brasil, que o mundo, espera há seis anos e sete meses”, disse.

‘Espero que paguem pelo que fizeram’, diz viúva de Anderson

A advogada Ágatha Arnaus, viúva do motorista Anderson Gomes, lembrou como foi o último dia de vida do marido. Ela contou que o motorista de Marielle se preparava para uma vaga de mecânico de aviação e do sonho do marido de ser pai.

“Eu nunca tinha feito nada sem o Anderson, sempre tive ele ao meu lado. Eu tinha 27 anos e não consegui processar tudo. Eram várias coisas para equilibrar, não sabia se voltava a estudar, queria fazer algo para mim. Eu lembro de uma frase que meu pai me disse: ‘Tudo que eu fizesse a partir dali seria a primeira vez sem o Anderson’”, relembrou Ágatha no depoimento.

Viúva de Anderson Gomes, Ágatha Arnaus, presta depoimento ao tribunal do júri Foto: Reprodução/TJRJ

A viúva de Anderson contou que precisou cuidar do filho, Arthur, sozinha e falou sobre as dificuldades da criação do filho autista sem a presença do pai. “Eu espero que as pessoas que me tiraram o Anderson, que tiraram o pai do Arthur, que elas paguem pelo que elas fizeram”, disse.

“No mesmo ano em que o Anderson morreu, eu tive de levar o Arthur sozinha para operar uma obstrução intestinal. Os médicos chegaram a falar que ele não aguentaria e que eu tinha de ficar preparada. Naquele momento, já sem o Anderson, achei que a minha família, a que eu criei, tinha acabado. Eu achei que ia enlouquecer naquele dia. Eu repeti várias vezes que o Arthur era a última coisa que tinha me restado do Anderson”, contou Agatha.

Policiais recontam cena do crime

Os policiais civis do Rio de Janeiro Luismar Cortelettili e Carlos Alberto Paúra Júnior, que participaram da primeira fase de investigações do crime, recontaram suas funções durante o trabalho da Polícia Civil do Rio no caso.

Luismar Cortelettili trabalhou no setor de busca eletrônica e analisou dados do celular de Élcio Queiroz para mapear o trajeto do ex-PM no período anterior ao crime e no dia da execução. De acordo com o agente, o acusado caiu em contradições, segundo o relatório apresentado após o fim das diligências.

“Ele caiu em algumas contradições. Ele ficou bastante fora de casa, e ele diz que não ficaria depois de trabalhar. Quando vai à Barra, ele dizia que ia encontrar o compadre. Ele caiu em algumas contradições. Está tudo no relatório”, conta.

Paúra relata como foi a investigação sob o comando do delegado Giniton Lages, então responsável pelo caso na Polícia Civil.

“Participei ativamente da investigação. Eu fazia parte do núcleo que investigou o veículo utilizado nas mortes das vítimas. É importante informar que chegamos à DH da capital uma semana após o crime. Estávamos lotados na divisão de Homicídios da Baixada Fluminense (DHBF). E foi determinado que a nossa equipe, comandada pelo doutor Giniton Lages”, relata.

Carlos Alberto Paúra Júnior, policial civil do Rio de Janeiro, presta depoimento Foto: Reprodução/TJRJ

Ele conta que ficou responsável por buscar informações sobre o deslocamento do automóvel usado no crime pela cidade, antes e depois dos assassinatos.

“Minha parte foi oficiar a CET-Rio para pegar todas as informações de todos os veículos que transitaram no Centro da cidade naquele momento, tentar verificar de onde o veículo veio e para onde o veículo foi”, diz.

Já a testemunha Carolina Rodrigues, perita que atuou com a Polícia Civil, contou que foi responsável por participar na identificação da arma usada no assassinato de Marielle e Anderson. De acordo com ela, ficou provado de que a arma usada era a HK MP5.

“Fui responsável por todo o o procedimento técnico pericial da reprodução. A questão da arma nós já tínhamos informações sobre uma suspeição de que era a MP5 pelos exames de balística realizados no CCE. Quando você dispara uma arma de fogo, tem o estojo, que fica deflagrado no local. Tem marcas bem características”, conta.

E acrescenta:

“Nós tiramos o estojo da Marielle, nós confrontamos com diversos padrões de diversos tipos de arma e o que mais se adequou ao tipo de estojo do caso da vereadora foi a MP5. Vimos a dispersão das avarias no veículo, no cadáver e no chão”, relata.

Ronnie Lessa

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