BRASÍLIA – A dois anos da disputa de 2026, a direita bolsonarista vê gradualmente suas principais apostas para derrotar o PT serem tiradas do jogo. Neste sábado, 14, o entorno do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) foi diretamente atingido com a prisão do seu vice em 2022, o general Walter Braga Netto, acusado de interferir na investigação de tentativa de golpe conduzida pelo Supremo Tribunal Federal.
Com cerco judicial, cresce no entorno dos presidenciáveis tanto o sentimento de perseguição quanto o apelo por melhor assessoramento jurídico, a fim de evitar novos reveses.
Na última quarta-feira, a Justiça Eleitoral condenou o governador Ronaldo Caiado (União-GO) e determinou que ele fique inelegível por 8 anos. Para a juíza Maria Umbelina Zorzetti, Caiado usou o Palácio das Esmeraldas, sede do governo goiano, para realizar um evento de campanha para seu aliado, o prefeito eleito de Goiânia, Sandro Mabel (União-GO) — prática pode configurar abuso de poder político. O governador nega a acusação e deve recorrer da decisão.
Antes do político de Goiás, o ex-presidente Jair Bolsonaro já fora declarado inelegível após ataques à democracia. Outras duas esperanças para a direita, o coach Pablo Marçal (PRTB-SP) e o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP), são alvos de ações que colocam seus projetos eleitorais em xeque. Já o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos-SP) escapou de uma derrota no último mês.
O cenário vem alimentando na militância bolsonarista o sentimento de que o “sistema”, forma genérica a que se referem às instituições democráticas, atua para minar o poder da direita bolsonarista visando a próxima eleição presidencial. Mas advogados próximos a essas lideranças rechaçam “vitimismo” com essas derrotas e criticam as estratégias jurídicas que levaram a essas condenações.
A preocupação na direita com o nível do assessoramento técnico de bolsonaristas levou um grupo de advogados e membros do Judiciário a articular um grupo para fortalecer a defesa jurídica de seus aliados. Nomes como Karina Kufa, advogada de Bolsonaro, Angela Gandra, ex-secretária nacional da Família do Ministério dos Direitos Humanos de Damares Alves, e Arthur Guerra, advogado do governador mineiro Romeu Zema (Novo), fazem parte da iniciativa, chamada “Garantistas”.
A inelegibilidade de Bolsonaro é divisor de águas nos planos da direita para 2026. O ex-presidente tem tentado manter a influência sobre o destino da chapa que enfrentará o PT enquanto outras lideranças desafiam sua hegemonia. Deputados federais bolsonaristas relataram ao Estadão que o nome de Caiado com o governador mineiro Romeu Zema (Novo) de vice ganha força entre insatisfeitos com o clã. Na última campanha eleitoral, Bolsonaro atacou o goiano publicamente, enfraquecendo-o perante a militância.
Aliados de Bolsonaro cogitam repetir a estratégia petista de 2018, quando Fernando Haddad assumiu na mesma chapa o lugar de Luiz Inácio Lula da Silva, então inelegível, e se beneficiou da transferência de votos do aliado e chegando ao segundo turno. Eduardo Bolsonaro é o nome cogitado para a empreitada, e o próprio deputado fez questão de se colocar no páreo durante um evento dias atrás.
“Plano A é Bolsonaro, posso ser o plano B”, afirmou o deputado federal, antes de ser rebatido pelo próprio pai: “O plano A sou eu, o plano B sou eu também e o plano C sou eu”, disse o ex-presidente em entrevista à Rádio Gaúcha dois dias depois.
Algumas lideranças da direita e do centro entendem que o bolsonarismo precisará ter um nome muito competitivo em 2026 se quiser derrotar Lula ou seu eventual sucessor, como Gilberto Kassab, presidente nacioinal do PSD e secretário de Governo de Tarcísio, por exemplo. “Lula não pode ser menosprezado nunca. É um dos motivos para eu achar que o Tarcísio não deveria concorrer à Presidência. Enfrentar o Lula nunca é fácil”, declarou ele numa entrevista ao jornal O Globo em outubro.
Pesquisas vêm mostrando que a tarefa deve ser difícil. Um levantamento da Genial/Quaest divulgada na última semana mostra que Lula e Haddad venceriam todos os potenciais candidatos da direita à Presidência em 2026 se as eleições fossem hoje. Em cenários hipotéticos de segundo turno, os dois bateriam Bolsonaro, Tarcísio, Caiado e Marçal.
Apostas da direita em risco
Marçal, que negocia filiação ao partido de Caiado, responde a processos que podem tirar seu direito de disputar eleições, principalmente no caso de um documento inverídico divulgado por suas redes sociais contra Guilherme Boulos (PSOL) na reta final da campanha à Prefeitura de São Paulo. Ele é alvo de ações tanto na esfera eleitoral quanto na Justiça comum. Advogados consultados pelo Estadão avaliam sua eventual condenação como provável.
O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) perdeu o direito de se candidatar por oito anos a cargos eletivos no ano passado. Na ocasião, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) reconheceu a prática de abuso de poder político e uso indevido dos meios de comunicação durante reunião realizada no Palácio da Alvorada com embaixadores estrangeiros em julho de 2022. Meses depois, Bolsonaro foi condenado novamente, desta vez junto de seu ex-vice Braga Netto, por causa das comemorações do Bicentenário da Independência.
Eduardo Bolsonaro, por sua vez, é alvo de duas aijes (ação de investigação judicial eleitoral) protocoladas pela campanha do PT em 2022, uma por desinformação eleitoral e outra por atos antidemocráticos, e que ainda não foram julgadas. Em última instância, se condenado, o deputado pode ficar inelegível.
Já o governador paulista Tarcísio de Freitas (Republicanos) livrou-se recentemente de uma ação que poderia tirar seus direitos políticos na próxima eleição. No fim de novembro, o ministro Kassio Nunes Marques (TSE) arquivou uma notícia-crime aberta por Boulos após o governador ter dito, em pleno dia de votação, que o PCC teria orientado voto no candidato do PSOL.